A Illustre Casa de Ramires - 09

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Então de repente o Casco cresceu todo, no solitario caminho, negro e
alto como um pinheiro, n'um furor que lhe esbugalhava os olhos
esbraseados, quasi sangrentos:
--Pois o Fidalgo ainda me ameaça com a justiça!... Pois ainda por cima
de me fazer a maroteira me ameaça com a cadeia!... Então, com os diabos!
primeiro que entre na cadeia lhe hei-de eu esmigalhar esses ossos!...
Erguera o cajado...--Mas, n'um lampejo de razão e respeito, ainda
gritou, com a cabeça a tremer para traz, atravez dos dentes cerrados:
--Fuja, fidalgo, que me perco!... Fuja que o mato e me perco!
Gonçalo Mendes Ramires correu á cancella entalada nos velhos humbraes de
granito, pulou por sobre as taboas mal pregadas, enfiou pela latada que
orla o muro, n'uma carreira furiosa de lebre acossada! Ao fim da vinha,
junto aos milheiraes, uma figueira brava, densa em folha, alastrára
dentro d'um espigueiro de granito destelhado e desusado. N'esse
esconderijo de rama e pedra se alapou o Fidalgo da Torre, arquejando. O
crepusculo descera sobre os campos--e com elle uma serenidade em que
adormeciam frondes e relvas. Affoutado pelo silencio, pelo socego,
Gonçalo abandonou o cerrado abrigo, recomeçou a correr, n'um correr
manso, na ponta das botas brancas, sobre o chão molle das chuvadas, até
ao muro da Mãe d'Agua. De novo estacou, esfalfado. E julgando entrever,
longe, á orla do arvoredo, uma mancha clara, algum jornaleiro em mangas
de camisa, atirou um berro ancioso:--«Oh! Ricardo! Oh! Manoel! Eh lá!
alguem! Vai ahi alguem?...»--A mancha indecisa fundira na indecisa
folhagem. Uma rã pinchou n'um regueiro. Estremecendo, Gonçalo retomou a
carreira até ao canto do pomar--onde encontrou fechada uma porta, velha
porta mal segura, que abanava nos gonzos ferrugentos. Furioso, atirou
contra ella os hombros que o terror enrijára como trancas. Duas taboas
cederam, elle furou atravez, esgaçando a quinzena n'um prégo.--E
respirou emfim no agazalho do pomar murado, deante das varandas da casa
abertas á frescura da tarde, junto da Torre, da sua Torre, negra e de
mil annos, mais negra e como mais carregada d'annos contra a macia
claridade da lua-nova que subia.
Com o chapeu na mão, enxugando o suor, entrou na horta, costeou o
feijoal. E agora subitamente sentia uma colera amarga pelo desamparo em
que se encontrára, n'uma quinta tão povoada, exameando de gentes e
dependentes! Nem um caseiro, nem um jornaleiro, quando elle gritára, tão
afflicto, da borda da Mãe d'Agua! De cinco creados nenhum acudira,--e
elle perdido, alli, a uma pedrada da eira e da abegoaria! Pois que dois
homens corressem com paus ou enxadas--e ainda colhiam o Casco na
estrada, o malhavam como uma espiga.
Ao pé do gallinheiro, sentindo uma risada fina de rapariga, atravessou o
pateo para a porta alumiada da cosinha. Dois moços da horta, a filha da
Crispola, a Rosa, tagarellavam, regaladamente sentados n'um banco de
pedra, sob a fresca escuridão da latada. Dentro o lume estrallejava--e a
panella do caldo, fervendo, rescendia. Toda a colera do Fidalgo rompeu:
--Então, que sarau é este? Vocês não me ouviram chamar?... Pois
encontrei lá em baixo, ao pé do pinheiral, um bebedo, que me não
conheceu, veiu para mim _com uma foice_!... Felizmente levava a bengala.
E chamo, grito... Qual! Tudo aqui de palestra, e a ceia a cozer! Que
desaforo! Outra vez que succeda, todos para a rua... E quem resmungar, a
cacete!
A sua face chammejava, alta e valente. A pequena da Crispola logo se
escapulira, encolhida, para o recanto da cosinha, para traz da maceira.
Os dois moços, erguidos, vergavam como duas espigas sob um grande vento.
E emquanto a Rosa, aterrada, se benzia, se derretia em lamentações sobre
«desgraças que assim s'armam!»--Gonçalo, deleitado pela submissão dos
dois homens, ambos tão rijos, com tão grossos varapaus encostados á
parede, amansava:
--Realmente! sois todos surdos, n'esta pobre casa!... Além d'isso a
porta do pomar fechada! Tive de lhe atirar um empurrão. Ficou em
pedaços.
Então um dos moços, o mais alentado, ruivo, com um queixo de cavallo,
pensando que o Fidalgo censurava a frouxidão da porta pouco cuidada,
coçou a cabeça, n'uma desculpa:
--Pois, com perdão do fidalgo!... Mas já depois da saída do Relho se lhe
pôz uma travessa e fechadura nova... E valente!
--Qual fechadura! gritou, o Fidalgo soberbamente. Despedacei a
fechadura, despedacei a travessa... Tudo em estilhas!
O outro moço, mais desembaraçado e esperto, riu, para agradar:
--Santo nome de Deus!... Então, é que o fidalgo lhe atirou com força!
E o companheiro, convencido, espetando o queixo enorme:
--Mas que força! a matar! Que a porta era rija... E fechadura nova, já
depois do Relho!
A certeza da sua força, louvada por aquelles fortes, reconfortou
inteiramente o fidalgo da Torre, já brando, quasi paternal:
--Graças a Deus, para arrombar uma porta, mesmo nova, não me falta
força. O que eu não podia, por decencia, era arrastar ahi por essas
estradas um bebedo com uma foice até casa do Regedor... Foi para isso
que chamei, que gritei. Para que vossês o agarrassem, o levassem ao
Regedor!... Bem, acabou. Oh! Rosa, dê a estes rapazes, para a ceia, mais
uma caneca de vinho... A vêr se para outra vez se affoutam, se
apparecem...
Era agora como um antigo senhor, um Ramires d'outros seculos, justo e
avisado, que reprehende uma fraqueza dos seus solarengos--e logo perdôa
por conta e amor das façanhas proximas. Depois com a bengala ao hombro,
como uma lança, subio pela lobrega escada da cozinha. E em cima no
quarto, apenas o Bento entrára para o vestir, recomeçou a sua epopeia,
mais carregada, mais terrifica--assombrando o sensivel homem, estacado
rente da commoda, sem mesmo pousar a enfusa d'agoa quente, as botas
envernisadas, a braçada de toalhas que o ajoujavam... O Casco! O José
Casco dos Bravaes, bebedo, rompendo para elle, sem o conhecer, com uma
foice enorme, a berrar--«Morra, que é marrão!...» E elle na estrada,
deante do bruto, de bengalinha! Mas atira um salto, a foiçada resvala
sobre um tronco de pinheiro... Então arremette desabaladamente,
brandindo a bengala, gritando pelo Ricardo e pelo Manoel como se ambos o
escoltassem--e ataranta o Casco, que recua, se some pela azinhaga, a
cambalear, a grunhir...
--Hein, que te parece? Se não é a minha audacia, o homem positivamente
me ferra um _tiro de espingarda_!
O Bento, que quasi se babava, com o jarro esquecido a pingar no tapete,
pestanejou, confuso, mais attonito:
--Mas o Snr. Dr. disse que era uma foice!
Gonçalo bateu o pé, impaciente:
--Correu para mim com uma foice. Mas vinha atraz do carro... E no carro
trazia uma espingarda. O Casco é caçador, anda sempre d'espingarda...
Emfim estou aqui vivo, na Torre, por mercê de Deus. E tambem porque
felizmente, n'estes casos, não me falta decisão!
E apressou o Bento--porque com o abalo, o esforço, positivamente lhe
tremiam as pernas de cançasso e de fome... Além da sêde!
--Sobretudo sêde! Esse vinho que venha bem fresco... Do Verde e do
Alvaralhão, para misturar.
O Bento, com um tremulo suspiro da emoção atravessada, enchera a bacia,
estendia as toalhas. Depois, gravemente:
--Pois, Snr. Dr., temos esse andaço nos sitios! Foi o mesmo que succedeu
ao Snr. Sanches Lucena, na _Feitosa_...
--Como, ao Snr. Sanches Lucena?
O Bento desenrolou então uma tremenda historia trazida á Torre, durante
a estada do Snr. Doutor em Oliveira, pelo cunhado da Crispola, o Ruy
carpinteiro, que trabalhava nas obras da _Feitosa_. O Snr. Sanches
Lucena descêra uma tarde, ao lusco fusco, á porta do Mirante, quando
passam na estrada dous jornaleiros, bebedos ou facinoras, que implicam
com o excellente senhor. E chufas, risinhos, momices... O Snr. Sanches,
com paciencia, aconselhou os homens que seguissem, não se desmandassem.
De repente um d'elles, um rapazola, sacode a jaqueta do hombro, ergue o
cajado! Felizmente o companheiro, que se affirmára, ainda gritou:--«Ai!
rapaz, que elle é o nosso deputado!» O rapazola abalou, espavorido. O
outro até se atirou de joelhos deante do Snr. Sanches Lucena... Mas o
pobre senhor, com o abalo, recolheu á cama!
Gonçalo acompanhára a historia, seccando vagarosamente as mãos á toalha,
impressionado:
--Quando foi isso?
--Pois disse ao Snr. Dr.... Quando o Snr. Dr. estava em Oliveira. Um dia
antes ou um dia depois dos annos da Snr.^a D. Graça.
O Fidalgo arremessou a toalha, limpou pensativamente as unhas. Depois
com um risinho incerto e leve:
--Emfim, sempre serviu d'alguma coisa ao Sanches Lucena ser deputado por
Villa-Clara...
E já vestido, abastecendo a charuteira (porque resolvera passar a noite
na Villa, a desabafar com o Gouveia)--de novo se voltou para Bento, que
arrumava a roupa:
--Então o bebedo, quando o outro lhe gritou «Ai, que é o nosso
deputado,» cahiu em si, fugiu, hein?... Ora vê tu! Ainda vale ser
deputado! Ainda inspira respeito, homem! Pelo menos inspira mais
respeito que descender dos reis de Leão!... Paciencia, toca a jantar.
* * * * *
Durante o jantar, misturando copiosamente o Verde e o Alvaralhão,
Gonçalo não cessou de ruminar a ousadia do Casco. Pela vez primeira, na
historia de Santa Ireneia, um lavrador d'aquellas aldêas, crescidas á
sombra da Casa illustre, por tantos seculos senhora em monte e valle,
ultrajava um Ramires! E brutamente, alçando o cajado, deante dos muros
da quinta historica!... Contava seu pae que, em vida do bisavô Ignacio,
ainda desde Ramilde até Corinde os homens dobravam o joelho nos caminhos
quando passava o Senhor da Torre. E agora levantavam a foice!... E
porque? Por que elle não se desfalcára submissamente das suas rendas em
proveito d'um façanhudo!--Em tempos do avô Tructesindo, villão de tal
attentado assaria, como porco montez, n'uma ruidosa fogueira, deante das
barbacans da Honra. Ainda em dias do bisavô Ignacio apodreceria n'uma
masmorra. E o Casco não podia escapar sem castigo. A impunidade só lhe
incharia a audacia: e assomado, rancoroso, n'outro encontro, sem mais
fallas, desfechava a caçadeira. Oh! não lhe desejava um mal duravel,
coitado, com dois filhos pequeninos--um que mamava. Mas que o
arrastassem á Administração, algemado, entre dois cabos de policia--e
que na triste saleta, d'onde se avistam as grades da cadeia, apanhasse
uma reprehensão tremenda do Gouveia, do Gouveia muito secco, muito
esticado na sobrecasaca negra... Assim se devia resguardar, por meios
tortuosos--pois que não era deputado, e que, com o seu talento, o seu
nome, essa espantosa linhagem d'avós que edificára o Reino, carecia o
prestigio d'um Sanches Lucena, o precioso prestigio que suspende no ar
os varapáus atrevidos!
Apenas findou o café, mandou pelo Bento avisar os dous moços da horta, o
Ricardo e o outro de queixo de cavallo, que o esperassem no pateo,
armados. Porque na Torre ainda sobrevivia uma «Sala d'armas»--cacifro
tenebroso, junto ao Archivo, onde se amontoavam peças aboladas
d'armaduras, um lorigão de malha, um broquel mourisco, alabardas,
espadões, polvarinhos, bacamartes de 1820, e entre esta poeirenta
ferralhagem negra tres espingardas limpas com que os moços da quinta, na
romaria de S. Gonçalo, atiravam descargas em louvor do Santo.
Depois, elle, encafuou o revólver na algibeira, desenterrou do armario
do corredor um velho bengalão de cabo de chumbo entrançado, agarrou um
apito. E assim precavido, aquecido pelo Verde e pelo Alvaralhão, com os
dous creados de caçadeira ao hombro, importantes e tesos, partiu para
Villa-Clara, procurar o Snr. Administrador do Concelho. A noite envolvia
os campos em socego e frescura. A lua nova, que alimpára o tempo, roçava
a crista dos outeiros de Valverde como a roda lustrosa d'um carro de
ouro. No silencio os rijos sapatões pregueados dos dous jornaleiros
resoavam em cadencia. E Gonçalo adiante, de charuto flammante, gosava
aquella marcha, em que de novo um Ramires trilhava os caminhos de Santa
Ireneia com homens da sua mercê e solarengos armados.
Ao começo da villa, porém, recolheu discretamente a escolta na taverna
da Serena: e elle cortou para o Mercado da Herva, para a Tabacaria do
Simões, onde o Gouveia, áquella hora, antes da partida da Assembléa,
costumava pousar, comprar uma caixa de phosphoros, considerar
pensativamente na vidraça as cautelas da Loteria. Mas n'essa noite o
Snr. Administrador faltára ao Simões costumado. Largou então para a
Assembléa: e logo em baixo, no bilhar, um sujeito calvo, que contemplava
as carambolas solitarias do marcador, espapado na bancada, de collete
desabotoado, mascando um palito--informou o Fidalgo da doença do amigo
Gouveia:
--Cousa leve, inflammação de garganta... V. Ex.^a de certo o encontra em
casa. Não arreda do quarto desde Domingo.
Outro cavalheiro porém, que remexia o seu café á esquina d'uma mesa
atulhada de garrafas de licôr, affiançou que o Snr. Administrador já
espairecera n'essa tarde. Ainda pelas cinco horas elle o encontrára na
Amoreira, com o pescoço atabafado n'uma manta de lã.
Gonçalo, impaciente, abalou para a Calçadinha. E atravessava o Largo do
Chafariz quando descortinou o desejado Gouveia, á porta muito alumiada
da loja de pannos do Ramos, conversando com um homemzarrão de forte
barba retinta e de guarda-pó alvadio.
E foi o Gouveia, que, de dedo espetado, investiu para Gonçalo:
--Então, já sabe?
--O quê?
--Pois não sabe, homem?... O Sanches Lucena!
--O quê?
--Morreu!
O fidalgo embasbacou para o Administrador, depois para o outro
cavalheiro, que repuxava na mão enorme, com um esforço inchado, uma luva
preta apertada e curta.
--Santo Deus!... Quando?
--Esta madrugada. De repente. «Angina pectoris,» não sei quê no
coração... De repente, na cama.
E ambos se consideraram, em silencio, no espanto renovado d'aquella
morte que impressionava Villa-Clara. Por fim Gonçalo:
--E eu ainda ha bocado, na Torre, a fallar d'elle! E, coitado, como
sempre, com pouca admiração...
--E eu! exclamou o Gouveia. Eu, que ainda hontem lhe escrevi!... E uma
carta comprida, por causa d'um empenho do Manoel Duarte... Foi o cadaver
que recebeu a carta.
--Boa piada! rosnou o sujeito obeso, que se debatia ferrenhamente contra
a luva. O cadaver recebeu a carta... Boa piada!
O Fidalgo torcia o bigode, pensativo:
--Ora, ora... E que edade tinha elle?
O Gouveia sempre o imaginára um completo velho, de setenta invernos.
Pois não! apenas sessenta, em Dezembro. Mas consumido, arrasado. Casára
tarde, com fêmea forte...
--E ahi temos a bella D. Anna, viuva aos vinte e oito annos, sem filhos,
naturalmente herdeira, com o seu mealheiro de duzentos contos... Talvez
mais!
--Boa maquia! roncou de novo o oupado homem que enfiára a luva, e agora
gemia, com as veias tumidas, para lhe apertar o colchete.
Aquelle cavalheiro constrangia o Fidalgo--ancioso por desafogar com o
Gouveia sobre «a vacatura politica,» assim inesperadamente aberta, no
circulo de Villa-Clara, pela brusca desapparição do Chefe tradicional. E
não se conteve, puchou o Administrador pelo botão da sobrecasaca para a
sombra favoravel da parede:
--Oh! Gouveia! então agora, hein?... Temos eleição supplementar... Quem
virá pelo circulo?
E o Administrador, muito simplesmente, sem se resguardar do homemzarrão
de guarda-pó, que, emfim enluvado, accendera o charuto, se acercava com
familiaridade--deduziu os factos:
--Agora, meu amigo, com o tio do Cavalleiro ministro da Justiça e o José
Ernesto ministro do Reino, vae deputado pelo circulo quem o André
Cavalleiro mandar. É claro... O Sanches Lucena manteve sempre o seu
logar em S. Bento por uma indicação natural do partido. Era aqui o
primeiro homem, o grande homem dos Historicos... Bem! Hoje, para decidir
o Governo, como falta a indicação natural do partido, que resta? O
desejo pessoal do Cavalleiro. Você sabe como o Cavalleiro é
regionalista. Pelo circulo pois, logicamente, sahe quem se apresente ao
Cavalleiro como um bom continuador do Lucena, pela influencia e pela
estabilidade territorial... N'outro circulo ainda se podia encaixar á
pressa um deputado fabricado em Lisboa, nas Secretarias. Aqui não! O
deputado tem de ser local e Cavalleirista. E o proprio Cavalleiro,
acredite você, está a esta hora embaraçado.
O gordalhufo murmurou com importancia, atravez do immenso charuto que
mamava:
--Amanhã já estou com elle, já sei...
Mas o Administrador emmudecera, coçava o queixo, cravando em Gonçalo os
olhos espertos, que rebrilhavam, como se uma ditosa idéa, quasi uma
inspiração, o illuminasse. E de repente, para o outro, que cofiava a
barba retinta:
--Pois, meu caro senhor, até além d'ámanha. Ficamos entendidos. Eu
remetto o cestinho dos queijos directamente ao Snr. Conselheiro.
Tomou o braço de Gonçalo, que apertou com impaciencia. E sem attender
mais ao homemzarrão, que saudava rasgadamente, arrastou o Fidalgo para a
Calçadinha silenciosa:
--Oh, Gonçalo, ouça lá... Vossê agora tinha uma occasião soberba! Você,
se quizesse, dentro de poucos dias, estava deputado por Villa-Clara!
O Fidalgo da Torre estacára--como se uma estrella de repente se
despenhasse na rua mal allumiada.
--Ora escute! exclamou o Administrador, largando o braço de Gonçalo,
para desenrolar mais livremente a sua idéa. Você não tem compromissos
serios com os Regeneradores. Você deixou Coimbra ha um anno, tenta agora
a vida publica, nunca fez acto definitivo de partidario. Lá uma ou outra
correspondencia para os jornaes, historias!...
--Mas...
--Escute, homem! Você quer entrar na Politica? Quer. Então, pelos
Historicos ou pelos Regeneradores, pouco importa. Ambos são
constitucionaes, ambos são christãos... A questão é entrar, é furar. Ora
você, agora, inesperadamente, encontra uma porta aberta. O que o póde
embaraçar? As suas inimisades particulares com o Cavalleiro? Tolices!
Atirou um gesto, largo e secco, como se varresse essas puerilidades:
--Tolices! Entre vocês não ha morte d'homem. Nem vocês, no fundo, são
inimigos. O Cavalleiro é rapaz de talento, rapaz de gosto... Não vejo
outro, aqui no districto, com quem você tenha mais conformidade de
espirito, de educação, de maneiras, de tradições... N'uma terra pequena,
mais dia menos dia, fatalmente, se impunha a reconciliação. Então seja
agora, quando a reconciliação o leva ás Camaras!... E repito. Pelo
circulo de Villa-Clara sahe deputado quem o Cavalleiro mandar!
O Fidalgo da Torre respirou, com esforço, na emoção que o suffocava. E
depois d'um silencio em que tirára o chapéo, abanára com elle,
pensativamente, a face descahida:
--Mas o Cavalleiro, como você disse, é todo local todo regional... Não
quererá impôr senão um homem como o Lucena, com fortuna, com
influencia...
O outro parou, alargou os braços:
--E então, você?... Que diabo! Você tem aqui propriedade. Tem a Torre,
tem Treixedo. Sua irmã hoje é rica, mais rica que o Lucena. E depois o
nome, a familia... Vocês, os Ramires, estão estabelecidos, com solar em
Santa Ireneia, ha mais de duzentos annos.
O fidalgo da Torre ergueu com viveza a cabeça:
--Duzentos?... Ha mil, ha quasi mil!
--Ora ahi tem! Ha mil annos. Uma casa anterior á monarchia. Pelo menos
coeva! Você é portanto mais fidalgo que o Rei! E então, isso não é uma
situação muito superior á do Lucena? Sem contar a intelligencia... Oh!
diabo!
--Que foi?
--A garganta... Uma picadita na garganta. Ainda não estou consolidado.
E decidiu logo recolher, gargarejar, porque o Dr. Macedo prohibira as
noitadas festivas. Mas Gonçalo acompanhava até á porta o amigo Gouveia.
E, conchegando o abafo de lã, o Administrador resumiu a sua idéa:
--Pelo circulo de Villa-Clara, Gonçalinho, sahe quem o Cavalleiro
mandar. Ora o Cavalleiro, creia você, tem immenso empenho de o eleger,
de o lançar na Politica. Se você portanto estender a mão ao Cavaleiro, o
circulo é seu. O Cavalleiro tem o maior, o maiorissimo empenho,
Gonçalinho!
--Isso é que eu não sei, João Gouveia...
--Sei eu!
E em confidencia, na solidão da Calçadinha, João Gouveia revelou ao
Fidalgo que o Cavalleiro anciava pela occasião de reatar a velha
fraternidade com o seu velho Gonçalo! Ainda na semana passada o
Cavalleiro lhe affirmára (palavras textuaes):--«Entre os rapazes d'esta
geração nenhum com mais seguro e mais largo futuro na Politica que o
Gonçalo. Tem tudo! grande nome, grande talento, a seducção, a
eloquencia... Tem tudo! E eu, que conservo pelo Gonçalo todo o carinho
antigo, gostava ardentemente, ardentissimamente, de o levar ás Camaras.»
--Palavras textuaes, meu amigo!... Ainda ha seis ou sete dias, em
Oliveira, depois do jantar, a tomarmos ambos café no quintal.
A face de Gonçalo ardia na sombra, devorando as revelações do
Administrador. Depois, com lentidão, como descobrindo candidamente todos
os recantos da sua alma:
--Eu, na realidade, tambem conservo a antiga sympathia pelo Cavalleiro.
E certas questões intimas adeus!... Envelheceram, caducaram, tão
obsoletas hoje como os aggravos dos Horacios e dos Curiacios... Como
você lembrou ha pouco, com razão, nunca se ergueu entre nós morte de
homem. Que diabo! Eu fui educado com o Cavalleiro, eramos como irmãos...
E acredite você, Gouveia! Sempre que o vejo, sinto um appetite doido,
mas doido, de correr para elle, de lhe gritar: «Oh! André! nuvens
passadas não voltam, atira para cá esses ossos!» Creia você, não o faço
por timidez... É timidez... Oh! não, lá por mim, estou prompto á
reconciliação, todo o coração m'a pede! Mas elle?... Porque, emfim,
Gouveia, eu, nas minhas Correspondencias para a _Gazeta do Porto_, tenho
sido feroz com o Cavalleiro!
João Gouveia parou, de bengala ao hombro, considerando o fidalgo com um
sorriso divertido:
--Nas Correspondencias? Que lhe tem você dito nas Correspondencias? Que
o Snr. Governador Civil é um despota, e um D. Juan?... Meu caro amigo,
todo o homem gosta que, por opposição politica, lhe chamem despota e D.
Juan. Você imagina que elle se affligiu? Ficou simplesmente babádo!
O fidalgo murmurou, inquieto:
--Sim! Mas as allusões á bigodeira, á guedelha...
--Oh! Gonçalinho! Bellos cabellos annellados, bellos bigodes torcidos,
não são defeitos de que um macho se envergonhe... Pelo contrario! Todas
as mulheres admiram. Você pensa que ridicularisou o Cavalleiro? Não!
annunciou simplesmente ás madamas e meninas, que lêem a _Gazeta do
Porto_, a existencia d'um mocetão esplendido que é Governador Civil
d'Oliveira.
E parando de novo (por que defronte, na esquina, luziam as duas janellas
abertas da sua casa), o Administrador estendeu o dedo firme para um
conselho supremo:
--Gonçalo Mendes Ramires, você ámanhã manda buscar a parelha do Torto,
salta para a sua caleche, corre á cidade, entra pelo Governo Civil de
braços abertos, e grita sem outro prologo:--«André, o que lá vae, lá
vae, venham essas costellas! E como o circulo está vago, venha tambem
esse circulo!»--E você, dentro de cinco ou seis semanas, é o Snr.
Deputado por Villa-Clara, com todos os sinos a repicar... Quer tomar
chá?
--Não, obrigado.
--Bem, então viva! Tipoia ámanhã e Governo Civil. Está claro, é
necessario arranjar um pretexto...
O fidalgo acudiu, com alvoroço:
--Eu tenho um pretexto! Não!... Quero dizer, tenho necessidade real,
absoluta, de fallar com o Cavalleiro ou com o Secretario Geral. É uma
questão de caseiro... Até por causa d'essa infeliz trapalhada o
procurava eu hoje a você, Gouveia!
E aldravou a aventura do Casco, com traços mais pesados que a
ennegreciam. Durante semanas, afferradamente, esse fatal Casco o
torturára para lhe arrendar a Torre. Mas elle tratára com o Pereira, o
Pereira Brazileiro, por uma renda explendidamente superior á que o Casco
offerecia a gemer. Desde então o Casco rugia, ameaçava, por todas as
tabernas da Freguezia. E, n'essa tarde, surde d'uma azinhaga, rompe para
elle, de varapau erguido! Mercê de Deus, lá se defendera, lá sacudira o
bruto, com a bengala. Mas agora, sobre o seu socego, sobre a sua vida,
pairava a affronta d'aquelle cajado. E, se o assalto se renovasse, elle
varava o Casco com uma bala, como um bicho montez... Urgia pois que o
amigo Gouveia chamasse o homem, o reprehendesse rijamente, o entaipasse
mesmo por algumas horas na cadeia...
O Administrador, que escutára palpando a garganta, atalhou logo, com a
mão espalmada:
--Governo Civil, caro amigo, Governo Civil! Esses casos de prisão
preventiva pertencem ao Governo Civil. Reprehensão não basta, com tal
féra!... Só cadeia, um dia de cadeia, a meia ração... O Governo Civil
que me mande um officio ou telegramma. Você realmente corre perigo. Nem
um instante a perder!... Amanhã tipoia e Governo Civil. Mesmo por amor
da Ordem Publica!
E Gonçalo, compenetrado, com os hombros vergados, cedeu ante esta
soberana razão da Ordem Publica:
--Bem, João Gouveia, bem!... Com effeito é uma questão de Ordem Publica.
Vou ámanhã ao Governo Civil.
--Perfeitamente, concluiu o Administrador puxando o cordão da campainha.
Dê recados meus ao Cavalleiro. E só lhe digo que havemos de arranjar uma
votação tremenda, e foguetorio, e vivas, e ceia magna no Gago... Você
não quer tomar chá, não? Então, boas noites... E olhe! D'aqui a dous
annos, quando você fôr ministro, Gonçalo Mendes Ramires, recorde esta
nossa conversa, á noite, na Calçadinha de Villa-Clara!
Gonçalo seguiu pensativamente por defronte do Correio; torneou a branca
escadaria da Egreja de S. Bento; metteu, alheado e sem reparar, pela
estrada plantada de acacias que conduz ao Cemiterio. E, n'aquelle alto
da Villa, d'onde, ao desembocar da Calçadinha, se abrange a largueza
rica dos campos desde Valverde a Craquêde--sentiu que tambem na sua
vida, apertada e solitaria como a Calçadinha, se alargára um arejado
espaço cheio d'interessante bulicio e de abundancia. Era o muro, em que
sempre se imaginára irreparavelmente cerrado, que de repente rachava.
Eis a fenda facilitadora! Para além reluziam todas as bellas realidades
que desde Coimbra appetecera! Mas...--Mas no atravessar da fenda fragosa
de certo se rasgaria a sua dignidade ou se rasgaria o seu orgulho. Que
fazer?...
Sim! seguramente! Estendendo os braços ao animal do Cavalleiro
conquistava a sua Eleição. O circulo, infeudado aos Historicos, elegeria
submissamente o Deputado que o chefe Historico ordenasse com indolente
aceno. Mas essa reconciliação importava a entrada triumphal do
Cavalleiro na quieta casa do Barrôlo... Elle vendia pois o socego da
irmã por uma cadeira em S. Bento! Não! não podia por amor de
Gracinha!--E Gonçalo suspirou, com ruidoso suspiro, no luminoso silencio
da estrada.
Agora porém, durante tres, quatro annos, os Regeneradores não trepavam
ao Governo. E elle, alli, atravez d'esses annos, no buraco rural,
jogando voltaretes somnolentos na Assembléa da Villa, fumando cigarros
calaceiros nas varandas dos Cunhaes, sem carreira, parado e mudo na
vida, a ganhar musgo, como a sua caduca, inutil Torre! Caramba! era
faltar cobardemente a deveres muito santos para comsigo e para com o seu
nome!... Em breve os seus camaradas de Coimbra penetrariam nos altos
Empregos, nas ricas Companhias; muitos nas Camaras por vacaturas
abençoadas como a do Sanches; um ou outro mesmo, mais audaz ou servil,
no Ministerio. Só elle, com talentos superiores, um tal brilho
historico, jazeria esquecido e resmungando como um côxo n'uma estrada
quando passa a romaria. E por quê? Pelo receio pueril de pôr a bigodeira
atrevida do Cavalleiro muito perto dos fracos labios de Gracinha... E
por fim esse receio constituia uma injuria, uma nojenta injuria, á
seriedade da irmã. Porque Portugal não se honrava com mulher mais
rigidamente seria, de mais grave e puro pensar! Aquelle corpinho
ligeiro, que o vento levava, continha uma alma heroica. O Cavalleiro?...
Podia sua exc.^a sacudir a guedelha com graça fatal, jorrar dos olhos
pestanudos a languidez ás ondas--que Gracinha permaneceria tão
inaccessivel e solida na sua virtude como se fosse insexual e de
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