A Illustre Casa de Ramires - 11

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todo o castello de Santa-Ireneia d'uma irada e rija alarma. Na sua
lealdade sublime e simples Tructezindo não cuida do filho--adia a
desforra do amargo ultraje. E o seu esforço todo se commette a apressar
os aprestos da mesnada, para correr elle sobre Montemor, e levar ás
Senhoras Infantas os soccorros de que as privára a embuscada de
Canta-Pedra! Mas quando o impetuoso Rico-Homem com o Adail, na
sala-d'armas, regia a ordem da arrancada--eis que os esculcas, abrigados
do calor d'Agosto nos miradouros, enxergam ao longe, para além do
arvoredo da Ribeira, coriscos d'armas, uma cavalgada subindo para
Santa-Ireneia. O Villico, o gordo e azafamado Ordonho, galga arquejando
aos eirados da torre albarrã--e reconhece o pendão de Lopo de Bayão, o
seu toque de trompas á mourisca, arrastado e triste no silencio dos
campos. Então arqueia as cabelludas mãos na bôca, atira o alarido:
--Armas, armas! que é gente de Bayão!... Besteiros, ás quadrellas!
Homens em chusma ás lavadiças da carcova!
E Gonçalo, coçando a testa com a rama da penna, rebuscava ainda outros
veridicos brados, de bravo som Affonsino--quando a porta da livraria
abriu cautellosamente, atravez d'aquelle perro rangido que o
desesperava. Era o Bento, em mangas de camisa:
--O Snr. Dr. não poderia descer cá baixo á cozinha?
Gonçalo embasbacou para o Bento, pestanejando, sem comprehender:
--Á cozinha?...
--É que está lá a mulher do Casco a levantar uma celeuma. Parece que lhe
prenderam o homem esta tarde... Appareceu ahi por baixo de agoa, com os
pequenos, até um de mama. Quer por força fallar com o Snr. Dr. E não se
calla, lavada em lagrimas, de joelhos com os filhos, que é mesmo uma
Ignez de Castro!
Gonçalo murmurou--«que massada!» E que contrariedade! A mulher, n'uma
agonia, entre gritos, arrastando os filhos supplicantes até ao portão da
Torre! E elle, nas vesperas da sua Eleição, apparecendo a todas as
freguezias enternecidas como um fidalgo deshumano!...--Atirou a penna
furiosamente:
--Que massada! Dize á creatura que me deixe, que se não afflija... O
Snr. Aministrador ámanhã manda soltar o Casco. Eu mesmo vou a
Villa-Clara, antes d'almoço, para pedir. Que se não afflija, que não
aterre os pequenos... Corre, dize, homem!
Mas o Bento não despegava da porta:
--Pois a Rosa e eu já lhe dissemos... Mas a mulherzinha não acredita,
quer pedir ao Snr. Dr.! Veio por baixo d'agoa. Até um dos pequenitos
está bem doentinho, ainda não fez senão tremer...
Então Gonçalo, sensibilisado, atirou á meza um murro que tresmalhou as
tiras da Novella:
--Ora se uma cousa d'estas se atura! Um homem que me quiz matar! E
agora, por cima, é sobre mim que desabam as lagrimas, e as scenas, e a
creança doente! Não se pode viver n'esta terra! Um dia vendo casa e
quinta, emigro para Moçambique, para o Transvaal, para onde não haja
massadas... Bem, dize á mulher que já desço.
O Bento approvou, com effusão:
--Pois se o Snr. Dr. lhe não custa... E como é para dar uma boa nova...
Sempre consola a pobre mulherzinha!...
--Lá vou, homem, lá vou! Não me masses tambem... Impossivel trabalhar
n'esta casa! Outra noite perdida!
Enfiou violentamente para o quarto, atirando as portas--com a ideia de
metter na algibeira do roupão duas notas de dez tostões que consolariam
os pequenos. Mas, deante da gaveta, recuou, vexado. Que brutalidade,
compensar com dinheiro creancinhas--a quem elle arrancára o pae,
algemado, para o trancar n'uma enxovia! Agarrou simplesmente n'uma
boceta de alperces seccos--dos famosos alperces do Convento de
Santa-Brigida de Oliveira, que na vespera lhe mandára Gracinha. E,
cerrando lentamente o quarto, já se arrependia da sua severidade, tão
estouvada, que assim desmanchava a quietação de um casal. Depois no
corredor, ante a chuva clamorosa que dos telhados se despenhava nas
lages do pateo, ainda mais doridamente se impressionou, com a imagem da
pobre mulher, tresloucada pela negra estrada, puxando os filhinhos
encharcados, moídos, contra a tormenta solta. E ao penetrar no corredor
da cozinha--tremia como um culpado.
Atravez da porta envidraçada sentiu logo a Rosa e o Bento consolando a
mulher, com palradora confiança, quasi risonhos. Mas os «ais» d'ella, os
ruidosos lamentos pelo «seu rico homem», resoavam, mais agudos, como a
rebater e a abafar toda a consolação. E apenas Gonçalo empurrou
timidamente a porta--quasi acuou no espanto e medo d'aquella afflicção
estridente que se arremessava para elle e para a sua misericordia! De
rojos nas lages, torcendo as magras mãos sobre a cabeça, toda de negro,
parecendo mais negra e dolorosa contra a vermelhidão do lençol estendido
que seccava ao lume forte da lareira--a creatura estalára n'um tumulto
de supplicas e gritos:
--Ai, meu rico Senhor, tenha compaixão! Ai, que me prenderam o meu
homem, que m'o vão mandar para a Africa degredado! Jesus, meus filhinhos
da minha alma que ficam sem pae! Ai, pelas suas almas, meu senhor, e por
toda a sua felicidade!... Eu sei que elle teve culpa! Aquillo foi
perdição que lhe deu! Mas tenha piedade d'estas creancinhas! Ai, o meu
pobre homem que está a ferros! Ai, meu rico Senhor, por quem é!
Com as palpebras humedecidas, agarrando desesperadamente, a boceta
d'alperces, Gonçalo balbuciava, atravez da emoção que o estrangulára:
--Oh mulher, socegue, já o vão soltar! Socegue! Já dei ordem! Já o vão
soltar!
E d'um lado a Rosa, debruçada sobre a escura creatura que gemia,
recomeçava docemente:--«Pois foi o que lhe dissemos, tia Maria! Logo
pela manhã, o vão soltar!»--E do outro o Bento, batendo na coxa, com
impaciencia:--«Oh mulher, acabe com esse escarceu! Pois se o Snr. Dr.
prometteu! Logo pela manhã o vão soltar!»
Mas ella não se calmava, com o lenço da cabeça desmanchado, uma trança
desprendida, soluçando e clamando atravez dos soluços:
--Ai que eu morro, se o não vejo solto! Ai perdão, meu rico Senhor da
minha alma!...
Então Gonçalo, que aquelle infindavel e obtuso queixume torturava, como
um ferro cravado e recravado, bateu o chinello nas lages, berrou:
--Escute, mulher! E olhe para mim! Mas de pé, de pé!... E olhe bem, olhe
direita!
Hirtamente erguida, atirando as mãos para as costas como a escapar
d'algemas que tambem a ameaçassem--ella arregalou para o Fidalgo os
olhos espavoridos, fundos olhos pretos, de fundas olheiras tristes, que
lhe enchiam a face rechupada e morena.
--Bem, perfeitamente! exclamava Gonçalo. E agora diga! Acha que tenho
bojo de lhe mentir, quando vocemecê está n'essa afflicção? Pois então
socegue, acabe com os gritos, que, sob minha palavra, ámanhã cedo, o seu
homem está solto!
E a Rosa e o Bento, ambos triumphando:
--Pois que lhe dizia a gente, creatura de Deus? Se o Snr. Dr. tinha
promettido... Ámanhã lá tem o homem!
Lentamente ella limpava as lagrimas, já silenciosas, á ponta do avental
negro. Mas, ainda desconfiada, com os tenebrosos olhos mais arregalados,
devorando Gonçalo. E o Fidalgo mandava com certeza a ordem, cedinho, de
madrugada?...--Foi o Bento que a convenceu, com violencia:
--Oh mulher, vossê até parece atrevida! Ora essa! Pois duvida da palavra
do Snr. Dr.?
Ella soltou o avental, baixou a cabeça, suspirou simplesmente:
--Ai, então muito obrigada, seja pela felicidade de todos...
E agora a curiosidade de Gonçalo procurava os pequenos que ella
acarretára desde os Bravaes atravez da chuva cerrada. A pequenina de
mama dormia com beatitude sobre a tampa de uma arca, onde a boa Rosa a
aconchegára entre mantas e fronhas. Mas o pequeno, de sete annos,
encolhido n'uma cadeira deante do lume, rente ao lençol que seccava,
seccando tambem, com a carinha afogueada de febre, tossia
despedaçadamente, n'um cabecear de somno e cançasso, a arquejar, a gemer
contra a tosse que o esfalfava. Gonçalo pousou a boceta de alperces na
arca, palpou a mão com que elle, sem cessar, raspava pela abertura da
camisa encardida o peito ainda mais encardido.
--Mas esta creanca tem febre!... E vossê, com uma noite d'estas, traz o
pequeno assim desde os Bravaes, mulher?
Da cadeirinha baixa, onde se sentára prostrada, ella murmurou, sem
erguer a magra face, torcendo a ponta do avental:
--Ai! era para que elles tambem pedissem, que estavam sem pae,
coitadinhos!
--Vocemecê é doida, mulher! E pretende talvez voltar para os Bravaes,
debaixo d'agoa, com as creanças?
Ella suspirou:
--Ai! volto, volto... Não posso deixar sózinha a mãe do meu homem, que
tem oitenta annos e está entrevada.
Então o Fidalgo cruzou descorçoadamente os braços--no embaraço d'aquella
aventura, em que, por culpa da sua ferocidade, se arriscavam duas
creanças. Mas a Rosa entendia que a pequenina, a de mama, não soffreria
com a caminhada, bem achegadinha ao collo da mãe, debaixo de uma manta
grossa. Agora o outro, com a tosse, com a febre...
--Esse fica cá! exclamou logo Gonçalo, decidido. Como se chama elle?
Manoel... Bem! O Manoel fica cá. E vá descançada, que a Sr.^a Rosa toma
cuidado. Precisa uma boa gemada, depois um bom suadoiro. Um d'estes dias
lá lhe apparece nos Bravaes, curado e mais gordo... Vá socegada!
De novo a mulher suspirou, no cançasso immenso que a invadira, a
amollecia. E sem resistir, no seu longo e abatido habito de submissão:
--Pois sim senhor, se o Fidalgo manda, está muito bem...
O Bento, entreabrindo a porta do pateo, annunciava uma «aberta», o
negrume a levantar. Gonçalo immediatamente apressou a volta aos Bravaes:
--E não tenha medo, mulher. Vae um moço da quinta com uma lanterna, e um
guarda chuva para abrigar a pequena... Escute! Vocemecê até podia levar
uma capa de borracha!... Oh Bento, corre, desce a minha capa de
borracha. A nova, a que comprei em Lisboa...
E quando o Bento trouxe o «impermeavel» de longa romeira, o lançou por
sobre os hombros da mulher, que o estofo rico intimidava, com o seu
ruge-ruge de seda--foi na cozinha uma divertida risada. O pranto
passára, como a chuva. Agora era uma visita amoravel, findando n'um
arranjo alegre d'agasalhos. A Rosa apertava as mãos, banhada de gosto:
--Assim é que vocemecê fica uma bonita Madama, hein!... Se fosse de dia,
olhe que se juntava gente!
A mulher sorria emfim, descoradamente, sem interesse:
--Ai! nem sei que pareço... Que avantesma!
Atravez do pateo, onde as acacias gottejavam docemente, Gonçalo
acompanhou o rancho até á porta do pomar, gritando ainda--«Agasalhem bem
a pequena!»--quando já a lanterna do moço se fundia na humida espessura
da noite acalmada. Depois, na cozinha, batendo contra as lages as solas
dos chinellos molhados, apalpou novamente o Manoelsinho, que adormecera
n'um somno rouquejado, torcido sobre as costas da cadeira.
--Tem pouca febre... Mas precisa um suadoiro forte. E, antes de o
cobrirem bem, um leite quente, quasi a ferver, com cognac... O que elle
precisava tambem era esfregado a côco... Que porcaria de gente! Emfim
fica para mais tarde, quando se curar... E agora, oh Rosa, mande acima
alguma cousa para eu cear, cousa solida, que não jantei, e o sarau foi
tremendo!
Na livraria, depois de mudar os chinellos, descançar, Gonçalo escreveu
ao Gouveia uma carta reclamando com commovida urgencia a liberdade do
Casco. E accrescentava:--«É o primeiro pedido que lhe faz o deputado por
Villa-Clara (comprimente!), porque acabo de receber telegramma do nosso
André, annunciando que «_tudo feito, ministro concorda, etc._» De sorte
que precisamos communicar! Queira pois vossa mercê vir jantar ámanhã a
esta sua Torre, á sombra do Titó e com acompanhamento de Videirinha.
Estes dous benemeritos são indispensaveis para que haja appetite e
harmonia. E rogo, Gouveia amigo, que os avise do festim, para me evitar
a remessa de circulares eloquentes...»
Lacrada a carta, retomou languidamente o manuscripto da Novella. E,
trincando a rama da penna, ainda procurou vozes, de bom sabor medieval,
para aquelle lance em que o Villico e as roldas enxergavam a cavalgada
do Bastardo, pela encosta da Ribeira, com refulgidos d'armas, sob o rijo
sol d'Agosto...
Mas a sua imaginação, desde a carta escripta ao Gouveia pelo «Deputado
de Villa-Clara» escapava desassocegadamente da velha Honra de Santa
Ireneia--esvoaçava teimosamente para os lados de Lisboa, da Lisboa do S.
Fulgencio. E o eirado da torre albarran, onde o gordo Ordonho gritava
esbaforido--incessantemente se desfazia como nevoa molle, para sobre
elle surgir, appetitoso e mais interessante, um quarto do Hotel Bragança
com varanda sobre o Tejo... Foi um allivio quando o Bento o apressou
para a ceia. E á mesa espalhou livremente a imaginação por Lisboa, pelos
corredores de S. Carlos, por sob as arvores da Avenida, atravez dos
antiquados palacios dos seus parentes em S. Vicente e na Graça, atravez
das salas mais modernas de cultos e alegres amigos--parando ás vezes
deante de visões que considerava com um riso deleitado e mudo. Alugaria
aos mezes, certamente, uma carruagem da Companhia. E para as sessões de
S. Bento sempre luvas côr de perola, uma flor no peito. Por commodidade
levava o Bento, bem apurado, com casaca nova...
O Bento entrou com a garrafa do cognac n'uma salva. Dera a carta ao
Joaquim da Horta com a recommendação de correr logo ás seis horas a casa
do Snr. Administrador, de se demorar na Villa por deante da Cadeia até
soltarem o Casco.
--E já deitamos o pequeno no quarto verde. Fica perto de mim, que tenho
o somno leve, se elle berrar... Mas já dorme regaladamente.
--Está socegado, hein? acudiu Gonçalo, sorvendo á pressa o calice de
cognac. Vamos vêr esse cavalheiro!
E tomou um castiçal, subiu ao quarto verde com o Bento, sorrindo,
abafando os passos pela estreita escada. No corredor, junto da poria,
n'um desbotado camapé de damasco verde, a Rosa dobrára carinhosamente a
roupa trapalhona do pequeno, o collete esgaçado, as calças enormes, só
com um botão. Dentro o leito de pau preto, vasto leito de ceremonia,
atravancava a parede forrada d'um velho papel avelludado de ramagens
verdes. Ao lado dos dous postes torneados, á cabeceira, pendiam dous
paineis, retratos de antigos Ramires, um Bispo obeso folheando um folio,
um formoso Cavalleiro de Malta, de barba ruiva, appoiado á espada, com
um laçarote de rendas sobre a couraça polida. E nos altos colchões o
Manoelzinho resonava, sem tosse, quieto, abafado pela grossura dos
cobertores, humedecido por um suor fresco e sereno.
Gonçalo, caminhando sempre de leve, repuxou cuidadosamente a dobra do
lençol. Desconfiado das janellas decrepitas, experimentou que não
entrasse traiçoeiro ar pelas gretas. Mandou pelo Bento buscar uma
lamparina, que arranjou sobre o lavatorio, com a luz esbatida por traz
d'uma vazilha. Ainda attentamente relanceou os olhos lentos pelo quarto,
para se assegurar do socego, do silencio, da penumbra, do conforto. E
sahiu, sempre na ponta dos pés, sorrindo, deixando o filho do Casco
velado pelos dous nobres Ramires--o Bispo com o seu Tratado, o
Cavalleiro de Malta com a sua pura espada.
Recolhendo do Tanque-Velho, do fundo da quinta, onde passára a calma,
depois do almoço, na frescura do arvoredo, entre susurros de agoas
correntes, a folhear um volume do _Panorama_--Gonçalo encontrou sobre a
mesa da livraria, com o correio de Oliveira, uma carta que o
surprehendeu, enorme, em papel almaço, fechada por uma obreia. E dentro
a assignatura, desenhada a tinta azul, era um coração chammejante.
N'um relance devorou as linhas, pautadas a lapis, d'uma lettra gorda,
arredondada com esmero:--«Caro e Ex.^{mo} Snr. Gonçalo Ramires. O
galante Governador civil do Districto, o nosso atiradiço André
Cavalleiro, passeiava agora coastantemente por deante dos Cunhaes,
olhando com ternura para as janellas e para o honrado brazão dos
Barrôlos. Como não era natural que andasse a estudar a architetura do
Palacete (que nada tem de notavel), concluiu a gente seria que o digno
Chefe do Districto esperava que V. Ex.^a apparecesse a alguma das
janellas do Largo, ou das que deitam para a rua das Tecedeiras, ou
sobretudo _no mirante do Jardim_, para reatar com V. Ex.^a a antiga e
quebrada amizade. Por isso muito acertadamente procedeu V. Ex.^a em
correr pessoalmente ao Governo Civil, e propor a reconciliação, e abrir
os braços generosos ao velho amigo, evitando assim que a primeira
Auctoridade do Districto continuasse a esbanjar um tempo precioso
n'aquelles passeios, de olhos pregados no Palacete dos fidalguissimos
Barrôlos. Enviamos portanto a V. Ex.^a os nossos sinceros parabens por
esse acertado passo que deve calmar as impaciencias do fogoso Cavalleiro
e redondar em beneficio dos serviços publicos!»
Revirando o papel nas mãos, Gonçalo pensou:
--É das Louzadas!
Ainda estudou a lettra, as expressões, descortinando que _redundar_ fora
escripto com um O, _architectura_ sem C. E rasgou furiosamente a grossa
folha, rosnando no silencio da livraria:
--Aquellas bebadas!
Sim, era d'ellas, das odiosas Louzadas! E essa origem mais o
aterrava--porque maledicencia, lançada por tão ardentes espalhadoras de
maledicencias, já certamente penetrára em todas as casas d'Oliveira,
mesmo na Cadeia, mesmo no'Hospital! E agora a cidade divertida, lambendo
o escandalo, relacionava perfidamente os rodeios do André pelos Cunhaes
com essa sua visita ao Governo Civil que assombrára a Arcada. Na ideia
pois d'Oliveira, e sob a inspiração das Louzadas--fôra elle, elle,
Gonçalo Mendes Ramires, que arrancára o Cavalleiro á sua Repartição, o
conduzira serviçalmente ao Largo d'El-Rei, lhe escancarára as portas do
Palacete até ahi rondadas e miradas sem proveito, e com sereno descaro
alcovitára os amores da irmã! Se taes desavergonhadas não mereciam que
lhes arregaçassem as sujas saias no meio da Praça, em manhã de Missa, e
lhes fustigassem as nadegas melladas, furiosamente, até que o sangue
ensopasse as lages!...
E, para maior damno, as apparencias todas se combinavam contra elle,
traidoramente! Essa insistencia de André, cocando Gracinha, estrondeando
a calçada em torno do Palacete, crescera, impressionava, justamente
agora, n'este Agosto, nas vesperas d'essa sua apparição á janella do
Governo Civil, que Oliveira commentava como um misterio historico. Que
inopportunamente morrera o animal do Sanches de Lucena! Mezes antes, nem
mesmo a malicia das Louzadas ligaria a sua reconciliação com André a um
cêrco amoroso que não começára, ou não andava tão murmurado. Tres ou
quatro mezes depois, André, sem esperança ante o Palacete inaccessivel,
certamente findaria os seus giros pelo Largo, de rosa ao peito! Mas não!
infelizmente quando esse André, com maior estrepito, ronda a porta
almejada--é que elle acode, e abraça o rondador, e lhe facilita a porta!
E assim a maledicencia das Louzadas encontrava uma base, a que todos na
cidade podiam palpar a substancia, e a solidez, e sobre ella se erigia
como Verdade Publica! Infames Louzadas!
Mas agora? O que? manter rigidamente as suas relações com o Cavalleiro
dentro da Politica, evitando escorregadias intimidades que o tornassem
logo nos Cunhaes, como outr'ora na Torre, o conviva desejado? Como
poderia? Desde que elle se reconciliava com André, logo e tão
naturalmente como a sombra segue a inclinação do ramo, se reconciliava
tambem o Barrôlo, seu cunhado e sua sombra... Mas como impôr ao Barrôlo
que a sua renovada familiaridade com o Cavalleiro se realisasse
unicamente dentro da Politica como dentro d'um Lazareto?--«Eu sou outra
vez o velho amigo do André, tu, Barrôlo, tambem--mas nunca o convides
para a tua mesa, nem lhe abras a tua porta!»--Imposição desconcertada,
de dura impertinencia--e que, na pequena Oliveira, logo os faceis
encontros, a simplicidade hospitaleira do Barrôlo, quebrariam como um
barbante poido... E depois que grotesca attitude a sua, hirto deante do
portão do Palacete, como um Archanjo S. Miguel, de bengala de fogo na
mão, para sustar a intrusão de Satanaz, Chefe do Districto! Mas tambem
que toda a cidade largasse a cochichar pelos cantos o nome de Gracinha
embrulhado ao nome de André, com o nome d'elle, Gonçalo, emmaranhado
atravez como o fio favoravel que os atára--era horrivel.
E na impaciencia d'esta difficuldade, de malhas tão asperas, que tanto o
feriam, terminou por esmurrar a meza, revoltado:
--Irra, que massada! São tudo massadas, n'estas terras pequenas e
coscovilheiras...
Em Lisboa quem se importaria que o Snr. Governador civil passeasse n'um
certo Largo--e que certo Fidalgo da Torre se reconciliasse com o Snr.
Governador Civil?... Pois acabou! Romperia soberbamente para diante,
como se habitasse Lisboa, desafogado de mexericos e de malignos olhinhos
a cocar. Era Gonçalo Mendes Ramires, da casa de Ramires! Mil annos de
nome e de solar! Dominava bem acima de Oliveira, de todas as suas
Louzadas. E não só pelo nome, louvado Deus, mas pelo espirito... O André
era seu amigo, entrava em casa de sua irmã--e Oliveira que estoirasse!
E nem consentiu que a suja carta das Louzadas desmanchasse a quieta
manhã de trabalho para que se preparára desde o almoço, relendo trechos
do Poemeto do Tio Duarte, folheando artigos do _Panorama_ sobre as
guerras de muralhas no seculo XII. Com um esforço d'attenção erudita
abancou, mergulhou a penna no tinteiro de latão que servira a trez
gerações de Ramires. E emquanto repassava as tiras trabalhadas, nunca o
Castello de Santa Ireneia lhe parecera tão heroico, de tão soberana
estatura, sobre tamanha collina d'Historia, sobranceando o Reino, que em
torno d'elle se alargava, se cobria de villas e messes, pelo esforço dos
seus castellões!
Temerosa, com effeito, se erguia a antiga Honra de Santa Ireneia, n'essa
Affonsina manhã d'Agosto e rijo sol, em que o pendão do Bastardo
surgira, entre fulgidos d'armas, para além dos arvoredos da Ribeira! Já
por todas as ameias se apinhavam os besteiros, espiando, encurvadas as
béstas. Das torres e adarves subia o fumo grosso do breu, fervendo nas
cubas, para despejar sobre os homens de Bayão que tentassem a escalada.
O Adail corria pelas quadrellas, relembrando as traças de defeza,
revistando os feixes de virotões, os pedregulhos d'arremesso. E no
immenso terreiro, por entre os alpendres colmados, surdiam velhos
solarengos, servos do forno, servos da abegoaria, que se benziam com
terror, puchavam pelo saião d'algum apressado homem de rolda, para
saberem da hoste que avançava. No emtanto a cavalgada passára a Ribeira
sobre a rude ponte de pau--já, por entre os alamos, serenamente se
acercava do Cruzeiro de granito, outr'ora erguido nos confins da Honra
por Gonçalo Ramires, o _Cortador_. E, no socego da manhã abrazada, mais
fundamente resoaram as buzinas do Bastardo, e o seu toque lento e triste
á mourisca...
Mas quando Gonçalo, enlevado no trabalho, tentava reproduzir, com termos
bem sonoros, avidamente rebuscados no _Diccionario de Synonimos_, o toar
arrastado das buzinas de Bayão--sentiu realmente, do lado da Torre, um
gemer de sons graves que crescia atravez dos limoeiros. Deteve a
penna--e eis que o _Fado dos Ramires_ s'eleva offertadamente da horta,
em serenada, para a varanda florida de madresilva:
Ora, quem te vê solitaria,
Torre de Santa Ireneia...
O Videirinha!--Correu alvoroçadamente á janella. Um chapeu côco tremulou
entre os ramos, um brado estrugio, acclamador:
--Viva o deputado por Villa-Clara! Viva o illustre deputado Gonçalo
Ramires!
No violão rompera triumphalmente o Hymno da Carta. Videirinha, alçado na
biqueira das botas gaspeadas de verniz, gritava--«Viva a illustre casa
de Ramires!» E por baixo do chapeu côco, sacudido com delirio, João
Gouveia, sem poupar a garganta, urrava--«Viva o illustre deputado por
Villa-Clara! Viva!»
Magestosamente, Gonçalo, alagado de riso, estendeu da varanda o braço
eloquente:
--Obrigado, meus queridos concidadãos! Obrigado!... A honra que me
fazeis, vindo assim, n'esse formoso grupo, o chefe glorioso da
Administração, o inspirado Pharmaceutico, o...
Mas reparou... E o Titó?
--O Titó não veio?... Oh João Gouveia, você não avisou o Titó?
Repondo sobre a orelha o chapeu côco, o Administrador, que arvorára uma
gravata de setim escarlate, declarou o Titó «um animal»:
--Estava combinado virmos todos trez. Até elle devia trazer uma duzia de
foguetes, para estalar aqui com o Hymno... A reunião era ao pé da
Ponte... Mas o animal não appareceu. Em todo o caso ficou avisado,
avisadissimo... E se não vier, é traidor.
--Bem, subam vocês! gritou Gonçalo. Eu n'um instante me visto. E, para
aguçar o appetite, proponho um vermouth, depois uma volta pela quinta
até ao pinhal!...
Immediatamente Videirinha, têso, empinando o violão, metteu pela rua
larga da horta, recoberta de parreira; e atraz João Gouveia atirava os
passos em cadencia nobre, alçando o guarda-sol como um pendão. Quando
Gonçalo entrou no quarto, berrando pelo Bento e por agoa quente--o _Fado
dos Ramires_ soava, em trinados heroicos, atravez do feijoal, por sob a
janella aberta onde seccava o lençol do banho. E eram as quadras
preferidas do Fidalgo, as quadras em que o grande avô Ruy Ramires,
sulcando os mares de Mascate n'uma urca, encontra trez fortes naus
inglezas, e, do alto do seu castello de prôa, vestido de gran-vermelha,
com a mão no cinto d'anta tauxeado d'ouro e pedras, soberbamente as
intima a que se rendam...
Todo alegre, e a mão no cinto.
Junto da Signa Real,
Gritando ás naus--«Amainae
Por El-Rei de Portugal!...»
Gonçalo abotoava á pressa os suspensorios, retomára o canto
glorificador--_Todo alegre, a mão no cinto_... _Junto da Signa
Real_...--E, atravez do esforço esganiçado, pensava que com tal linha
d'avós, bem podia desprezar Oliveira e as suas Louzadas horrendas. Mas o
trovão lento de Titó retumbou no corredor:
--Então esse deputado de Villa-Clara?... Já está a vestir a farda?
Gonçalo correu á porta do quarto, radiante:
--Entra, Titó! Os deputados já não usam farda, homem! Mas se a tivesse,
c'os diabos, ia hoje farda, e espadim e chapeu armado, para honrar
hospedes tão illustres!
O outro avançára vagarosamente, com as mãos nas algibeiras da rabona de
velludo côr d'azeitona, o vasto chapeu braguez atirado para a nuca,
desafogando a honesta face barbuda, vermelha de saude e sol:
--Eu, por farda, queria dizer libré... Libré de lacaio.
--Ora essa!?
E o outro mais retumbante:
--Pois o que vaes tu ser, homem, senão um sujeito ás ordens do S.
Fulgencio, _do horrendo careca_? Não lhe serves o chá, quando elle te
mandar; mas, quando elle te mandar votar, votas! Alli, direitinho, ás
ordens! «Oh Ramires, vote lá!» E Ramires, zás, vota... É de escudeiro,
homem, é de escudeiro de libré...
Gonçalo sacudiu os hombros, impaciente:
--Tu és uma creatura das selvas, lacustre, quasi prehistorica... Não
entendes nada das realidades sociaes!... Na sociedade não ha principios
absolutos!...
Mas o Titó, imperturbavel:
--E esse Cavalleiro? Tambem já é rapaz de talento? Tambem já governa bem
o Districto?
Então Gonçalo protestou, picado, com uma roseta forte na face. E quando
negára elle ao André talento ou geito de governar? Nunca! Só rira,
gracejando, da sua pompa, da bigodeira lustrosa... E de resto, o serviço
do Paiz exigia que por vezes se alliassem homens que nem partilhavam os
mesmos gostos, nem procuravam os mesmos interesses!
--E emfim o Snr. Antonio Villalobos vem hoje um moralista muito
terrivel, um Catão com quem se não pode jantar!... Ora foi sempre o
costume dos Philosophos muito rispidos fugir da sala do banquete onde
triumpha o devasso, e protestar comendo na cosinha!
Titó, serenamente, virou as costas magestosas.
--Onde vaes, ó Titó?
--Para a cosinha!
E, como Gonçalo ria, Titó, junto da porta, girando como uma torre que
gira, encarou o seu amigo:
--Sério, sério, Gonçalo! Eleição, reconciliação, submissão, e tu em
Lisboa ás cortezias ao S. Fulgencio, e em Oliveira de braço dado com o
André, tudo isso me parece que destoa... Mas emfim se a Rosa hoje se
apurou, não alludamos mais a cousas tristes!
E Gonçalo bracejava, de novo protestava--quando o violão resoou no
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