A Illustre Casa de Ramires - 16

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ferro, cheias de fogo, que agora as mesnadas Christãs arrojavam tão
destramente como as hordas Sarracenas.--No emtanto com a sua gorra
esmagada contra o peito, Ordonho, arfando, apresentava a Tructesindo o
recado do Bastardo:
--É cavalleiro moço, não traz credencia... O Snr. Bastardo espera ao
Cruzeiro... E pede que o attendaes da quadrella das barbacans...
--Que se acerque pois! gritou o velho. E com quantos queira dos villões
que o seguem!
Mas Garcia Viegas, o _Sabedor_, sempre avisado, com a sua esperta
mansidão:
--Tende, primo e amigo, tende! Não subaes vós á tranqueira antes que eu
me assegure se Bayão nos vem com arteirice ou falsura.
E entregando a sua pesada lança de faia a um donzel, enfiou pela escada
soturna da Torre albarran. Em cima no eirado, sussurrando um _chuta!
chuta!_ á fila de besteiros que guarnecia as ameias, attenta e com a
bésta encurvada--penetrou no miradouro, espiou pela setteira. O arauto
de Bayão galopára para o Cruzeiro, que uma selva movediça de lanças
rodeava coriscando. E curto recado lançou--porque logo, no seu fouveiro
acobertado por uma rêde de malha acairellada d'ouro, Lopo de Bayão
despegou do denso troço de cavalleiros, com a viseira erguida, sem lança
ou ascuma de monte, e ociosas sobre o arção da sella mourisca as mãos
onde se enrodilhavam as bridas de couro escarlate. Depois, a um toque
arrastado de buzina, avançou para as barbacans da Honra, vagarosamente,
como se acompanhasse um sahimento. Não movera o seu pendão amarello e
negro. Apenas seis infanções o escoltavam, tambem sem lança ou broquel,
com sobrevestes de panno rôxo sobre os saios de malha. Atraz quatro
alentados besteiros carregavam aos hombros umas andas, toscamente
armadas com troncos de arvores, onde um homem jazia estirado, como
morto, coberto, contra o calor e os moscardos, por leves folhagens de
acacia. E um monge seguia n'uma mula branca, segurando misturadamente
com as rédeas um crucifixo de ferro, sobre que pendia a orla do seu
capuz e uma ponta de barba negra.
Da setteira, mesmo sem descortinar por entre a camada de ramagens a face
do homem estendido nas andas, o _Sabedor_ adivinhou Lourenço Ramires, o
doce afilhado que tanto amára, que tão bem ensinára a terçar lanças e a
treinar falcões. E cerrando os punhos, gritando surdamente--«Bem
prestos! bésteiros, bem prestos!»--desceu a escura escadaria, tão
arremessado pela colera e pela magoa que o seu elmo cavamente bateu
contra o arco da porta, onde o esperava Tructesindo com os Cavalleiros
parentes.
--Senhor primo! bradou. Vosso filho Lourenço está deante das barreiras
da Honra deitado sobre umas andas!
Com um rosnar d'espanto, um atropelo dos sapatos de ferro sobre as lages
sonoras, todos seguiram pela poterna da albarran o Rico Homem--até ao
escadão de madeira que se empurrava contra a quadrella das barbacans. E,
quando o enorme velho surdio no eirado, um silencio pesou, tão ancioso,
que se sentia para além do vergel o chiar triste e lento da nora e o
latir dos mastins.
No terreiro, em frente á cancella gateada, o Bastardo esperava, immovel
sobre o seu ginete, com a formosa face bem levantada, a face de
_Claro-sol_, onde as barbas anelladas, cahindo nas solhas do arnez,
rebrilhavam como ouro novo. Vergando o capello d'ouropel, saudou
Tructesindo com gravidade e preito. Depois alçou a mão, que descalçára
do guante. E n'um considerado e sereno fallar:
--Senhor Tructesindo Ramires, n'estas andas vos trago vosso filho
Lourenço, que em lide leal, no valle de Canta-Pedra, colhi prisioneiro e
me pertence pelo foro dos Ricos-Homens d'Hespanha. E de Canta-Pedra
caminhei com elle para vos pedir que entre nós findem estes homizios e
estas feias brigas que malbaratam sangue de bons Christãos... Senhor
Tructesindo Ramires, como vós venho de Reis. De D. Affonso de Portugal
recebi a pranchada de Cavalleiro. Toda a nobre raça de Bayão se honra em
mim... Consenti em me dar a mão de vossa filha D. Violante, que eu quero
e que me quer, e mandae erguer a levadiça para que Lourenço ferido entre
no seu solar e eu vos beije a mão de pae.
Das andas, que estremeceram sobre os hombros dos besteiros, um
desesperado brado partio:
--Não, meu pae!
E hirto na borda do eirado, sem descrusar os braços, o velho Tructesindo
retomou o brado--que por todo o terreiro da Honra rolou, mais arrogante
e mais cavo:
--Meu filho, antes de mim, te respondeu, villão!
Como se uma pontoada de lança lhe topasse o peito, o Bastardo vacillou
na alta sella: e, colhido pelo repuxão das rédeas, o seu fouveiro recuou
alteando a testeira dourada. Mas, a um novo arremesso, repulou contra a
cancella. E Lopo de Bayão erguido sobre os estribos, gritava com ancia,
com furor:
--Snr. Tructesindo Ramires, não me tenteis!...
--Arreda, villão e filho de villôa, arreda!--clamou soberbamente o
velho, sem desprender os braços de sobre o levantado peito, na sua rija
immobilidade e teima, como se todo o corpo e alma fossem de rijo ferro.
Então o Bastardo, arrojando o guante contra o muro da barbacan, rugio,
chammejante e rouco:
--Pois pelo sangue de Christo e pela alma de todos os meus te juro, que
se me não dás n'este instante essa mulher que eu quero e que me quer,
sem filho ficas, que por minhas mãos, deante de ti e nem que todo o Céo
accuda, lhe acabo o resto da vida!
Já na mão lhe lampejava um punhal. Mas n'um impeto de sublime orgulho,
um impeto sobrehumano, em que cresceu como outra escura torre entre as
torres da Honra, Tructesindo arrancára a espada:
--Com esta, covarde! com esta! Para que seja puro, não vil como o teu, o
ferro que atravessar o coração de meu filho!
Furiosamente, com as duas possantes mãos, arremessou a espada, que
rodopiou silvando e faiscando, se cravou no duro chão, onde tremia,
ainda faiscava, como se uma colera heroica tambem a animasse. E no mesmo
relance, com um urro, um salto do ginete, o Bastardo, debruçado do
arção, enterrára o punhal na garganta de Lourenço--em golpe tão cravado
que o esguicho do sangue lhe salpicou a clara face, as barbas d'ouro.
Depois foi uma bruta abalada. Os quatro besteiros sacudiram para o chão
as andas, o corpo morto enrodilhado nos ramos--e atiraram pelo terreiro,
como lebres em clareira, atraz do monge que se agachava agarrado ás
crinas da mula. N'uma curta desfilada o Bastardo, os seis cavalleiros,
gritando o alarme, mergulharam no arraial que estacára ao Cruzeiro. Um
tumulto remoinhou em torno ao devoto pilar. E em rodilhado tropel a
mesnada desenfreou para a Ribeira, varou a velha ponte, logo ennublada
em pó e sumida para além do arvoredo, n'um fugidio coriscar de
capellinas e de lanças apinhadas.
Uma alta grita, no emtanto, atroára as muralhas de Santa Ireneia!
Virotes, flechas, balas de fundas assobiavam, despedidas no mesmo
furioso repente, sobre o bando de Bayão:--mas apenas um dos besteiros
que carregára as andas tombou, estrebuchando, com uma flecha na ilharga.
Pela cancella das barreiras já Cavalleiros e donzeis d'armas se
empurravam desesperadamente para recolher o corpo de Lourenço Ramires. E
Garcia Viegas, os outros parentes, galgaram ao eirado da barbacan,
d'onde Tructesindo se não arredára, rigido e mudo, fitando as andas e
seu filho estatelado com ellas sobre o terreiro da sua Honra. Quando, ao
rumor, elle pesadamente se voltou--todos emmudeceram ante a serenidade
da sua face, mais branca que as brancas barbas, d'uma morta brancura de
lapide, com os olhos resequidos e côr de braza, a latejar, a refulgir,
como os dous buracos d'um forno. Com a mesma sinistra serenidade, tocou
no hombro do velho Ramiro, que tremia arrimado ao seu chusso. E n'uma
vagarosa e vasta voz:
--Amigo! cuida tu do corpo de meu filho, que a alma ainda hoje, por
Deus! lh'a vou eu socegar!...
Afastou aquelles senhores emmudecidos d'assombro e d'emoção--e baixou
pela gasta escada de madeira, que rangia sob o peso do enorme Rico-Homem
carregado de ira e dôr.
N'esse momento, entre besteiros e serviçaes que se atropellavam--o corpo
de Lourenço Ramires transpunha o portello das barbacans, segurado pelo
formoso Leonel e por Mendo de Briteiros, ambos affogueados de lagrimas e
rouquejando ameaças furiosas contra a raça de Bayão. Atraz o tropego
Ordonho gemia, abraçado á espada de Tructesindo, que apanhára no chão do
Terreiro e que beijava como para a consolar. Á borda do fosso uma
aveleira espalhava a sombra leve n'um bronco taboão pregado sobre
toros--d'onde, aos domingos, com o adanel dos besteiros, Lourenço
dirigia os jogos de bésta e frecha, distribuindo fartamente as
recompensas de bolos de mel e de vinho em picheis. Sobre essas taboas o
estiraram--recuando todos depois, em quanto aterradamente se benziam. Um
cavalleiro de Briteiros, temendo por aquella alma desamparada e sem
confissão, correra á capella da Alcaçova procurar Frei Muncio. Outros,
rodeando toda a muralha até ao Baluarte-Velho, gritavam, com
desesperados acenos, para o torreão escalavrado, onde, como um môcho,
habitava o Physico. Mas o certeiro punhal do Bastardo acabára o denodado
Lourenço, flor e regra de cavalleiros por toda a terra de Riba-Cavado...
E que lastimoso e desfeito--com suja terra na face, a garganta empastada
de sangue negro, as malhas do saio rotas sobre os hombros e embebidas
nas carnes retalhadas, e nua, sem grêva, toda inchada e rôxa, a perna
ferida em Canta-Pedra, onde mais sangue e lama se empastavam!
Tructesindo descia, lento e rigido. E as seccas brazas dos seus olhos
mais se incendiam, em quanto, atravez do dorido silencio, se acercava do
corpo de seu filho. Deante do banco ajoelhou, agarrou a arrefecida mão
que pendia; e, junto á face manchada de sangue e terra, segredou, de
alma para alma, n'um abafado murmurio, que não era de despedida mas
d'alguma suprema promessa, e que findou n'um beijo demorado sobre a
testa, onde uma restea de sol rebrilhou, dardejada d'entre as folhas da
aveleira. Depois erguido n'um arrebate, atirando o braço como para
n'elle recolher toda a força da sua raça, gritou:
--E agora, senhores, a cavallo, e vingança brava!
Já pelos páteos, em torno da Alcaçova, corria um precipitado fragor
d'armas. Aos asperos commandos dos almocadens as filas de besteiros,
d'archeiros, de fundibularios, rolavam dos adarves dos muros para cerrar
as quadrilhas. Rapidamente, os cavallariços da carga amarravam sobre o
dorso das mulas os caixotes do almazem, os alforges da trebalha. Pelas
portas baixas da cosinha, peões e sergentes, antes de largar, bebiam á
pressa uma conca de cerveja. E no campo das barreiras os cavalleiros,
chapeados de ferro, carregadamente se içavam, com a ajuda dos donzeis,
para as altas sellas dos ginetes--logo ladeados pelos seus infanções e
acostados, que aprumavam a lança sobre o coxote assobiando aos lebreus.
Emfim o Alferes, Affonso Gomes, saccou da funda e desfraldou o pendão
n'um embalanço largo em que as azas do Açor negrejaram, abertas, como
soltando o vôo enfurecido. O grito agudo do Adail resoára por toda a
cerca--_ala! ala!_ De cima de um marco de pedra, junto ao postigo do
barbacan, Frei Muncio estendia as magras mãos ainda tremulas, abençoava
a hoste. Então Tructesindo, sobre o seu murzello, recebeu do velho
Ordonho a espada, de que tão terrivelmente se apartára. E estendendo a
reluzente folha para as torres da sua Honra como para um altar, bradou:
--Muros de Santa Ireneia, não vos torne eu a vêr, se em tres dias, de
sol a sol, ainda restar sangue maldito nas veias do traidor de Bayão!
E, escancaradas as barreiras, a cavalgada tropeou em torno ao pendão
solto,--em quanto, na torre d'Almenara, sob o parado explendor da sésta
d'Agosto, o sino grande começava a tanger a finados.
* * * * *
Quando Gonçalo á tarde, enterrado na poltrona á varanda, releu este
Capitulo de sangue e furor sobre que se esfalfára durante a semana,
pensou «que o lance impressionaria.»
Sentiu então o appetite de recolher sem demora os louvores merecidos--e
de mostrar a Gracinha e ao Padre Sueiro os tres Capitulos completos
antes de remetter o manuscripto para os *Annaes*. E mesmo lhe
convinha--porque a erudição archeologica do Padre Sueiro forneceria
talvez algum traço novo, bem Affonsino, que mais avivasse aquella
resurreição da Honra de Santa-Ireneia e dos seus senhores formidaveis.
Immediatamente resolveu partir de manhã para Oliveira com o seu
trabalho--que, depois de esmiuçado pelo Padre Sueiro, confiaria ao
procurador de D. Arminda Viegas para elle o copiar n'aquella sua formosa
lettra, tão celebrada em todo o Districto, e apenas egualada (nas
maiusculas) pela do Escrivão da Camara Ecclesiastica.
Sacudia já da poeira uma antiga pasta de marroquim para transportar a
Obra amada--quando o Bento empurrou a porta, ajoujado com uma cesta de
vime que uma toalha de rendas cobria.
--Um presente.
--Um presente... De quem?
--Da _Feitosa_, das senhoras.
--Bravo!
--E com uma carta, que vem pregada na toalha.
Com que curiosidade Gonçalo despedaçou o sobrescripto! Mas, apezar de
lacrado com um pomposo sello d'Armas, apenas continha linhas a lapis
n'um bilhete de visita da prima Maria Mendonça:--«Hontem ao jantar
contei quanto o primo Gonçalo gosta de pêcegos sobretudo aboborados em
vinho, e a Annica toma por isso a liberdade de lhe mandar esse cestinho
de pêcegos da _Feitosa_, que como sabe são fallados em todo o
Portugal... Mil saudades.»--Gonçalo imaginou logo no fundo da cesta,
debaixo dos pêcegos, docemente escondida, uma cartinha da D. Anna!
--Bem! São pêcegos... Deixa ahi sobre uma cadeira...
--Era melhor que os levasse já para a copa, Snr. Dr., para os arrumar na
prateleira...
--Deixa sobre a cadeira!
Apenas o Bento cerrára a porta, estendeu no chão a toalha, entornou
cuidadosamente por cima os pêcegos formosos que perfumavam a livraria.
No fundo da cesta encontrou apenas folhas de parra. Levemente
desconsolado, cheirou um pêcego. Depois considerou que os pêcegos,
arranjados por ella, com parra que ella apanhára na latada, sob toalha
que ella escolhera no armario, formavam na sua mudez cheirosa um
recadinho sentimental. Ainda agachado na esteira, comeu o pêcego:--e
recollocou os outros na cesta para os levar a Gracinha.
Mas, ao outro dia, ás duas horas, já com a parelha do Torto engatada á
caleche, já com as luvas calçadas para a jornada d'Oliveira, recebeu uma
inesperada visita--a visita do Snr. Visconde de Rio-Manso. Descalçando
as luvas o Fidalgo pensava:--«O Rio-Manso! Que me quererá esse
casmurro?»--Na sala, pousado á beira do canapé de velludo verde e
esfregando os joelhos, o Visconde contou que de volta de Villa Clara e
deante do portão da Torre vencera o seu teimoso acanhamento para
apresentar os seus respeitos ao Snr. Gonçalo Ramires. E não só para esse
gostoso dever--mas tambem (como soubera que S. Ex.^a se propunha
Deputado pelo Circulo) para lhe offerecer na freguezia de Canta-Pedra o
seu prestimo e os seus votos...
Gonçalo, risonho e pasmado, saudava, torcia embaraçadamente o bigode. E
o Visconde de Rio-Manso não estranhava aquelle pasmo por que de certo o
Snr. Gonçalo Ramires o conhecêra sempre como ferrenho Regenerador... Mas
então! Elle pertencia á geração, agora bem rareada, que antepunha aos
deveres da Politica os deveres da gratidão:--e além da sympathia que lhe
merecia o Snr. Gonçalo Ramires (pelo que constava em todo o Districto do
seu talento, da sua affabilidade, da sua caridade) tambem conservava
para com S. Ex.^a uma divida de gratidão, ainda aberta, não por
indifferença, mas por timidez...
--V. Ex.^a não adivinha, Snr. Gonçalo Mendes Ramires?... Não se lembra?
--Não, realmente, Snr. Visconde, não me...
Pois uma tarde o Snr. Gonçalo Mendes Ramires passava a cavallo pela
quinta da _Varandinha_, quando a sua neta, brincando no terraço (aquelle
terraço gradeado d'onde se curva uma magnolia), deixou escapar uma péla
para a estrada. O Snr. Gonçalo Mendes Ramires, rindo, apeou
immediatamente, apanhou a péla, e, para a restituir á menina debruçada
da grade, abeirou a egoa do muro depois de montar--e com que ligeiresa e
garbo!...
--V. Ex.^a não se lembrava?
--Sim, sim, agora...
Pois no ladrilho do terraço, rente da grade, pousava um jarro cheio de
cravos. O Snr. Gonçalo Mendes, depois de gracejar com a menina (que,
louvado Deus, não era acanhada!) pediu um cravo, que ella escolheu--e
que lhe deu, toda séria, como uma senhora. E elle, que observára da
janella do seu quarto, pensava:--«Ora ahi está! Este Fidalgo da Torre,
um tão grande Fidalgo, que amavel!»--Oh S. Ex.^a não tinha que rir e
corar... A gentileza fôra grande--e a elle, avô, parecêra immensa! Mas
não ficára sómente na péla apanhada...
--O Snr. Gonçalo Mendes Ramires não se recorda?...
--Sim, Snr. Visconde, com effeito, agora...
Pois, logo no outro dia, o Snr. Gonçalo Mendes Ramires mandára da Torre
um precioso cesto de rosas, com o seu bilhete, e n'uma linha este
gracejo:--«Em agradecimento d'um cravo, rosas á Snr.^a D. Rosa.»
Gonçalo quasi pulou na cadeira, divertido:
--Sim, sim, Snr. Visconde, perfeitamente!.. Agora me recordo!
Pois desde essa tarde elle sempre almejára por uma opportunidade de
mostrar ao Snr. Gonçalo Mendes Ramires o seu reconhecimento, a sua
sympathia. Mas que! era timido, vivia muito retirado... N'essa manhã
porém, em Villa Clara, soubera pelo Gouveia que S. Ex.^a se apresentava
deputado pelo Circulo. Apezar de ser eleição tão segura, já pela
influencia do Snr. Ramires, já pela influencia do Governo, logo
pensára--«Bem, ahi está a occasião!» E, agora offerecia a S. Ex.^a, na
freguezia de Canta-Pedra, o seu prestimo e os seus votos.
Gonçalo murmurou, enternecido:
--Realmente, Snr. Visconde, nada me podia sensibilisar mais do que uma
offerta tão espontanea, tão...
--Sou eu que me sensibiliso por V. Ex.^a acceitar. E agora não fallemos
mais n'esse meu pobre prestimo e n'esses meus pobres votos... Pois V.
Ex.^a tem aqui uma veneravel vivenda.
E como o Visconde alludia ao desejo, já n'elle antigo, de admirar de
perto a famosa torre, mais velha que Portugal--ambos desceram ao pomar.
O Visconde, com o guarda-sol ao hombro, pasmou em silencio para a torre;
reconheceu (apezar de liberal) o prestigio que resulta d'uma tão alta
linhagem como a dos Ramires; e gabou sinceramente o laranjal. Depois,
sabendo que o Pereira da Riosa arrendára a quinta, invejou ao Snr.
Ramires tão cuidadoso e honrado rendeiro...--Deante do portão, o
_char-à-bancs_ do Visconde esperava, atrelado de duas mulas lustrosas e
nedias. Gonçalo admirou as mulas. E, abrindo a portinhola, supplicou ao
Snr. Visconde que beijasse por elle a mãosinha da Snr.^a D. Rosa.
Commovido, o Visconde confessou uma ousadia, uma esperança--e era que S.
Ex.^a um dia, á sua escolha, parasse em Canta-Pedra, jantasse na quinta,
para conhecer mais intimamente a menina da péla e do cravo...
--Mas com immensa honra!... E desde já me proponho a ensinar á Snr.^a D.
Rosa, se ella o não sabe, o jogo da péla á antiga portugueza.
O Snr. Visconde saudou, banhado de gosto e riso, com a mão sobre o
coração.
Gonçalo, trepando as escadas, murmurava:--«Oh senhores, que sympathico
homem! E que generoso homem, que paga rosas com votos! Ora vejam como ás
vezes, por uma pequenina attenção, se ganha um amigo! Com certeza, para
a semana vou a Canta-Pedra jantar!... Homem encantador!»
E foi n'um ditoso estado d'alma que accommodou na caleche a pasta de
marroquim com o manuscripto, o cesto sentimental dos pêcegos da D.
Anna--e accendeu um charuto, e saltou á almofada, e tomou as redeas para
lançar, n'um trote alegre até Oliveira, a parelha branca do Russo.
No largo d'El-Rey, antes d'apear, perguntou logo ao Joaquim da Porta
noticias dos senhores. Os senhores todos muito bem, graças a Deus... O
Snr. José Barrôlo partira de manhã a cavallo para a quinta do Snr. Barão
das Marges, só recolhia á noite...
--E o Snr. Padre Sueiro?
--O Snr. Padre Sueiro, creio que está para casa da Snr.^a D. Arminda...
--E a Snr.^a D. Graça?
--A Snr.^a D. Graça desceu ha um bocadinho grande para o Mirante, de
chapeu... Naturalmente ia á Egreja das Monicas.
--Bem. Leva esse cesto de pêcegos e dize ao Joaquim da Copa que o ponha
na mesa, assim mesmo no cesto, com as folhas... E que me subam ao quarto
agoa quente.
O relogio de parede, na sala de espera, gemia preguiçosamente as cinco
horas. O palacete repousava n'um claro silencio. E depois da poeira e
dos solavancos da estrada, pareceu mais doce a Gonçalo a frescura do seu
quarto com as quatro janellas abertas sobre o jardim regado e sobre a
cerca das Monicas. Cuidadosamente, guardou logo n'uma gaveta da commoda
a pasta preciosa de marroquim. Uma creada de olhos repolhudos entrára
com o jarrão d'agua quente:--e o Fidalgo, como sempre, chasqueou a moça
sobre os lindos sargentos de Cavallaria, cujo quartel tentador dominava
o lavadouro da quinta, e retinha as raparigas da casa ensaboando todo o
dia com paixão. Depois ainda se demorou, mudando o fato empoeirado,
assobiando vagamente, encostado á varanda sobre a callada rua das
Tecedeiras. O sino das Monicas lançou um lindo repique... E Gonçalo,
enfastiado da sua solidão, decidiu descer pelo terraço do jardim, e
surprehender Gracinha nas suas devoções, na Egrejinha.
Em baixo, no corredor, crusou o Joaquim da Copa:
--Então o Snr. Barrôlo hoje não janta?
--O Snr. Barrôlo foi jantar com o Snr. Barão das Marges, na quinta...
São os annos da menina. Naturalmente só recolhe á noite.
Gonçalo, no jardim, ainda tardou por entre os alegretes, compondo para o
casaco um ramo de flôres ligeiras. Depois rodeou a estufa, sorrindo da
porta com que o Barrôlo a enriquecera, uma porta envidraçada, arqueada
em ferradura, com um monogramma de côres rutilantes: e metteu pela rua
que conduzia ao repuxo, coberta de silencio e penumbra pela rama
enlaçada dos seus altos loureiros. Adiante, circumdado de bancos de
pedra, d'arvores de aroma e flôr, cantava dormentemente o fino repuxo
n'um tanque redondo, de borda larga, onde s'espaçavam grossos vasos de
louça branca com o brazão ramalhudo dos Sás. Certamente na véspera ou de
manhã se lavára o tanque, por que na agoa muito transparente, sobre as
lages muito claras, nadavam com redobrada vivacidade, em lampejos
rosados, os peixes que Gonçalo assustou mergulhando e agitando a
bengala. E d'aquella borda do tanque já elle avistava ao fundo de outra
rua, debruada de dhalias abertas, o Mirante--uma construcção do seculo
XVIII, simulando um Templosinho grego, côr de rosa desbotada, com um
gordo Cupido sobre a cupula, e janellinhas de rocalha entre o meio
relevo das columnas canelladas por onde trepavam jasmineiros.
Gonçalo arrancou, como costumava, folhas d'um ramo de lucia-lima, para
esmagar e perfumar as mãos: e continuou para o Mirante, vagarosamente,
por entre as dhalias apinhadas. Na allea, novamente ensaibrada, os
sapatos finos de verniz que calçára pousavam sem rumor no saibro molle.
E assim, n'um silencio de sombra indolente, se acercou do Mirante--e
d'uma das janellinhas que, mal cerrada, conservava corrida por dentro a
persiana de taboinhas verdes. Rente d'essa janella era a escada de
pedra, que, do elevado e comprido terraço sobre que se estendia o
jardim, communicava com a encovada rua das Tecedeiras, quasi em frente á
Capella das Monicas. E Gonçalo, sem pressa, descia--quando, atravez da
persiana rala, sentiu dentro do Mirante um susurro, um cochichar
perturbado. Sorrindo, pensou que alguma das creadas da casa se refugiára
n'esse Templosinho de Amor com um dos sargentos terriveis de
Cavallaria... Mas, não! impossivel! Pois se, momentos antes, Gracinha
roçára aquella janella e pisára aquella escada, no seu caminho para as
Monicas! E então outra idéa o varou como uma espada--e tão dolorosa que
recuou com terror da beira do Mirante d'onde ella perversamente o
assaltára. Já porém uma desesperada curiosidade a agarrára, o
empurrava--e collou a face á persiana com a cautella d'um espião. O
Mirante recahira em silencio--Gonçalo temia que o trahissem as pancadas
do seu coração... Santo Deus! De novo o murmurio recomeçára, mais
apressado, mais turbado. Alguem supplicava, balbuciava:--«Não, não, que
loucura!»--Alguem urgia, impaciente e ardente:--«Sim, meu amor! sim, meu
amor!» E a ambos os reconheceu--tão claramente como se a persiana se
erguesse e por ella entrasse toda a vasta claridade do jardim. Era
Gracinha! Era o Cavalleiro!
Colhido por uma immensa vergonha, no atarantado pavor de que o
surprehendessem junto do Mirante e da torpeza escondida--enfiou pela rua
das dhalias, encolhido, com os sapatos leves no saibro molle, costeou o
repuxo por sob a ramaria dos arbustos, remergulhou na escuridão dos
loureiros, deslisou surrateiramente por traz da estufa--penetrou no
socego do Palacete. Mas o murmurio do Mirante ainda o envolvia, mais
desfallecido, mais rendido--«Não, não, que loucura!... Sim, sim, meu
amor!...»
Abalou atravez das salas desertas como uma sombra acossada; escorregou
abafadamente pela escadaria de pedra, varou o portão n'uma carreira,
espreitando, com medo do Joaquim da Porta. No Largo parou, deante da
grade do relogio do sol. Mas o susuro do Mirante errava por todo o Largo
como um vento enroscado, raspando as lages, batendo as barbas dos Santos
sobre o portal da Egreja de S. Matheus, redemoinhando nos telhados
musgosos da Cordoaria...--«Não, não, que loucura! Sim, sim! meu amor!»
Então Gonçalo sentiu a anciedade desesperada d'escapar para longe, para
immensamente longe do Largo, do Palacete, da cidade, de toda aquella
vergonha que o trespassava. Mas uma carruagem?... Pensou na alquilaria
do Maciel, a mais retirada, para além das ultimas casas, na estrada do
Seminario. E cosido com os muros baixos d'essas ruas pobres, correu,
mandou engatar uma caleche fechada.
Emquanto esperava á porta, n'um banco, passou pela estrada uma lenta
carroça com moveis, panellas de cosinha, um grande colxão onde se
alastrava uma nodoa. Bruscamente Gonçalo recordou o divan que guarnecia
o Mirante. Era enorme, de mogno, todo coberto de riscadinho, com mollas
lassas que rangiam. E de repente o murmurio recomeçou, cresceu, rolando
com fragor de trovão por sobre os casebres visinhos, por sobre a cerca
do Seminario, por sobre Oliveira espantada:--«Não, não, que loucura!
Sim, sim, meu amor!»
Com um salto, Gonçalo gritou para dentro, para a cavallariça escura:
--Então, que inferno! não acaba, essa carroagem?
--Já a largar, meu Fidalgo.
No relogio da Piedade sete horas batiam--quando elle se atirou para a
caleche, e fechou as _stores_ pêrras, e se enterrou no fundo, bem
sumido, esmagado, com a sensação que o Mundo tremera, e as mais fortes
almas se abatiam, e a sua Torre, velha como o Reino, rachava, mostrando
dentro um montão ignorado de lixo e de saias sujas.


IX

Á porta da cosinha, saccudindo um sobrescripto já amarrotado, Gonçalo
ralhava com a Rosa cosinheira:
--Oh Rosa! pois tanto lhe recommendei que não escrevesse á mana
Graça?... Que teimosa! Então não arranjavamos a pequena, sem essas
lamurias para Oliveira? Graças a Deus, a Torre é larga bastante para
mais uma creancinha!
É que morrera a Crispola--a desgraçada viuva, visinha da Torre, que com
um rancho miudo de dous pequenos, tres raparigas, definhava no catre
desde a Paschoa. E agora Gonçalo, que mantivera o casebre em fartura,
andava accommodando as pobres creanças--já por cuidado d'elle muito
aceadamente vestidas de luto. A rapariga mais velha (tambem Crispola),
sempre encafuada na cosinha da Torre, passava regularmente a «ajudanta
da Rosa», com soldada. Um dos rapazes, de doze annos, espigado e
esperto, tambem Gonçalo o empregava na Torre como andarilho, para os
recados, com fardeta de botões amarellos. O outro, molle e ranhoso, mas
com o geito e o amor de carpinteirar, já Gonçalo, sob o patrocinio da
tia Louredo, o collocára em Lisboa, na Officina de S. José. D'uma das
outras raparigas se encarregava a mãe de Manoel Duarte, amoravel senhora
que habitava uma quinta formosa junto a Treixedo, e adorava Gonçalo de
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