A Illustre Casa de Ramires - 22

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Em casa do Thomaz Pedra, a avó Anna Pedra, uma velha entrevada, muito
velha e tremula, rompeu a choramigar por o seu Thomaz andar para o
Olival quando o Fidalgo o visitava. «Que aquillo era como visita de
santo!»
--Ora essa, tia Pedra! Peccador, grande peccador!
Dobrada na cadeirinha baixa, com as farripas brancas descendo do lenço,
pela face toda chupada de gelhas e pelluda, a tia Anna bateu no joelho
agudo:
--Não senhor! não senhor! que quem mostrou aquella caridade pelo filho
do Casco, merece estar em altar!
O Fidalgo ria, beijocava pequenadas encardidas, apertava mãos asperas e
rugosas como raizes, accendia o cigarro á braza das lareiras,
conversando, com intimidade, das molestias e dos derriços. Depois, no
calor e pó da estrada, pensava:--«É curioso! parece haver amisade,
n'esta gente!»
Ás quatro horas, derreado, decidiu cessar o giro, recolher á Torre pela
estrada mais fresca da _Bica Santa_. E passára o logarejo do Cerdal,
quando na volta aguda do Caminho, rente ao souto de azinheiros, quasi
esbarrou com o Dr. Julio, tambem a cavallo, tambem no seu giro, de
quinzena d'alpaca, alagado em suor, debaixo d'um guarda-sol de sêda
verde. Ambos detiveram as egoas, se saudaram amavelmente.
--Muito gosto em o vêr, Snr. Dr. Julio...
--Egualmente, com muita honra, Snr. Gonçalo Ramires...
--Então tambem na tarefa?...
O Dr. Julio encolheu os hombros:
--Que quer V. Ex.^a? Se me metteram n'esta! E sabe V. Ex.^a como isto
acaba?... Acaba em eu mesmo, no outro Domingo, votar em V. Ex.^a.
O Fidalgo riu. Ambos se debruçaram, para se apertarem as mãos com
alegria, com estima.
--Que calor este, Snr. Dr. Julio!
--Horroroso, Snr. Gonçalo Ramires... E que massada!
Assim o Fidalgo empregou essa semana nas visitas aos Eleitores--«os
grandes e os miudos.» E dois dias antes da Eleição, n'uma sexta-feira á
tarde, com um tempo já macio e fresco, partiu para Oliveira--onde
chegára, na vespera, o André Cavalleiro, depois da sua tão longa, tão
fallada demora em Lisboa.
Nos Cunhaes, apenas saltára da caleche, logo se enfureceu ao saber, pelo
bom João da Porta--«que as Snr.^{as} Louzadas estavam em cima, de
visita, com a Snr.^a D. Graça...»
--Ha muito?
--Já lá estão pegadas ha meia hora boa, meu senhor.
Gonçalo enfiou surrateiramente para o seu quarto, pensando:--«Que
desavergonhadas! Chegou o André, veem logo cocar!» E já se lavára,
mudára o fato cinzento,--quando o Barrôlo appareceu, esbaforido,
desusadamente radiante, de sobrecasaca, de chapeu alto, com as bochechas
accesas, alvoroçadamente radiantes:
--Eh, seu Barrôlo, que janota!
--Parece bruxedo! gritou o Barrôlo, depois d'um abraço, que repetiu, com
desacostumado fervor. Estava agora mesmo para te mandar um telegramma,
que viesses...
--Para quê?
O Barrôlo gaguejou, com um riso reprimido que o illuminava, o inchava:
--Para quê? P'ra nada... Quero dizer, para a Eleição! Pois a Eleição é
além d'ámanhã, menino! O Cavalleiro chegou hontem. Agora volto eu do
Governo Civil. Estive no Paço com o Snr. Bispo, depois passei pelo
Governo Civil... Optimo, o André! Aparou o bigode, parece mais moço. E
traz novidades... Traz grandes novidades!
E o Barrôlo esfregava as mãos, n'um tão faiscante alvoroço, com tanto
riso escapando dos olhos e da face relusente, que o Fidalgo o encarou
curioso, impressionado:
--Ouve lá, Barrolinho! Tu tens alguma cousa boa para me annunciar?
Barrôlo recuou, negou com estrondo, como quem bruscamente fecha uma
porta. Elle? Não! Não sabia nada! Só a Eleição! Na Murtosa votação
tremenda...
--Ah! pensei, murmurou Gonçalo. E a Gracinha?
--A Gracinha tambem não!
--Tambem não quê, homem? Como está? Simplesmente como está?
--Ah! está com as Louzadas. Ha mais de meia hora, aquellas bebedas!...
Naturalmente por causa do Bazar do Asylo Novo... Esta massada dos
Bazares... E ouve lá, Gonçalinho! Tu ficas até Domingo?
--Não, volto ámanhã para a Torre.
--Oh!...
--Pois dia d'Eleicão, homem! devo estar em casa, no meu centro, no meio
das minhas freguezias...
--É pena, murmurou o Barrôlo. Logo se sabia juntamente com a Eleição...
Eu dava um jantar tremendo...
--Logo se sabia, o quê?
O Barrôlo emmudeceu, com outro riso nas bochechas, que eram duas brazas
gloriosas. Depois novamente gaguejou, gingando:
--Logo se sabia... Nada! O resultado, o apuramento. E grande brodio,
grande foguetorio. Eu, na Murtosa, abro pipa de vinho.
Então Gonçalo risonhamente prendeu o Barrôlo pelos hombros:
--Dize lá, Barrolinho. Dize lá. Tu tens uma cousa boa para contar ao teu
cunhado.
O outro escapou, protestando com alarido: Que teima, que tolice. Elle
não sabia nada. O André não lhe contára nada!
--Bem, concluiu o Fidalgo, certo de um amavel mysterio, que pairava.
Então descemos. E se essas carraças das Louzadas ainda estiverem lá
pegadas, manda dizer pelo escudeiro á sala, bem alto, á Gracinha, que
cheguei, que lhe desejo fallar immediatamente no meu quarto: com esses
monstros não ha considerações.
O Barrôlo balbuciou, hesitando:
--O Snr. Bispo gosta d'ellas... Muito amavel commigo, ainda ha pouco, o
Snr. Bispo.
Mas, logo nas escadas, sentiram o piano, Gracinha cantarolando. Já se
libertára das Louzadas. Era uma antiga canção patriotica da Vendeia, que
outr'ora na Torre, ella e Gonçalo entoavam com emoção, quando os
inflammava o amor fidalgo e romantico dos Bourbons e dos Stuarts:
Monsieur de Charette a dit à ceux d'Ancenes
"Mes Amis!...
Monsieur de Charette a dit...
Gonçalo franziu vagarosamente o reposteiro da sala, rematando a
estrophe, com o braço erguido como uma bandeira:
"Mes amis!
Le Roy va rammener les Fleurs de Lys!"
Gracinha saltou do mocho, n'uma surpresa.
--Não te esperavamos! imaginei que passavas a Eleição na Torre... E por
lá?
--Na Torre, tudo bem, com a ajuda de Deus... Mas eu com trabalho
immenso. Acabei o meu romance; depois visitas aos Eleitores.
Barrôlo, que não socegava pela sala, rompeu para elles, com o mesmo riso
suffocado:
--Queres tu saber, Gracinha? Tem estado este homem, desde que chegou,
n'uma curiosidade, a ferver. Imagina que eu tenho uma boa nova, uma
grande nova para lhe contar... Eu não sei nada, a não ser a Eleição!
Pois não é verdade, Gracinha?
Gonçalo, muito serio, prendeu o queixo da irmã:
--Sabes tu, dize lá.
Ella sorriu, córada... Não, não sabia nada, só a Eleição.
--Dize lá!
--Não sei... São tolices do José.
Mas então, ante aquelle sorriso fraco, rendido, que confessava--o
Barrôlo não se conteve, desafogou como um morteiro estoira.--Pois bem!
sim! com effeito!--Grande novidade! Mas o André, que a trouxera de
Lisboa, fresquinha a saltar, queria elle, só elle, causar a surpresa a
Gonçalo...
--De modo que eu não posso! Jurei ao André. A Gracinha sabe, que eu já
lhe contei hontem... Mas tambem não póde, tambem jurou. Só o André. Elle
vem logo tomar chá, e rebenta a bomba... Que é uma bomba! e graúda!
Gonçalo, roído de curiosidade, murmurou simplesmente, encolhendo os
hombros:
--Bem, já sei, é uma herança! Tens quinze tostões d'alviçaras, Barrôlo.
Mas durante o jantar e depois na sala tomando café, emquanto Gracinha
recomeçára as velhas canções patrioticas, agora as jacobitas, em louvor
dos Stuarts--Gonçalo anciou pela apparição do Cavalleiro. Nem receava
que a esse encontro se misturasse amargura, despeito suffocado. Todo o
seu furor contra o Cavalleiro, acceso na dolorosa tarde do Mirante,
revolvido na Torre durante torturados dias, logo se dissipára lentamente
depois da sua tocante conversa com a irmã, na manhã historica da briga
da Grainha. Gracinha então, com grandes lagrimas de pureza e de verdade,
jurára reserva, retrahimento. Gonçalo, abandonando Oliveira, mostrava
tambem uma resistencia louvavel contra o sentimento ou a vaidade que o
transviára. Demais elle não podia romper novamente com o Cavalleiro,
andando ainda nos mexericos e espantos d'Oliveira aquella reconciliação
ruidosa que chamára o Cavalleiro á intimidade dos Cunhaes. E por fim de
que valiam furores ou magoas? Nenhum rugir ou gemer seu annullariam o
mal que se consummára no Mirante--se porventura se consummára. E assim
toda a cólera contra o André se dissipára n'aquella sua leve e doce
alma, onde os sentimentos, sobretudo os mais escuros, os mais
carregados, sempre facilmente se desfaziam como nuvens em ceu de
estio...
Mas quando, perto das nove horas, o Cavalleiro penetrou na sala,
vagaroso e magnifico, com o bigode encurtado mas mais retorcido, uma
gravata vermelha entufando estridentemente no largo peito que entufava,
Gonçalo sentiu uma renovada aversão por toda aquella petulancia recheada
de falsidade--e apenas poude bater mollemente, desenxabidamente, nas
costas do velho amigo, que o apertava n'um abraço d'apparatosa ternura.
E em quanto André, torcendo as luvas claras, languidamente enterrado na
poltrona que o Barrôlo lhe achegou com carinho, contava de Lisboa e de
Cascaes, tão alegre, e partidas de _bridge_ e da Parada e
d'El-Rei--Gonçalo revivia a tarde do Mirante, o seu pobre coração a
bater contra a persiana mal fechada, a bruta supplica murmurada atravez
d'aquelles bigodes atrevidos, e emmudecera, como empedernido,
esmigalhando nervosamente entre os dentes o charuto apagado. Mas
Gracinha conservava uma serenidade attenta, sem nenhum dos seus
chammejantes rubores, dos seus desgraçados enleios de modo e gesto,
apenas levemente secca, d'uma seccura preparada e posta. Depois André
alludira muito desprendidamente ao seu regresso a Lisboa, depois da
Eleição, «porque o tio Reis Gomes, o José Ernesto, esses crueis amigos,
lhe andavam atirando para os hombros todo o trabalho da Nova Reforma
Administrativa.»
Entre elle e Gracinha, separados por um curto tapete, parecia cavada uma
funda legua de fosso, onde rolára, se afundára todo aquelle romance do
verão, sem que na face d'ambos restasse um afogueado vestigio do seu
ardor. E Gonçalo, insensivelmente contente pela apparencia, terminou por
abandonar a cadeira onde se impedernira, accendeu o charuto na vela do
piano, perguntou pelos amigos de Lisboa. Todos (segundo o Cavalleiro)
anciavam pela chegada de Gonçalo.
--Lá encontrei tambem o Castanheiro... Enthusiasmado com o teu Romance.
Parece que nem no Herculano, nem no Rebello existe nada tão forte, como
reconstrucção historica. O Castanheiro prefere mesmo o teu realismo
epico ao do Flaubert, na _Salammbô_. Emfim, enthusiasmado! E nós, está
claro, ardendo por que appareça a sublime obra.
O Fidalgo córou profundamente, murmurando--«Que tolice!» Depois roçou
pela poltrona em que se enterrava o André, afagou suavemente o largo
hombro do André:
--Pois, tens feito cá muita falta, meu velho! Ha dias passei em Corinde,
tive saudades...
Então o Barrôlo, que não socegava, vermelho, a estoirar rebolando pela
sala, espiando ora o Cavalleiro, ora o Gonçalo, com um riso mudo e
avido, não se conteve mais, gritou:
--Bem, basta de prologos... Vamos lá agora á grande surpresa, André! Eu
tenho estado toda a tarde a rebentar... Mas emfim, jurei e calei! Agora
não posso... Vamos lá. E tu, Gonçalinho, vae preparando os quinze
tostões.
Gonçalo, com a curiosidade de novo refervendo, apenas sorria,
desprendidamente:
--Com effeito! Parece que tens uma bella novidade.
O Cavalleiro alargou lentamente os braços, sempre enterrado na vasta
poltrona, sem pressa:
--Oh! é a cousa mais simples, mais natural... A Snr.^a D. Graça já sabe,
não é verdade?... Não ha motivo para surpresa... Tão legitima, tão
natural!
Gonçalo exclamou, já impaciente:
--Mas emfim, venha lá, dize.
O Cavalleiro insistia, indolente. Todo o espanto era que só agora se
pensasse em a realisar, cousa tão devida, tão adequada. Pois não lhe
parecia á Snr.^a D. Graça?
Gonçalo, n'uma braza, berrou:
--Mas quê? que diabo?
O Cavalleiro, que se despegára vagarosamente da poltrona, puxou os
punhos, e deante de Gonçalo, no silencio attento, alteando o peito,
grave, quasi official, começou:
--Meu tio Reis Gomes, e o José Ernesto, tiveram uma ideia muito natural,
que communicaram a El-Rei, e que El-Rei approvou... Que approvou mesmo
ao ponto de a appetecer, de se assenhorear d'ella, de desejar que fosse
só sua. E hoje é só d'El-Rei. El-Rei pois pensou, como nós pensamos, que
um dos primeiros fidalgos de Portugal, decerto mesmo o primeiro, devia
ter um titulo que consagrasse bem a antiguidade illustre da Casa, e
consagrasse tambem o merito superior de quem hoje a representa... Por
isso, meu querido Gonçalo, já te posso annunciar, e quasi em nome
d'El-Rei, que vaes ser Marquez de Treixedo.
--Bravo! bravo! bramou o Barrôlo, com palmas delirantes. Saltem para cá
os quinze tostões, Snr. Marquez de Treixedo!
Uma onda de sangue cobria a fina face de Gonçalo. N'um relance sentiu
que o Titulo era um dom do Cavalleiro, não ao chefe da casa de Ramires,
mas ao irmão complacente de Gracinha Ramires... E sobre tudo sentia a
incoherencia de que, ao chefe d'uma Casa dez vezes secular, mãe de
Dynastias, edificadora do Reino, com mais de trinta dos seus varões
mortos sob a armadura, se atirasse agora um ouco titulo, atravez do
_Diario do Governo_, como a um tendeiro enriquecido que subsidiou
eleições. Todavia saudou o Cavalleiro, que esperava a effusão, os
abraços.--Oh! Marquez de Treixedo! certamente muito elegante, muito
amavel... Depois, esfregando as mãos, com um sorriso de graça e
d'espanto... Mas, meu caro André, com que auctoridade me faz El-Rei
Marquez de Treixedo?
O Cavalleiro levantou vivamente a cabeça n'uma offendida surpresa:
--Com que auctoridade? Simplesmente com a auctoridade que tem sobre nós
todos, como Rei de Portugal que ainda é, Deus louvado!
E Gonçalo, muito simplesmente, sem fumaça ou pompa, com o mesmo sorriso
de suave gracejo:
--Perdão, Andrésinho. Ainda não havia Reis de Portugal, nem sequer
Portugal, e já meus avós Ramires tinham solar em Treixedo! Eu approvo os
grandes dons entre os grandes fidalgos; mas cumpre aos mais antigos
começarem. El-Rei tem uma quinta ao pé de Beja, creio eu, o _Roncão_.
Pois dize tu a El-Rei, que eu tenho immenso gosto em o fazer, a elle,
Marquez do Roncão.
O Barrôlo embasbacára, sem comprehender, com as bochechas descahidas e
murchas. Da beira do canapé, Gracinha, toda córada, faiscava de gosto,
por aquelle lindo orgulho que tão bem condizia com o seu, mais lhe
fundia a alma com a alma do irmão amado. E André Cavalleiro, furioso,
mas vergando os hombros com ironica submissão, apenas murmurou:--«Bem,
perfeitamente!... Cada um se entende a seu modo...»
O escudeiro entrava com a bandeja do chá.
* * * * *
E no Domingo foi a Eleição.
Ainda com uma desconfiança, uma reserva supersticiosa, o Fidalgo desejou
atravessar esse dia muito solitariamente, quasi escondido, e no sabbado,
em quanto todos os amigos de Villa-Clara, mesmo os d'Oliveira, o
consideravam estabelecido nos Cunhaes, e em communicação azafamada com o
Governo Civil, montou a cavallo ao escurecer, e trotou surrateiramente
para Santa Ireneia.
Mas o Barrôlo (ainda abalado com «aquelle despauterio do Gonçalo, que
era uma offensa para o Cavalleiro! até para El-Rei!») ficára com a
missão de telegraphar para a Torre as noticias successivas das
assembleias, á maneira que ellas acudissem ao Governo Civil. E, com
ruidoso zelo, logo depois da missa, estabeleceu entre os Cunhaes e o
velho Convento de S. Domingos um serviço de creados formigando sem
repouso. Gracinha, na sala de jantar, ajudada por Padre Sueiro, copiava
com amor, n'uma lettra muito redonda, os telegrammas mandados pelo
Cavalleiro, que ajuntava a lapis alguma nota amavel--«_Tudo
optimamente!_»--_Victoria cresce._--_Parabens a V. Ex.^{as}._
Pela estrada de Villa-Clara á Torre, incessantemente, o moço do
Telegrapho se esbaforia sobre a perna manca. O Bento rompia pela
livraria, berrando: «outro telegramma, Snr. Doutor». Gonçalo, nervoso,
com um immenso bule de chá sobre a banca, a bandeja já alastrada de
cigarros meio fumados, lia o telegramma ao Bento. O Bento, com _vivas_
pelo corredor, corria a bramar o telegramma á Rosa.
E assim, quando cerca das oito horas, o Fidalgo consentiu em jantar--já
conhecia o seu triumpho explendido. E o que o impressionava, relendo os
telegrammas, era o enthusiasmo carinhoso d'aquelles influentes, povos
que elle mal rogava, e que convertiam o acto da Eleição quasi n'um acto
d'Amor. Toda a freguezia dos Bravaes marchára para a Egreja, cerrada
como uma hoste, com o José Casco na frente erguendo uma enorme bandeira,
entre dous tambores que estouravam. O Visconde de Rio-Manso entrára no
adro da Egreja de Ramilde na sua victoria, com a neta toda vestida de
branco, seguido por uma vistosa fila de _char-à-bancs_, onde se
apinhavam eleitores sob toldos de verdura. Na Finta todos os casaes se
esvasiavam, as mulheres carregadas d'ouro, os rapazes de flôr na orelha,
correndo á Eleição do Fidalgo entre o repenicar das violas, como á
romaria d'um Santo. E deante da taberna do Pintainho, em face á Egreja,
a gente da Velleda, da Riosa, do Cercal, erguera um arco de buxo, com
distico vermelho, sobre panninho:--«Viva o nosso Ramires, flôr dos
homens!»
Depois, em quanto jantava, um moço da quinta voltou de Villa-Clara,
alvoroçado, contando o delirio, as philarmonicas pelas ruas, a
Assembleia toda embandeirada, e na casa da Camara, sobre a porta, um
transparente com o retrato de Gonçalo, que uma multidão acclamava.
Gonçalo apressou o café. Por timidez, receoso dos vivorios, não ousava
correr a Villa-Clara--a espreitar. Mas accendeu o charuto, passou á
varanda, para respirar a doce noite de festa, que andava tão cheia de
clarões e rumores em seu louvor. E ao abrir a porta envidraçada quasi
recuou, com outro espanto. A Torre illuminára! Das suas fundas frestas,
atravez das negras rexas de ferro, sahia um clarão; e muito alta, sobre
as velhas ameias, refulgia uma serena corôa de lumes! Era uma surpresa,
preparada, com delicioso mysterio, pelo Bento, pela Rosa, pelos moços da
quinta,--que agora, todos, no escuro, por baixo da varanda, contemplavam
a sua obra, allumiando o ceu sereno. Gonçalo percebeu os passos
abafados, o pigarro da Rosa. Gritou alegremente da borda da varanda:
--Oh, Bento! Oh, Rosa!... Está ahi alguem?
Um risinho esfusiou. A jaqueta branca do Bento surdio da sombra.
--O Snr. Doutor queria alguma cousa?
--Não, homem! Queria agradecer... Foram vocês, hein? Está linda a
illuminacão! Mas linda. Obrigado, Bento. Obrigado, Rosa! Obrigado,
rapazes! De longe deve fazer um effeito soberbo.
Mas o Bento ainda se não contentava com aquellas lamparinas frouxas. A
Torre, para sobresahir, necessitava chammas fortes de gaz. O Snr. Doutor
nem imaginava a altura, depois em cima, a immensidão do eirado.
Então, de repente, Gonçalo sentiu um desejo de subir a esse immenso
eirado da Torre. Não entrára na Torre desde estudante--e sempre ella lhe
desagradára por dentro, tão escura, de tão duro granito, com a sua
nudez, silencio e frialdade de jazigo, e logo no pavimento terreo os
negros alçapões chapeados de ferro que levavam ás masmorras. Mas agora
as luzes nas frestas aqueciam, reviviam aquella derradeira ossada, Honra
de Ordonho Mendes. E de entre as suas ameias, mais alto que da varanda,
lhe parecia interessante respirar aquella rumorosa sympathia esparsa,
que em torno, pelas freguezias rolava, subindo para elle, atravez da
noite, como um incenso. Enfiou um paletot, desceu á cosinha. O Bento, o
Joaquim da horta, divertidos, agarraram grandes lanternas. E com elles
atravessou o pomar, penetrou pela atarracada poterna, de funda
hombreira, começou a trepar a esguia escadaria de pedra, que tanta sola
de ferro polira e poira.
Já desde seculos se perdera a memoria do logar que occupava aquella
torre nas complicadas fortificações da Honra e Senhorio de Santa
Ireneia. Não era de certo (segundo padre Sueiro) a nobre torre albarran,
nem a de Alcaçova, onde se guardava o thesouro, o cartorio, os sacos tão
preciosos das especiarias do Oriente--e talvez, obscura e sem nome,
apenas defendesse algum angulo de muralha, para os lados em que o
Castello enfrontava com as terras semeadas e os olmedos da Ribeira. Mas,
sobrevivente ás outras mais altivas, comprehendida nas construcções do
Paço formoso que se erguera d'entre o sombrio Castello Affonsino, e que
dominava Santa Ireneia durante a dynastia d'Aviz, ligada ainda por
claras arcarias d'um terraço ao Palacio de gosto italiano, em que
Vicente Ramires converteu o Paço manuelino depois da sua campanha de
Castella: isolada no pomar, mas sobranceando o casarão que lentamente se
edificára depois do incendio do Palacio em tempo d'El-Rei D. José, e a
derradeira certamente onde retiniram armas e circularam os homens do
Terço dos Ramires--ella ligava as edades e como que mantinha, nas suas
pedras eternas, a unidade da longa linhagem. Por isso o povo lhe chamára
vagamente a «Torre de D. Ramires». E Gonçalo, ainda sob a impressão dos
avós e dos tempos que resuscitára na sua Novella, admirou com um
respeito novo a sua vastidão, a sua força, os seus empinados escalões,
os seus muros tão espessos, que as frestas esguias na espessura se
alongavam como corredores, escassamente allumiadas pelas tigelinhas
d'azeite, com que o Bento as despertára. Em cada um dos trez sobrados
parou, penetrando curiosamente, quasi com uma intimidade, nas salas núas
e sonoras, de vasto lagedo, de tenebrosa abobada, com os assentos de
pedra, estranho buraco ao meio, redondo como o d'um poço e ainda pelas
paredes riscadas de sulcos de fumos, os anneis dos tocheiros. Depois em
cima, no immenso eirado que a fieira de lamparinas, cingindo as ameias,
enchia de claridade, Gonçalo, erguendo a gola do paletot na aragem mais
fina, teve a dilatada sensação de dominar toda a Provincia, e de possuir
sobre ella uma supremacia paternal, só pela soberana altura e velhice da
sua torre, mais que a Provincia e que o Reino. Lentamente caminhou em
roda das ameias, até ao miradouro, a que um candieiro de petroleo, sobre
uma cadeira de palhinha posta em frente á fresta, estragava o entono
feudal. No céo macio, mas levemente enevoado, raras estrellas luziam,
sem brilho. Por baixo a quinta, toda a largueza dos campos, a espessura
dos arvoredos se fundiam em escuridão. Mas na sombra e silencio, por
vezes além, para o lado dos Bravaes, lampejavam foguetes remotos. Um
clarão amarellado e fumarento, caminhando mais longe, entestando para a
Finta, era de certo um rancho com archotes festivos. Na alta Egreja da
Velleda tremeluzia uma illuminação vaga, rala. Outras luzes, incertas
através do arvoredo, riscavam o velho arco do Mosteiro, em Santa Maria
de Craquêde. Da terra escura subia, por vezes, um errante som de
tambores. E lumes, fachos, abafados rufos, eram dez freguezias
celebrando amoravelmente o Fidalgo da Torre, que lhes recebia o amor e o
preito no eirado da sua torre, envolto em silencio e sombra.
O Bento descera, com o Joaquim, para reforçar as lamparinas nas frestas
dos muros, onde ellas esmoreciam na espessura. E Gonçalo sósinho,
acabando o charuto, recomeçou a rolda, lento, em torno ás ameias,
perdido n'um pensamento que já o agitára estranhamente, atravez
d'aquelle sobresaltado Domingo... Era pois popular! Por todas essas
aldeias, estendidas á sombra longa da Torre, o Fidalgo da Torre era pois
popular! E esta certeza não o penetrava d'alegria, nem de
orgulho,--antes o enchia agora, n'aquella serenidade da noite, de
confusão, d'arrependimento! Ah! se adivinhasse--se elle adivinhasse!...
Como caminharia, com a cabeça bem levantada, com os braços bem
estendidos, sósinho, em confiança risonha para todas essas sympathias
que o esperavam, tão certas, tão dadas. Mas não! Sempre se julgára
cercado da indifferença d'aquellas aldeias, onde elle, apesar do
antiquissimo nome, era o costumado moço, que volta de Coimbra e vive
silenciosamente da sua renda, passeando na sua egoa. A essas
indifferenças tão naturaes nunca elle imaginára arrancar o punhado de
votos, o punhado de papelinhos que necessitava para entrar na Politica,
onde elle conquistaria pela destreza o que os velhos Ramires recebiam
por herança--fortuna e poder. Por isso se agarrára tão avidamente á mão
do Cavalleiro, á mão do Snr. Governador Civil--para que S. Ex.^a, o bom
amigo, o mostrasse, o impozesse como o homem necessario, o querido do
Governo, o melhor entre os bons, a quem as freguezias deviam offerecer
n'um Domingo o punhado de votos.
E na impaciencia d'esse favor abafára a memoria de amargos aggravos;
deante d'Oliveira pasmada abraçára o homem detestado desde annos, que
andava chasqueando e demolindo, por praças e jornaes: facilitára a
resurreição de sentimentos que para sempre deviam jazer enterrados; e
envolvera o ser que mais amava, a sua pobre e fraca irmãsinha, em
confusão e miseria moral... Torpezas e damnos--e para quê? Para
surripiar um punhado de votos que dez freguezias lhe trariam correndo,
gratuitamente, effusivamente, entre _vivas_ e foguetes, se elle acenasse
e lh'os pedissse...
Ah! eis ahi... Fôra a desconfiança, essa encolhida desconfiança de si
mesmo,--que desde o collegio, atravez da vida, lhe estragára a vida. Era
a mesma desgraçada desconfiança, que ainda semanas antes, deante de uma
sombra, um pau erguido, uma risada n'uma taberna, o forçava a abalar, a
fugir, arripiado e praguejando contra a sua fraqueza. Por fim, um dia,
n'uma volta d'estrada, avança, ergue o chicote--e descobre a sua força!
E agora, penetra por entre o povo, agarrado timidamente á mão poderosa,
por se imaginar impopular--e descobre a sua popularidade immensa. Que
vida enganada, e tanto a sujára--por não saber!
O Bento não apparecia, ainda azafamado em illuminar condignamente as
rexas da Torre. Gonçalo atirou a ponta do charuto, e com as mãos nas
algibeiras do paletot, parou junto do miradouro, olhou vagamente para as
estrellas. A nevoa adelgaçára quasi sumida,--lumes mais vivos palpitavam
no ceu mais profundo. De lumes e ceus descia essa sensação de
infinidade, d'eternidade, que penetra, como uma surpresa, nas almas
desacostumadas da sua contemplação. Na alma de Gonçalo passou, muito
fugidiamente, o espanto d'essas eternas immensidades sob que se agita,
tão vaidosa da sua agitação, a rasteira, a sombria poeira humana. Longe,
algum derradeiro foguete ainda lampejava, logo apagado na escuridão
serena. As luzinhas sobre a capella de Velleda, sobre o arco de Santa
Maria de Craquêde, esmoreciam, já ralas. Todo o remoto rumor de
musicatas se perdera, na mudez mais funda dos campos adormecidos. O dia
de triumpho findava, breve como os luminares e os foguetes.--E Gonçalo,
parado, rente do miradouro, considerava agora o valor d'esse triumpho
por que tanto almejára, porque tanto sabujára. Deputado! Deputado por
Villa-Clara, como o Sanches Lucena. E ante esse resultado, tão miudo,
tão trivial,--todo o seu esforço tão desesperado, tão sem escrupulos,
lhe parecia ainda menos immoral que risivel. Deputado! Para quê? Para
almoçar no Bragança, galgar de tipoia a ladeira de S. Bento, e dentro do
sujo convento escrevinhar na carteira do Estado alguma carta ao seu
alfaiate, bocejar com a inanidade ambiente dos homens e das ideias, e
distrahidamente acompanhar, em silencio ou balando, o rebanho do S.
Fulgencio, por ter desertado o rebanho identico do Braz Victorino. Sim,
talvez um dia, com rasteiras intrigas e sabujices a um chefe e á senhora
do chefe, e promessas e risos atravez de Redacções, e algum Discurso
esbrazeadamente berrado--lograsse ser Ministro. E então? Seria ainda a
tipoia pela calçada de S. Bento, com o correio atraz na pileca branca, e
a farda mal-feita, nas tardes d'assignatura, e os recurvados sorrisos
d'amanuenses pelos escuros corredores da Secretaria, e a lama escorrendo
sobre elle de cada gazeta d'opposição... Ah! que pêca, desinteressante
vida, em comparação d'outras cheias e soberbas vidas, que tão
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