A Illustre Casa de Ramires - 14

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Cavalleiro--a começar immediatamente as suas visitas aos Influentes
eleitoraes, essas aduladoras visitas que assegurariam á Eleição uma
unanimidade arrogante. Logo ao fim do almoço, mesmo sobre a toalha,
arredando os pratos, copiou a lista d'esses Magnates--por um rascunho
annotado que lhe fornecera o João Gouveia. Era o Dr. Alexandrino; o
velho Gramilde, de Ramilde; o Padre José Vicente, da Finta; outros
menores:--e o Gouveia marcára com uma cruz, como o mais poderoso e mais
difficil, o Visconde de Rio-Manso, que dispunha da immensa freguezia de
Canta-Pedra. Gonçalo conhecia esses senhores, homens de propriedade e de
dinheiro (com todos outr'ora o papá andára endividado)--mas nunca
encontrára o Visconde de Rio-Manso, um velho brazileiro, dono da quinta
da _Varandinha_, onde vivia solitariamente com uma neta de onze annos,
essa linda Rosinha que chamavam «o botão de Rosa», a herdeira mais rica
de toda a Provincia. E logo n'essa tarde, em Villa-Clara, reclamou ao
João Gouveia uma carta d'apresentação para o Rio-Manso:
O Administrador hesitou:
--Vossê não precisa carta... Que diabo! Vossê é o Fidalgo da Torre!
Chega, entra, conversa... Além d'isso na Eleição passada o Rio-Manso
ajudou os Regeneradores; de modo que estamos um pouco sêccos. O
Rio-Manso é um casmurro... Mas com effeito, Gonçalinho, convem começar
essa caça á popularidade!
N'essa noite, na Assembleia, o Fidalgo, encetando a «caça á
popularidade», acceitou um convite do Commendador Romão Barros (do
massador, do burlesco Barros) para o brodio faustoso com que elle
celebrava, na sua quinta da _Roqueira_, a festa de S. Romão. E essa
semana inteira, depois outra, as gastou assim por Villa-Clara, amimando
eleitores--a ponto de comprar horrendas camisas de chita na loja do
Ramos, de encommendar um sacco de café na mercearia do Tello, de
offerecer o braço no largo do Chafariz á nojenta mulher do bebedissimo
Marques Rosendo, e de frequentar, de chapeu para a nuca, o bilhar da rua
das Pretas. João Gouveia não approvava estes excessos--aconselhando
antes «boas visitas, com todo o _chic_, aos influentes sérios.» Mas
Gonçalo bocejava, adiava, na insuperavel preguiça de affrontar a
maledicencia rabujenta do velho Gramilde ou a solemnidade forense do Dr.
Alexandrino.
Agosto findava:--e por vezes, na livraria, Gonçalo, coçando
desconsoladamente a cabeça, considerava as brancas tiras d'almaço, o
Capitulo III da _Torre de D. Ramires_ encalhado... Mas quê! não podia,
com aquelle calor, com o afan da Eleição, remergulhar nas eras
Affonsinas!
Quando refrescavam as tardes lentas montava, alongava o passeio pelas
freguezias, não se descuidando das recommendações do
Cavalleiro--enchendo sempre o bolso de rebuçados d'avenca para atirar ás
creanças. Mas, n'uma carta ao querido André, já confessára que «a sua
popularidade não crescia, não enfunava...»--«Não! positivamente, velho
amigo, não tenho o dom! Sei apenas palestrar familiarmente com os
homens, comprimentar pelo seu nome as velhas ás soleiras das portas,
gracejar com a pequenada, e se encontro uma boeirinha de saiasita rota
dar cinco tostões á boeirinha para uma saiasita nova... Ora todas estas
cousas tão naturaes sempre as fiz naturalmente, desde rapaz, sem que me
conquistassem influencia sensivel... Necessito portanto que essa querida
Authoridade m'empurre com o seu braço possante e destro...»
Todavia já uma tarde, encontrando junto da Torre o velho Cosme de
Nacejas, e depois, n'um domingo, crusando ás _Ave-Marias_ na Bica-Santa
o Adrião Pinto do logar da Levada, ambos lavradores considerados e
remexedores d'eleições--lhes pedira os votos, desprendidamente e rindo.
E quasi se assombrára da promptidão, do fervor, com que ambos se
offereceram.--«Para o Fidalgo? Pois isso está entendido! Ainda que se
votasse contra o Governo, que é pae!»--E em Villa-Clara, com o Gouveia,
Gonçalo deduzia d'estas offertas tão acaloradas «a intelligencia
politica da gente do campo»:
--Está claro que não é pelos meus lindos olhos! Mas sabem que eu sou
homem para fallar, para luctar pelos interesses da terra... O Sanches
Lucena não passava d'um Conselheiro muito rico e muito mudo! Esta gente
quer deputado que grite, que lide, que imponha... Votam por mim por que
sou uma intelligencia.
E o Gouveia volvia, contemplando pensativamente o Fidalgo:
--Homem! quem sabe? Vossê nunca experimentou, Gonçalo Mendes Ramires.
Talvez seja realmente pelos seus lindos olhos!
* * * * *
N'um d'esses passeios, n'uma abrazada sexta-feira, com o sol ainda alto,
Gonçalo atravessava o logarejo da Velleda, no caminho de Canta-Pedra. Ao
fim dos casebres que se apertam á orla da estrada alveja, muito caiada,
n'um terreiro defronte da Egreja, a taverna famosa "do Pintainho", onde
os caramanchões do quintal e a nomeada do coelho guizado attrahem vasto
povo nos dias da feira da Velleda. N'essa manhã o Titó, depois d'uma
madrugada ás perdizes, em Valverde, apparecera na Torre para almoçar,
urrando, d'esfomeado. Era sexta-feira--a Rosa preparára uma pescada com
tomates, depois um bacalhau assado, formidaveis. E Gonçalo, toda a tarde
torturado com sêde, mais resequido pela poeira da estrada, parou
avidamente deante do portão da venda, gritou pelo Pintainho.
--Oh meu Fidalgo!...
--Oh Pintainho! depressa! Uma sangria! Uma grande sangria bem fresca,
que morro...
O Pintainho, velhote roliço de cabello amarello, não tardou com o copo
appetitoso e fundo onde boiava, na espumasinha do assucar, uma rodella
de limão. E Gonçalo saboreava a sangria com ineffavel delicia--quando da
janella terrea da venda partiu um assobio lento, fino e trinado, como os
dos arrieiros que animam as bestas a beber nos riachos. Gonçalo deteve o
copo, varado. Á janella assomára um latagão airoso, de face clara e
suissas louras, que, com os punhos sobre o peitoril e a cabeça
levantada, n'um descarado modo de pimponice e desafio, o fitava
atrevidamente. E n'um lampejo o Fidalgo reconheceu aquelle caçador que
já uma tarde, no logar de Nacejas, ao pé da Fabrica de vidros, o mirára
com arrogancia, lhe raspára a espingarda pela perna, e ainda depois,
parado sob a varanda d'uma rapariga de jaqué azul, lhe acenára
chasqueando emquanto elle descia a ladeira... Era esse! Como se não
percebesse o ultraje--Gonçalo bebeu apressadamente a sangria, atirou uma
placa ao pobre Pintainho enfiado, e picou a fina egoa. Mas então da
janella rolou uma risadinha, cacarejada e troçante, que o colheu pelas
costas como o estalo d'uma vergasta. Gonçalo soltou a galope. E adiante,
sopeando a egoa no refugio d'uma azinhaga, pensava, ainda
tremulo:--«Quem será o desavergonhado?... E que lhe fiz eu, Santo Deus?
que lhe fiz eu?...» Ao mesmo tempo todo o seu ser se desesperava contra
aquelle desgraçado _mêdo_, encolhimento da carne, arrepio da pelle, que
sempre, ante um perigo, uma ameaça, um vulto surdindo d'uma sombra, o
estonteava, o impellia furiosamente a abalar, a escapar! Por que á sua
alma, Deus louvado, não faltava arrojo! Mas era o corpo, o traiçoeiro
corpo, que n'um arrepio, n'um espanto, fugia, se safava, arrastando a
alma--emquanto dentro a alma bravejava!
Entrou na Torre, mortificado, invejando a afouteza dos seus moços da
quinta, remoendo um rancor soturno contra aquelle bruto de suissas
louras, que certamente denunciaria ao Cavalleiro e enterraria n'uma
enxovia!--Mas, logo no corredor, o Bento lhe debandou os pensamentos,
apparecendo com uma carta «que trouxera um moço da _Feitosa_...»
--Da _Feitosa_?
--Sim senhor, da quinta do snr. Sanches Lucena, que Deus haja. Diz que
vinha de mandado das senhoras...
--Das senhoras!... Que senhoras?
Sem tarja de luto, a carta não era da bella D. Anna... Mas era de D.
Maria Mendonça, que assignava--«prima muito amiga, Maria Severim.» N'um
relance a leu, colhido logo por esta surpreza nova, distrahido da venda
do Pintainho e da affronta:--«Meu querido Primo. Estou ha tres dias aqui
com a minha amiga Annica, e como passou o mez inteiro do nojo e ella já
póde sahir (e até precisa porque tem andado fraca) eu aproveito a
occasião para percorrer estes arredores que dizem tão bonitos, e pouco
conheço. Tencionamos no Domingo visitar Santa Maria de Craquêde, onde
estão os tumulos dos antigos tios Ramires. Que impressão me vae
fazer!... Mas, ao que parece, além dos tumulos do claustro, ha outros,
ainda mais antigos, que foram arrombados no tempo dos Francezes, e que
ficam n'um subterraneo, onde se não póde entrar sem licença e sem que
tragam a chave. Peço pois, querido Primo, que dê as suas ordens para que
no Domingo possamos descer ao subterraneo, que todos affiançam muito
interessante, por que ainda lá restam ossos e armas. Se na Torre
houvesse uma senhora, eu mesma iria, para lhe fazer este pedido... Mas
não se póde visitar um solteirão tão perigoso. Case depressa!...
D'Oliveira boas noticias. Creia-me sempre, etc.»
Gonçalo encarou o Bento--que esperava, interessado com aquelle assombro
do Snr. Doutor:
--Tu sabes se em Santa Maria de Craquêde ha outros tumulos, n'um
subterraneo?
O assombro então saltou para o Bento:
--N'um subterraneo?... Tumulos?
--Sim, homem! Além dos que estão no claustro parece que ha outros, mais
antigos, debaixo da terra... Eu nunca vi, não me lembro. Tambem ha que
annos não entro em Santa Maria de Craquêde! Desde pequeno!... Tu não
sabes?
O Bento encolheu os hombros.
--E a Rosa não saberá?
O Bento abanou a cabeça, duvidando.
--Tambem vossês nunca sabem nada! Bem! Amanhã cêdo corre a Santa Maria
de Craquêde e pergunta na Egreja, ao sachristão, se existe esse
subterraneo. Se existir que o mostre no Domingo a umas senhoras, á
snr.^a D. Anna Lucena, e á snr.^a D. Maria Mendonça, minha prima
Maria... E que tenha tudo varrido, tudo decente!
Mas, repassando a carta, reparou n'um _Post-Scriptum_ em lettra mais
miudinha, ao canto da folha:--«No Domingo, não se esqueça, a visita será
_entre as cinco e cinco e meia da tarde_!»
Gonçalo pensou:--«Será uma entrevista?» E na livraria, atirando para uma
cadeira o chapeu e o chicote, assentou que era uma entrevista, bem
clara, bem marcada! E talvez nem existisse esse subterraneo--e Maria
Mendonça, com a sua tortuosa esperteza, o inventasse, como natural
motivo de lhe escrever, de lhe annunciar que no Domingo, ás cinco e
meia, a bella D. Anna e os seus duzentos contos o esperavam em Santa
Maria de Craquêde. Mas então a prima Maria não gracejára, em Oliveira?
Gostava d'elle, realmente, essa D. Anna?... E uma emoção, uma
curiosidade voluptuosa atravessaram Gonçalo á idéa de que tão formosa
mulher o desejava.--Ah! mas certamente o desejava para marido, por que
se o appetecesse para amante não se soccorria dos serviços da D. Maria
Mendonça--nem a prima Maria, apesar de tão sabuja com as amigas ricas,
os prestaria assim descaradamente como uma alcoviteira de Comedia! E
caramba! casar com a D. Anna--não!
E subitamente anciou por conhecer a vida da D. Anna! Aturára ella tantos
annos, em severa fidelidade, o velho Sanches? Sim, talvez, na _Feitosa_,
na solidão dos grandes muros da _Feitosa_--por que nunca sobre ella
esvoaçára um rumor, em terriolas tão gulosas de rumores malignos. Mas em
Lisboa?... Esses «amigos estimabilissimos» de que se ufanava o pobre
Sanches, o D. João não sei quê, o pomposo Arronches Manrique, o Philippe
Lourençal com o seu cornetim?... Algum de certo a attacára--talvez o D.
João, por dever tradicional do nome. E ella?... Quem o informaria sobre
a historia sentimental da D. Anna?
Depois, ao jantar, de repente pensou no Gouveia. Uma irmã do Gouveia,
casada em Lisboa com certo Cerqueira (arranjador de Magicas e empregado
na Misericordia) costumava mandar ao mano Administrador relatorios
intimos sobre todas as pessoas conhecidas d'Oliveira, de Villa-Clara,
que se demoravam em Lisboa--e que interessavam o mano ou por Politica,
ou por mexeriquice. E de certo, pela irmã Cerqueira, o querido Gouveia
conhecia miudamente os annaes da D. Anna, durante os seus invernos de
Lisboa, nas delicias da sua «roda fina».
N'essa noite, porém, o Administrador não apparecera na Assembleia. E
Gonçalo, desconsolado, recolhia á Torre--quando no Largo do Chafariz o
encontrou com o Videirinha, ambos sentados n'um banco, sob as olaias
escuras.
--Chegou lindamente! exclamou o Gouveia. Estavamos mesmo a marchar para
minha casa, tomar chá. Quer vossê, tambem?... Vossê costuma gostar das
minhas torradinhas.
O Fidalgo acceitou--apezar de cançado. E logo pela Calçadinha, enlaçando
o braço do Administrador, contou que recebera uma carta de Lisboa, d'um
amigo, com uma nova estupenda... O que?--O casamento da D. Anna Lucena.
O Gouveia parou, assombrado, atirando o côco para a nuca:
--Com quem?!
Gonçalo que inventára a carta--inventou o noivo:
--Com um vago parente meu, ao que parece, um D. João Pedroso ou da
Pedrosa. Muitas vezes o Sanches Lucena me fallou n'elle... Conviviam
muito em Lisboa...
Gouveia bateu com a ponta da bengala nas pedras:
--Não póde ser!... Que disparate! A D. Anna não ajustava casamento sete
semanas depois de lhe morrer o marido... Olhe que o Lucena morreu no
meado de Julho, homem! Ainda nem teve tempo de se acostumar á sepultura!
--Sim, com effeito! murmurou Gonçalo.
E sorria, sob uma doce baforada de vaidade--pensando que, sete semanas
depois de viuva, ella, sem resistir, calcando decencia e luto, lhe
offerecia a elle uma entrevista nas ruinas de Craquêde.
A mentira de resto, apesar de disparatada, aproveitára--porque, depois
de subirem á saleta verde do Administrador, o espanto recomeçou.
Videirinha esfregava as mãos, divertido:
--Oh snr. Dr., olhe que tinha graça!... Se a snr.^a D. Anna, depois
d'apanhar os duzentos contos do velhote, logo passadas semanas, zás, se
engancha com um rapazote novo...
Não, não!... Gonçalo agora, reparando, tambem considerava despropositada
a noticia do casamento, assim com o pobre Sanches ainda môrno...
--Naturalmente entre ella e esse D. João havia namorico, olhadella...
Por isso imaginaram. Com effeito, alguem me contou, ha tempos, que o tal
D. João se atirava valentemente, como cumpre a um D. João, e que ella...
--Mentira! atalhou o Administrador, debruçado sobre a chaminé do
candieiro para accender o cigarro. Mentira! Sei perfeitamente, e por
excellente canal... Em fim, sei por minha irmã! Nunca, em Lisboa, a D.
Anna deu azo a que se rosnasse. Muito séria, muitissimo séria. Está
claro, não faltou por lá maganão que lhe arrastasse a aza languida...
Talvez esse D. João, ou outro amigo do marido, segundo a boa lei
natural. Mas ella, nada! Nem ôlho de lado! Esposa romana, meu amigo, e
dos bons tempos romanos!
Gonçalo, enterrado no camapé, torcia lentamente o bigode, regalado,
recolhendo as revelações. E o Gouveia, no meio da sala, com um gesto
convencido e superior:
--Nem admira! Estas mulheres muito formosas são insensiveis. Bellos
marmores, mas frios marmores... Não, Gonçalinho, lá para o sentimento, e
para a alma, e mesmo para o resto, venham as mulheres pequeninas,
magrinhas, escurinhas! Essas sim!... Mas os grandes mulherões brancos,
do genero Venus, só para vista, só para museo.
Videirinha arriscou uma duvida:
--Uma senhora tão bonita como a snr.^a D. Anna, e com aquelle sangue,
assim casada com um velhote...
--Ha mulheres que gostam de velhotes por que ellas mesmas teem
sentimentos velhotes!--declarou o Gouveia, de dedo erguido, com immensa
auctoridade e immensa philosophia.
Mas a curiosidade de Gonçalo não se contentava. E na _Feitosa_? Nunca se
rosnára d'alguma aventura escondida? Parece que com o Dr. Julio...
De novo o Fidalgo inventava. De novo Gouveia, repelliu a «mentira»:
--Nem na _Feitosa_, nem em Oliveira, nem em Lisboa... De resto, é o que
lhe digo, Gonçalo Mendes. Mulher de marmore!
Depois, saudando, em submissa admiração:
--Mas, como marmore... Vossês, meninos, não imaginam a belleza d'aquella
mulher decotada!
Gonçalo pasmou:
--E onde a viu vossê decotada?
--Onde a vi decotada? Em Lisboa, n'um baile do Paço... Até foi
justamente o Lucena que me arranjou o convite para o Paço. Lá me
espanejei, de calção... Uma semsaboria. E mesmo uma vergonha, toda
aquella turba acavallada por cima dos buffetes, aos berros, a agarrar
furiosamente pedaços de perú...
--Mas então, a D. Anna?
--Pois a D. Anna uma belleza! Vossês não imaginam!... Santo nome de
Deus! que hombros! que braços! que peito! E a brancura, a perfeição...
De endoidecer! Ao principio, como havia muita gente, e ella estava para
um canto, acanhadota, não fez sensação. Mas depois lá a descobriram. E
eram correrias, magotes embasbacados... E «quem será?» E «que encanto!»
Todo o mundo perdidinho, até o Rei!
E um momento os tres homens emmudeceram na impressão do formoso corpo
evocado, que entre elles surgia, quasi despido, inundando com o
explendor da sua brancura a modesta sala mal alumiada. Por fim
Videirinha acercou a cadeira, em confidencia, para fornecer tambem a sua
informação:
--Pois, por mim, o que posso affirmar é que a snr.^a D. Anna é uma
mulher muito aceada, muito lavada...
E como os outros s'espantavam, rindo, de uma certeza tão
intima--Videirinha contou que todas as semanas apparecia um moço da
_Feitosa_, na botica do Pires, a comprar tres e quatro garrafas de agua
de Colonia portugueza, da receita do Pires.
--Até o Pires dizia sempre, a esfregar as mãos, que na Feitosa regavam
as terras com agua de Colonia. Depois é que soubemos pela creada... A
snr.^a D. Anna toma todos os dias um grande banho, que não é só para
lavar, mas para prazer. Fica uma hora dentro da tina. Até lê o jornal
dentro da tina. E em cada banho, zás, meia garrafa d'agua de Colonia...
Já é luxo!
Então Gonçalo sentiu como um aborrecimento de todas aquellas revelações
do Administrador, do ajudante da Pharmacia, sobre os decotes e as
lavagens da linda mulher que o esperava entre os tumulos dos Ramires
seculares. Saccudiu o jornal com que se abanava, exclamou:
--Bem! E passando a cantiga mais séria... Oh Gouveia, vossê que tem
sabido do Dr. Julio? O homem trabalha na eleição?
A creada entrára com a bandeja do chá. E em torno da mesa, trincando as
torradas famosas, conversaram sobre a Eleição, sobre os informes dos
Regedores, sobre a reserva do Rio-Manso--e sobre o Dr. Julio, que
Videirinha encontrára nos Bravaes pedinchando votos pelas portas,
acompanhado por um môço com a machina photographica ás costas.
Depois do chá Gonçalo, cançado e já provido «de revelações», accendeu o
charuto para recolher á Torre.
--Vossê não acompanha, Videirinha?
--Hoje, Snr. Dr., não posso. Parto de madrugada para Oliveira, na
diligencia.
--Que diabo vae vossê fazer a Oliveira?
--Por causa d'uns sapatos de praia e d'um fato de banho lá da minha
patrôa, da D. Josepha Pires... Tenho de os trocar nos Emilios, levar as
medidas.
Gonçalo ergueu os braços, desolado:
--Ora vejam este paiz! Um grande artista, como o Videirinha, a carregar
para Oliveira com os sapatos de banho da patrôa Pires!... Oh Gouveia!
quando eu fôr deputado precisamos arranjar um bom logar para o
Videirinha, no Governo Civil. Um logar facil e com vagares, para elle
não esquecer o violão!
Videirinha córou de gôsto e de esperança--correndo a despendurar do
cabide o chapéo do Fidalgo.
Pela estrada da Torre, os pensamentos de Gonçalo esvoaçaram logo, com
irresistida tentação, para D. Anna--para os seus decotes, para os
languidos banhos em que se esquecia lendo o jornal. Por fim, que
diabo!... Essa D. Anna assim tão honesta, tão perfumada, tão
explendidamente bella, só apresentava, mesmo como esposa, um feio
_senão_--o papá carniceiro. E a voz tambem--a voz que tanto o arripiára
na Bica-Santa... Mas o Mendonça assegurava que aquelle timbre rolante e
gordo, na intimidade, se abatia, liso e quasi doce... Depois, mezes de
convivencia habituam ás vozes mais desagradaveis--e elle mesmo, agora,
nem percebia quanto o Manoel Duarte era fanhoso! Não! mancha teimosa,
realmente, só o pae carniceiro. Mas n'esta Humanidade nascida toda d'um
só homem, quem, entre os seus milhares d'avós até Adão, não tem algum
avô carniceiro? Elle, bom fidalgo, d'uma casa de Reis d'onde Dynastias
irradiavam, certamente, escarafunchando o Passado, toparia com o Ramires
carniceiro. E que o carniceiro avultasse logo na primeira geração, n'um
talho ainda afreguezado, ou que apenas s'esfumasse, atravez d'espessos
seculos, entre os trigesimos avós--lá estava, com a faca, e o cepo, e as
postas de carne, e as nodoas de sangue no braço suado!...
E este pensamento não o abandonou até á Torre--nem ainda depois, á
janella do quarto, acabando o charuto, escutando o cantar dos ralos. Já
mesmo se deitára, e as pestanas lhe adormeciam, e ainda sentia que os
seus passos impacientes se embrenhavam para traz, para o escuro passado
da sua Casa, por entre a emmaranhada Historia, procurando o
carniceiro... Era já para além dos confins do Imperio Visigodo, onde
reinava com um globo d'ouro na mão o seu barbudo avô Recesvinto.
Esfalfado, arquejando, transpozera as cidades cultas, povoadas de homens
cultos--penetrára nas florestas que o mastodonte ainda sulcava. Entre a
humida espessura já crusára vagos Ramires, que carregavam, grunhindo,
rezes mortas, molhos de lenha. Outros surdiam de tocas fumarentas,
arreganhando agudos dentes esverdeados para sorrir ao neto que passava.
Depois por tristes ermos, sob tristes silencios, chegára a uma lagôa
ennevoada. E á beira da agoa limosa, entre os canaviaes, um homem
monstruoso, pelludo como uma féra, agachado no lodo, partia a rijos
golpes, com um machado de pedra, postas de carne humana. Era um Ramires.
No ceu cinzento voava o Açor negro. E logo, d'entre a neblina da lagôa,
elle acenava para Santa Maria de Craquêde, para a formosa e perfumada D.
Anna, bradando por cima dos Imperios e dos Tempos:--«Achei o meu avô
carniceiro!»
* * * * *
No Domingo, Gonçalo acordou com uma «esperta ideia!» Não correria a
Santa Maria de Craquêde com uma pontualidade sofrega, ás cinco horas (as
cinco horas marcadas no _Post-Scriptum_ da prima Maria)--mostrando o seu
alvoroço em encontrar a tão bella e tão rica D. Anna Lucena! Mas ás seis
horas, quando findasse a romaria das senhoras aos tumulos, appareceria
elle indolentemente, como se, recolhendo d'um passeio pelas frescas
cercanias, se recordasse, parasse nas ruinas para conversar com a prima
Maria.
Logo ás quatro horas porém se começou a vestir com tantos esmeros, que o
Bento, cançado das gravatas que o Snr. Dr. experimentava e arremessava
amarfanhadas para o divan, não se conteve:
--Ponha a de sedinha branca, Snr. Dr.! Ponha a branca, que lhe fica
melhor! E refresca mais, com este calor.
Na escolha d'um ramo para o casaco ainda requintou, juntando as côres
heraldicas dos Ramires, um cravo amarello com um cravo branco. Ao
portão, apenas montára na egoa, temeu que as senhoras (não o encontrando
no Claustro) encurtassem a visita, estugou o trote pelo atalho da
Portella. Depois adiante, ao desembocar na antiga estrada real, soltou
n'um galope impaciente que o branqueou de poeira.
Só retomou um passo indifferente, ao acercar da linha do Caminho de
Ferro, onde um carro de lenha e dois homens esperavam deante da
cancella, que se fechára para a lenta passagem d'um trem carregado de
pipas. Um d'esses homens, d'alforge aos hombros, era o Mendigo--o
vistoso Mendigo que passeava por aquellas aldeias a rendosa magestade
das suas barbaças de Deus fluvial. Erguendo gravemente o chapéo de
vastas abas, desejou ao Fidalgo a companhia de Nosso Senhor.
--Então hoje a ganhar a rica vida por Craquêde?...
--Cá me arrasto ás vezes para a passagem do comboio d'Oliveira, meu
Fidalgo. Os passageiros gostam de me vêr de pé no talude, correm sempre
ás janellas...
Gonçalo, rindo, recordou que o encontro d'aquelle ancião precedia sempre
um encontro seu com a bella D. Anna.--«Quem sabe? pensou. É talvez o
Destino! Os antigos pintavam assim o Destino, com longas barbas e longas
guedelhas, e o alforge ás costas contendo as sortes humanas...»--E com
effeito ao cabo do pinheiral silencioso, que estiradas resteas de sol
docemente douravam--avistou a caleche da _Feitosa_, parada sob uma
carvalha, com o cocheiro fardado de negro dormitando na almofada. A
estrada real de Oliveira costeia ahi o antigo adro do mosteiro de
Craquêde, queimado pelo fogo do céo, n'aquella irada tempestade que
chamam _de S. Sebastião_, e que aterrou Portugal em 1616. Uma herva
agora alfombra o chão, crescida e verde, entre os poderosos troncos dos
castanheiros velhissimos. A Egrejinha nova alveja, bem caiada, ao fundo
da ramaria: e, ligada a ella por um muro esbrechado que densa hera
veste, tomando todo o lado nascente do Terreiro--sobe, enche ainda
magnificamente o céo lustroso, a fachada da Egreja do vetusto Mosteiro,
suavemente amarellecida e brunida pelos tempos, com o seu immenso portal
sem portas, a rosacea desmantelada, e esvasiados os nichos
d'enterramento onde outr'ora se estiraçavam as imagens dos fundadores,
Froylas Ramires e sua mulher Estevaninha, condessa d'Orgaz, por alcunha
a _Queixa-perra_. Duas casas terreas povoam o lado fronteiro do
adro--uma limpa, com as hombreiras das janellas pintadas d'azul
estridente, a outra deserta, quasi sem telhado, afogada na verdura d'um
quinteiro bravo onde gira-soes resplandecem. Um pensativo silencio
envolvia o arvoredo, as altivas ruinas. E nem o quebrava, antes
serenamente o emballava, o susurro d'uma fonte, que a estiagem
adelgaçára em fio lento, e mal enchia o seu tanque de pedra, toldado
pela pallida e rala folhagem d'um chorão muito alto.
O trintanario da _Feitosa_, ao enxergar o Fidalgo, saltou risonhamente
da borda do tanque onde picava tabaco, para segurar a egoa. E Gonçalo,
que desde pequeno não penetrava nas ruinas de Craquêde, seguia por um
carreirinho cortado na relva, attentamente, encantado com aquella
romantica solidão de lenda e verso, quando, sob o arco do portal,
appareceram as duas senhoras voltando do velho Claustro. D. Maria
Mendonça, com a sua sacudida vivacidade, agitou logo o guarda-sol de
xadrezinho, semelhante ao vestido, cujas mangas, tufando desmedidamente
nos hombros, lhe vincavam mais a elegancia esgalgada. E ao lado, na
claridade, D. Anna era uma silenciosa e esvelta fórma negra, de lã negra
e d'escumilha negra, onde apenas transparecia, suavisada sob o véo
negro, a brancura explendida da sua face sensual e séria.
Gonçalo correra, erguendo o chapéo de palha, balbuciando o seu «prazer
por aquelle encontro...» Mas já D. Maria o reprehendia, sem lhe
consentir a fabula do «encontro»:
--O primo não é nada amavel, nada amavel...
--Oh prima!...
--Pois sabia que vinhamos, pela minha carta! E nem está á hora aprazada,
para fazer as honras, como devia...
Elle, rindo, com o seu desembaraço airoso, negou esse dever! Aquella
casa não era sua, mas do Bom Deus! Ao Bom Deus competia «fazer as
honras»--acolher tão doces romeiras com algum milagre amavel...
--E então, gostaram? V. Ex.^a, Snr.^a D. Anna, gostou das ruinas?...
Muito interessantes, não é verdade?
Através do véo, com uma lentidão que a espessa renda negra tornava mais
grave, ella murmurou:
--Eu já conhecia... Vim cá uma tarde, com o pobre Sanches que Deus haja.
--Ah...
Áquella evocação do pobre morto, Gonçalo sumira todo o sorriso, com
polida tristeza. Mas D. Maria Mendonça acudio, atirando um dos seus
magros gestos, como para arredar a sombra importuna:
--Ai! não imagina o que gostei, primo! É d'appetite todo o claustro...
Logo aquella espada enferrujada, chumbada por cima do tumulo... Não ha
nada que impressione como estas cousas antigas... Oh primo, e pensar que
estão alli antepassados nossos!
O sorriso de Gonçalo de novo lampejou, alegre e acolhedor, como sempre
que D. Maria se empurrava com desesperada gula para dentro da Casa de
Ramires. E gracejou, affavelmente. Oh, antepassados... Simples punhados
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