A Illustre Casa de Ramires - 19

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d'alamos, relusiam as pedras d'um lavadouro. Na outra margem, dentro
d'um velho bote encalhado, um rapazito, uma rapariguinha conversavam
profundamente, com dous molhos d'alfazema esquecidos nos regaços.
Gonçalo sorriu do idyllio--depois teve uma surpreza descobrindo, no
cunhal da ponte, rudemente entalhado, o seu Brazão-d'Armas, um Açor
enorme, que alargava as garras ferozes. Talvez aquellas terras outr'ora
pertencessem á Casa:--ou algum dos seus avós beneficos construira a
ponte, sobre torrente então mais funda, para segurança dos homens e dos
gados. Quem sabe se o avô Tructesindo, em memoria piedosa de Lourenço
Ramires, vencido e captivo nas margens d'aquella Ribeira!
O caminho, para além da ponte, alteava entre campos ceifados. As mêdas
lourejavam, pesadas e cheias, por aquelle anno de fartura. Ao longe, dos
telhados baixos d'um logarejo, vagarosos fumos subiam, logo desfeitos no
radiante ceu. E lentamente, como aquelles fumos distantes, Gonçalo
sentia que todas as suas melancolias lhe escapavam da alma, se perdiam
tambem no azul lustroso... Uma revoada de perdizes ergueu o vôo d'entre
o restolho. Gonçalo galopou sobre ellas, gritando, sacudindo o seu forte
chicote de cavallo-marinho, que zenia como uma fina lamina.
Em breve o caminho torceu, costeando um souto de sobreiros, depois
cavado entre silvados com largos pedregulhos aflorando na poeira;--e ao
fundo o sol faiscava sobre a cal fresca d'uma parede. Era uma casa
terrea, com porta baixa entre duas janellas envidraçadas, remendos novos
no telhado e um quinteiro que uma escura e immensa figueira assombreava.
N'uma esquina pegava um muro baixo de pedra solta, continuado por uma
sebe, onde adiante uma velha cancella abria para a sombra d'uma ramada.
Defronte, no vasto terreiro que se alargava, jaziam cantarias, uma pilha
de traves; passava uma estrada, lisa e cuidada, que pareceu a Gonçalo a
de Ramilde. Para além, até a um distante pinheiral, desciam chãs e
lameiros.
Sentado n'um banco, junto da porta, com uma espingarda encostada ao
muro, um rapaz grosso, de barrete de lã verde, acariciava pensativamente
o focinho d'um perdigueiro. Gonçalo parou:
--Tem a bondade... Sabe por acaso qual é o bom caminho para a quinta do
Snr. Visconde de Rio-Manso, a _Varandinha_?
O rapasote ergueu a face morena, de buço leve, remechendo vagamente no
carapuço.
--Para a quinta do Rio-Manso... Siga pela estrada até á pedreira, depois
á esquerda a seguir, sempre rente da varzea...
Mas n'esse instante assomava á porta um latagão de suissas louras em
mangas de camisa, a cinta enfaixada em seda. E Gonçalo, com um
sobresalto, reconheceu logo o caçador que o injuriára na estrada de
Nacejas, o assobiára na venda do Pintainho. O homem relanceou
superiormente o Fidalgo. Depois, com a mão encostada á humbreira,
chasqueou o rapasote:
--Oh Manoel, que estás tu ahi a ensinar o caminho, homem! Este caminho
por aqui não é para asnos!
Gonçalo sentiu a pallidez que o cobriu--e todo o sangue no coração, n'um
tumulto confuso, que era de medo e de raiva. Um novo ultrage, do mesmo
homem, sem provocação! Apertou os joelhos no sellim para galopar. E a
tremer, n'um esforço que o engasgava:
--Vossê é muito atrevido! É já pela terceira vez! Eu não sou homem para
levantar desordens n'uma estrada... Mas fique certo que o conheço, e que
não escapa sem lição.
Immediatamente, o outro agarrou a um cajado curto e saltou á estrada,
affrontando a egoa, com as suissas erguidas, um riso de immenso desafio:
--Então cá estou! Venha agora a lição... E para diante é que Vossê já
não passa, seu Ramires de merd...
Uma nevoa turvou os olhos esgaseados do Fidalgo. E de repente, n'um
inconsciente arranque, como levado por uma furiosa rajada de orgulho e
força, que se desencadeava do fundo do seu ser, gritou, atirou a fina
egoa n'um galão terrivel! E nem comprehendeu! O cajado sarilhára! A egoa
empinava, n'uma cabeçada furiosa! E Gonçalo entreviu a mão do homem,
escura, immensa, que empolgava a camba do freio.
Então, erguido nos estribos, por sobre a immensa mão, despediu uma
vergastada do chicote silvante de cavallo-marinho, colhendo o latagão na
face, de lado, n'um golpe tão vivo da aresta aguda que a orelha pendeu,
despegada, n'um borbutar de sangue. Com um berro o homem recuou,
cambaleando. Gonçalo galgou sobre elle, n'outro arremesso, com outra
fulgurante chicotada, que o apanhou pela bôca, lhe rasgou a bôca,
decerto lhe espedaçou dentes, o atirou, urrando, para o chão. As patas
da egoa machucavam as grossas coxas estendidas,--e, debruçado, Gonçalo
ainda vergastou, cortou desesperadamente face, pescoço, até que o corpo
jazeu molle e como morto, com jorros de sangue escuro ensopando a
camisa.
Um tiro atroou o terreiro! E Gonçalo, com um salto no selim, avistou o
rapasote moreno ainda com a espingarda erguida, a fumegar, mas já
hesitando aterrado.
--Ah, cão!
Lançou a egoa, com o chicote alto:--o rapaz, espavorido, corria
lentamente através do terreiro, para saltar o vallado, escapar para as
varzeas ceifadas!
--Ah cão, ah cão! berrava Gonçalo. Estonteado, o rapaz tropeçára n'uma
viga solta. Mas já se endireitava, largava, quando o Fidalgo o alcançou
com uma cutilada do chicote no pescoço, logo alagado de sangue.
Estendendo as mãos incertas, ainda cambaleou, abateu, estalou contra a
aresta d'um pilar, a cabeça mais sangue jorrou. Então Gonçalo, a
arquejar, deteve a egoa. Ambos os homens jaziam immoveis! Santo Deus!
Mortos? D'ambos corria o sangue sobre a terra secca. O Fidalgo da Torre
sentia uma alegria brutal. Mas um grito espantado soou do lado do
quinteiro.
--Ai que mataram o meu rapaz!
Era um velho que corria da cancella, n'uma carreira agachada, rente com
a sebe, para a porta da casa. Tão certeiramente o Fidalgo arremessou a
egoa, para o deter--que o velho esbarrou contra o peitoril que arfava
coberto de suor e d'espuma. E ante o inquieto animal escarvando, e
Gonçalo alçado nos estribos, com a face chammejante, o chicote a
descer--o velho, n'um terror, desabou sobre os joelhos, gritou
anciadamente:
--Ai, não me faça mal, meu Fidalgo, por alma de seu pae Ramires.
Gonçalo ainda o manteve assim um momento, supplicante, a tremer, sob o
justiceiro faiscar dos seus olhos:--e gosava soberbamente aquellas
callosas mãos que se erguiam para a sua misericordia, invocavam o nome
de Ramires, de novo temido, repossuido do seu prestigio heroico. Depois,
recuando a egoa:
--Esse malandro do rapazola desfechou a caçadeira!... Vossê tambem não
tem boa cara! Que ia vossê correndo para casa? Buscar outra espingarda?
O velho alargou desesperadamente os braços, offerecia o peito, em
testemunho da sua verdade:
--Oh meu Fidalgo, não tenho em casa nem um cajado!... Assim Deus me
ajude e me salve o rapaz!
Mas Gonçalo desconfiava. Quando descesse agora pela estrada de Ramilde,
bem poderia o velho correr ao casebre, agarrar outra caçadeira,
desfechar traiçoeiramente. E então com a presteza d'espirito que a lucta
afiára concebeu contra qualquer emboscada, um ardil seguro. E até n'um
relance sorrio recordando «traças de guerra», de D. Garcia Viegas, o
_Sabedor_.
--Marche lá deante de mim, sempre a direito, pela estrada!
O velho tardou, sem se erguer, aterrado. E batia com as grossas mãos nas
coxas, n'uma ancia que o engasgava:
--Oh meu Fidalgo, oh meu fidalgo! mas deixar assim o rapaz sem
acordo?...
--O rapaz está só atordoado, já se mecheu... E o outro malandro
tambem... Marche vossê!
E ao irresistivel mando de Gonçalo, o velho, depois de sacudir
demoradamente as joalheiras, começou a avançar pela estrada, vergado
deante da egoa, como um captivo, com os longos braços a bambolear,
rosnando, n'um rouco assombro:--Ai como ellas se armam! Ai Santo nome de
Deus, que desgraça! A espaços estacava, esgaseando para Gonçalo um olhar
torvo onde negrejava medo e odio... Mas logo o commando forte o
empurrava: «Marche!...» E marchava. Adiante, onde se erguia um cruseiro
em memoria do Abbade Paguim, assassinado, Gonçalo reconheceu um largo
atalho para a estrada dos Bravaes que chamavam o _Caminho da Moleira_. E
para ahi enfiou o velho, que no pavor d'aquella asinhaga solitaria,
pensando que Gonçalo o afastava de caminhos trilhados para o matar
commodamente, rompeu a gemer. «Ai que isto é o fim da minha vida! Ai
Nossa Senhora, que é o fim da minha vida!» E não cessou de gemer,
emmaranhando os passos tropegos, até que desembocaram na estrada alta
entre taludes escarpados, revestidos de giesta brava. Então de repente,
com outro terror, o homem bruscamente revirou, atirando as mãos ao
barrete:
--Oh meu senhor, o Fidalgo não me leva preso?...
--Marche! Corra! Que agora a egoa trota!
A egoa trotou--o velho correu, desengonçado, arquejando como um folle de
forja. Uma milha galgada, Gonçalo parou, farto do captivo, da lenta
marcha. De resto antes que o homem agora corresse a casa, e agarrasse
uma arma, e virasse para o alcançar, se desforrar--entraria elle, n'um
galope solto, o portão da Torre! Então bradou, com o sobr'olho duro:
--Alto! Agora pode voltar para traz... Mas, antes: Como se chama aquelle
seu logar?
--A Grainha, meu fidalgo.
--E vossê como se chama, e o rapaz?
O velho com a boca aberta, esperou, hesitou:
--Eu sou João, o meu rapaz Manoel... Manoel Domingues, meu Fidalgo.
--Vossê naturalmente mente. E o outro malandro, de suissas louras?
D'um folego, o velho gritou:
--Esse é o Ernesto de Nacejas, o valentão de Nacejas, que chamam o
_Caça-abraços_, e que tanto me desencaminhou o rapaz...
--Bem! Pois diga lá a esses dous marotos que me atacaram a pau e a tiro,
que não ficam quites sómente com a sova, e que agora têm de se entender
com a Justiça... Ella lá irá! Largue!
Do meio da estrada, Gonçalo ainda vigiou o velho que abalára, forçando
as passadas derreadas, limpando o suor que lhe pingava. Depois, pela
conhecida estrada, galopou para a Torre.
E ia levado, galopando n'uma alegria tão fumegante, que o lançava em
sonho e devaneio. Era como a sensação sublime de galopar pelas alturas,
n'um corcel de lenda, crescido magnificamente, roçando as nuvens
lustrosas... E por baixo, nas cidades, os homens reconheciam n'elle um
verdadeiro Ramires, dos antigos na Historia, dos que derrubavam torres,
dos que mudavam a configuração dos Reinos,--e erguiam esse maravilhado
murmurio que é o sulco dos fortes passando! Com razão! com razão! Que
ainda de manhã, ao sahir da Torre, não ousaria marchar para um rapazola
decidido que brandisse um varapau... E depois, de repente, na solidão
d'aquella casa terrea, quando o bruto das suissas louras lhe atira a
suja injuria--eis um _não sei quê_ que se desprende dentro do seu ser, e
transborda, e lhe enche cada veia de sangue ardido e lhe enrija cada
nervo de força destra, e lhe espalha na pelle o desprezo e a dôr, e lhe
repassa fundamente a alma de fortaleza indomavel... E agora alli
voltava, como um varão novo, soberbamente virilisado, liberto emfim da
sombra que tão dolorosamente assombreára a sua vida, a sombra molle e
torpe do seu mêdo! Por que sentia que, agora se todos os valentões de
Nacejas o affrontassem n'um rijo erguer de cajados--esse _não sei quê_,
lá dentro, no seu ser, de novo se soltaria, e o arremessaria, com cada
veia inchada, cada nervo retesado, para o delicioso fragor da briga!
Emfim era _um homem_! Quando em Villa Clara o Manuel Duarte, o Titó com
o peito alto, contassem façanhas, já elle não enrolaria encolhidamente o
cigarro--encolhido, mudo não sómente pela ausencia desconsoladora das
valentias, mas sobretudo pela humilhante recordação das fraquezas. E
galopava, galopava apertando furiosamente o cabo do chicote, como para
investidas mais bellas. Para além dos Bravaes, mais galopou, ao avistar
a Torre. E singularmente lhe pareceu, de repente, que a sua Torre, agora
_mais sua_, e que uma affinidade nova fundada em gloria e força, o
tornava mais senhor da sua Torre!
* * * * *
Como para acolher Gonçalo mais dignamente, o portão grande, sempre
cerrado, offerecia uma entrada triumphal com os dous pesados batentes
escancarados. Elle atirou a egoa para o meio do pateo, bradando:
--Oh Joaquim! Oh Manoel! Eh lá! um de vossês!
O Joaquim surdiu da cavallariça, de mangas arregaçadas, com uma esponja
na mão.
--Oh Joaquim, depressa! Apparelha o Rocilho, corre a um sitio na estrada
de Ramilde, a que chamam a Grainha... Tive agora lá uma grande desordem!
Creio que dei cabo de dous homens... Ficaram n'uma poça de sangue! Não
digas que vaes da Torre, que te podem atacar! Mas sabe o que succedeu,
se estão mortos... Depressa, depressa!
O Joaquim, estonteado, remergulhou na cavallariça escura. E de cima
d'uma das varandas do corredor, partiram exclamações assombradas:
--Oh Gonçalo, o que foi?! santo Deus! o que foi?!
Era o Barrôlo. Sem desmontar, sem surpresa ante a apparição do Barrôlo,
Gonçalo atirou logo para a varanda a historia da bulha, tumultuosamente.
Um malandro que o insultára... Depois outro, que desfechou a
caçadeira... E ambos derribados sob as patas da egoa, n'uma poça de
sangue...
O Barrôlo despegou da varanda--e n'outro relance, investia pelo pateo,
com os curtos braços a boiar, enfiado. Mas então? mas então?... E
Gonçalo, desmontando, tremulo agora do cançasso e da emoção, esmiuçou
mais lances... Na estrada de Ramilde! Um valentão que o injuriou! A esse
rasgára a bôca, decepára a orelha... Depois o outro, um rapasola,
desfecha uma carabina... Elle corre, tão vivamente o colhe com uma
cutilada que o estira, para cima d'uma pedra, como morto...
--Uma cutilada?
--Com este chicote, Barrôlo! Arma terrivel!... Bem dizia o Titó!...
Estou perdido se não levo este chicote.
Esgaseado, Barrôlo remirava o chicote. Sim, com effeito ainda manchado
de sangue.--Então Gonçalo attentou no chicote, no sangue... Sangue de
gente! sangue fresco, que elle arrancára!... E por entre o seu orgulho,
uma piedade passou que o empallideceu:
--Que desgraça, vejam que desgraça!
Esquadrinhou vivamente o fato, as botas, no horror de nodoas de sangue,
que o salpicassem. Sim, santo Deus! sangue na polaina!... E
immediatamente anciou por se despir, se lavar,--galgou a escada, com o
Barrôlo que enxugava o suor, balbuciava:--«Ora uma d'essas! E de
repente! Assim na estrada!...» Mas no corredor, subindo n'uma carreira
da cosinha, appareceu Gracinha, pallida, com a Rosa atraz, que enterrava
os dedos entre o lenço e o cabello n'um pavor mudo.
--Que foi, Gonçalo? Jesus, que foi?!
Então, encontrando Gracinha junto d'elle, na Torre, n'esse momento
magnifico do seu orgulho, depois de tão rijo perigo vencido, Gonçalo
esqueceu o André, o Mirante, as sombrias humilhações, e no abraço em que
a colheu, nos fortes beijos que atirou á face querida, todo o seu amuo
se fundio em ternura. Com ella ainda chegada ao coração, suspirou de
leve, como uma creança cançada. Depois apertando as duas pobres mãos
tremulas, com um lento, enternecido sorriso, em quanto os olhos se lhe
humedeciam de confusa emoção, de confusa alegria:
--Pois foi o diabo, filha! Uma desordem horrivel, eu que sou tão pacato!
imagina tu...
E pelo corredor recomeçou para Gracinha, que arfava, e para a Rosa,
estarrecida, a historia do encontro, e o sujo ultrage, o tiro que
falhára e os malandros lacerados a chicote, e o velho marchando como um
captivo, a gemer pela estrada de Ramilde. Apertando o peito, n'um
desmaio, Gracinha murmurou:
--Ai, Gonçalo! E se um dos homens estivesse morto!
O Barrôlo, mais vermelho que uma pionia, berrou logo que taes malandros
mereciam ricamente a morte! E mesmo feridos, ainda necessitavam castigo
tremendo d'Africa! O Gouveia! era necessario mandar a Villa-Clara,
avisar o Gouveia!... Mas largas passadas ávidas abalaram o soalho--e foi
o Bento, que se ergueu deante de Gonçalo, bracejando n'uma ancia:
--Então, Snr. Doutor?... Diz que uma grande desordem!...
E á porta do escriptorio, onde todos pararam, novamente attentos, a
historia recomeçou, especialmente para o Bento, que a bebia, n'um lento
riso de gosto, crescendo, inchando, com os olhinhos humidos a reluzir,
como se tambem triumphasse. Por fim, triumphou, com estrondo:
--Foi o chicote, Snr. Doutor! O que serviu ao Snr. Doutor, foi o chicote
que eu lhe dei!
Era verdade. E Gonçalo, commovido, abraçou o velho aio, que n'uma
excitação, gritava para a Rosa, para Gracinha, para o Barrôlo:
--O Snr. Doutor deu cabo d'elles!... Aquelle chicote mata um homem!...
Os malvados estão mortos!... E foi o chicote! Foi o chicote que eu dei
ao Snr. Doutor!
Mas Gonçalo reclamava agua quente para se lavar da poeira, do suor, do
sangue... E o Bento correu, berrando ainda pelo corredor! depois pelas
escadas da cosinha--«que fôra o chicote! o chicote, que elle déra ao
Snr. Doutor!» Gonçalo entrára no quarto, acompanhado pelo Barrôlo. E
pousou o chapeu sobre o marmore da commoda, com um immenso _ah_
consolado! Era o consolo immenso de se encontrar, depois de tão violenta
manhã, entre as doces cousas costumadas, pisando o seu velho tapete
azul, roçando o leito de pau preto em que nascera, respirando pelas
vidraças abertas, onde as ramagens familiares das faias s'empurravam na
aragem para o saudar. Com que gosto se acercou do espelho de columnas
douradas, se mirou e se remirou, como a um Gonçalo novo e tão melhorado,
que nos hombros reconhecia mais largueza, e até no bigode um arquear
mais crespo.
E foi ao arredar do espelho, topando com o Barrôlo, que subitamente
despertou n'uma curiosidade immensa:
--Mas, oh Barrôlo, como é que vos encontro esta manhã na Torre?
Resolução da vespera, ao chá. Gonçalo não apparecia, não escrevia...
Gracinha a matutar, inquieta. Elle tambem espantado d'aquelle sumiço
depois do cesto dos pêcegos. De modo que ao chá, pensando tambem que a
parelha necessitava uma trotada, lembrára a Gracinha:--«Vamos nós amanhã
á Torre? no phaeton?»
--Além disso precisava fallar comtigo, Gonçalo... Tenho andado
aborrecido.
O Fidalgo juntou duas almofadas no divan, onde se enterrou:
--Como aborrecido?... Aborrecido por que?...
Barrôlo, com as mãos nos bolsos da rabona de flanella, que lhe cingia as
ancas gordas, considerou as flôres do tapete, melancolicamente:
--É uma grande secca! A gente não póde confiar em ninguem... Nem ter
familiaridades!...
N'um lampejo Gonçalo imaginou o Cavalleiro e Gracinha mostrando
estouvadamente nos Cunhaes, como outr'ora entre os arvoredos da Torre, o
sentimento que os dominava. E presentiu um desabafo, alguma queixa
triste do pobre Barrôlo, amargurado por suspeitas, talvez por
intimidades que espreitára. Mas a emoção suprema da sua batalha, sumira
para uma sombra inferior os cuidados que, ainda na vespera, o opprimiam:
todas as difficuldades da vida lhe appareciam agora, de repente,
n'aquelle frescor da sua coragem nova, tão faceis d'abater como os
desafios dos valentões; e não se assustou com as confidencias do
cunhado, bem seguro d'impôr áquella alma submissa de bacôco a confiança
e a quietação. Até sorriu, com indolencia:
--Então, Barrolinho? Succedeu alguma peripecia?
--Recebi uma carta.
--Ah!
Gravemente Barrôlo desabotoou o jaquetão, puxou do bolso interior uma
larga carteira, de couro verde e lustroso, com monogramma d'ouro. E foi
a carteira que elle mostrou a Gonçalo, com satisfação.
--Bonita, hein? Presente do André, coitado... Creio que até a mandou vir
de Paris. O monogramma tem muito chic.
Gonçalo esperava, espantado. Emfim o bom Barrôlo tirou da carteira uma
carta--já amarrotada, depois alisada. Era, n'um papel pautado, uma
lettra miudinha que o Fidalgo apenas relanceou, declarando logo com
segurança:
--É das Louzadas.
E leu, vagarosamente, serenamente, com o cotovello enterrado na
almofada: «Ex.^{mo} Snr. José Barrôlo.--V. Ex.^a apesar de todos os seus
amigos o alcunharem de _Zé bacôco_, mostrou agora muita espertesa,
chamando de novo para a sua intimidade e de sua digna esposa o gentil
André Cavalleiro, nosso Governador Civil. Com effeito a esposa de V.
Ex.^a, a linda Gracinha, que n'estes ultimos tempos andava tão murcha e
até desbotada (o que a todos nos inquietava) immediatamente reflorio, e
ganhou côres, desde que possue a valiosa companhia da primeira
auctoridade do districto. Portou-se pois V. Ex.^a como marido zeloso, e
desejoso da felicidade e boa saude de sua interessante esposa. Nem
parece rasgo d'aquelle que toda a Oliveira considera como o seu mais
illustre pateta! Os nossos sinceros parabens!»
Gonçalo guardou muito socegadamente na algibeira aquella carta que, dias
antes, o lançaria em infinita amargura e furia:
--É das Louzadas... E tu déste importancia a semelhante babuseira?
O Barrôlo repontou, com as bochechas abrazadas:
--Se te parece! Sempre embirrei com bilhetinhos anonymos... E depois
essa insolencia a respeito dos amigos me chamarem BACÔCO... Grande
infamia, hein? Tu acreditas?... Eu não acredito! mas lança sizania entre
mim e os rapazes... Nem voltei ao Club... Bacôco! Porquê? Por que eu sou
simples, sempre franco, disposto a arranchar... Não! se os rapazes no
Club me chamam bacôco pelas costas, caramba, mostram ingratidão! Mas eu
não acredito! Rebolou pelo quarto, desconsoladamente, as mãos cruzadas
sobre as gordas nadegas. Depois, estacando deante do divan, d'onde
Gonçalo o considerava, com piedade:
--Em quanto ao resto da carta é tão estupido, tão atrapalhado que ao
principio nem comprehendi. Agora percebo... Querem dizer que a Gracinha
e o Cavalleiro teem namoro... É o que me parece que querem dizer! Ora vê
tu que disparate! Até a intimidade do Cavalleiro é mentira. O pobre
rapaz, desde que lá jantou, só appareceu tres ou quatro vezes, á noite,
para a manilha, com o Mendonça... E agora abalou para Lisboa.
Então o Fidalgo pulou, de surpresa.
--O quê! o Cavalleiro foi para Lisboa?
--Pois partiu ha tres dias!
--Com demora?
--Com demora, com grande demora... Só volta no meado d'outubro para a
Eleição.
--Ah!
Mas o Bento rompeu pelo quarto, com o jarro d'agua quente, duas toalhas
de rendas, ainda n'uma excitação que o azafamava. Deante do espelho,
lentamente Barrôlo reabotoava o jaquetão:
--Bem, até logo, Gonçalinho. Eu desço á cavallariça, visitar a parelha.
Não imaginas! desde Oliveira, sem descanso, uma trotada explendida. E
nem um pello suado! Tu guardas a carta?
--Guardo, para estudar a lettra.
Apenas Barrôlo cerrára a porta--o Fidalgo recomeçou com o Bento a
deliciosa historia da briga, revivendo as surprezas e os rasgos,
simulando os arremessos da egoa, arrebatando o chicote para representar
as cutiladas silvantes, que arrancavam febra e sangue... E de repente,
em ceroulas:
--Oh Bento, traze o meu chapeu... Estou desconfiado que a bala roçou
pelo chapeu.
Ambos remiraram, esquadrinharam o chapeu. O Bento, no seu encarecimento
da façanha, achava a copa amolgada--até chamuscada.
--A bala passou de raspão, Snr. Doutor!
O Fidalgo negou, com a modestia grave d'um forte:
--Não! Nem de raspão!... Quando o malandro desfechou já o braço lhe
tremia... Devemos agradecer a Deus, Bento. Mas eu realmente não corri
grande perigo!
Depois de vestido, Gonçalo, passeando no quarto, releu a carta. Sim,
certamente das Lousadas. Mas agora essa maledicencia, soprada com tão
sordida maldade sobre as pobres bochechas do Barrôlo, não causava
damno--antes servia, quasi beneficamente, como a braza d'um ferro, para
sarar um damno. O pobre Barrôlo apenas se impressionára com a revelação
da sua bacoquice, essa ingrata alcunha posta pelos rapazes amigos, em
galhofas ingratas do Club e debaixo dos Arcos. A outra insinuação
terrivel, Gracinha reverdecendo ao calor amoroso do Cavalleiro, essa mal
a comprehendera, escassamente a attendera n'um desdem distrahido e
candido. Mas a carta que assim silvava por sobre o bom Barrôlo como
flecha errada--acertava em Gracinha, feriria Gracinha no seu orgulho, no
seu impressional pudor, mostrando á pobre tonta como o seu nome e mesmo
o seu coração, já arrastavam enxovalhadamente, pela rasteira mexeriquice
das Lousadas!... Certesa tão humilhadora não apagaria um sentimento--que
se não apagava com humilhações mais intimas, tanto mais dolorosas. Mas
estimularia a sua reserva e o seu desconfiado recato:--e agora que André
se afastára para Lisboa, operaria n'ella, surdamente, solitariamente,
sem que a presença tentadora lhe desmanchasse a influencia socegadora e
salutar. Assim o torpe papel aproveitava a Gracinha como um aviso
temeroso pregado na parede. E rancorosamente preparada pelas duas femeas
para desencadear nos Cunhaes escandalo e dôr--talvez restabelecesse, na
ameaçada casa, quietação e gravidade.--Gonçalo esfregou as mãos
pensando--que em tão ditosa manhã talvez até esse mal redundasse em bem!
--Oh Bento, onde está a Snr.^a D. Graça?
--A menina subiu agora ha pouco para o seu quarto, Snr. Doutor.
Era o seu quarto de solteira, claro e fresco sobre o pomar, onde ainda
se conservava o seu leito de linda madeira embutida, um toucador
illustre que pertencera á Rainha D. Maria Francisca de Saboya, e o
sophá, as cadeiras de casimira clara em que Gracinha bordára, n'um
arrastado labor d'annos, o Açor negro dos Ramires. E sempre que voltava
á Torre Gracinha gostava de reviver no seu quarto, as horas de solteira,
remexendo as gavetas, folheando velhos romances inglezes na estantesinha
envidraçada, ou simplesmente da varanda contemplando a querida quinta
estendida até aos outeiros de Valverde, a verde quinta, tão misturada á
sua vida que cada arvore lhe susurrava, cada recanto de verdura era como
um recanto do seu pensamento.
Gonçalo subiu--bateu á porta cerrada com o antigo aviso:--«Licença para
o mano!» Ella correu da varanda, onde regava nos seus antigos vasos
vidrados plantas sempre renovadas e cuidadas pela Rosa com carinho. E
desabafando logo do pensamento que a enchia:
--Oh Gonçalo! mas que felicidade nós virmos á Torre, justamente hoje,
que te succedeu cousa tamanha!
--É verdade, Gracinha, grande sorte! E não me admirei nada de te vêr...
Era como se ainda vivesses na Torre e te encontrasse no corredor... Quem
estranhei foi o Barrôlo! E no primeiro momento depois de desmontar,
pensava assim, vagamente: «mas que diabo faz aqui o Barrôlo? como diabo
se acha aqui o Barrôlo?...» Curioso, hein? Foi talvez que, depois da
desordem, me senti remoçado, com um sangue novo, e me julguei no tempo
em que desejavamos uma guerra em Portugal, e nós cercados na Torre, sob
o nosso pendão, o _nosso terço_ atirando bombardas aos hespanhoes...
Ella ria, lembrada dessas imaginações heroicas. E com o vestido entalado
entre os joelhos recomeçou a lenta rega dos seus vasos--em quanto
Gonçalo, encostado á varanda, considerando a Torre, retomado pela ideia
d'uma concordancia mais intima, que desde essa manhã se estabelecera
entre elle e aquelle heroico resto da Honra de Santa Ireneia, como se a
sua força, tanto tempo quebrada, se soldasse emfim firmemente á força
secular da sua raça.
--Oh Gonçalo! tu deves estar muito cançado! Depois d'essa verdadeira
batalha...
--Não, cançado não... Mas com fome. Com fome, e com uma sêde explendida!
Ella pousou logo o regador, sacudindo as mãos alegremente:
--Pois o almoço não tarda!... Já andei a trabalhar na cosinha, com a
Rosa, n'uma pescada á hespanhola... É uma receita nova do Barão das
Marges.
--Então insonsa, como elle.
--Não! até picante: foi o Snr. Vigario Geral que lh'a ensinou.
E como, deante do toucador da Rainha Maria Francisca, ella arranjava á
pressa os ganchos do cabello, para aproveitar a solidão favoravel,
apressou com um esforço, a confidencia que o commovia:
--E em Oliveira? Lá por Oliveira!
--Em Oliveira, nada... Muito calor!
Gonçalo, movendo os dedos lentos pela moldura do espelho, fino
entrelaçamento de açucenas e louros, murmurou:
--Eu sei apenas das Lousadas, das tuas amigas Lousadas. Continuam em
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