A Illustre Casa de Ramires - 12

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corredor, com as patadas bem marchadas do Gouveia, e o _Fado_ recomeçou,
mais meigo, mais glorificador:
--Velha casa de Ramires,
Honra e flor de Portugal!


VI

A casa do Cavalleiro em Corinde era uma edificação dos fins do seculo
XVIII, sem elegancia e sem arte, pintada d'amarello, lisa e vasta, com
quatorze janellas de frente, quasi ao meio d'uma quinta chã, toda de
terras lavradas. Mas uma avenida de castanheiros conduzia, com alinhada
nobreza, ao pateo da frente, ornado por dois tanques de marmore. Os
jardins conservavam a abundancia esplendida de rosas que os tornára
famosos--e lhes merecera em tempos do avô de André, o Desembargador
Martinho, uma visita da Snr.^a D. Maria II. E dentro todas as salas
reluziam d'asseio e ordem, pelos cuidados da velha governanta, uma
parenta pobre do Cavalleiro, a Snr.^a D. Jesuina Rollim.
Quando Gonçalo, que viera da Torre na egoa, atravessou a ante-sala,
ainda reconheceu um dos paineis da parede, fumarento combate de galiões,
que elle uma tarde rasgára jogando o espadão com André. Sob esse painel,
á borda do canapé de palhinha, esperava melancolicamente um amanuense do
Governo Civil, com a sua pasta vermelha sobre os joelhos. E d'uma porta
remota, ao fundo do corredor, André, avisado pelo creado, o fiel
Matheus, gritou alegremente:
--Oh Gonçalo, entra para cá, para o quarto! Sahi da tina... Ainda estou
em ceroulas!
E em ceroulas o abraçou, n'um generoso abraço de parabens. Depois, em
quanto se vestia, por entre as cadeiras atravancadas com o recheio das
malas--gravatas, peugas de sêda, garrafas de perfumes--conversaram do
calor, da jornada enfadonha, de Lisboa despovoada...
--Um horror! exclamava o Cavalleiro aquecendo um ferro de frisar á
lampada d'alcool. Todas as ruas da Baixa em obras, cobertas de caliça,
de poeirada. O Central enfestado de mosquitos. Muito mulato. Uma Tunis,
Lisboa!... Mas emfim, lá combatemos bravamente o bom combate!
Gonçalo sorria, do canto do divan onde se accommodára, entre uma pilha
de camisas de côr e outra de ceroulas com monogramma flammante:
--E então, Andrésinho, tudo arranjado, hein?
O Cavalleiro, deante do toucador, frisava com enlevado esmero as pontas
grossas do bigode. E só depois de o ensopar em brilhantina, d'acamar as
ondas da cabelleira rebelde, de se mirar, de se requebrar, assegurou a
Gonçalo, já inquieto, que a eleição ficára solida...
--Mas imagina tu! Quando appareci em Lisboa, no Ministerio do Reino,
encontrei o circulo promettido ao Pitta, ao Theotonio Pitta, o grande
homem da _Verdade_...
O Fidalgo pulou, despenhando a ruma de camisas:
--E então?...
E então elle mostrára muito asperamente ao José Ernesto a inconveniencia
de dispôr do Circulo como d'um charuto, sem o consultar, a elle,
Governador Civil--e dono do circulo... E como o José Ernesto se
arrebitava, alludia á conveniencia superior do Governo, elle logo,
estendendo o dedo firme:--«Pois Zésinho, flôr, ou trago o Ramires por
Villa-Clara, ou me demitto, e arde Troia!...» Espantos, escarceus,
berreiros--mas o José Ernesto cedêra, e tudo findou jantando ambos em
Algés com o tio Reis Gomes, onde á noite, ao «bluff», as senhoras lhe
arrancaram quatorze mil reis.
--Em resumo, Gonçalinho, precisamos conservar os olhos attentos. O José
Ernesto é rapaz leal, meu velho amigo. E depois conhece o meu genio...
Mas ha os compromissos, as pressões... E agora a novidade pittoresca.
Sabes quem se propõe contra ti, pelos Regeneradores?... Adivinha... O
Julinho!
--Que Julinho?... O Julio das photographias?
--O Julio das photographias.
--Diabo!
O Cavalleiro encolheu os hombros, com piedade:
--Arranja dez votos á porta da quinta, tira o retrato a todos os
taverneiros do circulo em mangas de camisa, e continua a ser o
Julinho... Não! só Lisboa me inquieta, a canalha politica de Lisboa!
Gonçalo torcia o bigode, desconsolado:
--Imaginei tudo mais solido, mais inabalavel... Assim com todas essas
intrigas, ainda surde trapalhada... Ainda lá não vou!
O Cavalleiro, ao espelho, esticava o fraque--que experimentára abotoado,
depois repuxadamente aberto sobre o collete de fustão côr de azeitona
onde, no trespasse largo, tufava a gravata de sedinha clara, prendida
por uma saphira. Por fim, encharcando o lenço com essencia de fêno:
--Nós estamos bem alliados, bem consagrados, não é verdade? Então, meu
caro Gonçalo, socega, e almocemos regaladamente!... Creio que este
fraque do nosso Amieiro assenta com certa graça, hein?
--Magnifico! affirmou Gonçalo.
--Bem. Então agora descemos ao jardim, para tu reveres os velhos poisos
e te florires com uma rosa de Corinde.
E logo no corredor, ornado de jarrões da India, de arcas de charão,
enlaçando o braço de Gonçalo, do seu recuperado Gonçalo:
--Pois, meu filho, aqui pisamos ambos de novo os nobres soalhos de
Corinde, como ha cinco annos... E nada mudou, nem um creado, nem uma
cortina! Agora, um d'estes dias, preciso visitar a Torre.
Gonçalo accudiu ingenuamente:
--Oh! a Torre está muito mudada... Muito mudada!
E um embaraçado silencio pesou--como se entre elles surgisse a imagem
entristecida da antiga quinta, no tempo dos amores e das esperanças,
quando André e Gracinha procuravam as ultimas violetas d'Abril, sob o
sorriso tutelar de Miss Rhodes, rente aos humidos muros da Mãe d'Agoa.
Ainda em silencio desceram a escada de caracol--por onde ambos outr'ora
se despenhavam cavalgando o corrimão. E em baixo, n'uma sala abobadada,
rodeada de bancos de madeira com as armas dos Cavalleiros nas espaldas,
André quedou deante da porta envidraçada do jardim, ondeou um gesto
desconsolado e languido:
--Eu tambem, agora, pouco appareço em Corinde. E, comprehendes bem que
não me reteem em Oliveira os cuidados da Administração... Mas este
casarão arrefeceu, alargou, desde a morte da mamã. Ando aqui como
perdido. E acredita, quando cá me demoro, são uns passeios tristonhos
por esses jardins, pela Rua Grande... Ainda te lembras da Rua Grande?...
Vou envelhecendo muito solitariamente, meu Gonçalo!
Gonçalo murmurou, por concordancia, sympathia renovada:
--Eu tambem m'aborreço na Torre...
--Mas tens outro genio!... E eu realmente sou um elegiaco.
Correu, com um esforço, o fecho perro da porta envidraçada. E limpando
os dedos ao lenço perfumado:
--Eu creio que Corinde, agora, só me encantava com grandes cerros
escalvados, grandes rochedos agrestes... Ás vezes, cá dentro d'alma,
necessito o ermo de S. Bruno...
Gonçalo sorria d'aquelle appetite ascetico, murmurado com preciosidade,
atravez da bigodeira torcida a ferro, resplandecente de brilhantina. E
no terraço, junto á balaustrada de pedra enramada d'hera, galhofou,
louvando o areado alinho, o relusente viço do jardim:
--Com effeito, para um discipulo de S. Bruno, que escandalo, todo este
asseio! Mas para um peccador como eu, que delicia!... O jardim da Torre
anda um chavascal.
--A prima Jesuina gosta de flôres. Tu não conheces a prima Jesuina? Uma
velha parenta da mamã, que governa agora a casa. Coitada! e com um
escrupulo, com um amor... Se não fosse a santa creatura, os porcos
fossavam nos canteiros... Meu filho, onde não ha saia, não ha ordem!
Desceram a escadaria redonda, por entre os vasos de louça azul que
trasbordavam de geranios, de secias, de canas da India. Gonçalo recordou
a vespera de S. João em que rolára por aquelles degraus, n'um trambulhão
tremendo, com os braços carregados de foguetes. E lentamente, atravez do
jardim, evocavam memorias da camaradagem antiga. Lá se conservava o
trapezio, dos tempos em que ambos cultivavam a religião heroica da
força, da gymnastica, do banho frio... N'aquelle banco, sob a magnolia,
lera uma tarde André o primeiro canto do seu Poema, o _Fronteiro
d'Arzilla_. E o alvo? O alvo onde se exerciam á pistola, para os futuros
duellos, inevitaveis na campanha que ambos meditavam contra o velho
Syndicato Constitucional?...--Oh! toda essa parte do muro, que pegava
com o lavadoiro, fôra derrubada depois da morte da mamã, para alargar a
estufa...
--De resto o alvo era inutil! accrescentou o Cavalleiro. Eu logo por
esse tempo entrei tambem no Syndicato... E agora entras tu, pela porta
que eu te abro!
Então Gonçalo, que colhêra e esmagava entre os dedos, para lhe sorver o
perfume, folhas de lucia-lima--acudiu com uma franqueza, que aquelle
desenterrar de recordações tornava mais penetrante e sentida:
--E eu desejo entrar, e ardentemente, bem sabes. Mas tu afianças a
eleição, com segurança? Não surgirá difficuldade, Andrésinho?... Esse
Pitta é um habil!
O Cavalleiro murmurou apenas, mergulhando os dedos nas cavas do collete:
--Da habilidade dos Pittas se ri a força dos Cavalleiros...
Por trez degraus de tijolo baixaram ao outro jardim, desafogado de
arvoredo e sombra, onde desabrochava desde Maio, com explendor, o tão
celebrado bosque de roseiras, orgulho da quinta de Corinde, que
deleitára uma Rainha. Aquelle facil desdem pelo Pitta confirmava a
segurança da Eleição. Gonçalo, caminhando respeitosamente como n'um
Museu, regou de louvores deslumbrados as rosas do Cavalleiro:
--Uma belleza, André, uma maravilha! Tens aqui rosas sublimes...
Aquellas repolhudas, além, que luxo! E estas amarellas? deliciosas!...
Olha este encanto! o ruborsinho a surdir, a raiar, do fundo das petalas
brancas... Oh, que escarlate! Oh, que divino escarlate!
O Cavalleiro cruzára os braços, com gracejadora melancolia:
--Pois vê tu! Tal é a minha solidão social e sentimental que, com todas
estas rosas abertas, não tenho a quem mandar um ramo!... Estou reduzido
a florir as Louzadas!
Um escarlate, mais vivo do que as rosas que gabava, cobriu as faces do
Fidalgo:
--As Louzadas! Oh que desavergonhadas!
André atirou ao seu amigo os lustrosos olhos, n'um inquieto reparo de
curiosidade:
--Por quê?... Desavergonhadas, por quê?
--Por quê? Por que o são! Pela sua natureza, e pela vontade de Deus!...
São desavergonhadas como estas rosas são vermelhas.
E o Cavalleiro, tranquillisado:
--Ah, genericamente... Com effeito têm immensa peçonha. Por isso eu as
cubro de rosas. E em Oliveira, todas as semanas, meu filho, tomo com
ellas um chá respeitoso!
--Pois não as amansas, rosnou o Fidalgo.
Mas o Matheus apparecêra nos degraus de tijolo com o guardanapo na mão,
a calva rebrilhando ao sol. Era o almoço. O Cavalleiro colheu para
Gonçalo uma «rosa triumphal»--e para si um «botão innocente...» E,
enflorados, subiam para o terraço entre o brilho e o perfume de outras
roseiras--quando o Cavalleiro parou com uma ideia:
--A que horas vaes tu para Oliveira, Gonçalinho?
O Fidalgo hesitou. Para Oliveira?... Não tencionava apparecer em
Oliveira, toda essa semana...
--Por quê? É urgente que vá a Oliveira?
--Pois certamente, filho! Ámanhã mesmo precisamos conversar com o
Barrôlo, combinarmos, por causa dos votos da Murtosa!... Meu querido
Gonçalo, não podemos adormecer. Não é pelo Julio, é pelo Pitta!
--Bem! bem! acudio logo Gonçalo, assustado. Parto para Oliveira.
--Por que então, continuava André, vamos ambos logo, a cavallo. É um
bonito passeio pelos Freixos, sempre com sombra... Tens talvez de mandar
á Torre, por causa de roupa...
Não! Gonçalo, para evitar a importunidade de malas, conservava nos
Cunhaes um bragal inteiro, desde a chinella até á casaca. E entrava em
Oliveira como o Philosopho Bias em Athenas--com uma simples bengala e
paciencia infinita...
--Delicioso! declarou André. Fazemos então logo a nossa entrada official
em Oliveira. É o começo da campanha.
O Fidalgo torcia o bigode, consternado, pensando nos risinhos perversos
das Louzadas, de toda a cidade, perante uma entrada tão apparatosamente
fraternal. E, quando o Cavalleiro recommendou ao Matheus que mandasse
apromptar o _Rossilho_ e a egoa do Fidalgo para as quatro horas e meia,
Gonçalo exagerou o seu receio do calor, da poeira. Antes partissem ás
sete, pela fresca! (Assim esperava penetrar em Oliveira
desapercebidamente, esbatido no crepusculo). Mas André protestou:
--Não, é uma secca, chegamos á noite. Precisamos entrar com solemnidade,
á hora da musica no Terreiro... Ás cinco, hein?
E Gonçalo, vergando os hombros sob a Fatalidade:
--Pois sim, ás cinco.
Na sala de jantar, esteirada, com denegridos paineis de flôres e fructas
sobre um papel vermelho imitando damasco, André occupou a veneranda
cadeira de braços do avô Martinho. O brilho das pratas, a frescura das
rosas n'uma floreira de Saxe, revelavam os desvelos da prima
Jesuina--que, com dôr d'entranhas n'essa manhã, não se vestira, almoçava
no quarto... Gonçalo louvou aquella elegante ordem, tão rara n'uma casa
de solteirão, lamentando a falta de uma prima Jesuina na Torre... E
André sorria deliciadamente, desdobrando o guardanapo, com a esperança
que Gonçalo contasse aos Barrôlos o confortavel luxo de Corinde. Depois,
picando com o garfo uma azeitona:
--Pois é verdade, meu querido Gonçalo, lá estive n'essa grande Capital,
depois um dia em Cintra...
O Matheus entre-abriu a porta para recordar a S. Ex.^a o amanuense do
Governo Civil, que esperava.
--Pois que espere! gritou S. Ex.^a.
Gonçalo lembrou que talvez o digno homem se impacientasse, com fome...
--Pois que almoce! gritou S. Ex.^a.
Aquelle secco desprezo de André pelo pobre empregado, esquecido no banco
d'entrada, com a sua pasta sobre os joelhos--constrangia o Fidalgo. E
espetando tambem uma azeitona:
--Dizias então, Cintra...
--Semsabor, resumiu André. Poeirada horrenda, femeaço mediocre... E já
me esquecia. Sabes quem lá encontrei, na estrada de Collares? O
Castanheiro, o nosso Castanheiro, o dos _Annaes_, de chapéo alto. Ergueu
logo os braços ao céo, desolado:--«E então esse Gonçalo Mendes Ramires
não me manda o romance?» Parece que o primeiro numero da Revista sae em
Dezembro, e elle precisa o original em começos d'Outubro... Lá me
supplicou que te saccudisse, que te recordasse a gloria dos Ramires. E
tu devias acabar a Novella... Até convem que, antes d'entrares na
Camara, appareça um trabalho teu, um trabalho serio, d'erudição forte,
bem portuguez...
--Pois convem! concordou vivamente Gonçalo. E á Novella só falta o
Capitulo quarto. Mas esse justamente demanda mais preparação, mais
pesquizas... Para o acabar precisava o espirito bem socegado, a certeza
d'esta infernal eleição... Não é o animal do Julio que me inquieta. Mas
a canalha intrigante de Lisboa... Que te parece?
Cavalleiro riu, estendendo de novo o garfo para as azeitonas:
--Que me parece, Gonçalinho? Que estás como uma creança pequena,
afflicta, com medo que te não chegue o prato de arroz doce. Socega,
menino, apanhas o teu arroz doce!... Mas com effeito, encontrei o José
Ernesto muito teimoso. Já existiam compromissos antigos com o Pitta. _A
Verdade_ tem sido furiosamente ministerial... E esse Pitta, agora quando
souber que lhe tapei Villa-Clara, arde em furor contra mim. O que me é
soberanamente indifferente; colerasinhas ou piadinhas do Pitta não me
tiram o appetite... Mas o José Ernesto admira o Pitta, necessita do
Pitta, está empenhado em pagar ao Pitta com um circulo... Ainda no
ultimo dia me disse na Secretaria, até lhe achei graça:--«Eu vejo que os
deputados por Villa-Clara morrem; ora se, por esse bom costume, o teu
Ramires morrer em breve, então entra o Pitta.»
Gonçalo recuou a cadeira:
--Se eu morrer!... Que animal!
--Oh, se morreres para o Circulo! atalhou o Cavalleiro rindo. Por
exemplo, se nos zangassemos, se ámanhã entre nós surgisse uma
dissidencia... Emfim o impossivel!
O Matheus entrava com a terrina de caldo de gallinha, que rescendia.
--A elle! exclamou André. E não se falle mais de Circulos, nem de
Pittas, nem de Julios, nem da negregada Politica!... Conta antes o
enredo da tua Novella... Historica, hein?... Meia-idade? D. João V?...
Eu, se tentasse agora um Romance, escolhia uma epocha deliciosa,
Portugal sob os Philippes...
* * * * *
Os tres quartos, depois das seis, batiam no relogio sempre adeantado da
Egreja de S. Christovão, em Oliveira, quando André Cavalleiro e Gonçalo,
descendo da rua Velha, penetraram no Terreiro da Louça (agora _Largo do
Conselheiro Costa Barroso_).
Todos os Domingos, tocando n'um coreto que o Conselheiro, quando
Presidente da Camara, mandára construir sobre o velho Pelourinho
demolido, a charanga do Regimento ou a philarmonica _Lealdade_ tornavam
aquelle Largo o centro mais sociavel da quieta e caseira cidade. N'essa
tarde, porém, como começára no Convento de Santa Brigida o bazar
patrocinado pelo Bispo, as senhoras rareavam nos bancos de pedra e nas
cadeiras do Asylo espalhadas por sob as acacias. As Louzadas faltavam no
seu pouso reservado, superiormente escolhido para espiarem todo o
Terreiro, as casas que o cerram do lado de S. Christovão e do lado das
Trinas, a rua Velha e a rua das Vellas, a barraca da limonada, e até
outro retiro pudicamente disfarçado por uma canniçada de heras. E o
unico rancho conhecido, D. Maria Mendonça, a Baroneza das Marges, as
duas Alboins, conversavam com as costas para o Terreiro, junto da grade
de ferro que o limita sobre a antiga muralha--d'onde se dominam campos,
a cêrca do Seminario Novo, todo o pinhal da Estevinha e as voltas
lustrosas da ribeira de Crêde.
Mas entre os cavalheiros que trilhavam vagarosamente a alêa do Largo
denominada o «Picadeiro», gosando a _Marcha do Propheta_, o espanto
reviveu (apezar de todos conhecerem a reconciliação famosa do Governo
Civil) quando os dous amigos appareceram, ambos de chapéos de palha,
ambos de polainas altas, ao passo solemne das duas egoas--a de Gonçalo
airosa e baia de cauda curta á ingleza, a do Cavalleiro pesada e preta,
de pescoço arqueado, a cauda farta rojando as lages. Mello Alboim, o
Barão das Marges, o Dr. Delegado, pararam n'uma fila pasmada, a que se
juntou um dos Villa-Velhas, depois o morgado Pestana, depois o gordo
major Ribas com a farda desabotoada, rebolando e galhofando sobre
«aquella amigação...» O tabellião Guedes, o Guedes _pôpa_, derrubou a
cadeira no alvoroço com que se ergueu, indignado mas respeitoso,
descobrindo a calva n'uma cortesia immensa em que o chapeu branco lhe
tremia. E o velho Cerqueira, o advogado, que sahia do retiro encanniçado
d'hera e se abotoava, embasbacou, com os oculos na ponta do nariz
alçado, os dedos esquecidos nos botões das calças.
No emtanto os dous amigos, gravemente, seguiam pela correnteza de casas
que o palacete de D. Arminda Villegas domina, com o pesado brazão dos
Villegas na cimalha, as suas dez nobres varandas de ferro opulentadas
por cortinas de damasco amarello. Na varanda d'esquina, o Barrôlo e José
Mendonça fumavam, sentados em mochos de palhinha. E ao sentir as patas
lentas das egoas, ao avistar tão inesperadamente o cunhado--o bom
Barrôlo quasi se despenhou da varanda:
--Oh Gonçalo! Oh Gonçalo!... Vaes lá para casa?
E nem esperou uma certeza, berrou de novo, bracejando:
--Nós já vamos! Jantámos cá esta tarde... A Gracinha está lá em cima,
com a tia Arminda. Vamos já tambem! É um momento!
O Cavalleiro acenou risonhamente ao capitão Mendonça. Já Barrôlo
mergulhára com enthusiasmo para dentro dos damascos amarellos. E os dois
amigos, deixando pelo Terreiro aquelle sulco de espanto, penetraram na
rua das Vellas onde um Policia se perfilou com a mão no bonet--o que foi
agradavel ao Fidalgo da Torre.
O Cavalleiro acompanhou Gonçalo ao Largo d'El-Rei. Deante do Palacete um
homem de boina vermelha remoía no seu realejo o côro nupcial da _Lucia_,
espiando as janellas desertas. O Joaquim da Porta correu do pateo a
segurar a egoa do Fidalgo. Com um mudo sorriso o tocador estendera a
boina. E depois de lhe atirar um punhado de cobre--Gonçalo hesitou,
murmurou emfim, com embaraço e corando:
--Não queres entrar e descançar, André?...
--Não, obrigado... Então ámanhã ás duas, no Governo Civil, com o
Barrôlo, para combinarmos sobre os votos da Murtosa... Adeus, minha
flôr! Démos um bello passeio e espantamos os povos!
E S. Ex.^a, envolvendo o Palacete n'um demorado olhar, desceu pela rua
das Tecedeiras.
No seu quarto (sempre preparado, com a cama feita) Gonçalo acabava de se
lavar, de se escovar, quando Barrôlo se precipitou pelo corredor,
esbofado, soffrego--e atraz d'elle Gracinha, offegante tambem,
desapertando nervosamente as fitas escarlates do chapeu. Desde a tarde
em que Barrôlo «presenceára com os olhos bem acordados!» a palestra de
Gonçalo e de André na varanda do Governo Civil--fervera n'elle e em
Gracinha uma impaciencia desesperada por penetrar os motivos, a
encoberta historia d'aquella reconciliação surprehendente. Depois a fuga
de Gonçalo na caleche para a Torre, sem parar nos Cunhaes; a repentina
jornada do Cavalleiro a Lisboa; o silencio que sobre aquelle caso se
abatera mais pesado que uma tampa de ferro--quasi os aterrou. Gracinha á
noite, no Oratorio, murmurava atravez das resas distrahidas:--«Oh, minha
rica Nossa Senhora, que será?»--Barrôlo não ousára correr á Torre; mas
até sonhava com a varanda do Governo Civil, que lhe apparecia enorme,
crescendo, atravancando Oliveira, roçando já as janellas dos Cunhaes
d'onde elle a repellia com o cabo d'uma vassoura... E eis agora Gonçalo
e André que entram na cidade a cavallo, muito serenamente, ambos de
chapeus de palha, como companheiros constantes recolhendo d'um passeio!
Logo á porta do quarto, Barrôlo atirou os braços, rompeu aos brados:
--Então que tem sido tudo isto?... Não se falla n'outra coisa!... Tu com
o André!
Gracinha, arfando, tão vermelha como as fitas do chapeu, só balbuciava:
--E nem vens, nem escreves... Nós com tanto cuidado...
E mesmo rente da porta aberta, sem se sentarem, o Fidalgo aclarou o
«Mysterio», com a toalha ainda nas mãos:
--Uma cousa muito inesperada, mas muito natural. O Sanches Lucena
morreu, como vocês sabem. Ficou vago o circulo de Villa-Clara. É um
circulo por onde só póde sahir um homem da terra, com propriedade, com
influencia. O governo immediatamente me mandou perguntar, pelo
telegrapho, se eu me desejava propôr... Ora eu, no fundo, estou de bem
com os Historicos, sou amigo do José Ernesto... Estimava entrar na
Camara... Acceitei.
O Barrôlo esmagou a coxa com uma palmada triumphal:
--Então era certo, caramba!
O Fidalgo continuava, enxugando interminavelmente as mãos:
--Acceitei, está claro, com condições; e muito fortes. Mas acceitei...
N'este caso, como vocês sabem, convem que o candidato se entenda com o
Governador Civil. Eu, ao principio, não queria renovar relações. Instado
porém, muito instado de Lisboa, e por considerações superiores de
Politica, consenti n'esse sacrificio. Nas difficuldades em que se
encontra o paiz todos devem fazer sacrificios. Eu fiz esse... O André,
de resto, foi muito amavel, muito affectuoso. De sorte que estamos outra
vez amigos. Amigos politicos: mas muito bem, muito lealmente... Almocei
hoje com elle em Corinde, viemos juntos pelos Freixos. Uma tarde
linda!... Emfim renasceu a antiga harmonia. E a eleição está segura.
--Venham de lá esses ossos! berrou o Barrôlo, transportado.
Gracinha terminára por se sentar á borda do leito, com o chapeu no
regaço, enlevada para o irmão, n'um silencioso enternecimento em que os
seus doces olhos se humedeciam e riam. O Fidalgo, que se desprendera do
abraço do Barrôlo, dobrava a toalha com um vagar distrahido:
--A eleição está segura, mas precisamos trabalhar. Tu, Barrôlo, tens de
conversar tambem com o Cavalleiro. Já combinei. Ámanhã no Governo Civil,
ás duas horas. É necessario que vocês se entendam por causa dos votos da
Murtosa...
--Prompto, menino! o que vocês quizerem! Votos, dinheiro...
E Gonçalo, borrifando vagamente o jaquetão com agua de Colonia que
pingava no soalho:
--Desde o momento em que eu me reconciliei com o André, tudo acabou. Tu,
Barrôlo, immediatamente te reconcilias tambem...
Barrôlo quasi pulou, no seu deslumbramento:
--Pois está claro! E ainda bem, que eu gosto immensamente do Cavalleiro!
Até sempre teimava com Gracinha... «Oh senhores, esta tolice, por causa
da Politica!...»
--Bem! concluiu o Fidalgo. A Politica nos separou, a Politica nos
reune... É o que se chama a inconstancia dos Tempos e dos Imperios.
E agarrou Gracinha pelos hombros, com um beijo brincalhão, estalado em
cada face:
--A tia Arminda? Boa, da escaldadella? Já voltou ás façanhas de _Leandro
o Bello_?
Gracinha resplandecia, com o lento sorriso que se não desfizera, a
envolvia toda em claridade e doçura:
--A tia Arminda está melhor, já anda. Perguntou por ti... Mas, oh
Gonçalo, tu de certo queres jantar!
--Não, almocei tremendamente em Corinde... Vocês, como jantaram á hora
antiga da tia Arminda, ceiam, hein? Então logo ceio... Agora apenas uma
chavena de chá, muito forte!
Gracinha correu, no alvoroço de servir o heroe querido. E pela escada,
descendo com Barrôlo que o contemplava, o Fidalgo da Torre lamentou os
seus sacrificios:
--É verdade, menino, é uma massada... Mas que diabo! todos devemos
concorrer para tirar o paiz do atoleiro!
Barrôlo, maravilhado, murmurava:
--E sem dizeres nada... Assim á capucha! Assim á capucha!...
--E agora outra cousa, Barrôlo. Ámanhã, no Governo Civil, deves convidar
o André a jantar...
--Com certeza! gritou o Barrôlo. Jantar d'estrondo?
---Não, homem! Jantar muito quieto, muito intimo. Unicamente o André e o
João Gouveia. Telegraphas ao João Gouveia. Tambem pódes convidar os
Mendonças... Mas jantar muito discreto, só para conversarmos, para
firmar a reconciliação d'um modo mais sociavel, mais elegante.
Ao outro dia, no Governo Civil, Barrôlo e o Cavalleiro apertaram as mãos
com tanta singelleza, como se ambos, ainda na vespera, andassem jogando
o bilhar e caturrando no club da rua das Pêgas. De resto conversaram
summariamente sobre a Eleição. Apenas o Cavalleiro alludira com
indolencia aos votos de Murtosa--o bom Barrôlo quasi se engasgou, na
ancia de os offerecer:
--E o que vocês quizerem... Votos, dinheiro, o que vocês quizerem!...
Vocês digam! Eu vou para a Murtosa, e é comezaina, e pipa de vinho
aberta, e a freguezia inteira a votar no meio de foguetorio...
O Cavalleiro, rindo, amansou aquelle fervor faustoso:
--Não, meu caro Barrôlo, não! Nós preparamos uma eleição muito sobria,
muito socegada. Villa Clara elege Gonçalo Mendes Ramires deputado,
naturalmente, como o seu melhor homem. Não ha combate, o Julinho é uma
sombra. Portanto...
O Barrôlo persistia, radiante, gingando:
--Perdão, André, perdão! Lá isso vinhaça, e vivorio, e foguetorio, e
festança magna...
Mas Gonçalo, embaraçado, ancioso por suster a garrulice do Barrôlo, as
palmadas carinhosas com que elle se atufava na intimidade do Cavalleiro,
apontou para a mesa de S. Ex.^a:
--Tu tens que fazer, André. Vejo ahi uma papelada pavorosa... Não
roubemos mais tempo ao chefe illustre do Districto! Ao trabalho!
Trabalhar, meu irmão, que o trabalho
É André, é virtude, é valor!...
Agarrára o chapeu, acenando ao cunhado. Então Barrôlo, com as bochechas
a estalar de gosto, balbuciou o convite que firmaria a reconciliação
d'um modo sociavel e elegante:
--Cavalleiro, para conversarmos melhor, se você nos quizer dar o gosto
de vir jantar... Quinta feira, ás seis e meia... Nós, quando cá está o
Gonçalo, jantámos sempre mais tarde.
O Cavalleiro, que corára, agradeceu com discreta ceremonia:
--É para mim um immenso prazer, uma immensa honra...
E á porta da antesala onde os acompanhára, segurando o pesado reposteiro
de baeta escarlate com as Armas Reaes bordadas--supplicou ao Barrôlo que
pozesse os seus respeitos aos pés da snr.^a D. Graça...
Barrôlo, descendo a larga escadaria de pedra, limpava a testa, o
pescoço, humedecidos pela emoção. E no páteo desabafou:
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