A Illustre Casa de Ramires - 03

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torrão augusto, trilhado heroicamente pelos Gamas, os Athaydes, os
Castros, os seus proprios avós--era para elle uma abominação que
justificava todas as violencias, mesmo uma revolta, e a casa de Bragança
enterrada no lodo do Tejo! Trincando, sem parar, amendoas torradas, João
Gouveia observou:
--Sejamos justos, Gonçalo Mendes! Olhe que os Regeneradores...
O Fidalgo sorrio superiormente. Ah! se os Regeneradores realisassem essa
grandiosa operação--bem! Esses, primeiramente, nunca commetteriam a
indecencia de vender a Inglezes terra de Portuguezes! Negociariam com
Francezes, com Italianos, povos latinos, raças fraternas... E depois os
bons milhões soantes seriam applicados ao fomento do Paiz, com saber,
com probidade, com experiencia. Mas esse horrendo careca do S.
Fulgencio!...--E no seu furor, engasgado, gritou por genebra, por que
realmente aquelle cognac do Gago era uma peçonha torpe!
O Titó encolheu os hombros, resignado:
--Não me deixaste ir buscar a aguardentesinha, agora aguenta... E a
genebra é ainda mais peçonhenta. Nem para os negros d'esse Lourenço
Marques que tu queres vender... Portuguezes indecentes, a vender
Portugal! Até o Sr. Administrador do Concelho devia prohibir estas
conversas...
Mas o Sr. Administrador do Concelho affirmou que as consentia, e
rasgadamente... Por que tambem elle, como Governo, venderia Lourenço
Marques, e Moçambique, e toda a Costa Oriental! E ás talhadas! Em
leilão! Alli, toda a Africa, posta em praça, apregoada no Terreiro do
Paço! E sabiam os amigos porquê? Pelo são principio de forte
administração--(estendia o braço, meio alçado do banco, como n'um
Parlamento)... Pelo são principio de que todo o proprietario de terras
distantes, que não póde valorisar por falta de dinheiro ou gente, as
deve vender para concertar o seu telhado, estrumar a sua horta, povoar o
seu curral, fomentar todo o bom torrão que pisa com os pés... Ora a
Portugal restava toda uma riquissima provincia a amanhar, a regar, a
lavrar, a semear--o Alemtejo!
O Titó lançou o vozeirão, desdenhando o Alemtéjo como uma pellicula de
terra de má qualidade, que, fóra umas legoas de campos em torno de Beja
e de Serpa, por um grão só dava dois, e, apenas esgaravetada, logo
mostrava o granito...
--O mano João tem lá uma herdade immensa, immensissima, que rende
trezentos mil réis!
O Administrador, que advogára em Mertola, protestou, encristado. O
Alemtejo! Provincia abandonada, sim! Abandonada miseravelmente, desde
seculos, pela imbecilidade dos governos... Mas riquissima, fertilissima!
--Pois então os Arabes... E qual Arabes! Ainda ha dias o Freitas Galvão
me contava...
Mas Gonçalo Mendes, que cuspira tambem a genebra com uma carantonha,
acudiu, n'um resumo varredor, condemnando todo o Alemtejo como uma
desgraçada illusão!
Estirado por sobre a mesa, o Administrador gritava:
--Você já esteve no Alemtejo?
--Tambem nunca estive na China, e...
--Então não falle! Só a vinha espantosa que plantou o João Maria...
--Quê! Umas cem pipas de zurrapa! Mas, n'outros sitios, legoas e legoas
sem...
--Um celleiro!
--Uma charneca!
E atravez do tumulto o Videirinha, repenicando com solitario ardor,
levado na torrente d'ais do «fado» da Ariosa, soluçava contra uns olhos
negros, donos do seu coração:
Ai! que dos teus negros olhos
Me vem hoje a perdição...
O petroleo dos candieiros findava: e o Gago, reclamado para trazer
castiçaes, surdio em mangas de camisa, detraz d'uma cortina de chita,
com a sua esperta humildade banhada em riso, lembrando a suas
Excellencias que passava da uma horasinha da noite... O Administrador,
que detestava noitadas, nocivas á sua garganta (de amygdalas loucamente
inflammaveis), puxou o relogio com terror. E rapidamente reabotoado na
sobrecasa, de chapéo côco mais tombado á banda, apressou o lento Titó,
por que ambos moravam no alto da Villa--elle defronte do Correio, o
outro na viella das Therezas, n'uma casa onde outr'ora habitára e
apparecera apunhalado o antigo carrasco do Porto.
O Titó porém não se aviava. Com o bengalão debaixo do braço, ainda
chamou o Gago ao fundo sombrio da sala estreita, para cochichar sobre o
embrulhado negocio d'uma compra de espingarda, soberba espingarda
Winchester, empenhada ao Gago pelo filho do tabellião Guedes d'Oliveira.
E, quando desceu a escadaria, encontrou á porta da taberna, no estendido
luar que orlava a rua adormecida, o Fidalgo da Torre e o João Gouveia
bruscamente engalfinhados na costumada contenda sobre o Governador Civil
de Oliveira--o André Cavalleiro!
Era sempre a mesma briga, pessoal, furiosa e vaga. Gonçalo clamando que
não alludissem deante d'elle, pelas cinco chagas de Christo, a esse
bandido, esse Snr. Cavalleiro e sobretudo Cavallo, mandão burlesco que
desorganizava o Districto! E João Gouveia muito teso, muito secco, com o
côco mais cahido na orelha, assegurando a inteligencia superior do amigo
Cavalleiro, que estabelecera limpeza e ordem, como Hercules, nas
cavallariças d'Oliveira! O Fidalgo rugia. E Videirinha, com o violão
resguardado atraz das costas, supplicava aos amigos que recolhessem á
taberna, para não alvorotar a rua...
--Tanto mais que defronte, coitada, a sogra do Dr. Venancio está desde
hontem com a pontada!
--Pois então, berrou Gonçalo, não venham com disparates que revoltam!
Dizer você, Gouveia, que Oliveira nunca teve Governador Civil como o
Cavalleiro!... Não é por meu pae! O papá já lá vae ha trez annos,
infelizmente. E concordo que não fosse boa auctoridade. Era frouxo,
andava doente... Mas depois tivemos o Visconde de Freixomil. Tivemos o
Bernardino. Você serviu com elles. Eram dois homens!... Mas este cavallo
d'este Cavalleiro! A primeira condição para a auctoridade superior d'um
Districto é não ser burlesca. E o Cavalleiro é d'entremez! Aquella
guedelha de trovador, e a horrenda bigodeira negra, e o olho
languinhento a pingar namoro, e o papo empinado, e o _pó-pó-poh_! É
d'entremez! E estupido, d'uma estupidez fundamental, que lhe começa nas
patas, vem subindo, vem crescendo. Oh senhores, que animal!... Sem
contar que é malandro.
Teso na sombra do immenso Titó, como uma estaca junto d'uma torre, o
Administrador mordia o charuto. Depois, de dedo espetado, com uma
serenidade cortante:
--Você acabou?... Pois, Gonçalinho, agora escute! Em todo o districto
d'Oliveira, note bem, em todo elle! não ha ninguem, absolutamente
ninguem, que de longe, muito de longe, se compare ao Cavalleiro em
intelligencia, caracter, maneiras, saber, e finura politica!
O Fidalgo da Torre emmudeceu, varado. Por fim sacudindo o braço, n'um
desabrido, arrogante desprezo:
--Isso são as opiniões d'um subalterno!
--E isso são as expressões d'um malcreado! uivou o outro, crescendo
todo, com os olhinhos esbugalhados a fuzilar.
Immediatamente entre os dois, mais grosso que um barrote, avançou o
braço do Titó, estendendo uma sombra na calçada:
--Olá! Oh rapazes! Que desconchavo é este? Vocês estão borrachos?...
Pois tu, Gonçalo...
Mas já Gonçalo, n'um d'esses seus impulsos generosos e amoraveis que tão
finamente seduziam, se humilhava, confessava a sua brutalidade,
sensibilisado:
--Perdoe você, João Gouveia! Sei perfeitamente que você defende o
Cavalleiro por amizade, não por dependencia... Mas que quer, homem?
Quando me fallam n'esse Cavallo... Não sei, é por contagio da besta,
orneio, atiro coice!
O Gouveia, sem rancor, logo reconciliado (porque admirava carinhosamente
o Fidalgo da Torre), deu um puxão forte á sobrecasaca e apenas observou
«que o Gonçalinho era uma flôr, mas picava...» Depois, aproveitando a
emoção submissa de Gonçalo, recomeçou a glorificação do Cavalleiro, mais
sobria. Reconhecia certas fraquezas. Sim, com effeito, aquelle modo
impertigado... Mas que coração!--E o Gonçalinho devia considerar...
O Fidalgo, de novo revoltado, recuou, espalmando as mãos:
--Escute você, oh João Gouveia! Por que é que você lá em cima, á ceia,
não comeu a salada de pepino? Estava divina, até o Videirinha a
appeteceu! Eu repeti, acabei a travessa... Por que foi? Por que você tem
horror physiologico, horror visceral ao pepino. A sua natureza e o
pepino são incompativeis. Não ha raciocinios, não ha subtilezas, que o
persuadam a admittir lá dentro o pepino. Você não duvida que elle seja
excellente, desde que tanta gente de bem o adora: mas você não póde...
Pois eu estou para o Cavalleiro como você para o pepino. Não posso! Não
ha molhos, nem razões, que m'o disfarcem. Para mim é ascoroso. Não vae!
Vomito!... E agora ouça...
Então Titó, que bocejava, interveio, já farto:
--Bem! Parece-me que apanhamos a nossa dóse de Cavalleiro, e valente!
Somos todos muito boas pessoas e só nos resta debandar. Eu tive senhora,
tive tainha... Estou derreado. E não tarda a madrugada, que vergonha!
O Administrador pulou. Oh Diabo! E elle, ás nove horas da manhã, com
commissão de recenseamento!... Para esmagar bem o amúo, cingiu Gonçalo
n'um rijo abraço. E, quando o Fidalgo descia para o Chafariz com o
Videirinha (que n'estas noites festivas de Villa Clara o acompanhava
sempre pela estrada até ao portão da Torre), João Gouveia ainda se
voltou, pendurado do braço do Titó no meio da Calçadinha, para lhe
lembrar um preceito moral «de não sei que philosopho»:
--«Não vale a pena estragar boa ceia por causa de má politica...» Creio
que é d'Aristoteles!
E até Videirinha, que de novo afinava a viola, se preparava para um
solto descante ao luar, murmurou respeitosamente por entre abafados
harpejos:
--Não vale a pena, Sr. Doutor... Realmente não vale a pena, por que em
Politica hoje é branco, ámanhã é negro, e depois, zás, tudo é nada!
* * * * *
O fidalgo encolhera os hombros. A Politica! Como se elle pensasse na
Auctoridade, no Sr. Governador civil d'Oliveira--quando injuriava o Sr.
André Cavalleiro, de Corinde! Não! o que detestava era o homem--o falso
homem d'olho langoroso! Por que entre elles existia um d'esses fundos
aggravos que outr'ora, no tempo dos Tructesindos, armavam um contra o
outro, em dura arrancada de lanças, dois bandos senhoriaes...--E pela
estrada, com a lua no alto dos oiteiros de Valverde, em quanto no violão
do Videirinha tremia o choro lento do fado do Vimioso, Gonçalo Mendes
recordava, aos pedaços, aquella historia que tanto enchera a sua alma
desoccupada. Ramires e Cavalleiros eram familias vizinhas, uma com a
velha torre em Santa Ireneia, mais velha que o Reino--a outra com quinta
bem tratada e rendosa em Corinde. E quando elle, rapaz de dezoito annos,
enfiava enfastiadamente os preparatorios do Lyceu, André Cavalleiro,
então estudante do Terceiro-Anno, já o tratava como um amigo serio.
Durante as férias, como a mãe lhe dera um cavallo, apparecia todas as
tardes na Torre; e muitas vezes, sob os arvoredos da quinta ou passeando
pelos arredores de Bravaes e Valverde, lhe confiava, como a um espirito
maduro, as suas ambições politicas, as suas idéas de vida que desejava
grave e toda votada ao Estado. Gracinha Ramires desabrochava na flôr dos
seus dezeseis annos; e mesmo em Oliveira lhe chamavam a «flôr da Torre».
Ainda então vivia a governante ingleza de Gracinha, a boa Miss
Rhodes--que, como todos na Torre, admirava com enthusiasmo André
Cavalleiro pela sua amabilidade, a sua ondeada cabelleira romantica, a
doçura quebrada dos seus olhos largos, a maneira ardente de recitar
Victor Hugo e João de Deus. E, com essa fraqueza que lhe amollecia a
alma e os principios perante a soberania do Amor, favorecera demoradas
conversas de André com Maria da Graça sob as olaias do Mirante e mesmo
cartinhas trocadas ao escurecer por sobre o muro baixo da Mãe d'Agua.
Todos os domingos o Cavalleiro jantava na Torre:--e o velho procurador
Rebello já preparára, com esforço e resmungando, um conto de reis para o
enxoval da «menina». O pae de Gonçalo, Governador Civil de Oliveira,
sempre atarefado, enredado em Politica e em dividas, amanhecendo só na
Torre aos Domingos, approvava esta collocação de Gracinha, que, meiga e
romanesca, sem mãe que a velasse, creava na sua vida, já difficil, um
tropeço e um cuidado. Sem representar como elle uma familia de immensa
Chronica, anterior ao Reino, do mais rico sangue de Reis godos, André
Cavalleiro era um moço bem nascido, filho de general, neto de
desembargador, com brasão legitimo na sua casa apalaçada de Corinde, e
terras fartas em redor, de boa semeadura, limpas de hypothecas...
Depois, sobrinho de Reis Gomes, um dos Chefes Historicos, já filiado no
Partido Historico (desde o Segundo Anno da Universidade), a sua carreira
andava marcada com segurança e brilho na Politica e na Administração. E
emfim Maria da Graça amava enlevadamente aquelles reluzentes bigodes, os
hombros fortes de Hercules bem educado, o porte ufano que lhe
encouraçava o peitilho e que impressionava. Ella, em contraste, era
pequenina e fragil, com uns olhos timidos e esverdeados que o sorriso
humedecia e enlanguescia, uma transparente pelle de porcellana fina, e
cabellos magnificos, mais lustrosos e negros que a cauda d'um corcel de
guerra, que lhe rolavam até aos pés, em que se podia embrulhar toda,
assim macia e pequenina. Quando desciam ambos as alamedas da quinta,
miss Rhodes (que o pae, professor de Litteratura Grega em Manchester,
recheára de Mithologia) pensava sempre em «Marte cheio de força amando
Psyché cheia de graça.» E mesmo os criados da Torre se maravilhavam do
«lindo par!» Só a Snr.^a D. Joaquina Cavalleiro, a mãe de André, senhora
obesa e rabugenta, detestava aquella terna assiduidade do filho na
Torre, sem motivo pesado, só por «desconfiar da pinta da menina e
desejar nóra mais comesinha...» Felizmente, quando André Cavalleiro se
matriculava no Quinto Anno, a desagradavel matrona morreu d'uma
anasarca. O pae de Gonçalo recebeu a chave do caixão: Gracinha tomou
luto: e Gonçalo, companheiro de casa do Cavalleiro na rua de S. João, em
Coimbra, enrolou um fumo na manga da batina. Logo em Santa Ireneia se
pensou que o explendido André, libertado da pêca opposição da mamã,
pediria a «Flôr da Torre» depois do Acto de Formatura. Mas, findo esse
desejado Acto, Cavalleiro abalou para Lisboa--por que se preparavam
Eleições em Outubro, e elle recebera do tio Reis Gomes, então Ministro
da Justiça, a promessa de «ser deputado» por Bragança.
E todo esse verão o passou na Capital; depois em Cintra, onde o negro
langor dos seus olhos humidos amollecia corações; depois n'uma jornada
quasi triumphal a Bragança com foguetes e «vivas ao sobrinho do Sr.
conselheiro Reis Gomes!» Em Outubro Bragança «confiou ao dr. André
Cavalleiro (como escreveu o _Echo de Traz-os-Montes_) o direito de a
representar em Côrtes com os seus brilhantes conhecimentos litterarios e
a sua formosissima presença de orador...» Recolheu então a Corinde; mas
nas suas visitas á Torre, onde o pae de Gonçalo convalescia d'uma febre
gastrica que exacerbára a sua antiga diabetes, André já não arrastava
sofregamente Gracinha, como outr'ora, para as silenciosas sombras da
quinta, permanecendo de preferencia na sala azul, a conversar sobre
Politica com Vicente Ramires, que se não movia da poltrona, embrulhado
n'uma manta. E Gracinha, nas suas cartas para Coimbra a Gonçalo, já se
carpia de não correrem tão doces nem tão intimas as visitas do André á
Torre, «occupado, como andava sempre agora, a estudar para deputado...»
Depois do Natal o Cavalleiro voltou para Lisboa, para a abertura das
Côrtes, muito apetrechado, com o seu creado Matheus, uma linda egua que
comprára em Villa Clara ao Manoel Duarte, e dous caixotes de livros. E a
boa Miss Rhodes sustentava que Marte, como convinha a um heróe, só
reclamaria Psyché depois d'um nobre feito, uma estreia nas Camaras,
«n'um discurso lindo, todo flôres...» Quando Gonçalo, nas férias de
Paschoa, appareçeu na Torre, encontrou Gracinha inquieta e descorada. As
cartas do seu André, que se estreára «e n'um discurso lindo, todo
flôres...», eram cada semana mais curtas, mais calmas. E a ultima (que
ella lhe mostrou em segredo), datada da Camara, contava em tres linhas
mal rabiscadas «que tivera muito que trabalhar em commissões, que o
tempo se pozera lindo, que n'essa noite era o baile dos condes de
Villaverde, e que elle continuava com muitas saudades o seu fiel
André...» Gonçalo Mendes Ramires, logo n'essa tarde, desabafou com o
pae, que definhava na sua poltrona:
--Eu acho que o André se está portando muito mal com a Gracinha... O
papá não lhe parece?
Vicente Ramires apenas moveu, n'um gesto de vencida tristeza, a mão
descarnada d'onde a cada momento lhe escorregava o annel d'armas.
Por fim em Maio a sessão das Camaras terminou--essa sessão que tanto
interessára Gracinha, anciosa «que elles accabassem de discutir e
tivessem férias.» E quasi immediatamente ella em Santa Ireneia, Gonçalo
em Coimbra, souberam pelos jornaes que «o talentoso deputado André
Cavalleiro partira para Italia e França n'uma longa viagem de recreio e
d'estudo.» E nem uma carta á sua escolhida, quasi sua noiva!... Era um
ultraje, um bruto ultraje, que outr'ora, no seculo XII, lançaria todos
os Ramires, com homens de cavallo e peonagem, sobre o solar dos
Cavalleiros, para deixar cada trave denegrida pela chamma, cada servo
pendurado d'uma corda de canave. Agora Vicente Ramires, apagado e
mortal, murmurou simplesmente: «Que traste!» Elle em Coimbra, rugindo,
jurou esbofetear um dia o infame! A boa Miss Rhodes, para se consolar,
desembrulhou a sua velha harpa, encheu Santa Ireneia de magoados
harpejos. E tudo findou nas lagrimas que Gracinha, durante semanas, tão
desconsolada da vida que nem se penteava, escondeu sob as olaias do
Mirante.
E, ainda depois d'esses annos, a esta lembrança das lagrimas da irmã, um
rancor invadiu Gonçalo, tão redivivo que atirou para o lado, para sobre
as sebes da valla, uma bengallada, como se fossem ás costas do
Cavalleiro!--Caminhavam então junto á ponte da Portella, onde os campos
se alargam, e da estrada se avista Villa-Clara, que a lua branqueava
toda, desde o convento de Santa Thereza, rente ao Chafariz, até ao muro
novo do cemiterio, no alto, com os seus finos cyprestes. Para o fundo do
valle, clara tambem no luar, era a egrejinha de Craquêde, Santa Maria de
Craquêde, resto do antigo Mosteiro em que ainda jaziam, nos seus rudes
tumulos de granito, as grandes ossadas dos Ramires Affonsinos. Sob o
arco, docemente, o riacho lento, arrastando entre os seixos, sussurrava
na sombra. E Videirinha, enlevado n'aquelle silencio e suavidade
saudosa, cantava, n'um gemer surdo de bordões:
Baldadas são tuas queixas,
Escusados são teus ais,
Que é como se eu morto fôra.
E não me verás nunca mais!...
E Gonçalo retomára as suas recordações, repassava tristezas que depois
cahiram sobre a Torre. Vicente Ramires morrera n'uma tarde d'Agosto, sem
soffrimento, estendido na sua poltrona á varanda, com os olhos cravados
na velha Torre, murmurando para o padre Soeiro:--«Quantos Ramires verá
ella ainda, n'esta casa, e á sua sombra?...» Todas essas ferias as
consumiu Gonçalo no escuro cartorio, desajudado (por que o procurador, o
bom Rebello, tambem Deus o chamára), revolvendo papeis, apurando o
estado da casa--reduzida aos dois contos e trezentos mil reis que
rendiam os foros de Craquêde, a herdade de Praga, e as duas quintas
historicas, Treixedo e Santa Ireneia. Quando regressou a Coimbra deixou
Gracinha em Oliveira, em casa de uma prima, D. Arminda Nunes Viegas,
senhora muito abastada, muito bondosa, que habitava no Terreiro da Louça
um immenso casarão cheio de retratos d'avoengos e de arvores de costado,
onde ella, vestida de velludo preto, pousada n'um camapé de damasco,
entre aias que fiavam, perpetuamente relia os seus Livros de Cavallaria,
o _Amadis_, _Leandro o Bello_, _Tristão e Brancaflôr_, as _Chronicas do
Imperador Clarimundo_... Foi ahi que José Barrôlo (senhor d'uma das mais
ricas casas d'Amarante) encontrou Gracinha Ramires, e a amou com uma
paixão profunda, quasi religiosa--estranha n'aquelle moço indolente,
gorducho, de bochechas coradas como uma maçã, e tão escasso d'espirito
que os amigos lhe chamavam «o José Bacôco». O bom Barrolo residira
sempre em Amarante com a mãe, não conhecia o trahido romance da «Flôr da
Torre»--que nunca se espalhára para além dos cerrados arvoredos da
quinta. E, sob o enternecido e romanesco patrocinio de D. Arminda,
noivado e casamento docemente se apressaram, em tres mezes, depois d'uma
carta de Barrôlo a Gonçalo Mendes Ramires jurando--«que a affeição pura
que sentia pela prima Graça, pelas suas virtudes e outras qualidades
respeitaveis, era tão grande que nem achava no Diccionario termos para a
explicar...» Houve uma bôda luxuosa: e os noivos (por desejo de
Gracinha, para se não affastar da querida Torre), depois d'uma jornada
filial a Amarante, «armaram o seu ninho» em Oliveira, á esquina do largo
d'El-Rei e da rua das Tecedeiras, n'um palacete que o Bacôco herdára,
com largas terras, do seu tio Melchior, Deão da Sé. Dois annos correram,
mansos e sem historia. E Gonçalo Mendes Ramires passava justamente em
Oliveira as suas ultimas férias de Paschoa quando André Cavalleiro,
nomeado Governador Civil do Districto, tomou posse, estrondosamente, com
foguetes, philarmonicas, o Governo civil e o Paço do Bispo illuminados,
as armas dos Cavalleiros em transparentes no café da Arcada e na
Recebedoria!... Barrôlo conhecia o Cavalleiro quasi intimamente,
admirava o seu talento, a sua elegancia, o seu brilho Politico. Mas
Gonçalo Mendes Ramires, que dominava soberanamente o bom Bacôco, logo o
intimou a não visitar o Sr. Governador Civil, a não o saudar sequer na
rua, e a partilhar, por dever d'alliança, os rancores que existiam entre
Cavalleiros e Ramires! José Barrôlo cedeu, submisso, espantado, sem
comprehender. Depois uma noite, no quarto, enfiando as chinellas, contou
a Gracinha «a exquisitice de Gonçalo»:
--E sem motivo, sem offensa, só por causa da Politica!... Ora, vê tu! Um
bello rapaz como o Cavalleiro! Podiamos fazer um ranchinho tão
agradavel!...
Outro sereno anno passou... E n'essa primavera, em Oliveira, onde se
demorára para a festa dos annos de Barrôlo, eis que Gonçalo suspeita,
fareja, descobre uma incomparavel infamia! O impertigado homem da
bigodeira negra, o Sr. André Cavalleiro, recomeçára com soberba
impudencia a cortejar Gracinha Ramires, de longe, mudamente, em
olhadellas fundas, carregadas de saudade e langor, procurando agora
apanhar como amante aquella grande fidalga, aquella Ramires, que
desdenhára como esposa!
* * * * *
Tão levado ia Gonçalo pela branca estrada, no rolo amargo d'estes
pensamentos, que não reparou no portão da Torre, nem na portinha verde,
á esquina da casa, sobre tres degráos. E seguia, rente do muro da horta,
quando Videirinha, que estacára com os dedos mudos nos bordões do
violão, o avisou, rindo:
--Oh, Sr. Doutor, então larga assim, a estas horas de corrida para os
Bravaes?
Gonçalo virou, bruscamente despertado, procurando na algibeira, entre o
dinheiro solto, a chavinha do trinco:
--Nem reparava... Que lindamente você tem tocado, Videirinha! Com lua,
depois de ceia, não ha companheiro mais poetico... Realmente você é o
derradeiro trovador portuguez!
Para o ajudante de Pharmacia, filho d'um padeiro d'Oliveira, a
familiaridade d'aquelle tamanho Fidalgo, que lhe apertava a mão na
botica deante do Pires boticario e em Oliveira deante das Auctoridades,
constituia uma gloria, quasi uma coroação, e sempre nova, sempre
deliciosa. Logo sensibilisado, feriu os bordões rijamente:
--Então, para acabar, lá vae a grande trova, Sr. Doutor!
Era a sua famosa cantiga, o _Fado dos Ramires_, rosario de heroicas
Quadras celebrando as Lendas da Casa illustre--que elle desde mezes
apurava e completava, ajudado na terna tarefa pelo saber do velho Padre
Soeiro, capellão e archivista da Torre.
Gonçalo empurrou a portinha verde. No corredor espirrava uma lamparina
mortiça, já sem azeite, junto ao castiçal de prata. E Videirinha,
recuando ao meio da estrada, com um «dlindlon» ardente, fitára a Torre,
que, por cima dos telhados da vasta casa, mergulhava as ameias, o negro
miradoiro, no luminoso silencio do ceu de verão. Depois para ella e para
a lua atirou as endeixas glorificadoras, na dolente melodia d'um fado de
Coimbra, rico em _ais_:
Quem te v'rá sem que estremeça,
Torre de Santa Ireneia,
Assim tão negra e callada,
Por noites de lua cheia...
Ai! Assim callada, tão negra,
Torre de Santa Ireneia!
Ainda suspendeu para agradecer ao Fidalgo, que o convidava a subir e
enxugar um calice de genebra salvadora. Mas retomou logo o descante,
ditoso em descantar, como sempre arrebatado pelo sabor dos seus versos,
pelo prestigio das Lendas, emquanto Gonçalo desapparecia--com folgazãs
desculpas ao Trovador «por cerrar a portinha do Castello...»
Ai! ahi estás, forte e soberba,
Com uma historia em cada ameia,
Torre mais velha que o reino,
Torre de Santa Ireneia!...
E começára a quadra a Muncio Ramires, _Dente de Lobo_, quando em cima
uma sala, aberta á frescura da noite, se allumiou--e o Fidalgo da Torre,
com o charuto acceso, se debruçou da varanda para receber a serenada.
Mais ardente, quasi soluçante, vibrou o cantar do Videirinha. Agora era
a quadra de Gutierres Ramires, na Palestina, sobre o monte das
Oliveiras, á porta da sua tenda, deante dos Barões que o acclamavam com
as espadas nuas, recusando o Ducado de Galiléa e o senhorio das Terras
d'Além-Jordão.--Que não podia, em verdade, acceitar terra, mesmo Santa,
mesmo de Galiléa...
Quem já tinha em Portugal
Terras de Santa Ireneia!
--Boa piada! murmurou Gonçalo.
Videirinha, enthusiasmado, entoou logo outra nova, trabalhada n'essa
semana--a do sahimento de Aldonça Ramires, Santa Aldonça, trazida do
mosteiro d'Arouca ao solar de Treixedo, sobre o almadraque em que
morrera, aos hombros de quatro Reis!
--Bravo! gritou o Fidalgo pendurado da varanda. Essa é famosa, oh
Videirinha! Mas ahi ha Reis de mais... Quatro Reis!
Enlevado, empinando o braço do violão, o ajudante da Pharmacia lançou
outra, já antiga--a d'aquelle terrivel Lopo Ramires que, morto, se
erguera da sua campa no Mosteiro de Craquêde, montára um ginete morto, e
toda a noite galopára atravez da Hespanha para se bater nas Navas de
Tolosa! Pigarreou--e, mais chorosamente, atacou a do _Descabeçado_:
Lá passa a negra figura...
Mas Gonçalo, que abominava aquella lenda, a silenciosa figura degolada,
errando por noites de inverno entre as ameias da Torre com a cabeça nas
mãos--despegou da varanda, deteve a Chronica immensa:
--Toca a deitar, oh Videirinha, hein? Passa das tres horas, é um horror.
Olhe! O Titó e o Gouveia jantam cá na Torre, no Domingo. Appareça
tambem, com o violão e cantiga nova: mas menos sinistra... _Bona sera_!
Que linda noite!
Atirou o charuto, fechou a vidraça da sala--a «sala velha,» toda
revestida d'esses denegridos e tristonhos retratos de Ramires que elle
desde pequeno chamava as _carantonhas dos vovós_. E, atravessando o
corredor, ainda sentia rolarem ao longe, no silencio dos campos cobertos
de luar, façanhas rimadas dos seus:
Ai! lá na grande batalha...
El-Rei Dom Sebastião...
O mais moço dos Ramires
Que era pagem do guião...
Despido, soprada a vella, depois de um rapido signal da cruz, o Fidalgo
da Torre adormeceu. Mas no quarto, que se povoou de Sombras, começou
para elle uma noite revôlta e pavorosa. André Cavalleiro e João Gouveia
romperam pela parede, revestidos de cótas de malha, montados em
horrendas tainhas assadas! E lentamente, piscando o olho máo,
arremessavam contra o seu pobre estomago pontoadas de lança, que o
faziam gemer e estorcer sobre o leito de pau preto. Depois era, na
Calçadinha de Villa-Clara, o medonho Ramires morto, com a ossada a
ranger dentro da armadura, e El-rei Dom Affonso II, arreganhando afiados
dentes de lobo, que o arrastavam furiosamente para a batalha das Navas.
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