A Illustre Casa de Ramires - 07

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cerejeira? E para quê?... Para uma orgia reles, com bolinhos de bacalhau
e bichinhas de rabear!
Titó não desmanchou a sua conchegada beatitude:
--Impossibilissimo. De tarde encontrei o João Gouveia no Chafariz. E só
então nos lembrámos de que eram os annos da D. Casimira. Dia sagrado!
Aquellas ceias de Villa-Clara, as tresnoutadas «pandegas» com violão,
impressionavam sempre Barrôlo, que as appetecia. E com o olho aguçado,
do canto da mesa onde esfarelava cuidadosamente pacotes de tabaco dentro
de uma terrina do Japão:
--Quem é a D. Casimira? Vocês em Villa-Clara descobrem uns typos...
Conta lá!
--Um monstro! declarou Gonçalo. Uma matronaça bojuda como uma pipa, com
um pêllo nojento no queixo. Vive ao pé do Cemiterio, n'um cacifro que
tresanda a petroleo, onde este senhor e as auctoridades vão jogar o
quino, e derriçar com umas serigaitas de cazabeque vermelho e de
farripas... Nem se póde decentemente contar deante do Snr. Padre Sueiro!
O capellão, que sem rumor se esbatera n'uma sombra discreta, entre os
franjados setins d'uma cortina e um pesado contador da India, moveu os
hombros n'um consentimento risonho, como acostumado a todas as fealdades
do Peccado. E, com pachorra, o Titó emendava o esboço burlesco do
Fidalgo:
--A D. Casimira é gorda, mas muito aceada. Até me pediu para eu lhe
comprar hoje, na cidade, uma bacia nova d'assento. A casa não cheira a
petroleo e fica por traz do convento de Santa Theresa. As serigaitas são
simplesmente as sobrinhas, duas raparigas alegres que gostam de rir e de
troçar... E o Snr. Padre Sueiro podia, sem medo...
--Bem, bem! atalhou Gonçalo. Gente deliciosa! Deixemos a D. Casimira,
que tem bacia nova para os seus semicupios... Vamos á outra infamia do
Sr. Antonio Villalobos!
Mas Barrôlo insistia, curioso:
--Não, não, conta lá, Titó... Noite d'annos, patuscada rija, hein?
--Ceia pacata, contou o Titó com a seriedade que lhe merecia a festa das
suas amigas. A D. Casimira tinha uma bella frangalhada com ervilhas. O
João Gouveia trouxe do Gago uma travessa de bôlos de bacalhau que
calharam... Depois, fogo de vistas na horta. O Videirinha tocou, as
pequenas cantaram... Não se passou mal.
Gonçalo esperava--irresistivelmente interessado pela ceia das Casimiras:
--Acabou, hein?... Agora a outra infamia, mais grave! Então o Snr.
Antonio Villalobos é intimo do Sanches Lucena, frequenta todas as
semanas a _Feitosa_, toma chá e torradas com a bella D. Anna, e esconde
tenebrosamente dos seus amigos estes privilegios gloriosos?...
--Sem contar, gritou o Barrôlo deliciosamente divertido, que lhe passeia
á trela os cãesinhos felpudos!
--Sem contar que lhe passeia á trela os cãesinhos felpudos! echoou
cavamente Gonçalo. Responda, meu illustre amigo!
O Titó remecheu o vasto corpo dentro do cadeirão, recolheu as botas de
tachas luzentes, afagou lentamente a face barbuda, que uma vermelhidão
aquecêra. E depois de encarar Gonçalo, intensamente, com um esforço de
sagacidade que mais o afogueou:
--Tu já alguma vez, por curiosidade, me perguntaste se eu conhecia o
Sanches Lucena? Nunca me perguntaste...
O Fidalgo protestou. Não! Mas constantemente na Assembleia, no Gago, na
Torre, elles berravam, em questões de Politica, o nome do Sanches
Lucena! Nada mais natural, até mais prudente, do que alludir o Snr. Titó
á sua intimidade illustre! Ao menos para evitar que elle, ou os amigos,
deante do Snr. Titó que comia as torradas da _Feitosa_, tratassem o
Sanches Lucena como um trapo!
O Titó despegou do cadeirão. E afundando as mãos nos bolsos da quinzena
d'alpaca, sacudindo desinteressadamente os hombros:
--Cada um tem sobre o Sanches a sua opinião... Eu apenas o conheço ha
quatro ou cinco mezes, mas acho que é serio, que sabe as cousas...
Agora, lá nas Camaras...
Gonçalo, indignado, bradava que se não discutiam os meritos do Snr.
Sanches Lucena--mas os segredos do Snr. Titó Villalobos! E o escudeiro
novo, avançando as suissas ruivas por uma fenda do reposteiro, annunciou
que o Snr. Administrador de Villa-Clara procurava Suas Ex.^{as}...
Barrôlo largou logo a terrina de tabaco:
--O Snr. João Gouveia! Que entre! Bravo! temos cá toda a rapaziada de
Villa-Clara!
E Titó, da janella onde se refugiara, lançou o vozeirão, mais troante,
abafando a importuna conversa do Sanches e da _Feitosa_:
--Viemos ambos! Por signal n'uma traquitana infame... Até se nos
desferrou uma das pilecas e tivemos de parar na Vendinha. Não se perdeu
tempo, que ha agora lá um vinhinho branco que é d'aqui da ponta fina!...
Beliscava a orelha. Aconselhava ruidosamente Barrôlo e Gonçalo a
passarem na Vendinha, para provar a pinga celeste.
--Até aqui o Snr. Padre Sueiro lhe atiçava uma caneca valente, apesar do
Peccado!
Mas João Gouveia entrou, encalmado, empoeirado, com um vinco vermelho na
testa, do chapeu e do calor--e abotoado na sobrecasaca preta, de calças
pretas, de luvas pretas. Sem folego, apertou silenciosamente pela sala
as mãos amigas que o acolhiam. E desabou sobre o camapé, implorando ao
amigo Barrôlo a caridade d'uma bebidinha fresca!
--Estive para entrar no café Monaco. Mas reflecti que n'esta grandiosa
casa dos Barrôlos as bebidas são de mais confiança.
--Ainda bem! Você que quer? Orchata? Sangria? Limonada?
--Sangria.
E, limpando o pescoço e a testa, amaldiçoou o indecente calor
d'Oliveira:
--Mas ha gente que gosta! Lá o meu chefe, o Snr. Governador Civil,
escolhe sempre a hora do calor para passear a cavallo. Ainda hoje... Na
repartição até ao meio dia; depois, cavallo á porta; e larga até á
estrada de Ramilde, que é uma Africa... Não sei como lhe não fervem os
miolos!
--Oh! acudiu Gonçalo, é muito simples. Se elle os não tem!
O administrador saudou gravemente:
--Já cá faltava com a sua ferroadasinha o Snr. Gonçalo Mendes Ramires!
Não comecemos, não comecemos... Este seu cunhado, Barrôlo, é bicho
indomesticavel! Sempre reponta!
O bom Barrôlo gaguejou, constrangido, que Gonçalinho em Politica não
dispensava a piada...
--Pois olhe! declarou o administrador, sacudindo o dedo para Gonçalo.
Esse Snr. André Cavalleiro, que não tem miolos, ainda esta manhã na
Repartição gabou com immensa sympathia os miolos do Snr. Gonçalo Mendes
Ramires!...
E Gonçalo, muito serio:
--Tambem não faltava mais nada! Para esse Governador Civil ser
perfeitamente absurdo só lhe restava que me considerasse um asno!
--Perdão! gritou o Administrador, que se erguera, desabotoando logo a
sobrecasaca, para commodidade da contenda.
Barrôlo acudio, afflicto, carregando nos hombros do Gouveia--para o
socegar e o repôr no camapé:
--Não, meninos, não! Politica, não! E então essa massada do
Cavalleiro... Vamos ao que importa. Você janta comnosco, João Gouveia?
--Não, obrigado. Já prometti jantar com o Cavalleiro. Temos lá o Ignacio
Vilhena. Vae lêr um artigo que escreveu para o _Boletim de Guimarães_
sobre umas fôrmas de fabricar ossos de martyres, descobertas nas obras
do convento de S. Bento. Estou com curiosidade... E a Snr.^a D. Graça,
bem? Quem eu não avistava havia mezes era o Snr. Padre Sueiro. Nunca
apparece agora pela Torre!... Mas sempre rijo, sempre viçoso. Oh, Snr.
Padre Sueiro, qual é o seu segredo para toda essa meninice?
Do seu canto, o capellão sorriu timidamente. O segredo? Poupar a
Vida--não a consumindo nem com ambições nem com decepções. Ora para
elle, louvado Deus, a vida corria muito simples e muito pequenina. E
fóra o seu rheumatismo...
Depois, córando d'acanhamento, atravez das sentenças evangelicas que lhe
escapavam:
--Mas mesmo o rheumatismo não é mal perdido. Deus, que o manda, sabe
porque o manda... Soffrer edifica. Por que enfim o que nós soffremos nos
leva a pensar no que os outros soffrem...
--Pois olhe, volveu com alegre incredulidade o Administrador, eu, quando
tenho os meus ataques de garganta, não penso na garganta dos outros!
Penso só na minha que me dá bastante cuidado. E agora a vou regalar
n'aquella bella sangria...
O escudeiro vergava, com a luzente bandeja de prata, carregada de copos
de sangria onde boiavam rodellinhas de limão. E todos se tentaram, todos
beberam, até Padre Sueiro, para mostrar ao Snr. Antonio Villalobos que
não desdenhava o vinho, dadiva amavel de Deus--pois como ensina Tibulo
com verdade, apezar de gentilico, _vinus facit dites animos, mollia
corda dat_, enrija a alma e adoça o coração.
João Gouveia, depois d'um suspiro consolado, pousou na bandeja o copo
que esvasiára d'um trago e interpellou Gonçalo:
--Vamos a saber! Então n'outro dia que historia phantastica foi essa
d'uma festa na Torre, com senhoras, com a D. Anna Lucena?... Eu não
acreditei quando o pequeno do Gago me encontrou, me deu o recado.
Depois...
Mas d'entre as cortinas da janella, onde acabava a sangria, Titó
novamente rebombou, interpellando tambem o Fidalgo:
--Oh sô Gonçalo! E o que me contou ha pouco o Barrôlo?... Que andavas
com idéas de abalar para a Africa?
Ao espanto de João Gouveia quasi se misturou terror. Para a Africa?... O
quê? Com um emprego para a Africa?...
--Não! plantar côcos! plantar cacau! plantar café! exclamava o Barrôlo,
com divertidas palmadas na côxa.
Pois Titó approvava a idéa! Tambem elle, se arranjasse um capital, dez
ou quinze contos, tentava a Africa, a traficar com o preto... E tambem
se fôsse mais pequeno, mais secco. Que homens do seu corpanzil,
necessitando muita comezaina e muita vinhaça, não aguentam a Africa,
rebentam!
--O Gonçalo sim! É chupado, é rijo; não carrega na agua-ardente; está na
conta para Africanista... E sempre te digo! Carreira bem mais decente
que essa outra por que tens mania, de deputado! Para que? Para palmilhar
na Arcada, para bajular Conselheiros.
Barrôlo concordou, com alarido. Tambem não comprehendia a teima de
Gonçalo em ser deputado! Que massada! Eram logo as intrigas, e as
desandas nos jornaes, e os enxovalhos. E sobretudo aturar os eleitores.
--Eu, nem que me nomeassem depois Governador Civil, com um titulo e uma
gran-cruz a tiracollo, como o Freixomil!
Gonçalo escutára, n'um silencio risonho e superior, enrolando
laboriosamente um cigarro com o tabaco do Barrôlo:
--Vocês não comprehendem... Vocês não conhecem a organisação de
Portugal. Perguntem ahi ao Gouveia... Portugal é uma fazenda, uma bella
fazenda, possuida por uma parceria. Como vocês sabem ha parcerias
commerciaes e parcerias ruraes. Esta de Lisboa é uma _parceria
politica_, que governa a herdade chamada Portugal... Nós os Portuguezes
pertencemos todos a duas classes: uns cinco a seis milhões que trabalham
na fazenda, ou vivem n'ella a olhar, como o Barrôlo, e que pagam; e uns
trinta sujeitos em cima, em Lisboa, que formam a _parceria_, que recebem
e que governam. Ora eu, por gosto, por necessidade, por habito de
familia, desejo mandar na fazenda. Mas, para entrar na _parceria
politica_, o cidadão portuguez precisa uma habilitação--ser deputado.
Exactamente como, quando pretende entrar na Magistratura, necessita uma
habilitação--ser bacharel. Por isso procuro começar como deputado para
acabar como parceiro e governar... Não é verdade, João Gouveia?
O Administrador voltára á bandeja das sangrias, de que saboreava outro
copo, agora lentamente, aos goles:
--Sim, com effeito, essa é a carreira... Candidato, Deputado, Politico,
Conselheiro, Ministro, Mandarim. É a carreira... E melhor que a
d'Africa. Por fim na Arcada, em Lisboa, tambem cresce cacau e ha mais
sombra!
Barrôlo no emtanto abraçára o hombro possante do Titó, com quem
mergulhou no vão da janella, n'uma confraternidade d'ideias, gracejando:
--Pois eu, sem ser dos taes _parceiros_, tambem mando nos bocados de
Portugal que mais me interessam por que me pertencem!... E sempre queria
vêr que esse S. Fulgencio, ou o Braz Victorino, ou lá os politicos do
Terreiro do Paço, se mettessem a dispôr nas minhas terras, na
_Ribeirinha_ ou na _Murtosa_... Era a tiro!
Encostado á vidraça, Titó coçava a barba, impressionado:
--Pois sim, Barrôlo! Mas você na _Ribeirinha_ e na _Murtosa_ tem de
pagar as contribuições que elles mandarem. E n'esses concelhos tem
d'aguentar as auctoridades que elles nomearem. E goza para lá d'estradas
se elles lh'as fizerem. E vende o carro de pão e a pipa de vinho com
mais ou menos proveito, segundo as leis que elles votarem... E assim
tudo. O Gonçalo não deixa de acertar. É o diabo! Quem manda é quem
lucra... Olhe! o maroto do meu senhorio em Villa-Clara, agora para o S.
Miguel, augmenta a renda da casa em que eu moro, um cochicho que ninguem
quer, por que mataram lá o carrasco, que ainda lá apparece... E o
Cavalleiro, esse, como _parceiro_, vive de graça n'este bello palacio de
S. Domingos, com cocheira, com jardim, com horta...
Barrôlo atirou um _chut_, de mão espalmada, abafando o vozeirão do Titó,
com medo que as regalias do Cavalleiro, assim proclamadas, renovassem as
furias de Gonçalo. Mas o Fidalgo não percebera, attento ao João Gouveia,
que, enterrado no camapé depois da sangria, novamente contava o seu
assombro, ao encontrar no chafariz, em Villa-Clara, o rapasola do Gago
com o recado da grande festa na Torre:
--E cheguei a desconfiar que realmente você désse festa, quando bateram
as nove, depois as nove e meia, e o Titó sem chegar para a ceia da D.
Casimira!... Bem, pensei, tambem recebeu recado e abalou para a Torre!
Por fim, apenas elle appareceu, de carapuço e de jaqueta, percebi que
fôra troça do Snr. D. Gonçalo...
Então o Fidalgo pasmou com uma inesperada, estranha suspeita:
--De carapuço e jaqueta? O Titó andava n'essa noite de carapuço e de
jaqueta?...
Mas bruscamente Barrôlo, da funda janella, lançou para dentro, para a
sala, um brado de pavor:
--Oh! rapazes! Santo Deus! Ahi veem as Louzadas!
João Gouveia saltou do camapé, como n'um perigo, reabotoando
arrebatadamente a sobrecasaca; Gonçalo, atarantado, esbarrou com o Titó
e o Barrôlo que recuavam, no terror de serem apercebidos atravez dos
vidros largos; até Padre Sueiro, prudente, abandonou o seu recanto onde
corria os oculos pela _Gazeta do Porto_. E todos, d'entre a fenda das
cortinas, como soldados na fresta de uma cidadella, espreitavam o Largo,
que o sol das quatro horas dourava por sobre os telhados musgosos da
Cordoaria. Do lado da rua das Pêgas, as duas Louzadas, muito esgalgadas,
muito sacudidas, ambas com manteletes curtos de seda preta e vidrilhos,
ambas com guardasoes de xadresinbo desbotado, avançavam, estirando pelo
largo empedrado duas sombras agudas.
As duas manas Louzadas! Seccas, escuras e garrulas como cigarras, desde
longos annos, em Oliveira, eram ellas as esquadrinhadoras de todas as
vidas, as espalhadoras de todas as maledicencias, as tecedeiras de todas
as intrigas. E na desditosa Cidade não existia nodoa, pécha, bule
rachado, coração dorido, algibeira arrasada, janella entreaberta, poeira
a um canto, vulto a uma esquina, chapeu estreado na missa, bolo
encommendado nas Mathildes, que os seus quatro olhinhos furantes
d'azeviche sujo não descortinassem--e que a sua solta lingoa, entre os
dentes ralos, não commentasse com malicia estridente! D'ellas surdiam
todas as cartas anonymas que infestavam o Districto: as pessoas devotas
consideravam como penitencias essas visitas em que ellas durante horas
galravam, abanando os braços escanifrados: e sempre por onde ellas
passassem ficava latejando um sulco de desconfiança e receio. Mas quem
ousaria rechaçar as duas manas Louzadas? Eram filhas do decrepito e
venerando General Louzada; eram parentas do Bispo; eram poderosas na
poderosa confraria do Senhor dos Passos da Penha. E depois d'uma
castidade tão rigida, tão antiga e tão resequida, e por ellas tão
espaventosamente alardeada--que o Marcolino do Independente as alcunhára
de _Duas Mil Virgens_.
--Não veem para cá! trovejou o Titó, com immenso allivio.
Com effeito no meio do Largo, rente á grade que circumda o antigo
Relogio-de-Sol, as duas manas paradas, erguiam o bico escuro, farejando
e espiando a Egrejinha de S. Matheus onde o sino lançára um repique de
baptisado.
--Oh, c'os diabos, que é para cá!
As Louzadas, decididas, investiam contra o portão dos Cunhaes! Então foi
um panico! As gordas pernas do Barrôlo, fugindo, abalaram, quasi
derrubaram sobre os contadores, os potes bojudos da India. Gonçalo
bradava que se escondessem no pomar. Desconcertado, o Gouveia rebuscava
com desespero o seu chapeu côco. Só o Titó, que as abominava e a quem
ellas chamavam o _Polyphemo_, retirou com serenidade, abrigando o Padre
Sueiro sob o seu braço forte. E já o bando espavorido se arremessára
sobre o reposteiro--quando Gracinha appareceu, com um fresco vestido de
sedinha côr de morango, sorrindo, pasmada, para o tropel que rolava:
--Que foi? Que foi?...
Um clamor abafado envolveu a dôce senhora ameaçada:
--As Louzadas!
--Oh!
Fugidiamente o Titó e João Gouveia apertaram a mão que ella lhes
abandonou, esmorecida. A sineta do portão tilintára, temerosa! E a fila
acavallada, onde Padre Sueiro rebolava a reboque, enfiou para a livraria
que o Barrôlo aferrolhou, gritando ainda a Gracinha, com uma inspiração:
--Esconde as sangrias!
Pobre Gracinha! Atarantada, sem tempo de chamar o escudeiro, carregou
ella para uma banqueta do corredor, n'um esforço desesperado, a pesada
salva--com que as Louzadas, se a descortinassem, edificariam por sobre a
cidade, e mais alta que a Torre de S. Matheus, uma historia pavorosa de
«vinhaça e bebedeira». Depois, offegando, relanceou no espelho o
penteado. E direita como n'uma arena, com a temeridade simples e risonha
dos antigos Ramires, esperou a arremettida das manas terriveis.
* * * * *
No outro domingo, depois do almoço, Gonçalo acompanhou a irmã a casa da
tia Arminda Villegas, que na vespera, ao tomar (como costumava todos os
sabbados) o seu banho aos pés, se escaldára e recolhera á cama,
apavorada, reclamando uma junta dos cinco cirurgiões d'Oliveira. Depois
acabou o charuto sob as acacias do Terreiro da Louça, pensando na sua
Novella abandonada na Torre durante essas semanas, e no lance famoso do
Capitulo II que o tentava e que o assustava--o encontro de Lourenço
Ramires com Lopo de Bayão, _o Bastardo_, no valle fatal de Cantapedra. E
recolhia aos Cunhaes (porque promettera ao Barrôlo uma trotada a
cavallo, até ao Pinhal de Estevinha, para aproveitar a doçura do domingo
ennevoado) quando, na rua das Vellas, avistou o tabellião Guedes, que
sahia da confeitaria das Mathildes com um grosso embrulho de pasteis.
Ligeiramente, o Fidalgo atravessou logo a rua--emquanto o Guedes, da
borda do passeio, pesado e barrigudo, na ponta dos botins miudinhos
gaspeados de verniz, descobria, n'uma cortezia immensa, a calva,
emplumada ao meio pelo famoso tufo de cabello grisalho que lhe valera a
alcunha de «Guedes Pôpa»:
--Por quem é, meu caro Guedes, ponha o chapeu! Como está? Sempre féro e
moço. Ainda bem!... Fallou com o meu Padre Sueiro? O Pereira da Riosa,
por fim, só vem á cidade na quarta feira...
Sim! Sim! O Snr. Padre Sueiro passára pelo cartorio, para avisar--e elle
apresentava os parabens a S. Ex.^a pelo seu novo rendeiro...
--Homem muito competente, o Pereira! Já ha vinte annos que o conheço...
E olhe V. Ex.^a a propriedade do Conde de Monte-Agra! Ainda me lembro
d'ella, um chavascal; hoje que primor! Só a vinha que elle tem plantado!
Homem muito competente... E V. Ex.^a com demora?
--Dois ou tres dias... Não se atura este calor de Oliveira. Hoje,
felizmente, refrescou. E que ha de novo? Como vae a politica? O amigo
Guedes sempre bom Regenerador, leal e ardente, hein?
Subitamente o Tabellião, com o seu embrulho de doces conchegado ao
collete de seda preta, agitou o braço gordo e curto, n'uma indignação
que lhe esbraseou de sangue o pescoço, as orelhas cabelludas, a face
rapada, toda a testa até ás abas do chapeu branco orlado de fumo negro:
--E quem o não ha-de ser, Snr. Gonçalo Mendes Ramires? Quem o não ha-de
ser?... Pois este ultimo escandalo!
Os risonhos olhos de Gonçalo logo se alargaram, serios:
--Que escandalo?
O Tabellião recuou. Pois S. Ex.^a não sabia da ultima prepotencia do
Governador Civil, do Snr. André Cavalleiro?
--O quê, caro amigo?...
O Guedes cresceu todo sobre o bico dos botins pequeninos, e bojou, e
inchou, para exclamar:
--A transferencia do Noronha!... A transferencia do desgraçado Noronha!
Mas uma senhora, tambem obesa, de buço carregado, toda a estalar em
ricas e rugidoras sêdas de missa, arrastando severamente pela mão um
menino que rabujava, parou, fitou o Guedes--porque o digno homem com o
seu ventre, o seu embrulho, a sua indignação, atravancava a entrada das
Mathildes. Apressadamente, o Fidalgo levantou, para ella entrar, o fecho
da porta envidraçada. Depois, n'um alvoroço:
--O amigo Guedes naturalmente vae para casa. É o meu caminho. Andamos e
conversamos... Ora essa! Mas o Noronha... Que Noronha?
--O Ricardo Noronha... V. Ex.^a conhece. O pagador das Obras-Publicas!
--Ah! sim, sim... Então transferido? Transferido arbitrariamente?
Na rua das Brocas por onde desciam, no silencio, a solidão das lojas
cerradas, a colera do Guedes resoou, mais solta:
--Infamemente, Snr. Gonçalo Mendes Ramires, infamissimamente! E para
Almodovar, para os confins do Alemtejo!... Para uma terra sem recursos,
sem distracções, sem familias!...
Parára, com os doces contra o coração, os olhinhos esbugalhados para o
Fidalgo, coriscando. O Noronha! Um empregado trabalhador, honradissimo!
E sem Politica, absolutamente sem Politica. Nem dos Historicos, nem dos
Regeneradores. Só da familia, das tres irmãs que sustentava, tres
flôres... E homem estimadissimo na cidade, cheio de prendas! Um talento
immenso para a musica!... Ah! o Snr. Gonçalo Ramires não sabia? Pois
compunha ao piano cousas lindas! Depois precioso para reuniões, para
annos. Era elle quem organisava sempre em Oliveira as representações de
curiosos...
--Porque, como ensaiador, creia V. Ex.^a que não ha outro, mesmo na
capital... Não ha outro! E, zás, de repente, para Almodovar, para o
Inferno, com as irmãs, com os tarecos! Só o piano!... Veja V. Ex.^a só o
transporte do piano!
Gonçalo resplandecia:
--É um bello escandalo. Ora que felicidade esta de o ter encontrado, meu
caro Guedes!... E não se sabe o motivo?
De novo caminhavam demoradamente pelo passeio estreito. E o tabellião
encolhia os hombros, com amargura. O motivo! Publicamente, como sempre
n'estas prepotencias, o motivo era a conveniencia do Serviço...
--Mas todos os amigos do Noronha, por toda a cidade, conhecem o
verdadeiro motivo... O intimo, o secreto, o medonho!
--Então?
Guedes relanceou a rua, com prudencia. Uma velha atravessava, coxeando,
segurando uma bilha. E o tabellião segredou cavamente, junto á face
deslumbrada do fidalgo.--É que o Snr. André Cavalleiro, esse infame, se
encantára com a mais velha das irmãs Noronhas, a D. Adelina,
formosissima rapariga, alta e morena, uma estatua!... E repellido
(porque a menina, cheia de juizo, uma perola, percebera a intenção
villissima) em quem se vinga, por despeito, o Snr. Governador Civil? No
pagador! Para Almodovar com as meninas, com os tarecos!... Era o pagador
quem pagava!
--É uma bella maroteira! murmurou Gonçalo, banhado de gosto e riso.
--E note V. Ex.^a! exclamava o Guedes, com a mão gorda a tremer por cima
do chapeu. Note V. Ex.^a que o pobre Noronha, na sua innocencia, tão bom
homem, gostando sempre d'agradar aos seus chefes, ainda ha semanas
dedicára ao Cavalleiro uma valsa linda!... A _Mariposa_, uma valsa
linda!
Gonçalo não se conteve, esfregou as mãos n'um triumpho:
--Mas que preciosa maroteira!... E não se tem fallado? Esse jornal
d'opposição, o _Clarim d'Oliveira_, nem uma denuncia, nem uma
allusão?...
O Guedes pendeu a cabeça, descorçoado. O Snr. Gonçalo Ramires conhecia
bem essa gente do _Clarim_... Estylo--e estylo brincado, opulento... Mas
para assoalhar, assim n'um caso gravissimo como o do Noronha, a verdade
bem nua--pouco nervo, nenhuma valentia. E depois o Biscainho, o redactor
principal, andava a passar surrateiramente para os Historicos. Ah! O
Snr. Gonçalo Mendes Ramires não se inteirára? Pois esse torpissimo
Biscainho bolinava. De certo o Cavalleiro lhe acenára com posta... Além
d'isso, como provar a infamia? Cousas intimas, cousas de familia. Não se
podia apresentar a declaração da D. Adelina, menina virtuosissima--e com
uns olhos!... Ah! se fosse no tempo do Manoel Justino e da _Aurora de
Oliveira_!... Esse era homem para estampar logo na primeira pagina, em
letra graúda: «Alerta! que a Auctoridade superior do Districto tentou
levar a deshonra ao seio da familia Noronha!...»
--Esse era um homem! Coitado, lá está no cemiterio de S. Miguel... E
agora, Snr. Gonçalo Ramires, o despotismo campeia, desenfreado!
Bufava, arfava, esfalfado d'aquelle fogoso desabafo. Dobraram calados a
esquina das Brocas para a bella rua, novamente calçada, da Princeza D.
Amelia. E logo na segunda porta, parando, tirando da algibeira o trinco,
o Guedes, que ainda resfolgava, offereceu a S. Ex.^a para descançar.
--Não, não, obrigado, meu caro amigo. Tive immenso, immenso prazer, em o
encontrar... Essa historia do Noronha é tremenda!... Mas nada me espanta
do Snr. Governador Civil. Só me espanta que o não tenham corrido
d'Oliveira, como elle merece, com pancada e assuada... Emfim, nem toda a
gente boa jaz no cemiterio de S. Miguel... Até ámanhã, meu Guedes. E
obrigado!
Da rua da Princeza D. Amelia até o Largo de El-Rei, Gonçalo correu com o
deslumbramento de quem descobrisse um thesouro e o levasse debaixo da
capa! E ahi levava com effeito o «escandalo, o rico escandalo», que
tanto farejára, por que tanto almejára, para desmantelar o Snr.
Governador Civil na sua fiel cidade de Oliveira que lhe levantava arcos
de buxo! E, por uma mercê de Deus, o «rico escandalo» demoliria tambem o
homem no coração de Gracinha, onde, apezar do antigo ultraje, elle
permanecia como um bicho n'um fructo, esfuracando e estragando... E não
duvidava da efficacia do escandalo! Toda a cidade se revoltaria contra a
Authoridade femieira, que opprime, desterra um funccionario
admiravel--por que a irmã do pobre senhor se recusou á baba dos seus
beijos. E Gracinha?... Como resistiria Gracinha áquelle desengano--o seu
antigo André abrazado pela menina Noronha e por ella repellido com nôjo
e com mófa? Oh! o escandalo era soberbo! Só restava que estalasse, bem
ruidoso, sobre os telhados d'Oliveira e sobre o peito de Gracinha como
trovão benefico que limpa ares corrompidos. E d'esse trovão, rolando por
todo o Norte, se encarregava elle com delicia. Libertava a cidade d'um
Governador detestavel, Gracinha d'um sonho errado. E assim, com uma
certeira pennada, trabalhava _pro patria et pro domo_!
Nos Cunhaes correu ao quarto do Barrôlo, que se vestia trauteando o
_Fado dos Ramires_, e gritou atravez da porta com uma decisão
flammejante:
--Não te posso acompanhar á Estevinha. Tenho que escrever urgentemente.
E não subas, não me perturbes. Necessito socego!
Nem attendeu aos protestos desolados com que o Barrôlo accudira ao
corredor, em ceroulas. Galgou a escada. No seu quarto, depois de despir
rapidamente o casaco, de excitar a testa com um borrifo d'agua de
Colonia, abancou á mesa--onde Gracinha collocava sempre entre flores,
para elle trabalhar, o monumental tinteiro de prata que pertencera ao
tio Melchior. E sem emperrar, sem rascunhar, n'um d'esses soltos fluxos
de Prosa que brotam da paixão, improvisou uma Correspondencia rancorosa
para a *Gazeta do Porto* contra o Snr. Governador Civil. Logo o titulo
fulminava--_Monstruoso attentado_! Sem desvendar o nome da familia
Noronha, contava miudamente, como um acto certo e por elle testemunhado,
«a tentativa villôa e baixa da primeira Auctoridade do Districto contra
a pudicicia, a paz de coração, a honra de uma doce rapariga de dezeseis
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