A Illustre Casa de Ramires - 04

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Elle resistia, fincado nas lages, gritando pela Rosa, por Gracinha, pelo
Titó! Mas D. Affonso tão rijo murro lhe despedia aos rins, com o guante
de ferro, que o arremessava desde a Hospedaria do Gago até á Serra
Morena, ao campo da lide, luzente e fremente de pendões e d'armas. E
immediatamente seu primo d'Hespanha, Gomes Ramires, Mestre de Calatrava,
debruçado do negro ginete, lhe arrancava os derradeiros cabellos, entre
a retumbante galhofa de toda a hoste sarracena e os prantos da tia
Louredo trazida como um andor aos hombros de quatro Reis!...--Por fim,
moido, sem socêgo, já com a madrugada clareando nas fendas das janellas
e as andorinhas piando no beiral dos telhados, o Fidalgo da Torre atirou
um derradeiro repellão aos lençoes, saltou ao soalho, abrio a vidraça--e
respirou deliciosamente o silencio, a frescura, a verdura, o repouso da
quinta. Mas que sêde! uma sêde desesperada que lhe encortiçava os
labios! Recordou então o famoso _fruit salt_ que lhe recommendára o Dr.
Mattos,--arrebatou o frasco, correu á sala de jantar, em camisa. E, a
arquejar, deitou duas fartas colheradas n'um copo d'agua da Bica-Velha,
que esvasiou d'um trago, na fervura picante.
--Ah! que consolo, que rico consolo!...
Voltou derreadamente á cama: e readormeceu logo, muito longe, sobre as
relvas profundas d'um prado d'Africa, debaixo de coqueiros susurrantes,
entre o apimentado aroma de radiosas flores que brotavam atravez de
pedregulhos d'oiro. D'essa perfeita beatitude o arrancou o Bento, ao
meio dia, inquieto com «aquelle tardar do Sr. Doutor.»
--É que passei uma noite horrenda, Bento! Pesadelos, pavores, bulhas,
esqueletos... Foram os malditos ovos com chouriço; e o pepino...
Sobretudo o pepino! Uma idéa d'aquelle animal do Titó... Depois, de
madrugada, tomei o tal _fruit salt_, e estou optimo, homem!... Estou
optimissimo! Até me sinto capaz de trabalhar. Leva para a livraria uma
chavena de chá verde, muito forte... Leva tambem torradas.
E momentos depois, na livraria, com um roupão de flanella sobre a camisa
de dormir, sorvendo lentos goles de chá, Gonçalo relia junto da varanda
essa derradeira linha da Novella, tão rabiscada e molle, em que «os
largos raios da lua se estiravam pela larga sala d'armas...» De repente,
n'uma rasgada impressão de claridade, entreviu detalhes expressivos para
aquella noite de Castello e de verão--as pontas das lanças dos esculcas
faiscando silenciosamente pelos adarves da muralha, e o coaxar triste
das rans nas bordas lodosas dos fossos...
--Bons traços!
Achegou de vagar a cadeira, consultou ainda no volume do *Bardo* o
Poemeto do tio Duarte. E, desannuviado, sentindo as Imagens e os Dizeres
surgirem como bolhas d'uma agua represa que rebenta, atacou esse lance
do Capitulo I em que o velho Tructesindo Ramires, na sala d'armas de
Santa Ireneia, conversava com seu filho Lourenço e seu primo D. Garcia
Viegas, o _Sabedor_, de aprestos de guerra... Guerra! Porque? Acaso
pelos cerros arraianos corriam, ligeiros entre o arvoredo, almogavares
mouros? Não! Mas desgraçadamente, «n'aquella terra já remida e christã,
em breve se crusariam, umas contra outras, nobre lanças portuguezas!...»
Louvado Deus! a penna desemperrára! E, attento ás paginas marcadas n'um
tomo da _Historia_ d'Herculano, esboçou com segurança a Epocha da sua
Novella--que abria entre as discordias de Affonso II e de seus irmãos
por causa do testamento d'El-Rei seu pae, D. Sancho I. N'esse começo do
Capitulo já os Infantes D. Pedro e D. Fernando, esbulhados, andavam por
França e Leão. Já com elles abandonára o Reino o forte primo dos
Ramires, Gonçalo Mendes de Souza, chefe magnifico da casa dos Souzas. E
agora, encerradas nos castellos de Monte-Mór e de Esgueira, as senhoras
Infantas, D. Thereza e D. Sancha, negavam a D. Affonso o senhorio real
sobre as villas, fortalezas, herdades e mosteiros, que tão copiosamente
lhes doára El-Rei seu pae. Ora, antes de morrer no Alcaçar de Coimbra, o
senhor D. Sancho supplicára a Tructesindo Mendes Ramires, seu collaço e
Alferes-Mór, por elle armado cavalleiro em Lorvão, que sempre lhe
servisse e defendesse a filha amada entre todas, a infanta D. Sancha,
senhora de Aveyras. Assim o jurára o leal Rico-Homem junto do leito
onde, nos braços do Bispo de Coimbra e do Prior do Hospital sustentando
a candeia, agonisava, vestido de burel como um penitente, o vencedor de
Silves... Mas eis que rompe a féra contenda entre Affonso II,
asperamente cioso da sua auctoridade de Rei--e as Infantas, orgulhosas,
impellidas á resistencia pelos freires do Templo e pelos Prelados a quem
D. Sancho legára tão vastos pedaços do Reino! Immediatamente Alemquer e
os arredores d'outros castellos são devastados pela hoste real que
recolhia das Navas de Tolosa. Então D. Sancha e D. Thereza appellam para
El-rei de Leão, que entra com seu filho D. Fernando por terras de
Portugal a soccorrer as «Donas opprimidas.»--E n'este lance o tio
Duarte, no seu _Castello de Santa Ireneia_, interpellava com soberbo
garbo o Alferes-Mór de Sancho I:
Que farás tu, mais velho dos Ramires?
Se ao pendão leonez juntas o teu
Trahes o preito que deves ao rei vivo!
Mas se as Infantas deixas indefezas
Trahes a jura que déstes ao rei morto!...
Esta duvida, porém, não angustiára a alma d'esse Tructesindo rude e leal
que o Fidalgo da Torre rijamente modelava. N'essa noite, apenas recebera
pelo irmão do Alcaide d'Aveyras, disfarçado em beguino, um afflicto
recado da senhora D. Sancha--ordenava a seu filho Lourenço que, ao
primeiro arreból, com quinze lanças, cincoenta homens de pé da sua mercê
e quarenta besteiros, corresse sobre Monte-mór. Elle no emtanto daria
alarido--e em dous dias entraria a campo com os parentes de solar, um
troço mais rijo de cavalleiros acontiados e de frecheiros, para se
juntar a seu primo, o _Souzão_, que na vanguarda dos leonezes descia
d'Alva-do-Douro.
Depois logo de madrugada o pendão dos Ramires, o Açor negro em campo
escarlate, se plantára deante das barreiras gateadas: e ao lado, no
chão, amarrado á haste por uma tira de couro, reluzia o velho emblema
senhorial, o sonoro e fundo caldeirão polido. Por todo o Castello se
apressavam os serviçaes, despendurando as cervilheiras, arrastando com
fragor pelas lages os pesados saios de malhas de ferro. Nos pateos os
armeiros aguçavam ascumas, amaciavam a dureza das grevas e coxotes com
camadas d'estopa. Já o adail, na ucharia, arrolára as rações de vianda
para os dous quentes dias da arrancada. E por todas as cercanias de
Santa Ireneia, na doçura da tarde, os atambores mouriscos, abafados no
arvoredo, tararam! tararam! ou mais vivos nos cabeços, ratatam! ratatam!
convocavam os cavalleiros de soldo e a peonagem da mesnada dos Ramires.
No emtanto o irmão do Alcaide, sempre disfarçado em beguino, de volta ao
castello d'Aveyras com a boa nova de prestes soccorros, transpunha
ligeiramente a levadiça da carcova... E aqui, para alegrar tão sombrias
vesperas de guerra, o tio Duarte, no seu Poemeto, engastára uma sorte
galante:
Á moça, que na fonte enchia a bilha,
O frade rouba um beijo e diz _Amen_!
Mas Gonçalo hesitava em desmanchar com um beijo de clerigo a pompa
d'aquella formosa sortida d'armas... E mordia pensativamente a rama da
penna--quando a porta da livraria rangeu.
--O correio...
Era o Bento com os Jornaes e duas cartas. O Fidalgo apenas abriu uma,
lacrada com o enorme sinete d'armas do Barrôlo--repellindo a outra em
que reconhecera a lettra detestada do seu alfaiate de Lisboa. E
immediatamente, com uma palmada na mesa:
--Oh diabo! quantos do mez, hoje? quatorze, hein?
O Bento esperava com a mão no fecho da porta.
--É que não tardam os annos da mana Graça! De todo esqueci, esqueço
sempre. E sem ter um presentinho engraçado... Que secca, hein?
Mas na véspera o Manoel Duarte, na Assembléa, á mesa do voltarete,
annunciára uma fuga a Lisboa por tres dias, para tratar do emprego do
sobrinho nas Obras Publicas. Pois corria a Villa-Clara pedir ao snr.
Manoel Duarte que lhe comprasse em Lisboa um bonito guarda-solinho de
sêda branca com rendas...
--O snr. Manoel Duarte tem gosto; tem muito gosto! E então o Joaquim que
não selle a egoa; já não vou ao Sanches Lucena. Oh, senhores, quando
pagarei eu esta infame visita? Ha tres mezes!... Emfim, por dous dias
mais a bella D. Anna não envelhece; e o velho Lucena tambem não morre.
E o Fidalgo da Torre, que decidira arriscar o beijo folgazão, retomou a
penna, arredondou o seu final com elegante harmonia:
«A moça, furiosa, gritou: _Fu! Fu! villão!_ E o beguino, assobiando,
aligeirou as sandalias pelo corrego, na sombra das altas faias, emquanto
que por todo o fresco valle, até Santa Maria de Craquêde, os atambores
mouriscos, tararam! ratamtam! convocavam á mesnada dos Ramires, na
doçura da tarde...»


III

Durante a longa semana, nas horas da calma, o Fidalgo da Torre trabalhou
com afferro e proveito. E n'essa manhã, depois de repicar a sineta no
corredor, duas vezes o Bento empurrára a porta da livraria, avisando o
snr. Doutor «que o almocinho, assim á espera, certamente se estragava.»
Mas de sobre a tira d'almaço Gonçalo rosnava «já vou!»--sem despegar a
penna, que corria como quilha leve em agua mansa, na pressa amorosa de
terminar, antes do almoço, o seu Capitulo I.
Ah! e que canceira lhe custára, durante esses dias, esse copioso
Capitulo, tão difficil, com o immenso Castello de Santa Ireneia a
erguer; e toda uma edade esfumada da Historia de Portugal a condensar em
contornos robustos; e a mesnada dos Ramires a apetrechar, sem que
faltasse uma ração nos alforges, ou uma garruncha nos caixotes, sobre o
dorso das mulas! Mas felizmente, na vespera, já movera para fóra do
Castello o troço de Lourenço Ramires, em soccorro de Monte-mór, com um
vistoso coriscar de capellos e lanças em torno ao pendão tendido.
E agora, n'esse remate do Capitulo, era noite, e o sino de recolher
tangera, e a almenára luzira na Torre albarran, e Tructesindo Ramires
descera á sala terrea da Alcaçova para ceiar--quando fóra, deante da
carcova, com tres toques fortes annunciando filho-d'algo, uma bozina
apressada soou. E, sem que o villico tomasse permissão do Senhor, o
alçapão da levadiça rangeu nas correntes de ferro, rebombou cavamente
nos apoios de pedra. Quem assim chegava em dura pressa era Mendo Paes,
amigo de Affonso II e mordomo da sua Curia, casado com a filha mais
velha de Tructesindo, D. Theresa--aquella que, pelo ondeante e alvo
pescoço, pelo pisar mais leve que um vôo, os Ramires chamavam a _Garça
Real_. O Senhor de Santa Ireneia correra ao patim para acolher, n'um
abraço, o genro amado--«membrudo cavalleiro, com os cabellos ruivos, a
alvissima pelle da raça germanica dos visigodos...» E, de mãos
enlaçadas, ambos penetraram n'essa sala de abobada, allumiada por tochas
que toscos anneis de ferro seguravam, chumbados aos muros.
Ao meio pousava a massiça meza de carvalho, rodeada de escanhos até ao
topo, onde se erguia, deante d'um aspero mantel de linho coberto de
pratos de estanho e de picheis luzidios, a cadeira senhorial com o Açor
grossamente lavrado nas altas espaldas, e d'ellas suspensa, pelo
cinturão tauxeado de prata, a espada de Tructesindo. Por traz negrejava
a funda lareira apagada, toda entulhada de ramos de pinheiro, com a
prateleira guarnecida de conchas, entre bocaes de sanguesugas, sob dois
molhos de palmas trazidas da Palestina por Gutierres Ramires, o
_d'Ultramar_. Rente a um esteio da chaminé, um falcão, ainda emplumado,
dormitava na sua alcondora: e ao lado, sobre as lages, n'uma camada de
juncos, dois alões enormes dormiam tambem, com o focinho nas patas, as
orelhas rojando. Toros de castanheiro sustentavam a um canto um pipo de
vinho. Entre duas frestas engradadas de ferro, um monge, com a face
sumida no capuz, sentado na borda de uma arca, lia, á claridade do
candil que por cima fumegava, um pergaminho desenrolado... Assim Gonçalo
adornára a soturna sala Affonsina com alfaias tiradas do Tio Duarte, de
Walter Scott, de narrativas do _Panorama_. Mas que esforço!... E mesmo,
depois de collocar sobre os joelhos do monge um folio impresso em
Moguncia por Ulrick Zell, desmanchára toda essa linha tão erudita, ao
recordar, com um murro na mesa, que ainda a Imprensa se não inventára em
tempos de seu avô Tructesindo, e que ao monge lettrado apenas competia
«um pergaminho de amarellada escripta...»
E caminhando nos ladrilhos sonoros, desde a lareira até ao arco da porta
cerrado por uma cortina de couro, Tructesindo, com a branca barba
espalhada sobre os braços cruzados, escutava Mendo Paes, que, na
confiança de parente e amigo, jornadeára sem homens da sua mercê,
cingindo apenas por cima do brial de lã cinzenta uma espada curta e um
punhal sarraceno. Açodado e coberto de pó correra Mendo Paes desde
Coimbra para supplicar ao sogro, em nome do Rei e dos preitos jurados,
que se não bandeasse com os de Leão e com as senhoras Infantas. E já
desenrolára ante o velho todos os fundamentos invocados contra ellas
pelos doutos Notarios da Curia--as resoluções do Concilio de Toledo! a
bulla do Apostolo de Roma, Alexandre! o velho fóro dos Visigodos!... De
resto, que injuria fizera ás senhoras Infantas seu real irmão para assim
chamarem hostes Leonezas a terras de Portugal? Nenhuma! Nem regedoria
nem renda dos castellos e villas da doação de D. Sancho lhes negava o
senhor D. Affonso. O Rei de Portugal só queria que nenhum palmo de chão
portuguez, baldio ou murado, jazesse fóra de seu senhorio real. Escasso
e avido El-Rei D. Affonso?... Mas não entregára elle á senhora D. Sancha
oito mil morabitinos d'oiro? E a gratidão da irmã fôra o Leonez passando
a raia e logo cahidos os castellos formosos d'Ulgoso, de Contrasta,
d'Urros e de Lanhosello! O mais velho da casa dos Souzas, Gonçalo
Mendes, não se encontrára ao lado dos cavalleiros da Cruz na jornada das
Navas, mas lá andava em recado das Infantas, como moiro, talando terra
portugueza desde Aguiar até Miranda! E já pelos cerros d'Além-Douro
apparecera o pendão renegado das treze arruellas--e por traz, farejando,
a alcateia dos Castros! Carregada ameaça, e de armas christãs,
opprimindo o Reino--quando ainda Moabitas e Agarenos corriam á redea
solta pelos campos do Sul!... E o honrado Senhor de Santa Ireneia, que
tão rijamente ajudára a fazer o Reino, não o deveria decerto desfazer
arrancando d'elle os pedaços melhores para monges e para donas
rebeldes!--Assim, com arremessados passos, exclamára Mendo Paes, tão
acalorado do esforço e da emoção, que duas vezes encheu de vinho uma
conca de pau e d'um trago a despejou. Depois, limpando a bocca ás costas
da mão tremula:
--Ide por certo a Monte-mór, senhor Tructesindo Ramires! Mas em recado
de paz e boa avença, persuadir vossa senhora D. Sancha e as senhoras
Infantas que voltem honradamente a quem hoje contam por seu pae e seu
Rei!
O enorme senhor de Santa Ireneia parára, pousando no genro os olhos
duros, sob a ruga das sobrancelhas, hirsutas e brancas como sarças em
manhã de geada:
--Irei a Monte-mór, Mendo Paes, mas levar o meu sangue e o dos meus para
que justiça logre quem justiça tem.
Então Mendo Paes, amargurado, ante a heroica teima:
--Maior dó, maior dó! Será bom sangue de Ricos-homens vertido por más
desfórras... Senhor Tructesindo Ramires, sabei que em Canta-Pedra vos
espera Lopo de Baião, o Bastardo, para vos tolher a passagem com cem
lanças!
Tructesindo ergueu a vasta face--com um riso tão soberbo e claro que os
alões rosnaram torvamente, e, acordando, o falcão esticou a aza lenta:
--Boa nova e de boa esperança! E, dizei, senhor Mordomo-mór da Curia,
tão de feição e certa assim m'a trazeis para me intimidar?
--Para vos intimidar?... Nem o Senhor Archanjo S. Miguel vos intimidaria
descendo do céo com toda a sua hoste e a sua espada de lume! De sobra o
sei, senhor Tructesindo Ramires. Mas casei na vossa casa. E já que
n'esta lide não sereis por mim bem ajudado, quero, ao menos, que sejaes
bem avisado.
O velho Tructesindo bateu as palmas para chamar os sergentes:
--Bem, bem, a cear, pois! Á ceia, Frei Munio!... E vós, Mendo Paes,
deixai receios.
--Se deixo! Não vos póde vir damno que me anceie de cem lanças, de
duzentas, que vos surjam a caminho.
E, emquanto o monge enrolava o seu pergaminho, se acercava da
mesa--Mendo Paes ajuntou com tristeza, desafivelando vagarosamente o
cinturão da espada:
--Só um cuidado me pesa. E é que, n'esta jornada, senhor meu sogro, ides
ficar de mal com o Reino e com o Rei.
--Filho e amigo! De mal ficarei com o Reino e com o Rei, mas de bem com
a honra e commigo!
Este grito de fidelidade, tão altivo, não resoava no poemeto do tio
Duarte. E quando o achou, com inesperada inspiração, o Fidalgo da Torre,
atirando a penna, esfregou as mãos, exclamou, enlevado:
--Caramba! Aqui ha talento!
Rematou logo o Capitulo. Estava esfalfado, á banca do trabalho desde as
nove horas, a reviver intensamente, e em jejum, as energias magnificas
dos seus fortes avós! Numerou as tiras--fechou na gaveta á chave o
volume do *Bardo*. Depois á janella, com o collete desabotoado, ainda
lançou o brado genial n'um grave e rouco tom, como o lançaria
Tructesindo:--...«de mal com o Reino e com o Rei, mas de bem com a honra
e commigo!...» E sentia n'elle realmente toda a alma de um Ramires, como
elles eram no seculo XII, de sublime lealdade, mais presos á sua palavra
que um santo ao seu voto, e alegremente desbaratando, para a manter,
bens, contentamento e vida!
O Bento, que espalhára outro repique desesperado, escancarou a porta da
livraria:
--É o Pereira... Está lá em baixo no pateo o Pereira que quer fallar ao
Sr. Doutor.
Gonçalo Mendes franziu a testa, com impaciencia, assim repuxado
d'aquellas alturas onde respirava os nobres espiritos da sua raça:
--Que massada!... O Pereira... Que Pereira?
--O Pereira; o Manoel Pereira, da Riosa; o Pereira Brazileiro.
Era um lavrador, com casal na Riosa, chamado _Brazileiro_ por ter
herdado vinte contos de um tio, regatão no Pará. Comprára então terras,
trazia arrendada a _Cortiga_, a fallada propriedade dos condes de
Monte-Agra, envergava aos domingos uma sobrecasaca de panno fino, e
dispunha de sessenta votos na Freguezia.
--Ah! Dize ao Pereira que suba, que conversamos emquanto almóço... E põe
outro talher.
A sala de jantar da Torre, que abria por trez portas envidraçadas para
uma funda varanda alpendrada, conservava, do tempo do avô Damião, (o
traductor de Valerius Flaccus) dous formosos pannos d'Arraz
representando a _Expedição dos Argonautas_. Louças da India e do Japão,
desirmanadas e preciosas, recheiavam um immenso armario de mogno. E
sobre o marmore dos aparadores rebrilhavam os restos, ainda ricos, das
pratas famosas dos Ramires que o Bento constantemente areava e polia com
amor. Mas Gonçalo, sobretudo de verão, sempre almoçava e jantava na
varanda luminosa e fresca, bem esteirada, revestida até meio-muro por
finos azulejos do seculo XVIII, e offerecendo a um canto, para as
preguiças do charuto, um profundo canapé de palhinha com almofadas de
damasco.
Quando lá entrou, com os jornaes da manhã que não abrira, o Pereira
esperava, encostado a um grosso guarda-sol de panninho escarlate,
considerando pensativamente a quinta que, d'alli, se abrangia até aos
álamos da ribeira do Coice e aos outeiros suaves de Valverde. Era um
velho esgalgado e rijo, todo ossos, com um carão moreno, de olhos
miudinhos e azulados, e uma barbicha rala, já branca, entre dous enormes
collarinhos presos por botões de ouro. Homem de propriedade, acostumado
á Cidade e ao trato das Auctoridades, estendeu largamente a mão ao
Fidalgo da Torre, e acceitou, sem embaraço, a cadeira que elle lhe
empurrára para a mesa--onde dominavam, com os seus ricos lavores duas
altas enfusas de crystal antigo, uma cheia d'açucenas e a outra de vinho
verde.
--Então, que bom vento o traz pela Torre, Pereira amigo? Não o vejo
desde Abril!
--É verdade, meu Fidalgo, desde o sabbado em que cahiu a grande
trovoada, na vespera da eleição! confirmou o Pereira affagando o cabo do
guarda-sol que conservára entre os joelhos.
Gonçalo, n'uma esfaimada pressa do almoço, repicou a campainha de prata.
Depois rindo:
--E os seus votos, Pereira amigo, segundo o costume, lá foram para o
eterno Sanches Lucena, direitinhos, como os rios vão para o mar!
O Pereira tambem riu, com um riso agradado que lhe descobria os máos
dentes. Pois o circulo era uma propriedade do Sr. Sanches Lucena!
Cavalheiro de fortuna, homem de bem, conhecedor, serviçal... E então,
quando lhe calhava como em Abril o apoio do Governo, nem Nosso Senhor
Jesus Christo que voltasse á terra e se propuzesse por Villa-Clara
desalojava o patrão da _Feitosa_!
O Bento, vagaroso, de jaqueta de lustrina preta sobre o avental
resplandecente, entrava com um prato d'ovos estrellados, quando o
Fidalgo, que desdobrára o guardanapo, o amarrotou, arremessou com nojo:
--Este guardanapo já serviu! Eu estou farto de gritar. Não me importa
guardanapo rôto, ou com passagens, ou com remendos... Mas branquinho,
fresquinho cada manhã, a cheirar a alfazema!
E reparando no Pereira, que discretamente arredava a cadeira:
--O quê! Você não almoça, Pereira?...
Não, agradecia muito ao Fidalgo, mas n'essa tarde comia as sopas com o
genro nos Bravaes, que era festa pelos annos do netinho.
--Bravo! Parabens, Pereira amigo! Dê lá um beijo meu ao netinho... Mas
então ao menos um copo de vinho verde.
--Entre as comidas, meu Fidalgo, nem agua nem vinho.
Gonçalo farejára, arredára os ovos. E reclamou o «jantar da familia»,
sempre muito farto e saboroso na Torre, e começando por essas pesadas
sopas de pão, presunto e legumes, que elle desde creança adorava e
chamava as _palanganas_. Depois, barrando de manteiga uma bolacha:
--Pois francamente, Pereira, esse seu Sanches Lucena não faz honra ao
circulo! Homem excellente, decerto, respeitavel, obsequiador... Mas
mudo, Pereira! Inteiramente mudo!
O lavrador roçou vagarosamente pelas ventas cabelludas o lenço vermelho,
enrolado em bóla:
--Sabe as cousas, pensa com acêrto...
--Sim! mas pensamento e acêrto não lhe sahem de dentro do craneo! Depois
está muito velho, Pereira! Que edade terá elle? Sessenta?
--Sessenta e cinco. Mas de gente muito rija, meu Fidalgo. O avô durou
até aos cem annos. E ainda o conheci na loja...
--Como, na loja?
Então o Pereira, enrolando mais o lenço, estranhou que o Fidalgo não
soubesse a historia do Sanches Lucena. Pois o avô, o Manoel Sanches, era
um linheiro do Porto, da rua das Hortas. E casado tambem com uma moça
muito vistosa, muito farfalhuda...
--Bem! atalhou o Fidalgo. Isso é honroso para o Sanches Lucena. Gente
que engordou, que trepou... E eu concordo, Pereira, o circulo deve
mandar a Lisboa um homem como o Sanches Lucena, que tenha n'elle terra,
raizes, interesses, nome... Mas é preciso que seja tambem homem com
talento, com arrojo. Um deputado, que, nas grandes questões, nas crises,
se erga, transporte a Camara!... E depois, Pereira amigo, em Politica
quem mais grita mais arranja. Olhe a estrada da Riosa! Ainda em papel, a
lapis vermelho... E, se o Sanches Lucena fosse homem de berrar em S.
Bento, já o Pereira trazia por lá os seus carros a chiar.
O Pereira abanou a cabeça, com tristeza:
--Ahi talvez o Fidalgo acerte... Para essa estradinha da Riosa sempre
faltou quem gritasse. Ahi talvez o Fidalgo acerte!
Mas o Fidalgo emmudecera, embebido na cheirosa sopa, dentro d'uma
caçoila nova, com raminhos de hortelã. E então o Pereira, acercando mais
a cadeira, cruzou no rebordo da mesa as mãos, que meio seculo de
trabalho na terra tornára negras e duras como raizes--e declarou que se
atrevera a incommodar o Fidalgo, áquellas horas do almocinho, porque
n'essa semana começava um córte de madeiras para os lados de Sandim, e
desejava, antes que surdissem outros arranjos, conversar com S. Ex.^a
sobre o arrendamento da Torre...
Gonçalo reteve a colhér, num pasmo risonho:
--Você queria arrendar a Torre, Pereira?
--Queria conversar com V. Ex.^a. Como o Relho está despedido...
--Mas eu já tratei com o Casco, o José Casco dos Bravaes! Ficamos meio
apalavrados, ha dias... Ha mais de uma semana.
O Pereira coçou arrastadamente a barba rala. Pois era pena, grande
pena... Elle só no sabbado s'inteirára da desavença com o Relho. E, se o
Fidalgo não resalvava o segredo, por quanto ficára o arrendamento?
--Não resalvo, não, homem! Novecentos e cincoenta mil réis.
O Pereira tirou da algibeira do collete a caixa de tartaruga, e sorveu
detidamente uma pitada, com o carão pendido para a esteira. Pois maior
pena, mesmo para o Fidalgo. Emfim! depois de palavra trocada... Mas era
pena, porque elle gostava da propriedade; já pelo S. João pensára em
abeirar o Fidalgo; e, apezar dos tempos correrem escassos, não andaria
longe de offerecer um conto e cincoenta, mesmo um conto cento e
cincoenta!
Gonçalo esqueceu a sopa, n'uma emoção que lhe afogueou a face fina, ante
um tal accrescimo de renda--e a excellencia de tal rendeiro, homem
abastado, com metal no banco, e o mais fino amanhador de terras de todas
as cercanias!
--Isso é sério, oh Pereira?
O velho lavrador pousou a caixa de rapé sobre a toalha, com decisão:
--Meu Fidalgo, eu não era homem que entrasse na Torre para caçoar com V.
Ex.^a! Proposta a valer, escriptura a fazer... Mas se o arrendamento
está tratado...
Recolheu a caixa, apoiava a mão larga na meza para se erguer, quando
Gonçalo acudiu, nervoso, empurrando o prato:
--Escute, homem!... Eu, não contei por miudo o caso do Casco. Você
comprehende, sabe como essas cousas passam... O Casco veiu, conversamos;
eu pedi novecentos e cincoenta mil reis e porco pelo Natal.
Primeiramente concordou, que sim; logo adiante emendou, que não...
Voltou com o compadre; depois, com a mulher e o compadre, e o afilhado,
e o cão! Depois só. Andou ahi pela quinta, a medir, a cheirar a terra;
acho até que a provou. Aquellas rabulices do Casco!... Por fim, uma
tarde, lá gemeu, lá acceitou os novecentos e cincoenta mil reis, sem
porco. Cedi do porco. Aperto de mão, copo de vinho. Ficou de apparecer
para combinar, tratar da escriptura. Não o avistei mais, ha quasi duas
semanas! Naturalmente já virou, já se arrependeu... Para resumir, não
tenho com o Casco contracto firme. Foi uma conversa em que apenas
estabelecemos, como base, a renda de novecentos e cincoenta. E eu, que
detesto cousas vagas, já andava pensando em encontrar melhor homem!
Mas o Pereira coçava o queixo, desconfiado. Elle, em negocios, gostava
de lisura. Sempre se entendêra bem com o Casco. Nem por um condado se
atravessaria nos arranjos do Casco, homem violento, assomado. De modo
que desejava as cousas claras, para não surdir desgosto rijo. Não se
lavrára escriptura, bem! Mas ficára, ou não, palavra dada entre o
Fidalgo e o Casco?
Gonçalo Mendes Ramires, que findára apressadamente a sopa e enchia um
copo de vinho verde para se calmar, fitou o lavrador, quasi severamente:
--Homem, essa pergunta!... Pois se eu tivesse confirmado ao Casco
decisivamente a palavra de Gonçalo Ramires, estava agora aqui a tratar,
ou sequer a conversar comsigo, Pereira, sobre o arrendamento da Torre?
O Pereira baixou a cabeça. Tambem era verdade!... Pois, n'esse caso,
elle abria a sua tenção, claramente. E, como conhecia a propriedade, e
apurára o seu calculo--offerecia ao Fidalgo um conto cento e cincoenta
mil réis, sem porco. Mas não dava para a familia nem leite, nem
hortaliça, nem fructa. O Fidalgo, homem só, pouco se aproveitava. A
Torre, porém, casa antiga, enxameava de gentes e d'adherentes. Todos
apanhavam, todos abusavam... Emfim, esse era o seu principio. E de
resto, para a meza do Fidalgo e mesmo dos creados, bastava o pomar e a
horta de regalo... Que horta e pomar necessitavam trato mais geitoso:
mas elle, por amor do Fidalgo, e gosto seu, por lá passaria e tudo
luziria... Emquanto ás outras condições, acceitava as do antigo
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