A Illustre Casa de Ramires - 13

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--Muito sympathico este André! Rapaz franco, de quem sempre gostei...
Realmente estava morto que acabassem estas historias... E mesmo lá para
os Cunhaes, para a companhia, para o cavaco, que bella acquisição!
Quinta feira de manhã depois do almoço, no terraço do jardim onde
tomavam café, Gonçalo recommendou ao Barrôlo que «para accentuar mais
completamente a intimidade simples do jantar não pozesse casaca...»
--E tu, Gracinha, vestido afogado. Mas vestidinho claro, alegre...
Gracinha sorriu, indecisamente, continuando a folhear um _Almanach de
Lembranças_ estendida n'uma cadeira de verga, com um gatinho branco no
regaço.
Depois do alvoroço e pasmo de Domingo, ella apparentava agora um
desinteresse silencioso pela reconciliação que ainda abalava Oliveira,
pela Eleição, pelo jantar. Mas n'esses dias não socegára--tão impaciente
e sensivel que o bom Barrôlo incessantemente lhe aconselhava o grande
remedio da Mamã contra os nervos, «flôres d'alecrim, cosidas em vinho
branco.»
Gonçalo percebia claramente a perturbação em que a lançava aquella
entrada triumphal de André, do antigo André, na sua casa de casada, nos
Cunhaes. E para se tranquillisar evocava (como na estrada do cemiterio
em Villa-Clara) a seriedade de Gracinha, o seu rigido e puro pensar, a
altivez da sua almasinha heroica. N'essa manhã mesmo, todo no fresco e
soffrego cuidado da sua Eleição, só receava que Gracinha, por embaraço
ou cautella, acolhesse seccamente o Cavalleiro, o esfriasse no seu
renovado fervor pela casa de Ramires, no seu patrocinato Politico. E
insistiu, gracejando:
--Ouviste, Gracinha? Um vestido branco. Um vestidinho alegre, que sorria
aos hospedes...
Ella murmurou, mergulhada no seu _Almanach_:
--Sim, realmente, com este calor...
Mas Barrôlo bateu uma palmada na côxa. Que pena! que pena não ter em
Oliveira, «para o brinde de reconciliação», um famoso vinho do Porto, da
garrafeira da Mamã, preciosissimo, velhissimo, do tempo de D. João II...
--D. João II? rosnou Gonçalo. Está estragado!
Barrôlo hesitou:
--D. João II ou D. João VI... Um d'esses Reis. Emfim um vinho unico, do
seculo passado! Só restam á mamã oito ou dez garrafas... E hoje, era dia
para uma, hein?
O Fidalgo deu um sorvo lento ao café:
--O André, antigamente, tambem gostava muito d'ovos queimados...
Bruscamente Gracinha fechou o _Almanach_--e, com uma fuga e um silencio
que emmudeceram Gonçalo, sacudiu do collo o gato dorminhoco, atravessou
o terraço, desappareceu entre os teixos altos do jardim.
Mas á tarde, quando o Fidalgo occupou o seu logar na mesa oval, junto da
prima Maria Mendonça--logo notou, entre duas compoteiras, uma travessa
d'ovos queimados. Apesar de jantar tão intimo serviam, com a louça da
China, os famosos talheres dourados da baixella do tio Melchior. E duas
jarras de Saxe transbordavam de cravos brancos e amarellos, côres
heraldicas dos Ramires.
D. Maria, que não encontrára o querido primo desde os annos de Gracinha,
murmurou com um sorriso, uma grave cortezia, n'aquelle cerimonioso
silencio em que se desdobravam os guardanapos:
--Ainda lhe não dei os parabens, primo Gonçalo...
Elle acudiu, mechendo nervosamente nos copos:
--Chut! prima, chut! Hoje aqui, já está decidido, não se allude sequer a
Politica... Está muito calor para Politica.
Ella suspirou de leve, como desfallecida: Ai, o calor... Que horrivel
calor! Desde que entrára nos Cunhaes com aquelle vestido preto que «era
o seu pallio rico»--ainda não cessára de invejar a frescura do vestido
branco de Gracinha...
--Que bem que lhe fica! Está hoje linda!
Era um vestido liso de crepon branco, que aclarava, remoçava a sua graça
quasi virginal. E nunca realmente tanto prendera, assim clara e fina,
com os verdes olhos refulgindo como esmeraldas lavadas, uma ondulação
mais lustrosa nos pesados cabellos, um macio rubor transparente, todo um
fresco brilho de flôr regada, de flôr revivida, apesar do acanhamento
que lhe immobilisava os dedos ao erguer a colhér de prata dourada. E ao
lado, superiormente robusto e largo, com o peitilho arqueado como uma
couraça e cravejado de duas saphiras, uma rosa branca desabrochada na
lapella, André Cavalleiro, que recusára a sopa (oh, no verão nunca comia
sopa!) dominava a mesa, levemente commovido tambem, passando sobre o
reluzente bigode um lenço tão perfumado que afogava o perfume dos
cravos. Mas foi elle que encadeou a animação com risonhos queixumes
sobre o calor--o escandaloso calor d'Oliveira... Ah! que Purgatorio
abrasado--depois dos seus dois dias de Paraiso, na frescura deliciosa de
Cintra!
D. Maria Mendonça adoçou os espertos olhos para o Snr. Governador
Civil.--E então Cintra? Animada? Muitos ranchos á tarde, em Setiaes?
Encontrára a Condessa de Chellas--a prima Chellas?...
Sim, na Pena, na sua visita á Rainha, Cavalleiro conversára durante um
momento com a Snr.^a Condessa de Chellas...
--Ah! e a Rainha?...
--Oh, sempre encantadora...
A Snr.^a Condessa de Chellas, essa, um pouco magra. Mas tão amavel, tão
intelligente, tão verdadeiramente _grande dame_--não é verdade? E, como
se inclinára para Gracinha, com uma doçura infinita no simples mover da
cabeça--ella, perturbada, mais vermelha, balbuciou que não conhecia a
Condessa de Chellas...--D. Maria Mendonça accusou logo a inercia dos
primos Barrôlos, sempre encafurnados nos Cunhaes, sem nunca se
aventurarem a Lisboa no inverno, para conviver, para conhecer os
parentes...
--E a culpa é do primo José, que detesta Lisboa...
Oh não! Barrôlo não detestava Lisboa! Se podesse acarretar para Lisboa
as suas commodidades, o seu quarto, a sua cocheira, a boa agua do pomar,
a rica varanda sobre o jardim--até se regalava!
--Mas entalado n'aquelles quartinhos do Bragança... E depois a má
comida, o barulho... A Gracinha em Lisboa nunca dorme... E a massada das
manhãs?... Não ha nada que fazer em Lisboa, de manhã!
O Cavalleiro sorria para o Barrôlo, como enlevado na sua graça e razão.
Depois confessou que elle, apesar de habitar tambem (mercê do Estado!)
um palacete confortavel, e gozar tambem uma agua excellente, a finissima
agua do Poço de S. Domingos, lamentava que os deveres de Politica, a
disciplina de Partido o amarrassem a Oliveira. E toda a sua esperança
era a queda do Ministerio, para se libertar, passar tres mezes divinos
em Italia...
Do outro lado de Gracinha, João Gouveia (sempre acanhado e mudo deante
de senhoras) exclamou, n'um impulso d'amisade, de convicção:
--Pois, Andrésinho, vae perdendo a esperança! O S. Fulgencio não arreia!
Ainda cá te apanhamos uns tres ou quatro annos!
E insistiu, debruçado sobre Gracinha, n'um esforço d'amabilidade que o
esbraseava:
--O S. Fulgencio não arreia. Ainda cá temos o nosso André mais tres ou
quatro annos.
André protestava, com um requebro, as espessas pestanas quasi cerradas:
--Oh meu João! não me queiras mal, não me queiras mal!...
E teimava. Ah, com certeza! ainda que desertasse o seu partido (e que
importa em hoste poderosa uma lança ferrugenta?) esses mezes d'Italia no
inverno já os sonhára, já os preparava...--E a Snr.^a D. Graça não
permittia que elle a servisse d'um pouco de vinho branco?
Barrôlo estendeu o braço, com effusão:
--Oh Cavalleiro! eu tenho empenho em que você prove esse vinho com
cuidado... É da minha propriedade do Corvello... Faço muito gosto
n'elle. Mas prove com attenção!
S. Ex.^a provou com devoção, como se commungasse. E com uma cortezia
compenetrada para Barrôlo que reluzia de gosto:
--Uma delicia! uma verdadeira delicia!
--Hein? Não é verdade? Eu, para mim, prefiro este vinho do Corvello a
todos os vinhos francezes, os mais finos... Até alli o nosso amigo Padre
Sueiro, que é um Santo, o aprecia!
Silencioso, esbatido por traz d'uma das altas jarras de cravos, Padre
Sueiro corou, sorriu:
--Com muita agua, infelizmente, Snr. José Barrôlo... O gosto pede, mas o
rheumatismo não consente.
Pois José Mendonça, que não temia rheumatismos, atacava sempre
bravamente aquelle bemdito Corvello...
--Que lhe parece a você, João Gouveia?
Oh! João Gouveia já o conhecia, louvado Deus! E certamente nunca
encontrára em Portugal, como vinho branco, nenhum comparavel pela
frescura, pelo aroma, pela seiva...
--E cá lhe vou atiçando com fervor, Barrôlo amigo! Esta bella garrafa de
crystal vae de vencida!
Barrôlo exultava. O seu desgosto era que Gonçalo nunca honrasse «aquelle
nectar.»--Não! Gonçalo não tolerava vinhos brancos...
--E então hoje estou com uma d'estas sêdes que só me satisfaz vinho
verde, assim um pouco espumante, e com gelo... Que este de Vidainhos
tambem é do Barrôlo. Oh, eu não desprezo os vinhos da familia... Este
Vidainhos sinceramente o considero sublime.
Então Cavalleiro desejou provar esse sublime vinho verde da quinta de
Vidainhos, em Amarante. O escudeiro, a um aceno enthusiasmado do
Barrôlo, apresentou a Sua Ex.^a um copo esguio, especial para aquelle
vinho que espumava. Mas o Cavalleiro, acariciando o fresco copo sem o
erguer, repisou a idéa de ferias, de viagens, como accentuando o seu
cançasso e fastio d'Oliveira.--E sabia a Snr.^a D. Graça para onde elle
seguiria, depois da Italia, n'esse Inverno, se por caridade de Deus o
Ministerio cahisse?... Para a Asia Menor.
--E era uma viagem para que eu, com certesa, tentava o nosso Gonçalo...
Tão facil, agora, com os caminhos de ferro!... De Veneza a
Constantinopla um mero passeio. Depois, de Constantinopla a Smyrna, um
dia, dous dias, n'um vapor excellente. E d'ahi n'uma bôa caravana, por
Tripoli, pela antiga Sidonia, penetravamos em Galiléa... Galiléa! Hein
Gonçalo? Que belleza!
Padre Sueiro, suspendendo o garfo, lembrou timidamente--que em Galiléa o
Snr. Gonçalo Ramires pisaria terra que outr'ora, por pouco, pertencera á
sua Casa:
--Um dos antepassados de V. Ex.^a, Gutierres Ramires, companheiro de
Tancredo na primeira Cruzada, recuzou o ducado de Galiléa e de
Além-Jordão...
--Fez pessimamente! gritou Gonçalo, rindo. Oh, esse avô Gutierres andou
pessimamente! Por que não existia agora, n'este mundo, disparate mais
divertido do que eu Duque de Galiléa! O Snr. Gonçalo Mendes Ramires,
Duque de Galiléa e d'Além-Jordão!... Era simplesmente de rebentar!
Cavalleiro protestou, com sympathia:
--Ora essa! Por que?
--Não acredite! acudiu, com os olhos coruscantes, D. Maria Mendonça. O
primo Gonçalo, com todas estas graças, no fundo, é muitissimo
aristocrata... Mas terrivelmente aristocrata!
O Fidalgo da Torre pousou o copo de Vidainhos, depois d'um trago
saboreado e fundo:
--Aristocrata... Está claro que sou aristocrata. Sentiria com effeito
certo desgosto em ter nascido, como uma herva, d'outras hervas vagas.
Gósto de saber que nasci de meu pae Vicente, que nasceu de seu pae
Damião, que nasceu de seu pae Ignacio, e assim sempre até não sei que
Rei Suevo...
--Recesvinto! informou respeitosamente Padre Sueiro.
--Pois até esse Recesvinto. O peor é que o sangue de todos esses paes
não differe realmente do sangue dos paes do Joaquim da Porta. E que
depois do Recesvinto, para traz, até Adão, não tenho mais paes!
E, emquanto todos riam, D. Maria Mendonça, debruçada para elle, por traz
do leque largamente aberto, murmurou:
--O Primo está com esses deprezos... Pois eu sei d'uma senhora que tem a
maior admiração pela casa de Ramires e pelo seu representante.
Gonçalo enchia de novo o copo, com amor, attento á espuma:
--Bravo! Mas «convém distinguir», como diz o Manoel Duarte. Por quem tem
ella a verdadeira admiração, por mim ou pelo Suevo, pelo Recesvinto?
--Por ambos.
--Diabo!
Depois, pousando a garrafa, mais sério:
--Quem é?
Oh! ella não podia confessar. Não era ainda bastante velha para andar
com recadinhos de sentimento. Mas Gonçalo dispensava o nome--só desejava
as qualidades... Nova? Bonita?
--Bonita? exclamou D. Maria. É uma das mulheres mais formosas de
Portugal!
Espantado, Gonçalo lançou o nome:
--A D. Anna Lucena!
--Por quê?
--Por que mulher assim tão formosa, e vivendo n'estes sitios, e tão
conhecida da prima que lhe faz confidencias, só a D. Anna.
D. Maria, ageitando as duas rosas que lhe alegravam o corpete de sêda
preta, sorria:
--Talvez seja, talvez seja...
--Pois estou immensamente lisongeado. Mas ainda distingo, como o Manoel
Duarte. Se, da parte d'ella, essa sympathia toda é para o bom fim, não!
Não, santo Deus, não!... Mas se é para o mau fim, então, prima,
cumprirei honradamente o meu dever dentro das minhas forças...
D. Maria escondeu a face no leque, escandalisada. Depois, espreitando,
com os agudos olhos a faiscar:
--Oh primo, mas o bom fim é que convinha, por que a cousa é a mesma e
são duzentos contos a mais!
Gonçalo gritou d'admiração:
--Oh! esta prima Maria! Não ha em toda a Europa ninguem mais esperto!
Todos curiosamente anciaram por saber a nova graça da Snr.^a D. Maria.
Mas Gonçalo deteve as curiosidades:
--Não se póde contar. É casamento.
Então José Mendonça recordou a novidade picante que desde a vespera
remexia Oliveira:
--Por casamento!... Que me dizem ao casamento da D. Rosa Alcoforado?
Barrôlo, depois o Gouveia, até Gracinha, todos o proclamaram «um
horror.» Aquella perfeita rapariga, de pelle tão côr de rosa, de cabello
tão côr d'ouro, amarrada ao Teixeira de Carredes, um patriarcha
carregado de netos... Que desastre!
Pois ao Cavalleiro o casamento não parecia assim «desastrado.» O
Teixeira de Carredes, além de muito fino, de muito intelligente, era um
velho verdejante, quasi sem rugas--até bonito com aquelle contraste do
bigode escuro e da grenha riçada e branca. E na Snr.^a D. Rosa, com
todas as rosas da sua pelle e todo o ouro dos seus cabellos, dominava
«um não sei quê» de amollentado e de sorvado... Depois pouco esperta. E
pouco cuidadosa--sempre mal penteada, sempre mal pregada...
--Emfim, V. Ex.^{as} perdoem... Mas quem faz um casamento muito
desenxabido é o pobre Teixeira de Carredes.
D. Maria Mendonça considerava o Governador Civil com um espanto amavel:
--Pois se o Snr. Cavalleiro não admira a Rosinha Alcoforado, não sei
então que rapariga admire dentro do seu Districto...
Elle, logo, com galante rasgo:
--Mas, além de V. Ex.^{as}, não admiro ninguem! Realmente eu governo, em
Portugal, o Districto mais daprovido de belleza...
Todos protestaram. E a Maria Marges? E a pequena Reriz, da Riosa? E a
Mellosinho Alboim, com aquelles olhos?... Mas o Cavalleiro não
consentia, a todas demolia com um sarcasmo leve, ou pela pelle sem
frescura, ou pelo pisar desairoso, ou pelo provincianismo de gosto e
modos, sempre pela carencia das bellezas e graças que ornavam
Gracinha--lançando assim disfarçadamente, aos pés de Gracinha, um rôlo
de senhoras vencidas e amarfanhadas. Ella percebera a subtil adulação,
os seus olhos allumiaram com um fulgor mais enternecido o rubor que a
afogueava. Desejou repartir incenso tão accumulado--lembrou timidamente
outra belleza de que se orgulhava o Districto:
--A filha do Visconde de Rio-Manso, a Rosinha Rio-Manso... É linda!
O Cavalleiro triumphou com facilidade:
--Mas tem doze annos, minha senhora! Nem é rosinha, é botãosinho de
rosa!...
Quasi humildemente, Gracinha recordou a Luiza Moreira, filha d'um
lojista, muito admirada aos domingos na missa da Sé e no Terreiro da
Louça:
--É uma bella rapariga... Sobretudo a figura...
Cavalleiro triumphou ainda, com requebrada segurança:
--Sim, mas os dentes tortos, Snr.^a D. Graça! Os dentes acavallados! V.
Ex.^a nunca reparou... Oh! uma bôca muito desagradavel! E, além dos
dentes, o irmão, o Evaristo, com aquella cara mais chata que a alma, e a
caspa, e a porcaria, e o jacobinismo... Não ha mulher bonita com irmão
tão feio!
Mendonça estendera o braço, com outra curiosidade que occupava Oliveira:
--E por Evaristo!... Elle sempre funda o novo jornal republicano, o
_Rebate_?
O Snr. Governador Civil encolheu os hombros com uma ignorancia superior
e risonha. Mas João Gouveia, vermelho e luzidio depois da sua garrafa de
Corvello e da sua garrafa de Douro, affiançou que o _Rebate_ apparecia
em Novembro. Até elle conhecia o patriota que esportulava a «massa.» E a
campanha do _Rebate_ começava com cinco artigos esmagadores sobre a
Tomada da Bastilha.
O espanto de Gonçalo era como o Republicanismo alastrára em
Portugal--até na velhota, na devota Oliveira...
--Quando eu andava em preparatorios existiam simplesmente dois
republicanos em Oliveira, o velho Salema, lente de Rhetorica, e eu.
Agora ha partido, ha comité, ha dous jornaes... E ha mesmo o Barão das
Marges com a _Voz Publica_ na mão, debaixo da Arcada...
Mendonça não receava a Republica, gracejava:
--Ainda vem longe, muito longe... Ainda nos dá tempo de comermos estes
bellos ovos queimados.
--Deliciosos, murmurou o Cavalleiro.
--Sim, concordou Gonçalo, ainda temos tempo para os ovos... Mas que
rebente uma revolução em Hespanha, ou que morra o Reisinho na sua
menoridade, que naturalmente morre...
--Credo! Coitadinho! Pobre mãe! murmurou Gracinha sensibilisada.
Immediatamente o Cavalleiro a tranquillisou. Porquê, morrer o Reisinho
d'Hespanha? Os republicanos espalhavam boatos sombrios sobre os males da
excellente creança. Mas elle conhecia a realidade--assegurava á Snr.^a
D. Graça que, felizmente para a Hespanha, ainda reinaria um Affonso XIII
e mesmo um Affonso XIV. Em quanto aos nossos republicanos, esses... Meu
Deus! mera questão de guarda municipal! Portugal, nas suas massas
profundas, permanecia monarchico, de raiz. Apenas ao de cima, na
burguezia e nas escolas, fluctuava uma escuma ligeira, e bastante suja,
que se limpava facilmente com um sabre...
--V. Ex.^a, Snr.^a D. Graça, que é uma dona de casa perfeita, conhece
esta operação que se faz á panella do caldo... Escumar a panella. É com
uma colher. Aqui é com um sabre. Pois assim, com toda a simplicidade, se
clarifica Portugal. E foi isto que ainda ultimamente eu declarei a
El-rei.
Alteára a cabeça--o seu peitilho resplandecia, mais largo, como couraça
bastante rija para defender toda a Monarchia. E, no compenetrado
silencio que se alargou, duas rolhas de Champagne estalaram, por traz do
biombo, na copa.
Apenas o escudeiro, apressado, enchêra as taças--o Fidalgo da Torre com
uma gravidade que o sorriso adoçava:
--André, á tua saude. Não é ao Governador Civil, é ao amigo!
Todos os copos se ergueram n'um susuro acariciador. João Gouveia agitou
o seu, com especial effusão, gritando:--«Andrésinho, meu velho!» S.
Ex.^a apenas tocou de leve no calice de Gracinha. Padre Sueiro murmurou
as «graças.» E Barrôlo, atirando o guardanapo:
--Café aqui ou na sala?... Na sala estamos mais frescos.
Na sala grande, a sala dos velludos vermelhos, o lustre rebrilhava
solitariamente; pelas tres janellas abertas penetrava a serenidade da
noite quente, o recolhido silencio d'Oliveira; e em baixo, no Largo,
alguns sujeitos, mesmo duas senhoras de manta de lã branca pela cabeça,
pasmavam para aquella claridade de festa que jorrava dos Cunhaes. O
Cavalleiro e Gonçalo accenderam os charutos na varanda, respirando a
frescura escassa. E o Cavalleiro, com beatitude:
--Pois sempre te digo, Gonçalinho, que se janta sublimemente em casa de
teu cunhado!...
Gonçalo desejou que, no domingo, elle jantasse na Torre. Ainda restavam
umas garrafas de Madeira do tempo do avô Damião--a que se daria, com
soccorro do Gouveia e do Titó, um assalto heroico.
O Cavalleiro prometteu, já deliciado--tomando da pesada bandeja de
prata, que derreava o escudeiro, a sua chavena de café, sem assucar.
--E tu, com effeito, Gonçalo, agora não deves arredar da Torre. O teu
papel é todo de presença na localidade. O Fidalgo da Torre está no meio
das suas terras, por onde vae ser eleito para as Côrtes. É o teu
papel...
O Barrôlo com um riso enlevado, surdiu entre os dous amigos que enlaçou
ternamente pela cinta:
--E nós cá ficamos, ambos a trabalhar, o Cavalleiro e eu!...
Mas D. Maria, do canapé onde se enterrára, reclamou o primo Gonçalo
«para negocios.» Junto d'uma console, João Gouveia e Padre Sueiro,
remexendo o seu café, concordavam na necessidade d'um Governo forte. E
Gracinha, com o primo Mendonça, revolvia as musicas sobre a tampa do
piano, procurando o _Fado dos Ramires_. Mendonça tocava com corredio
brilho, composera valsas, um hymno ao Coronel Trancoso, o heroe de
Machumba--e mesmo o primeiro acto d'uma opera, _A Pegureira_. E como não
descortinavam o _Fado_ com as quadras do Videirinha--foi justamente uma
das suas valsas, a _Perola_, d'uma cadencia amorosa e cançada lembrando
a valsa do Fausto, que elle atacou, sem largar o charuto.
Então André Cavalleiro, que repenetrára vagarosamente na sala, repuxou o
collete, afagou o bigode, e avançando para Gracinha, com um modo meio
grave, meio folgazão:
--Se V. Ex.^a me quer dar a grande honra?...
Offerecia, abria os braços. E Gracinha, toda escarlate, cedeu, levada
logo nos largos passos deslisados que o Cavalleiro lançou sobre o
tapete. Barrôlo e João Gouveia correram a afastar as poltronas,
clareando um espaço, onde a valsa se desenrolou com o suave sulco branco
do vestido de Gracinha. Pequenina e leve, toda ella se perdia, como se
fundia, na força mascula do Cavalleiro, que a arrebatava em giros
lentos, com a face pendida, respirando os seus cabellos magnificos.
Da borda do canapé, com os finos olhos a fusilar, D. Maria Mendonça
pasmava:
--Mas que bem que valsa, que bem que valsa o Snr. Governador Civil!...
Ao lado Gonçalo torcia nervosamente o bigode, na surpreza d'aquella
familiaridade, assim renovada pelo Cavalleiro com tão serena confiança,
por Gracinha com tanto abandono... Elles torneavam, enlaçados. Dos
labios do Cavalleiro escorregava um sorriso, um murmurio. Gracinha
arfava, os seus sapatos de verniz reluziam sob a saia que se enrolava
nas calças do Cavalleiro. E Barrôlo, em extasi, quando elles o roçavam,
atirava palmas carinhosas, bradava:
--Bravo! Bravo! Lindamente!... Bravissimo!


VII

Gonçalo recolhia para o almoço depois d'um passeio no pomar percorrendo
a _Gazeta do Porto_, quando avistou no banco de pedra, rente á porta da
cosinha, onde a Rosa mudava o painço na gaiola do seu canario, o Casco,
o José Casco dos Bravaes, que esperava, pensativo e abatido, com o
chapeu sobre os joelhos. Vivamente, para se esquivar, remergulhou no
jornal. Mas percebeu a esgalgada magreza do homem, que surdia da sombra
da latada, avançava na claridade faiscante do pateo, hesitando, como
assustada... E, animado pela visinhança da Rosa, parou, forçando um
sorriso--em quanto o Casco enrolava nas mãos tremulas a aba dura do
chapeu, balbuciava:
--Se o Fidalgo me fizesse a esmola de uma palavra...
--Ah! é vossê, Casco! Homem, não o conheci... E então?
Dobrou o jornal, tranquillisado--gozando mesmo a submissão d'aquelle
valente que tanto o apavorára, erguido e negro como um pinheiro, na
solidão do pinheiral. E o Casco, engasgado, repuchava, esticava o
pescoço de dentro dos grossos collarinhos bordados--até que atirou toda
a alma n'uma supplica soluçada, retendo as lagrimas que marejavam:
--Ai, meu Fidalgo, perdôe por quem é! Perdôe, que eu nem lhe sei pedir
perdão!...
Gonçalo atalhou o homem, com generosidade e doçura. Elle bem o avisára!
Nada se emenda, a gritar, com o pau alçado...
--E olhe, Casco! Quando vossê me sahiu ao pinhal eu levava um revólver
na algibeira... Trago sempre um revólver. Desde que uma noite em
Coimbra, no Choupal, dous bebados me assaltaram, ando sempre á cautella
com o revólver... Pense você agora que desgraça se tiro o revólver, se
desfecho!... Que desgraça, hein?... Felizmente, n'um relance, pensei que
me perdia, que o matava, e fugi. Foi por isso que fugi, para não
desfechar o revólver... Emfim tudo passou. E eu não sou homem de
rancores, já esqueci. Comtanto que vossê, agora socegado e no seu juizo,
esqueça tambem.
O Casco amassava as abas do chapeu, com a cabeça derrubada. E sem a
erguer, sem ousar, rouco dos soluços que o entalavam:
--Pois agora é que eu me lembro, meu Fidalgo! Agora é que me ralo por
aquella doidice! Agora! depois do que o Fidalgo fez pela mulher e pelo
pequeno!...
Gonçalo sorriu, encolheu os hombros:
--Que tolice, Casco!... Pois a sua mulher apparece ahi n'uma noite
d'agua... E o pequenito doente, coitadito, com febre... Como vae elle, o
Manelsinho?
O Casco murmurou do fundo da sua humildade:
--Louvado seja Deus, meu senhor, muito sãosinho, muito rijinho.
--Ainda bem... Ponha o chapeu. Ponha o chapeu, homem! E adeus!... Vossê
não tem que agradecer, Casco... E olhe! Traga cá um dia o pequeno. Eu
gostei do pequeno. É espertinho.
Mas o Casco não se arredava, pregado ás lages. Por fim, n'um soluço que
rebentou:
--É que eu não sei como hei-de dizer, meu Fidalgo... Lá o dia de cadeia,
acabou! Tenho genio, fiz a asneira, com o corpo a paguei. E pouco
paguei, graças ao Fidalgo... Mas depois quando sahi, quando soube que a
mulher viera de noite á Torre, e que o Fidalgo até a embrulhára n'uma
capa, e que não deixára sahir o pequeno...
Estacou, afogado pela emoção. E como Gonçalo, tambem commovido, lhe
batia risonhamente no hombro, «para acabar, não se fallar mais n'essas
bagatellas...»--o Casco rompeu, n'uma grande voz dolorosa e quebrada:
--Mas é que o Fidalgo não sabe o que é para mim aquelle pequeno!...
Desde que Deus m'o mandou tem sido uma paixão cá por dentro que até
parece mentira!... Olhe que na noite que passei na cadeia da villa não
dormi... E Deus me perdôe, não pensei na mulher, nem na pobre da velha,
nem na pouquita terra que amanho, tudo ao desamparo. Toda a noite se foi
a gemer:--«ai o meu querido filhinho! ai o meu querido filhinho!...»
Depois quando a mulher, logo pela estrada, me diz que o Fidalgo ficára
com elle na Torre, e o deitára na melhor cama, e mandára recado ao
medico... E depois quando soube pelo snr. Bento que o Fidalgo de noite
subia a vêr se elle estava bem coberto, e lhe entalava a roupa,
coitadinho...
E arrebatadamente, n'um choro solto, gritando:--«Ai meu Fidalgo! meu
Fidalgo!...»--o Casco agarrou as mãos de Gonçalo, que beijava,
rebeijava, alagava de grossas lagrimas.
--Então, Casco! Que tolice!... Deixe homem!
Pallido, Gonçalo saccudia aquella gratidão furiosa--até que ambos se
encararam, o Fidalgo com as pestanas molhadas e tremulas, o lavrador dos
Bravaes soluçando, n'uma confusão. E foi elle por fim que, recalcando um
derradeiro soluço, se recobrou, desafogou da idéa que o trouxera, que de
certo fundamente o trabalhára, e que agora lhe enrijava a face e o gesto
n'uma determinação que nunca vergaria:
--Meu Fidalgo, eu não sei fallar, não sei dizer... Mas se d'hoje em
deante, seja para que fôr, o Fidalgo necessitar da vida d'um homem, tem
aqui a minha!
Gonçalo estendeu a mão ao lavrador, muito simplesmente--como um Ramires
d'outr'ora recebendo a preitezia d'um vassallo:
--Obrigado, José Casco.
--Entendido, meu Fidalgo, e que Deus nosso Senhor o abençôe!
Gonçalo, perturbado, galgou pela escadinha da varanda--emquanto o Casco
atravessava o páteo vagarosamente, com a cabeça bem erguida, como homem
que devêra e que pagára.
E em cima, na livraria, Gonçalo pensava com espanto:--«Ahi está como
n'este mundo sentimental se ganham dedicações gratuitamente!...» Por que
emfim! quem não impediria que uma criancinha com febre affrontasse de
noite uma estrada negra, sob a chuva e o vendaval? Quem a não deitaria,
não lhe adoçaria um grog, não lhe entalaria os cobertores para a
conservar bem abafada? E por esse grog e por essa cama--corre o pae,
tremendo e chorando, a offerecer a sua vida! Ah! como era facil ser
Rei--e ser Rei popular!
E esta certeza mais o animava a obedecer ás recommendacões do
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