A Illustre Casa de Ramires - 10

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marmore. Oh, realmente, por Gracinha, elle abriria ao Cavalleiro todas
as portas dos Cunhaes--mesmo a porta do quarto d'ella, e bem larga, com
uma solidão bem preparada!... E depois não se cuidava de uma donzella,
nem d'uma viuva. Na casa do Largo d'El-Rei governava, mercê de Deus,
marido brioso, marido rijo. A esse, só a esse, competia escolher as
intimidades do seu lar--e n'elle manter quietação e recato. Não! esse
receio de uma imaginavel fragilidade de Gracinha, da sua honrada, altiva
Gracinha--esse receio, perverso e louco, certamente o devia varrer, com
o coração desafogado e sorrindo.--E, na clara solidão da estrada,
Gonçalo Mendes Ramires atirou um gesto decidido e terminante que varria.
Restava porém a sua propria humilhação. Desde annos, ruidosamente,
conversando e escrevendo, em Coimbra, em Villa-Clara, em Oliveira, na
*Gazeta do Porto*--elle demolira o Cavalleiro! E subiria agora, de
espinhaço vergado, as escadarias do Governo Civil, murmurando o
seu--_peccavi, mea culpa, mea maxima culpa_?... Que escandalo na
cidade!--«O Fidalgo da Torre lá precisou e lá veio...» Era o
transbordante triumpho do Cavalleiro. O unico homem que no Districto se
conservava erguido, pelejando, trovejando as verdades--desarmava,
emmudecia, e encolhidamente se enfileirava no sequito louvaminheiro de
Sua Exc.^a! Bem duro!... Mas, que diabo, havia superiormente o interesse
do paiz!--E, tão admiravel lhe appareceu esta razão, que a bradou com
ardôr na mudez da estrada:--«Ha o paiz!...»
Sim, o paiz! Quantas reformas a proclamar, a realisar! Em Coimbra, no
quinto anno, já se occupára da Instrucção Publica--d'uma remodelação do
Ensino, todo industrial, todo colonial, sem latim, sem ociosas
bellas-lettras, creando um povo formigueiro de Productores e
d'Exploradores... E os camaradas, nos sonhos ondeantes de Futuro, quando
repartiam os Ministerios, concordavam sempre:--«O Gonçalo para a
Instrucção Publica!» Por essas ideas poderosas, pelo saber accumulado,
todo elle se devia á Nação--como outr'ora, pela força, os grandes
Ramires armados. E pela Nação cumpria que o seu orgulho de homem cedesse
ante a sua tarefa de cidadão...
Depois, quem sabe? Entre o Cavalleiro e elle afogadamente se enroscava
todo um passado de camaradagem, apenas entorpecido--que talvez revivesse
n'esse encontro, os enlaçasse logo n'um abraço penetrante, onde os
antigos aggravos se sumiriam como um pó sacudido... Mas para que
imaginar, remoer? Uma necessidade se sobrepunha, inilludivel--a de
comparecer logo de manhã em Oliveira, no Governo Civil, requerendo a
suppressão do Casco. D'essa pressa dependia o seu socego de vida e
d'intelligencia. Nunca elle lograria trabalhar na Novella, trilhar
folgadamente a estrada de Villa-Clara, sabendo que em torno o outro,
pelas quélhas e sombras, rondava com a espingarda. E para não regressar
aos costumes bravios dos seus avós, circulando atravez do Concelho entre
as carabinas dos creados, necessitava o Casco domado, immobilisado. Era
pois inadiavel correr ao Governo Civil, para bem da Ordem. E depois,
quando elle se encontrasse no gabinete do Cavalleiro, deante da mesa do
Cavalleiro--a Providencia decidiria...--«A Providencia decidirá!»
E ancorado n'esta resolução, o Fidalgo da Torre parou, olhou. Levado
pela quente rajada de pensamentos, chegára á grade do cemiterio da Villa
que o luar branqueava como um lençol estendido. Ao fundo da alameda que
o divide, clara na claridade triste, o escarnado Christo chagado e
livido, sobre a sua alta cruz negra, pendia, mais dolorido e livido no
silencio e na solidão, com uma tristissima lampada aos pés esmorecendo.
Em torno eram cyprestes, sombras de cyprestes, brancuras de lapides, as
cruzes rasteiras das campas pobres, uma paz morta pesando sobre os
mortos: e no alto a lua amarella e parada. Então o Fidalgo sentiu um
arripiado mêdo do Christo, das lousas, dos defuntos, da lua, da solidão.
E despedio n'uma carreira até avistar as casas da Calçadinha, por onde
descambou como uma pedra solta. Quando se deteve no Largo do Chafariz,
um môcho piava na torre da Camara, melancolisando o repouso de
Villa-Clara apagada e adormecida. Mais impressionado, Gonçalo correu á
taberna da Serena, recolheu os creados que esperavam jogando a bisca
lambida. E com elles atravessou de novo a Villa até á cocheira do
Torto--para recommendar que lhe mandassem á Torre, ás nove horas da
manhã, a parelha russa.
Atravez do postigo, que se abrira com cautella no portão chapeado, a
mulher do Torto gemeu, indecisa:
--Ai, meu Deus, não sei se poderá... Elle ás nove tem um serviço... Pois
não faria mais conta ao Fidalgo ahi pela volta das onze?
--Ás nove! berrou Gonçalo.
Desejava apear cêdo ao portão do Governo Civil para evitar a curiosidade
d'aquelles cavalheiros de Oliveira--que, depois do meio dia, se juntavam
na Praça, vadiando por debaixo da Arcada.
* * * * *
Mas ás nove e meia Gonçalo, que até ao luzir da madrugada se agitára
pelo quarto n'um tumulto d'esperanças e receios--ainda se barbeava, em
camisa, deante do vasto espelho de coluninas douradas. Depois aproveitou
a caleche para deixar na _Feitosa_ os seus bilhetes de pezames á bella
viuva, á D. Anna. Ao meio dia, esfaimado, almoçou na Vendinha emquanto a
parelha resfolgava. E batia a meia depois das duas quando emfim se apeou
em Oliveira deante do portão do antigo convento de S. Domingos, ao fundo
da Praça, onde seu pae, quando Chefe do Districto, installára
faustosamente as repartições do Governo Civil.
Áquella hora, já na frescura e sombra da Arcada que orla um lado da
Praça (outr'ora _Praça da Prataria_, hoje _Praça da Liberdade_) os
cavalheiros d'Oliveira mais desoccupados, os «rapazes», preguiçavam, em
cadeiras de verga, á porta da Tabacaria Elegante e da loja do Leão.
Gonçalo, cautelosamente, baixára as cortinas verdes da caleche. Mas no
pateo do Governo Civil, ainda guarnecido de bancos monumentaes do tempo
dos frades, esbarrou com o primo José Mendonça, que descia a escadaria,
fardado. Foi um assombro para o alegre capitão, moço esvelto, de bigode
curto, picado levemente de bexigas.
--Tu por aqui, Gonçalinho! E de chapeu alto! Caramba, deve ser coisa
gorda!
O Fidalgo da Torre confessou, corajosamente. Chegava n'esse instante de
Santa Ireneia para fallar ao André Cavalleiro...
--Está elle cá, esse illustre senhor?
O outro recuou, quasi aterrado:
--Ao Cavalleiro?! É ao Cavalleiro que vens fallar?!... Santissima
Virgem! Então desabou Troia!
Gonçalo gracejou, corando. Não! não se passára desgraça epica como a de
Troia... De resto podia revelar ao amigo Mendonça o caso que o arrastava
á presença augusta de Sua Exc.^a o Snr. Governador Civil. Era um homem
dos Bravaes, um Casco, que, furioso por não conseguir o arrendamento da
Torre, o ameaçára, rondava agora a estrada de Villa-Clara de noite, á
espreita, com uma espingarda. E elle, não ousando «fazer alta e boa
justiça» pelas mãos dos seus creados, como os Ramires feudaes--reclamava
modestamente da Auctoridade Superior uma ordem para que o Gouveia
mantivesse dentro da legalidade e dos Mandamentos de Deus o façanhudo
dos Bravaes...
--Só isto, uma pequenina questão de paz publica... E então o grande
homem está lá em cima? Bem, até logo, Zézinho... A prima, de saude? Eu
naturalmente janto nos Cunhaes. Apparece!
Mas o capitão não despegava do degrau de pedra, abrindo pachorrentamente
a cigarreira de couro:
--E que me dizes tu á novidade? O pobre Sanches Lucena?...
Sim, Gonçalo soubera na Assembleia. Um ataque, hein?--Mendonça accendeu,
chupou o cigarro:
--De repente, com um aneurisma, a ler o _Noticias_!... Pois ainda ha
tres dias a Maricas e eu jantamos na _Feitosa_. Até eu toquei a duas
mãos, com a D. Anna, o quarteto do Rigoleto. E elle bem, conversando,
tomando a sua aguardentesinha de canna...
Gonçalo esboçou um gesto de piedade e tristeza:
--Coitado... Tambem ha semanas o encontrei na Bica-Santa. Bom homem, bem
educado... E ahi temos agora a bella D. Anna vaga.
--E o circulo!
--Oh, o circulo! murmurou o Fidalgo da Torre com risonho desdem. A mim
antes me convinha a viuva. É Venus com duzentos contos! Infelizmente tem
uma voz medonha...
O primo Mendonça accudiu, com interesse, uma convicção dedicada:
--Não! não! na intimidade, perde aquelle tom empapado... Não imaginas!
até um timbre natural, agradavel... E depois, menino, que corpo! que
pelle!
--Deve ficar explendida agora com o luto! concluiu Gonçalo. Bem,
adeusinho! Apparece nos Cunhaes... Eu corro ao Cavalleiro para que Sua
Exc.^a me salve com o seu braço forte!
Sacudiu a mão do Mendonça, galgou a escadaria de pedra.
Mas o capitão, que mettera para a travessa de S. Domingos, desconfiou
d'aquella historia d'ameaças, d'espingardas... «Qual! Aqui anda
Politica!» E quando, passada uma hora lenta, repenetrou na Praça e
avistou a caleche da Torre ainda encalhada á porta do Governo
Civil--correu á Arcada, desabafou logo com os dois Villa-Velhas, ambos
pensativamente encostados aos dois humbraes da Tabacaria Elegante:
--Vocês sabem quem está no Governo Civil?... O Gonçalo Ramires!... Com o
Cavalleiro!
Todos em roda se mexeram, como acordando, nas gastas cadeiras de
verga--onde os estendera somnolentamente o silencio e a ociosidade da
arrastada tarde de verão. E o Mendonça, excitado, contou que desde as
duas horas e meia Gonçalo Mendes Ramires, «em carne e osso», se
conservava fechado com o Cavalleiro, no Governo Civil, n'uma conferencia
magna! O espanto e a curiosidade foram tão ardentes que todos se
ergueram, se arremessaram para fóra dos Arcos, a espiar a bojuda varanda
do convento, sobre o portão--que era a do gabinete de Sua Excellencia.
Precisamente, n'esse momento, José Barrôlo, a cavallo, de calça branca,
de rosa branca na quinzena d'alpaca, dobrava a esquina da rua das
Vendas. E o interesse todo d'aquelles cavalheiros se precipitou para
elle, na esperança d'uma revelação:
--Oh Barrôlo!
--Oh Barrolinho, chega cá!
--Depressa, homem, que é caso rijo!
Barrôlo, ladeando, abeirou da Arcada: e os amigos immediatamente lhe
atiraram a nova formidavel, apertados em volta da egoa. O Gonçalo e o
Cavalleiro cochichando secretamente toda a manhã! A caleche da Torre á
espera, com a parelha adormecida! E já começavam a repicar os sinos da
Sé!
Barrôlo, n'um pulo, desmontou. E emquanto um garoto lhe passeava a
egoa--estacou entre os amigos, com o chicote detraz das costas, pasmando
tambem para a varanda de pedra do Governo Civil.
--Pois eu não sei nada! O Gonçalo a mim não me disse nada! affirmava
elle, assombrado. Tambem já ha dias não vem á cidade... Mas não me disse
nada! E da ultima vez que cá esteve, nos annos da Graça, ainda
destemperou contra o Cavalleiro!
A todos o caso parecia «d'estrondo!» E subitamente um silencio esmagou a
Arcada, trespassada d'emoção. Na varanda, entre as vidraças abertas
vagarosamente, apparecera o Cavalleiro com o Fidalgo da Torre,
conversando, risonhos, de charutos accesos. Os largos olhos do
Cavalleiro pousaram logo, com malicia, sobre os «rapazes» apinhados em
pasmo á borda dos Arcos. Mas foi um lampejar de visão. S. Ex.^a
remergulhára no gabinete--o Fidalgo tambem, depois de se debruçar da
varanda, espreitar a caleche da Torre. Entre os amigos rompeu um clamor:
--Viva! Reconciliação!
--Acabou a guerra das Rosas!
--E as correspondencias da _Gazeta do Porto_?...
--É que houve peripecia tremenda!
--Temos o Gonçalinho administrador d'Oliveira!
--Upa, Ex.^{mo} Snr., upa!
Mas de novo emmudeceram. O Cavalleiro e o Fidalgo reappareciam, n'uma
enfronhada conversa, que os deteve um momento esquecidos, na evidencia
da varanda escancarada. Depois o Cavalleiro, com uma familiaridade
carinhosa, bateu nas costas do Gonçalo--como se publicasse a sua
reconciliação diante da Praça maravilhada. E outra vez se sumiram,
n'esse passear conversado e intimo, que os trazia da sombra do gabinete
para a claridade da janella, roçando as mangas, misturando o fumo leve
dos charutos. Em baixo o bando crescia, mais excitado. Passára o Mello
Alboim, o Barão das Marges, o Dr. Delegado: e, chamados com ancia, cada
um correra, devorára esgazeadamente a novidade, embasbacára para o velho
balcão de pedra que o sol dourava. Os grossos ponteiros do relogio do
Governo Civil já se acercavam das quatro horas. Os dous Villa-Velhas,
outros «rapazes», estafados, retrocederam ás cadeiras de verga da
Tabacaria. O Dr. Delegado, que jantava ás quatro e soffria do estomago,
despegou desconsoladamente dos Arcos, supplicando ao Pestana seu visinho
«que apparecesse ao café, para contar o resto...» Mello Alboim, esse,
enfiára para casa, defronte do Governo Civil, na esquina do Largo: e da
janella, disfarçado por traz da mulher e da cunhada, ambas de chambres
brancos e de papelotes, sondava o gabinete de S. Ex.^a com um binoculo.
Por fim bateram, com estendida pancada, as quatro horas. Então o Barão
das Marges, na sua impaciencia borbulhante, decidiu subir ao Governo
Civil, «para farejar!...»
Mas n'esse momento André Cavalleiro assomava de novo á varanda--sózinho,
com as mãos enterradas no jaquetão de flanella azul. E quasi
immediatamente a caleche da Torre largou da porta do Governo Civil,
atravessou a Praça, com os stores verdes meio corridos, descobrindo
apenas, áquelles cavalheiros avidos, as calças claras do Fidalgo.
--Vae para os Cunhaes!
Lá o apanhava pois o Barrôlo! E todos apressaram o bom Barrôlo a que
montasse, recolhesse, para ouvir do cunhado os motivos e os lances
d'aquella paz historica! O Barão das Marges até lhe segurou o estribo.
Barrôlo, alvoroçadamente, trotou para o Largo d'El-Rei.
Mas Gonçalo Mendes Ramires, sem parar nos Cunhaes, seguia para a
Vendinha, onde decidira jantar, dando um descanço á parelha esfalfada. E
logo depois das ultimas casas da cidade subiu as stores, respirou
deliciosamente, com o chapeo sobre os joelhos, a luminosa frescura da
tarde--mais fresca e de uma claridade mais consoladora que todas as
tardes da sua vida... Voltava d'Oliveira vencedor! Furára emfim atravez
da fenda, atravez do muro! E sem que a sua honra ou o seu orgulho se
esgaçassem nas asperezas estreitas da fenda!... Abençoado Gouveia,
esperto Gouveia! E abençoada a esperta conversa, na vespera, pela
calçadinha de Villa-Clara!...
Sim, de certo, fôra custoso aquelle mudo momento em que se sentára
seccamente, hirtamente, á borda da poltrona, junto da pesada meza
administrativa de S. Ex.^a. Mas mantivera muita dignidade e muita
simplicidade...--«Sou forçado (dissera) a dirigir-me ao Governador
Civil, á Auctoridade, por um motivo de ordem publica...» E a primeira
avença partira logo do Cavalleiro, que torcia a bigodeira, pallido:--«
Sinto profundamente que não seja ao homem, ao velho amigo, que Gonçalo
Mendes Ramires se dirija...» Elle ainda se conservára retrahido,
resistente, murmurando com uma frieza triste:--«As culpas não são
decerto minhas...» E então o Cavalleiro, depois de um silencio em que
lhe tremera o beiço:--«Ao cabo de tantos annos, Gonçalo, seria mais
caridoso não alludir a culpas, lembrar somente a antiga amizade, que,
pelo menos em mim, se conservou a mesma, leal e séria.» A esta
sensibilisada invocação, elle volvera, com doçura, com indulgencia:--«Se
o meu antigo amigo André recorda a nossa antiga amizade, eu não posso
negar que em mim tambem ella nunca inteiramente se apagou...» Ambos
balbuciaram ainda alguns confusos lamentos sobre os desaccordos da vida.
E quasi insensivelmente se trataram por _tu_! Elle contou ao Cavalleiro
a torpe ousadia do Casco. E o Cavalleiro, indignado como amigo, mais
como Auctoridade, telegraphára logo ao Gouveia um mandado forte para
inutilisar o valentão dos Bravaes... Depois conversaram da morte do
Sanches Lucena, que impressionava o Districto. Ambos louvaram a belleza
da viuva, os seus duzentos contos. O Cavalleiro recordou a manhã, na
_Feitosa_, em que entrando pela porta pequena do jardim, a
surprehendera, dentro d'um caramanchão de rosas, a apertar a liga. Uma
perna divina! Ambos se recusaram, rindo, a casar com a D. Anna, apezar
dos duzentos contos e da divina perna...--Já entre elles se
restabelecera a antiga familiaridade de Coimbra. Era «tu Gonçalo, tu
André, oh menino, oh filho!»
E fôra André, naturalmente, que alludira á desapparição do Deputado do
Governo, á surpreza do circulo vago... Elle então, com indifferença,
estirado na poltrona, rufando com os dedos na borda da mesa, murmurára:
--Sim, com effeito... Vocês agora devem estar embaraçados, assim de
repente...
Mais nada! apenas estas indolentes palavras, murmuradas através do rufo.
E o Cavalleiro, logo, sem preparação, apressadamente, empenhadamente,
lhe offerecera o Circulo!--Pousára os olhos n'elle com lentidão, como
para o penetrar, o escutar... Depois, insinuante e grave:
--Se tu quizesses, Gonçalo, não estavamos embaraçados...
Elle ainda exclamára, com surpreza e riso:
--Como, se eu quizesse?
E o André, sempre com os olhos n'elle cravados, os largos olhos
lustrosos, tão persuasivos:
--Se tu quizesses servir o Paiz, ser deputado por Villa-Clara, já não
estavamos embaraçados, Gonçalo!
_Se tu quisesses_... E perante esta insistencia que rogava, tão sincera
e commovida, em nome do Paiz, elle consentira, vergára os hombros:
--Se te posso ser util, e ao Paiz, estou ás vossas ordens.
E eis a fenda transposta, a aspera fenda, sem rasgão no seu orgulho ou
na sua dignidade! Depois conversaram desafogadamente, passeando pelo
gabinete, desde a estante carregada de papeis até á varanda--que André
abrira, por causa d'um cheiro persistente de petroleo entornado na
vespera. André tencionava partir n'essa noite para Lisboa--para
conferenciar com o Governo, depois d'aquella inesperada desapparição do
Lucena. E, agora em Lisboa, imporia o querido Gonçalo como o unico
Deputado, depois do Sanches de Lucena, seguro e substancial--pelo nome,
pelo talento, pela influencia, pela lealdade. E eis a eleição
consummada! De resto (declarára o Cavalleiro, rindo) aquelle Circulo de
Villa-Clara constituia uma propriedade sua--tão sua como Corinde.
Livremente, poderia eleger o servente da Repartição que era gago e
bebado. Prestava pois um serviço esplendido ao Governo, á Nação,
apresentando um môço de tão alta origem e de tão fina intelligencia...
Depois accrescentára:
--Não tens a pensar mais na eleição. Vaes para a Torre. Não contas a
ninguem, a não ser ao Gouveia. Esperas lá, muito quietinho, telegramma
meu de Lisboa. E, recebido elle, estás Deputado por Villa-Clara,
annuncias a teu cunhado, aos amigos... Depois, no domingo, vens almoçar
comigo a Corinde, ás onze.
Então ambos se apertaram n'um abraço que fundiu de novo, e para sempre,
as duas almas apartadas. Depois, ao cimo da escadaria de pedra onde o
acompanhára, André, repenetrando timidamente no Passado, murmurou com um
riso pensativo:--«Que tens tu feito ultimamente, n'essa querida Torre?»
E, ao saber da Novella para os *Annaes*, suspirou com saudade dos tempos
de Imaginação e d'Arte em Coimbra, quando elle amorosamente lapidava o
primeiro canto d'um poema heroico, o _Fronteiro de Ceuta_. Emfim outro
abraço--e alli voltava deputado por Villa-Clara.
Todos esses campos, esses povoados que avistava da portinhola da
caleche, era elle que os representava em Côrtes, elle, Gonçalo Mendes
Ramires... E superiormente os representaria, mercê de Deus! Porque já as
idéas o invadiam, viçosas e ferteis. Na Vendinha, emquanto esperava que
lhe frigissem um chouriço com ovos e duas postas de savel, meditou, para
a Resposta ao Discurso da Corôa, um esboço sombrio e áspero da nossa
Administração na Africa. E lançaria então um brado á Nação, que a
despertasse, lhe arrastasse as energias para essa Africa portentosa,
onde cumpria, como gloria suprema e suprema riqueza, edificar de costa a
costa um Portugal maior!... A noite cerrára, ainda outras idéas o
revolviam, vastas e vagas--quando o trote esfalfado da parelha estacou
no portão da Torre.
Ao outro dia (terça feira) ás dez horas, o Bento entrou no quarto do
Fidalgo com um telegramma, que chegara á Villa de madrugada. Gonçalo
pensou com um deslumbrado pulo do coração:--«É do Governo!»--Era do
Pinheiro, gritando pela Novella. Gonçalo amarrotou o telegramma. A
Novella! Como poderia labutar na Novella, agora, todo na impaciencia e
no esforço da sua Eleição?... Nem almoçou socegadamente--retendo,
atravez dos pratos que arredava, um desejo desesperado de «contar ao
Bento.» E, sorvido o café n'um sorvo impaciente, atirou para
Villa-Clara, a desafogar com o Gouveia. O pobre administrador jazia de
novo no camapé de palhinha, com papas na garganta. E toda a tarde, na
estreita sala forrada de papel verde-gaio, Gonçalo exaltou os talentos
do André, «homem de governo e de idéas, Gouveia!»--celebrou o Ministerio
Historico, «o unico capaz de salvar esta choldra, Gouveia!»---desenrolou
vistosos Projectos de Lei que meditava sobre a Africa, «a nossa
esperança magnifica, Gouveia!»--Emquanto o Gouveia, estirado, só rompia
a mudez e a immobilidade, para murmurar chôchamente, apalpando o calor
das papas:
--E a quem deve vossê tudo isso, Gonçalinho?... Cá ao meco!»
Na quarta-feira, ao accordar, tarde, o seu pensamento saltou logo
soffregamente para o André Cavalleiro, que a essa hora, em Lisboa,
almoçava no Hotel Central (sempre, desde rapaz, André se conservára fiel
ao Hotel Central). E todo o dia, fumando cigarros insaciavelmente
atravez do silencio da casa e da quinta, seguiu o Cavalleiro nos seus
giros de Chefe de Districto, pela Baixa, pela Arcada, pelos
Ministerios... Naturalmente jantaria com o tio Reis Gomes, Ministro da
Justiça. Outro convidado certamente seria o José Ernesto, Ministro do
Reino, condiscipulo do Cavalleiro, seu confidente politico... N'essa
noite, pois, tudo se decidia!
--Ámanhã, pelas dez horas, tenho cá telegramma do André.
Nenhuma noticia chegou á Torre:--e o Fidalgo passou a lenta quinta feira
á janella, vigiando a estrada poeirenta por onde surdiria o moço do
telegrapho, um rapaz gordo que elle conhecia pelo bonné d'oleado e pela
perna manca. Á noitinha, intoleravelmente inquieto, mandou um moço a
Villa-Clara. Talvez o telegramma arrastasse, esquecido, pela mesa
d'aquella «besta do Nunes do Telegrapho!» Não havia telegramma para o
Fidalgo. Então ficou certo de surgirem em Lisboa difficuldades! E toda a
noite, sem socego, n'uma indignação que rolava e crescia, imaginou o
Cavalleiro cedendo mollemente a outras exigencias do
Ministro--acceitando com servilismo para Villa-Clara a candidatura
d'algum imbecil da Arcada, d'algum chulo escrevinhador do Partido!
Pela manhã injuriou o Bento por lhe trazer tão tarde os jornaes e o chá:
--E não ha telegramma, nem carta?
--Não ha nada.
Bem, fôra trahido! Pois nunca, nunca, aquelle infame Cavalleiro
transporia a porta dos Cunhaes! De resto, que lhe importava a burlesca
Eleição? Mercê de Deus que lhe sobravam outros meios de provar
soberbamente o seu valor--e bem superiores a uma ensebada cadeira em S.
Bento! Que miseria, na verdade, curvar o seu espirito e o seu nome ao
rasteiro serviço do S. Fulgencio, o obeso e horrendo careca! E resolveu
logo regressar aos cimos puros da Arte, occupar altivamente todo o dia
no nobre e elegante trabalho da sua Novella.
Depois de almoço ainda abancou, com esforço, remexeu nervosamente as
tiras de papel. E de repente agarrou o chapéo, abalou para Villa-Clara,
para o telegrapho. O Nunes não recebera nada para sua exc.^a!--Correu,
coberto de suor e pó, á Administração do Concelho. O snr. Aministrador
partira para Oliveira!... Positivamente vencera outra combinação--eis a
sua confiança burlada! E recolheu á Torre, decidido a tomar um desforço
tremendo do Cavalleiro por tanta injuria amontoada sobre o seu nome,
sobre a sua dignidade! Toda a abafada e enevoada Sexta-feira a consumio
amargamente meditando esta vingança, que queria bem publica e bem
sangrenta. A mais saborosa, mais simples, seria rasgar a bigodeira do
infame com chicotadas, na escadaria da Sé, um domingo, á sahida da
missa! Ao escurecer, depois do jantar que mal debicára, n'aquelle
despeito e humilhação que o pungiam, envergou o casaco para voltar a
Villa-Clara. Não entraria no Telegrapho--já com vergonha do Nunes. Mas
gastaria a noite na Assembléa, jogando o bilhar, tomando um alegre chá,
lendo risonhamente os Jornaes Regeneradores, para que todos recordassem
a sua indifferença--se por acaso, mais tarde, conhecessem a trama em que
resvalára.
Desceu ao páteo, onde as arvores adensavam a sombra do crepusculo
carregado de fuscas nuvens. E abria o portão, quando esbarrou com um
rapaz que s'esbaforia sobre a perna manca e gritava:--«É um telegramma!»
Com que voracidade lh'o arrancou das mãos! Correu á cozinha, ralhou
desabridamente á Rosa pela falta da luz tardia! E, com um phosphoro a
arder nos dedos, devorou, n'um lampejo, as linhas bemditas:--«_Ministro
acceita, tudo arranjado_...» O resto era o Cavalleiro lembrando que no
domingo o esperava em Corinde, ás onze, para almoçarem e conversarem...
Gonçalo Mendes Ramires deu cinco tostões ao moço do telegrapho--galgou
as escadas. Na livraria, á claridade mais segura do candieiro, releu o
telegramma delicioso. _Ministro acceita, tudo arranjado!_... Na sua
transbordante gratidão pelo Cavalleiro, ideou logo um jantar soberbo,
offerecido nos Cunhaes pelo Barrôlo, cimentando para sempre a
reconciliação das duas Casas. E recommendaria a Gracinha que, para mais
honrar a doce festa, se decotasse, pozesse o seu collar magnifico de
brilhantes, a derradeira joia historica dos Ramires.
--Aquelle André! que flôr, que rapaz!
* * * * *
O relogio de charão, no corredor, rouquejou as nove horas. E só então
Gonçalo percebeu a densa chuva que alagava a quinta, e a que elle,
embebido na sua gloria, passeando pela livraria n'um luminoso rolo de
imaginações, não sentira o rumor sobre a pedra da varanda, nem sobre a
folhagem dos limoeiros.
Para se calmar, occupar a noite encerrada, deliberou trabalhar na
Novella. E realmente agora convinha que terminasse essa _Torre de D.
Ramires_ antes do afan da Eleição--para que em Janeiro, ao abrir das
Côrtes, surgisse na Politica com o seu velho nome aureolado pela
Erudição e pela Arte. Envergou o roupão de flanella. E á banca, com o
costumado bule de chá inspirador, repassou lentamente o começo do
Capitulo II--que o não contentava.
Era no castello de Santa Ireneia, n'aquelle dia de Agosto em que
Lourenço Ramires cahira no valle de Canta-Pedra, mal ferido e captivo do
Bastardo de Bayão. Pelo Almocadem dos peões, que, com o braço varado por
uma chuçada, voltára em desesperada carreira ao Castello, já Tructezindo
Ramires conhecia o desventuroso desfecho da lide.--E n'este lance o tio
Duarte, no seu poemeto do Bardo, com um lyrismo molle, mostrava o enorme
Rico-Homem gemendo derramadamente atravez da sala-d'armas, na saudade
d'esse filho, flôr dos Cavalleiros de Riba-Cavado, derrubado, amarrado
n'umas andas, á mercê da gente de Bayão...
Lagrimas irrepresas lhe rebentam,
Arfa o arnez c'o soluçar ardente!...
Ora, levado no harmonioso sulco do tio Duarte, tambem elle, nas linhas
primeiras do Capitulo, esboçára o velho abatido sobre um escanho, com
lagrimas relusentes sobre as barbas brancas, as duras mãos descahidas
como as de languida Dona--em quanto que nas lages, batendo a cauda, os
seus dois lebreus o contemplam n'uma sympathia anciada e quasi humana.
Mas, agora, este choroso desalento não lhe parecia coherente com a alma
tão indomavelmente violenta do avô Tructezindo. O tio Duarte, da casa
das Balsas, não era um Ramires, não sentia hereditariamente a fortaleza
da raça:--e, romantico plangente de 1848, inundára logo de prantos
romanticos a face ferrea de um lidador do seculo XII, d'um companheiro
de Sancho I! Elle porém devia restabelecer os espiritos do Senhor de
Santa Ireneia dentro da realidade epica. E, riscando logo esse descorado
e falso começo de Capitulo, retomou o lance mais vigorosamente, enchendo
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