A Illustre Casa de Ramires - 21

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Mas não! Sob a folhagem do azinheiro, os tres cavalleiros combinavam com
lentidão uma vingança terrifica. Tructesindo desejára logo recolher a
Santa Ireneia, alçar uma forca deante das barbacans, no chão em que seu
filho rolára morto, e n'ella enforcar, depois de bem açoitado, como
villão, o villão que o matára. O velho D. Pedro de Castro, porém,
aconselhava despacho mais curto, e tambem gostoso. Para que rodear por
Santa-Ireneia, desbaratar esse dia d'Agosto na arrancada que os levava a
Montemór, a soccorro das Infantas de Portugal? Que se estendesse o
Bastardo amarrado sobre uma trave, aos pés de D. Tructesindo, como porco
pelo Natal, e que um cavallariço lhe chamuscasse as barbas, e depois
outro, com facalhão de ucharia, o sangrasse no pescoço,
pachorrentamente.
--Que vos parece, Snr. D. Garcia?
O _Sabedor_ desafivelára o casco de ferro, limpava nas rugas o suor e a
poeira da lide:
--Senhores e amigos! Temos melhor, e perto tambem, sem delongas de
cavalgada, logo adiante destes cerros, no _Pego das Bichas_... E nem
torcemos caminho, que de lá, por Tordezello e Santa Maria da Varge,
endireitamos a Montemór, tão direitos como vôa o corvo... Confiae em
mim, Tructesindo! Confiae em mim, que eu arranjarei ao Bastardo tal
morte e tão vil, que d'outra egual se não possa contar desde que
Portugal foi condado.
--Mais vil que forca, para cavalleiro, meu velho Garcia?
--Lá vereis, senhores e amigos, lá vereis!
--Seja! Mandae dar ás bozinas.
Ao commando d'Affonso Gomes, o Alferes, as bozinas soaram. Um troço de
besteiros e de estafeiros Leoneses rodearam a mula que carregava o
Bastardo amarrado e entalado entre dois caixotes. E acaudilhada por D.
Garcia, a curta hoste metteu para o _Pego das Bichas_, em desbando, com
os senhores de lança espalhados, como em marcha de folgança e paz, (?) e
todos n'uma rija fallada recordando, entre gabos e risos, as proezas da
lide.
A duas leguas de Tordezello e do seu castello formoso, se escondia entre
os cerros o _Pego das Bichas_. Era um lugar de eterno silencio e de
eterna tristeza. Em esmerados versos lhe marcára o tio Duarte a desolada
asperidão:
Nem trillo d'ave em balançado ramo!
Nem fresca flôr junto de fresco arroio!
Só rocha, mattagal, ribas soturnas,
E em meio o _Pego_, tenebroso e morto!...
E quando os primeiros cavalleiros, galgada a lomba d'um cerro, o
avistaram, na melancholia da manhã nevoenta, emmudeceram da larga
fallada, repucharam os freios, assustados ante tão aspero ermo, tão
propicio a Bruxas, a Avantesmas e a Almas penadas. Deante do escalavrado
barranco, por onde os ginetes escorregavam, ondulava uma ribanceira,
aberta com charcos lamacentos, quasi chupados pela estiagem, luzindo
pardamente, por entre grossos pedregulhos e o tojo rasteiro. Ao fundo, a
meio tiro de bésta, negrejava o _Pego_, lagoa estreita, lisa, sem uma
ruga n'agua, duramente negra, com manchas mais negras, como lamina
d'estanho onde alastrasse a ferrugem do tempo e do abandono. Em torno
subiam os cerros, eriçados de matto bravio e alto, sulcados por trilhos
de saibro vermelho como por fios de sangue que escoresse, e rasgados no
alto por penedias lustrosas, mais brancas que ossadas. Tão pesado era o
silencio, tão pesada a soledade, que o velho D. Pedro de Castro, homem
de tanta jornada, se espantou:
--Feia paragem! E voto a Christo, a Santa Maria, que nunca antes de nós,
n'ella entrou homem remido pelo baptismo.
--Pois, Snr. D. Pedro de Castro! accudiu o _Sabedor_, já por aqui se
moveu muita lança, e luzida, e ainda em tempos do Conde D. Sueiro, e de
vosso rei D. Fernando, se erguia n'aquella beira d'agua, uma castellania
famosa! Vêde além!--E mostrava na ponta do pego, fronteira ao barranco,
dous rijos pilares de pedra, que emergiam da agua negra, e que chuva e
vento polira como marmores finos. Um passadiço de traves, sobre estacas
limosas e meio apodrecidas, atava a margem ao mais grosso dos pilares. E
a meio d'esse rude esteio pendia uma argola de ferro.
No emtanto já o tropel da peonagem se espalhára pela ribanceira. D.
Garcia Viegas desmontou, bradando por Pero Ermigues, o Coudel dos
bésteiros de Santa Ireneia. E, ao lado do ginete de Tructesindo, risonho
e gozando a surpreza, ordenou ao Coudel que seis dos seus rijos homens
descessem o Bastardo da mula, o estirassem no chão, o despissem, todo
nú, como sua mãe barregã o soltára á negra vida...
Tructesindo encarou o _Sabedor_, franzindo as sobrancelhas hirsutas:
--Por Deus, D. Garcia! que me ides simplesmente afogar o villão, e sujar
essa agua innocente!...
E alguns Cavalleiros, em redor, murmuraram tambem contra morte tão
quieta e sem malicia. Mas os miudos olhos de D. Garcia giravam,
lampejavam de triumpho e gosto:
--Socegae, socegae! Velho estou certamente, mas ainda o senhor Deus me
consente algumas traças. Não! Nem enforcado, nem degolado, nem
afogado... Mas chupado, senhores! Chupado em vida, e de vagar, pelas
grandes sanguesugas que enchem toda essa agua negra!
D. Pedro de Castro, maravilhado, bateu o guante nas solhas do coxote:
--Vida de Christo! Que ter n'uma hoste o Snr. D. Garcia, é ter
juntamente, para marchas e conselho, enrolados n'um só, Annibal e
Aristoteles!
Um rumor d'admiração correu pela hoste:
--Boa traça, boa traça!
E Tructesindo, radiante, bradava:
--Andar, andar, bésteiros! E vós, senhores, recuae para a lomba do
cerro, como para palanque, que vae ser grande a vista! Já seis bésteiros
descarregavam da mula o Bastardo amarrado. Outros cercavam, com mólhos
de cordas. E, como magarefes para esfolar uma rez, toda a rude turma se
abateu sobre o malfadado, arrancando por cordas que desatavam a
cervilheira, o saio, as grevas, os sapatões de ferro, depois a grossa
roupa de linho encardido. Agarrado pelos compridos cabellos, filado
pelos pés, onde se cravavam agudas unhas no furor de o manter, com os
braços esmagados sob outros grossos braços retêsos, o possante Bastardo
ainda se estorcia, urrando, cuspindo contra as faces confusas da
matulagem um cuspo avermelhado, que espumava!
Mas, por entre o escuro tropel que o cobria, o seu corpo, todo despido,
branquejava, atado com cordas mais grossas. Lentamente o seu furioso
urrar esmorecia, arquejado e rouquenho. E um após outro se erguiam os
bésteiros, esfalfados, bufando, limpando o suor do esforço.
No emtanto os Cavalleiros d'Hespanha, de Santa Ireneia, desmontavam
cravando o couto das lanças entre o tojo e as pedras. Todos os recostos
dos outeiros se cubriam da mesnada espalhada, como palanques em tarde de
justa. Sobre uma rocha mais lisa, que dous magros espinheiros toldavam
de folha rala, um pagem estendera pelles d'ovelha para o Snr. D. Pedro
de Castro, para o senhor de Santa Ireneia. Mas só o velho _Castellão_ se
accommodou, para uma repousada delonga, desafivelando o seu corselete de
ferro tauxeado d'ouro.
Tructesindo permanecera erguido, mudo, com os guantes apoiados ao punho
da sua alta espada, os olhos fundos ávidamente cravados na tenebrosa
lagôa que, com morte tão fera e tão suja, vingaria seu filho... E pela
borda do _Pego_, peões, e alguns cavalleiros d'Hespanha, remexiam com
virotões, com os coutos das ascumas, a agua lodosa, na curiosidade das
negras bichas escondidas, que o povoavam.
Subitamente a um brado de D. Garcia, que rondava, toda a chusma de peões
amontoada em torno ao Bastardo se arredou:--e o forte corpo appareceu,
nú e branco, sobre a terra negra, com um denso pello ruivo nos peitos, a
sua virilidade afogada n'outra matta de pello ruivo, e todo ligado por
cordas de canave que o inteiriçavam. N'aquella rigidez de fardo, nem as
costellas arfavam--apenas os olhos refulgiam, ensanguentados,
horrendamente esbugalhados pelo espanto e pelo furor. Alguns cavalleiros
correram a mirar a aviltada nudez do homem famoso de Bayão. O senhor dos
Paços d'Argelim mofou, com estrondo:
--Bem o sabia, por Deus! Corpo de manceba, sem costura de ferida!...
Leonel de Çamora raspou o sapato de ferro pelo hombro do malfadado:
--Vêde este _Claro-Sol_, tão claro, que se apaga agora, em agua tão
negra!
O Bastardo cerrava duramente as palpebras,--d'onde duas grossas lagrimas
escaparam, lentamente rolaram... Mas um agudo pregão resoou pela
ribanceira:
--Justiça! Justiça!
Era o Adail de Santa Ireneia, que marchava, sacudia uma lança, atroava
os cerros:
--Justiça! justiça que manda fazer o Senhor de Treixedo e de Santa
Ireneia, n'um perro matador!... Justiça n'um perro, filho de perra, que
matou vilmente, e assim morra vilmente por ella!...
Trez vezes pregoou por deante da hoste apinhada nos cerros. Depois
quedou, saudou humildemente Tructesindo Ramires, o velho Castro,--como a
julgadores no seu Estrado de julgamento.
--Aviae, aviae! bradava o Senhor de Santa Ireneia.
Immediatamente, a um commando do _Sabedor_, seis bésteiros, com as
pernas embrulhadas em mantas da carga, ergueram o corpo do Bastardo como
se ergue um morto enrolado no seu lençol, e com elle entraram na agua,
até ao mais alto pilar de granito. Outros, arrastando molhos de cordas,
correram pelo limoso passadiço de traves. Com um alarido d'_aguenta!
endireita! alça!_ n'um desesperado esforço o robusto corpo branco foi
mergulhado n'agua até ás virilhas, arrimado ao mais alto pilar, depois
n'elle atado com um longo calabre que, passando pela argola de ferro, o
suspendia, sem escorregar, tão seguro e collado como um rôlo de vela que
se amarra ao mastro. Rapidamente os bésteiros fugiram d'agoa,
desentrapando logo as pernas, que palpavam, raspavam no horror das
bichas sugadoras. Os outros recolheram pelo passadiço, n'uma fila que se
empurrava. No Pego ficava Lopo de Bayão bem arranjado para a vistosa
morte lenta, com a agoa que já o afogava até ás pernas, com cordas que o
enroscavam até ao pescoço como a um escravo no poste; e uma espessa
mecha dos cabellos louros laçada na argola de ferro, repuxando a face
clara, para que todos n'ella gozassem largamente a humilhada agonia do
_Claro-Sol_.
Então o attento da hoste, esperando espalhada pelos recostos dos cerros,
mais entristeceu o enevoado silencio do ermo. A agoa jazia sem um
arrepio, com as suas manchas, negras como uma lamina d'estanho
enferrujado. Entre as cristas das rochas, archeiros postados pelo
_Sabedor_, atalaiavam, para além, os descampados. Um alto vôo de gralha
atrevessou grasnando. Depois um bafo lento agitou as flamulas das lanças
cravadas no tojo denso.
Para despertar, aviar a lentidão das bichas, alguns peões atiravam
pedras á agoa lodosa. Já alguns cavalleiros hespanhoes rosnavam
impacientes com a delonga, n'aquella cova abafada. Outros, descendo
agachados a borda da lagôa, para mostrar que falladas bichas nunca
acudiriam, mergulhavam lentamente, n'agoa negra, as mãos descalçadas,
que depois sacudiam, rindo, e mofando o _Sabedor_... Mas de repente um
estremeção sacudiu o corpo do Bastardo; os seus rijos musculos, no
furioso esforço de se desprenderem, inchavam entre as cordas, como
cobras que se arqueiam; dos beiços arreganhados romperam, em rugidos, em
grunhidos, ultrages e ameaças contra Tructesindo covarde, e contra toda
a raça de Ramires, que elle emprasava, dentro do anno, para as labaredas
do Inferno! Indignado, um Cavalleiro de Santa Ireneia agarrou uma bésta
de garrunche, a que retesou a corda.
Mas D. Garcia deteve o arremesso:
--Por Deus, amigo! Não roubeis ás sanguesugas nem uma pinga d'aquelle
sangue fresco!... Vêde como veem! vêde como veem!
Na agoa espessa, em torno ás coxas mergulhadas do Bastardo, um fremito
corria, grossas bolhas empolavam,--e d'ellas, mollemente, uma bicha
surdio, depois outra e outra, lusidias e negras, que ondulavam, se
collavam á branca pelle do ventre, d'onde pendiam, chupando, logo
engrossadas, mais lustrosas com o lento sangue que já escorria. O
Bastardo emmudecera--e os seus dentes batiam estridentemente. Enojados,
até rudes peões desviaram a face cuspindo para as urzes. Outros, porém,
chasqueavam, assuavam as bichas, gritando--_a elle, donzellas! a elle!_
E o gentil Çamora de Cendufe, clamava rindo contra tão ensossa morte!
Por Deus! Uma apostura de bichas, como a enfermo d'almorreimas. Nem era
sentença de Rico-Homem--mas receita d'herbanista moiro!
--Pois que mais quereis, meu Leonel? acudio alegremente o _Sabedor_,
resplandecendo. Morte é esta para se contar em livros! E não tereis este
inverno serão á lareira, por todos os solares de Minho a Douro, em que
não volte a historia d'este Pego, e d'este feito! Olhae nosso primo
Tructesindo Ramires! Formosos tratos presenceou de certo em tão longo
lidar d'armas!... E como goza! tão attento! tão maravilhado!
Na encosta do outeiro, junto do seu balsão, que o Alferes cravára entre
duas pedras, e como elle tão quêdo, o velho Ramires não despregava os
olhos do corpo do Bastardo, com deleite bravio, n'um fulgor sombrio.
Nunca elle esperára vingança tão magnifica! O homem que atára seu filho
com cordas, o arrastára n'umas andas, o retalhára a punhal deante das
barbacans da sua Honra--agora, vilmente nú, amarrado tambem como cerdo,
pendurado d'um pilar, emergido n'uma agoa suja, e chupado por
sanguesugas, deante de duas mesnadas, das melhores d'Hespanha, que
miravam, que mofavam! Aquelle sangue, o sangue da raça detestada, não o
bebia a terra revolta n'uma tarde de batalha, escorrendo de ferida
honrada, atravez de rija armadura--mas, gota a gota, escuramente e
mollemente se sumia, sorvido por nojentas bichas, que surdiam famintas
do lodo e no lodo recahiam fartas, para sobre o lodo bolsar o orgulhoso
sangue que as enfartára. N'um charco, onde elle o mergulhára, viscosas
bichas bebiam socegadamente o cavalleiro de Bayão! Onde houvera homizio
de solares fundado em desforra mais dôce?
E a fera alma do velho acompanhava, com inexoravel goso, as sanguesugas
subindo, espalhadamente alastrando por aquelle corpo bem amarrado, como
seguro rebanho pela encosta da collina onde pasta. O ventre já
desapparecia sob uma camada viscosa e negra, que latejava, relusia na
humidade morna do sangue. Uma fila sugava a cinta, encovada pela ancia,
d'onde sangue se esfiava, n'uma franja lenta. O denso pello ruivo do
peito, como a espessura d'uma selva, detivera muitas, que ondulavam, com
um rasto de lodo. Um montão ennovelado sangrava um braço. As mais
fartas, já inchadas, mais relusentes, despegavam, tombavam mollemente:
mas logo outras, famintas, se aferravam. Das chagas abandonadas o sangue
escorria delgado, represo nas cordas, d'onde pingava como uma chuva
rala. Na escura agoa boiavam gordas postemas de sangue esperdiçado. E
assim sorvido, ressumando sangue, o malfadado ainda rugia, atravez
ultrages immundos, ameaças de mortes, de incendios, contra a raça dos
Ramires! Depois, com um arquejar em que as cordas quasi estalavam, a
bocca horrendamente escancarada e avida, rompia aos roucos urros,
implorando _agoa, agoa!_ No seu furor as unhas, que uma volta de amarras
lhe collára contra as fortes côxas, esfarrapavam a carne, cravavam-se na
fenda esfarrapada, ensopadas de sangue.
E o furioso tumulto esmorecia n'um longo gemer cançado--até que parecia
adormecido nos grossos nós das cordas, as barbas relusindo sob o suor
que as alagára como sob um grosso orvalho, e entre ellas a espantada
lividez d'um sorriso delirado.
No emtanto já na hoste derramada pelos cerros, como por um palanque, se
embotára a curiosidade bravia d'aquelle supplicio novo. E se acercava a
hora da ração de meridiana. O Adail de Santa Ireneia, depois o Almocadem
Hespanhol, mandaram soar os anafins. Então todo o áspero ermo se animou
com uma faina d'arraial. O almazem das duas mesnadas parára por detraz
dos morros, n'uma curta almargem d'herva, onde um regato claro se
arrastava nos seixos, por entre as raizes de amieiros chorões. N'uma
pressa esfaimada, saltando sobre as pedras, os peões corriam para a fila
dos machos de carga, recebiam dos uchões e estafeiros a fatia de carne,
a grossa metade d'um pão escuro: e, espalhados pela sombra do arvoredo,
comiam com silenciosa lentidão, bebendo da agoa do regato pelas concas
de pau. Depois preguiçavam, estirados na relva,--ou trepavam em bando
pela outra encosta dos morros, através do matto, na esperança
d'atravessar com um virote alguma caça erradia. Na ribanceira, deante da
lagôa, os cavalleiros, sentados sobre grossas mantas, comiam tambem, em
roda dos alforges abertos, cortando com os punhaes nacos de gordura nas
grossas viandas de porco, empinando, em longos tragos, as bojudas
cabaças de vinho.
Convidado por D. Pedro de Castro, o velho _Sabedor_ descançava,
partilhando d'uma larga escudella de barro, cheia de _bolo papal_, d'um
bolo de mel e flôr de farinha, onde ambos enterravam lentamente os
dedos, que depois limpavam ao forro dos morriões. Só o velho Tructesindo
não comia, não repousava, hirto e mudo deante do seu pendão, entre os
seus dous mastins, n'aquelle fero dever de acompanhar, sem que lhe
escapasse um arrepio, um gemido, um fio de sangue, a agonia do Bastardo.
Debalde o _Castellão_, estendendo para elle um pichel de prata, gabava o
seu vinho de Tordesillas, fresco como nenhum d'Aquilat ou de Provins,
para a sede de tão rija arrancada. O velho Rico-Homem nem attendera:--e
D. Pedro de Castro, depois de atirar dous pães aos alões fieis,
recomeçou discorrendo com Garcia Viegas sobre aquelle teimoso amor do
Bastardo por Violante Ramires que arrastára a tantos homizios e furores.
--Ditosos nós, Snr. D. Garcia! Nós a quem a edade e o quebranto e a
fartura já arredam d'essas tentações... Que a mulher, como m'ensinava
certo Physico quando eu andava com os moiros, é vento que consola e
cheira bem, mas tudo enrodilha e esbandalha. Vêde como os meus por ellas
penaram! Só meu pae, com aquella desvairança de zelos, em que matou a
cutello minha dôce madre Estevaninha. E ella tão santa, e filha do
Imperador! A tudo, tudo leva, a tonta ardencia! Até a morrer, como este,
sugado por bichas, deante d'uma hoste que merenda e mofa. E por Deus,
quanto tarda em morrer, Snr. D. Garcia!
--Morrendo está, Snr. D. Pedro de Castro. E já com o demo ao lado para o
levar!
O Bastardo morria. Entre os nós das cordas ensanguentadas todo elle era
uma ascorosa aventesma escarlate e negra com as viscosas pastas de
bichas que o cobriam, latejando com os lentos fios de sangue que de cada
ferida escorriam, mais copiosos que os regos d'humidade por um muro
denegrido.
O desesperado arquejar cessára, e a ancia contra as cordas, e todo o
furor. Molle e inerte como um fardo, apenas a espaços esbogalhava
horrendamente os olhos vagarosos, que revolvia em torno com enevoado
pavor. Depois a face abatia, livida e flaccida, com o beiço pendurado,
escancarando a bocca em cova negra, d'onde se escoava uma baba
ensanguentada. E das palpebras novamente cerradas, entumecidas, um muco
gotejava, tambem como de lagrimas engrossadas com sangue.
A peonagem, no emtanto, voltando da ração, reatulhava a ribanceira,
pasmava, com rudes chufas para o corpo pavoroso que as bichas ainda
sugavam. Já os pagens recolhiam manteis e alforges. D. Pedro de Castro
descera do cabeço com o _Sabedor_ até á borda da agoa lodosa, onde quasi
mergulhava os sapatos de ferro, para contemplar, mais de cerca, o
agonisante de tão rara agonia! E alguns senhores, estafados com a
delonga, afivelando os gibanetes, murmuravam:--«Está morto! Está
acabado!»
Então Garcia Viegas gritou ao Coudel dos Bésteiros:
--Ermigues, ide vêr se ainda resta alento n'aquella postema.
O Coudel correu pelo passadiço de traves, e arrepiado de nojo palpou a
livida carne, acercou da bocca, toda aberta, a lamina clara da adaga que
desembainhára.
--Morto! morto!--gritou.
Estava morto. Dentro das cordas que o arroxeavam o corpo escorregava,
engilhado, chupado, esvasiado. O sangue já não manava, havia coalhado em
postas escuras, onde algumas bichas teimavam latejando, relusindo. E
outras ainda subiam, tardias. Duas, enormes, remexiam na orelha. Outra
tapava um olho. O _Claro-Sol_ não era mais que uma immundice que se
decompunha. Só a madeixa dos cabellos louros, repuxada, presa na argola,
relusia com um lampejo de chamma, como rastro deixado pela ardente alma
que fugira.
Com a adaga ainda desembainhada, e que sacudia, o Coudel avançou para o
Senhor de Santa Ireneia, bradou:
--Justiça está feita, que mandastes fazer no perro matador que morreu!
Então o velho Rico-Homem atirando o braço, o cabelludo punho, com
possante ameaça, bradou, n'um rouco brado que rolou por penhascos e
cerros:
--Morto está! E assim morra de morte infame quem traidoramente me
affronte a mim e aos da minha raça!
Depois, cortando rigidamente pela encosta do cerro, atravez do matto, e
com um largo aceno ao Alferes do Pendão:
--Affonso Gomes, mandae dar as bozinas. E a cavallo, se vos praz, Snr.
D. Pedro de Castro, primo e amigo, que leal e bom me fostes!...
O _Castellão_ ondeou risonhamente o guante:
--Por Santa Maria, primo e amigo! que gosto e honra os recebi de vós. A
cavallo pois se vos praz! Que nos promette aqui o Snr. D. Garcia vêrmos
ainda, com sol muito alto, os muros de Monte-mór.
Já a peonagem cerrava as quadrilhas, os donzeis d'armas puxavam para a
ribanceira os ginetes folgados que a vasta agua escura assustava. E, com
os dous balsões tendidos, o Açor negro, as Treze Arruellas, a fila da
cavalgada atirou o trote pelo barranco empinado, d'onde as pedras soltas
rolavam. No alto, alguns cavalleiros ainda se torciam nas sellas para
silenciosamente remirarem o homem de Bayão, que lá ficava, amarrado ao
pilar, na solidão do Pego, a apodrecer. Mas quando a ala dos bésteiros e
fundibularios de Santa Ireneia desfilou, uma rija grita rompeu, com
chufas, sujas injurias ao «perro matador». A meio da escarpa, um
bésteiro, virando, retezou furiosamente a bésta. A comprida garruncha
apenas varou a agua. Outra logo zinio, e uma bala de funda, e uma setta
barbada,--que se espetou na ilharga do Bastardo, sobre um negro novello
de bichas. O Coudel berrou: «cerra! anda!» A récua das azemolas de carga
avançava, sob o estralar dos lategos: os moços da carriagem apanhavam
grossos pedregulhos, apedrejavam o morto. Depois os servos carreteiros
marcharam, nos seus curtos saios de couro crú, balançando um chuço
curto:--e o capataz apanhou simplesmente esterco das bestas, que chapou
na face do Bastardo sobre as finas barbas d'ouro.


XI

Quando Gonçalo, estafado e já todo o ardor bruxuleando, retocou este
derradeiro traço da affronta--a sineta no corredor repicava para o
almoço. Emfim! Deus louvado! eis finda essa eterna _Torre de Ramires_!
Quatro mezes, quatro penosos mezes desde Junho, trabalhára na sombria
resurreição dos seus avós barbaros. Com uma grossa e carregada lettra,
traçou no fundo da tira *Finis*. E datou, com a hora, que era do
meio-dia e quatorze minutos.
Mas agora, abandonada a banca onde tanto labutára, não sentia o
contentamento esperado. Até esse supplicio do Bastardo lhe deixára uma
aversão por aquelle remoto mundo Affonsino, tão bestial, tão deshumano!
Se ao menos o consolasse a certeza de que reconstituira, com luminosa
verdade, o ser moral d'esses avós bravios... Mas que! bem receava que
sob desconcertadas armaduras, de pouca exactidão archeologica, apenas
s'esfumassem incertas almas de nenhuma realidade historica!... Até
duvidava que sanguesugas recobrissem, trepando d'um charco, o corpo d'um
homem, e o sugassem das côxas ás barbas, em quanto uma hoste mastiga a
ração!... Emfim, o Castanheiro louvára os primeiros Capitulos. A
Multidão ama, nas Novellas, os grandes furores, o sangue pingando: e em
breve os *Annaes* espalhariam, por todo o Portugal, a fama d'aquella
Casa illustre, que armára mesnadas, arrasára castellos, saqueára
comarcas por orgulho de pendão, e affrontára arrogantemente os Reis na
curia e nos campos de lide. O seu verão, pois, fôra fecundo. E para o
coroar, eis agora a Eleição, que o libertava das melancolias do seu
buraco rural...
Para não retardar as visitas ainda devidas aos Influentes, e tambem para
espairecer, logo depois d'almoco montou a cavallo--apezar do calor, que
desde a vespera, e n'aquelle meado d'outubro, esmagava a aldeia com o
refulgente peso d'uma canicula d'Agosto. Na volta da estrada, dos
Bravaes um homem gordo, de calça branca enxovalhada, que s'apressava,
bufando, sob o seu guarda-sol de panninho vermelho, deteve o Fidalgo com
uma cortezia immensa. Era o Godinho, amanuense da Administração. Levava
um officio urgente ao Regedor dos Bravaes, e agora corria á Torre de
mandado do Snr. Administrador...
Gonçalo recuou a egoa para a sombra d'uma carvalha:
--Então que temos, amigo Godinho?
O Snr. Administrador annunciava a S. Ex.^a que o maroto do Ernesto, o
valentão de Nacejas, em tratamento no Hospital d'Oliveira, melhorára
consideravelmente. Já lhe repegára a orelha, a bocca soldava... E, como
se procedeu á querella, o patife passava da enfermaria para a cadeia...
Gonçalo protestou logo, com uma palmada no selim:
--Não senhor! Faça o obsequio de dizer ao Snr. João Gouveia que não
quero que se prenda o homem! Foi atrevido, apanhou uma dóse tremenda,
estamos quites.
--Mas Snr. Gonçalo Mendes...
--Pelo amor de Deus, amigo Godinho! Não quero, e não quero... Explique
bem ao Snr. João Gouveia... Detesto vinganças. Não estão nos meus
habitos, nem nos habitos da minha familia. Nunca houve um Ramires que se
vingasse... Quero dizer, sim, houve, mas... Emfim explique bem ao Snr.
João Gouveia. De resto eu logo o encontro, na Assembleia... Bem basta ao
homem ficar desfeiado. Não consinto que o apoquentem mais!... Detesto
ferocidades.
--Mas...
--Esta é a minha decisão, Godinho.
--Lá darei o recado de V. Ex.^a
--Obrigado. E adeus!... Que calor, hein!
--De rachar, Snr. Gonçalo Mendes, de rachar!
Gonçalo seguiu, revoltado pela ideia de que o pobre valentão de Nacejas,
ainda moído, com a orelha mal soldada, baixasse á sordida enxovia de
Villa-Clara, para dormir sobre uma taboa. Pensou mesmo em galopar para
Villa-Clara, reter o zelo legal do João Gouveia. Mas perto, adeante do
lavadoiro, era a casa d'um Influente, o João Firmino, carpinteiro e seu
compadre. E para lá trotou, apeando ao portal do quinteiro. O compadre
Firmino largára cedo para a Arribada, onde trabalhava nas obras do lagar
do Snr. Esteves. E foi a comadre Firmina que correu da cosinha, obesa e
lusidia, com dous pequenos dependurados das saias e mais sujos que
esfregões. O Fidalgo beijou ternamente as duas faces ramelosas:
--E que rico cheiro a pão fresco, oh comadre! Foi a fornada, hein? Pois
então grande abraço ao Firmino. E que se não esqueça! A Eleição vem para
o outro Domingo. Lá conto com o voto d'elle. E olhe que não é pelo voto,
é pela amisade.
A comadre arreganhava os dentes magnificos n'um regalado e gordo
riso:--«Ai o Fidalgo podia ficar seguro! Que o Firmino já jurára, até ao
Snr. Regedor, que para o Fidalgo era todo o sitio a votar, e quem não
fosse a amor ia a pau.» O Fidalgo apertou a mão da comadre--que do
degrau do quinteiro, com os dous pequenos enrodilhados nas saias, e o
gordo riso mais embevecido, seguiu a poeira da egoa como o sulco d'um
Rei benefico.
E depois nas outras visitas, ao Cerejeira, ao Ventura da Chiche,
encontrou o mesmo fervor, os mesmos sorrisos luzindo de gosto. «O que!
para o Fidalgo! Isso tudo! E nem que fosse contra o Governo!»--Na tasca
do Manoel da Adega, um rancho de trabalhadores bebia, já ruidoso, com as
jaquetas atiradas para cima dos bancos: o Fidalgo bebeu com elles,
galhofando, gosando sinceramente a pinga verde e o barulho. O mais
velho, um avejão escuro, sem dentes, e a face mais engilhada que uma
ameixa secca, esmurrou com euthusiasmo o balcão:--«Isto, rapazes, é
fidalgo que, quando um pobre de Christo escalavra a perna, lhe empresta
a egoa, e vae elle ao lado mais d'uma legua a pé, como foi com o Sôlha!
Rapazes! isto é Fidalgo para a gente ter gosto!» As _saudes_ atroaram a
venda. E quando Gonçalo montou, todos o cercavam como vassallos
ardentes, que a um aceno correriam a votar,--ou a matar!
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