A Illustre Casa de Ramires - 02

Total number of words is 4582
Total number of unique words is 1781
30.5 of words are in the 2000 most common words
45.5 of words are in the 5000 most common words
54.0 of words are in the 8000 most common words
Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
Deslumbrado, José Castanheiro atirou os magrissimos braços, resguardados
pelas mangas d'alpaca, até á abobada do esguio corredor em que o
recebera:
--Sublime!... _A Torre de D. Ramires_!... O grande feito de Tructesindo
Mendes Ramires contado por Gonçalo Mendes Ramires!... E tudo na mesma
Torre! Na Torre o velho Tructesindo pratica o feito; e setecentos annos
depois, na mesma Torre, o nosso Gonçalo conta o feito! Caramba, menino,
carambissima! isso é que é reatar a tradição!
* * * * *
Duas semanas depois, de volta a Santa Ireneia, Gonçalo mandou um creado
da quinta, com uma carroça, a Oliveira, a casa de seu cunhado José
Barrôlo, casado com Gracinha Ramires, para lhe trazer da rica livraria
classica que o Barrôlo herdára do tio Deão da Sé todos os volumes da
_Historia Genealogica_--«e (accrescentava n'uma carta) todos os
cartapacios que por lá encontrares com o titulo de «Chronicas do Rei
Fulano...» Depois, do pó das suas estantes, desenterrou as obras de
Walter Scott, volumes desirmanados do _Panorama_, a _Historia_ de
Herculano, o _Bobo_, o _Monge de Cistér_. E assim abastecido, com uma
farta rêsma de tiras d'almaço sobre a banca, começou a repassar o
Poemeto do tio Duarte, inclinado ainda a transpôr para a aspereza d'uma
manhã de Dezembro, como mais congenere com a rudeza feudal dos seus
avós, aquella lusida cavalgada de donas, monges e homens d'armas que o
tio Duarte estendera, atravez d'uma suave melancolia outomnal, pelas
veigas do Mondêgo...
Na pallidez da tarde, entre a folhagem
Que o outomno amarellece...
Mas, como era então Junho e a lua crescia, Gonçalo determinou por fim
aproveitar as sensações de calor, luar e arvoredos, que lhe fornecia a
aldeia--para levantar, logo á entrada da sua Novella, o negro e immenso
Paço de Santa Ireneia, no silencio d'uma noite d'Agosto, sob o
resplendor da lua cheia.
E já enchera desembaraçadamente, ajudado pelo *Bardo*, duas tiras,
quando uma desavença com o seu caseiro, o Manoel Relho, que amanhava a
quinta por oitocentos mil reis de renda, veio perturbar, na fresca e
noviça inspiração do seu trabalho, o Fidalgo da Torre. Desde o Natal o
Relho, que durante annos de compostura e ordem se emborrachava sempre
aos domingos com alegria e com pachorra, começára a tomar, tres e quatro
vezes por semana, bebedeiras desabridas, escandalosas, em que espancava
a mulher, atroava a quinta de berros, e saltava para a estrada,
esguedelhado, de varapáu, desafiando a quieta aldeia. Por fim, uma noite
em que Gonçalo, á banca, depois do chá, laboriosamente escavava os
fossos do Paço de Santa Ireneia--de repente a Rosa cozinheira rompeu a
gritar «Aqui d'El-rei contra o Relho!» E, atravez dos seus brados e dos
latidos dos cães, uma pedra, depois outra, bateram na varanda veneravel
da livraria! Enfiado, Gonçalo Mendes Ramires pensou no revólver... Mas
justamente n'essa tarde o creado, o Bento, descêra aquella sua velha e
unica arma á cozinha para a desenferrujar e arear! Então, atarantado,
correu ao quarto, que fechou á chave, empurrando contra a porta a
commoda com tão desesperada anciedade que frascos de crystal, um cofre
de tartaruga, até um crucifixo, tombaram e se partiram. Depois gritos e
latidos findaram no pateo--mas Gonçalo não se arredou n'essa noite
d'aquelle refugio bem defendido, fumando cigarros, ruminando um furor
sentimental contra o Relho, a quem tanto perdoára, sempre tão
affavelmente tratára, e que apedrejava as vidraças da Torre! Cêdo, de
manhã convocou o Regedor; a Rosa, ainda tremula, mostrou no braço as
marcas roxas dos dedos do Relho; e o homem, cujo arrendamento findava em
Outubro, foi despedido da quinta com a mulher, a arca e o catre.
Immediatamente appareceu um lavrador dos Bravaes, o José Casco,
respeitado em toda a freguezia pela sua seriedade e força espantosa,
propondo ao fidalgo arrendar a Torre. Gonçalo Mendes Ramires porém, já
desde a morte do pae, decidira elevar a renda a novecentos e cincoenta
mil réis:--e o Casco desceu as escadas, de cabeça descahida. Voltou logo
ao outro dia, repercorreu miudamente toda a quinta, esfarellou a terra
entre os dedos, esquadrinhou o curral e a adega, contou as oliveiras e
as cêpas: e n'um esforço, em que lhe arfaram todas as costellas,
offereceu novecentos e dez mil réis! Gonçalo não cedia, certo da sua
equidade. O José Casco voltou ainda com a mulher; depois, n'um domingo,
com a mulher e um compadre,--e era um coçar lento do queixo rapado, umas
voltas desconfiadas em torno da eira e da horta, umas demoras sumidas
dentro da tulha, que tornavam aquella manhã de Junho intoleravelmente
longa ao Fidalgo, sentado n'um banco de pedra do jardim, debaixo d'uma
mimosa, com a *Gazeta do Porto*. Quando o Casco, pallido, lhe veio
offerecer novecentos e trinta mil réis--Gonçalo Mendes Ramires
arremessou o jornal, declarou que ia elle, por sua conta, amanhar a
propriedade, mostrar o que era um torrão rico, tratado pelo saber
moderno, com phosphatos, com machinas! O homem de Bravaes, então,
arrancou um fundo suspiro, acceitou os novecentos e cincoenta mil reis.
Á maneira antiga o Fidalgo apertou a mão ao lavrador--que entrou na
cozinha a enxugar um largo copo de vinho, esponjando na testa, nas
cordoveias rijas do pescoço, o suor anciado que o alagava.
Mas, como entulhada por estes cuidados, a veia abundante de Gonçalo
estancou--não foi mais que um fio arrastado e turvo. Quando n'essa tarde
se accomodou á banca, para contar a sala d'armas do Paço de Santa
Ireneia por uma noite de lua--só conseguiu converter servilmente n'uma
prosa aguada os versos lisos do tio Duarte, sem relêvo que os
modernisasse, désse magestade senhorial ou bellesa saudosa áquelles
macissos muros onde o luar, deslisando atravez das rexas, salpicava
scentelhas pelas pontas das lanças altas, e pela cimeira dos morriões...
E desde as quatro horas, no calor e silencio do domingo de Junho,
labutava, empurrando a penna como lento arado em chão pedregoso,
riscando logo rancorosamente a linha que sentia deselegante e molle, ora
n'um reboliço, a sacudir e reenfiar sob a mesa os chinellos de
marroquim, ora immovel e abandonado á esterilidade que o travava, com os
olhos esquecidos na Torre, na sua difficillima Torre, negra entre os
limoeiros e o azul, toda envolta no piar e esvoaçar das andorinhas.
Por fim, descorçoado, arrojou a penna que tão desastrosamente emperrára.
E fechando na gavêta, com uma pancada, o volume precioso do *Bardo*:
--Irra! Estou perfeitamente entupido! É este calor! E depois aquelle
animal do Casco, toda a manhã!...
Ainda releu, coçando sombriamente a nuca, a derradeira linha rabiscada e
suja:
--«...Na sala altaneira e larga, onde os largos e pallidos raios da
lua...» Larga, largos!... E os pallidos raios, os eternos _pallidos
raios_!... Tambem este maldito castello, tão complicado!... E este D.
Tructesindo, que eu não apanho, tão antigo!... Emfim, um horror!
Atirou, n'um repellão, a cadeira de couro; cravou, com furor, um charuto
nos dentes;--e abalou da livraria, batendo desesperadamente a porta,
n'um tedio immenso da sua obra, d'aquelles confusos e enredados Paços de
Santa Ireneia, e dos seus avós, enormes, resoantes, chapeados de ferro,
e mais vagos que fumos.


II

Bocejando, apertando os cordões das largas pantalonas de seda que lhe
escorregavam da cinta, Gonçalo, que durante todo o dia preguiçára,
estirado no divan de damasco azul, com uma vaga dôr nos rins, atravessou
languidamente o quarto para espreitar, no corredor, o antigo relogio de
charão. Cinco horas e meia!... Para desannuviar, pensou n'uma caminhada
pela fresca estrada dos Bravaes. Depois n'uma visita (devida já desde a
Paschoa!) ao velho Sanches Lucena, eleito novamente deputado, nas
Eleições Geraes de Abril, pelo circulo de Villa Clara. Mas a jornada á
_Feitosa_, á quinta do Sanches Lucena, demandava uma hora a cavallo,
desagradavel com aquella teimosa dôr nos rins que o filára na vespera á
noite, depois do chá, na Assembleia da Villa. E, indeciso, arrastava os
passos no corredor, para gritar ao Bento ou á Rosa que lhe subissem uma
limonada, quando, atravez das varandas abertas, resoou um vozeirão de
grosso metal, que gracejando mais se engrossava, rolava pelo pateo,
n'uma cadencia cava de malho malhando:
--Oh sô Gonçalo! Oh sô Gonçalão! Oh sô Gonçalissimo Mendes Ramires!...
Reconheceu logo o _Titó_, o Antonio Villalobos, seu vago parente, e seu
companheiro de Villa Clara, onde aquelle homenzarrão excellente, de
velha raça Alemtejana, se estabelecera sem motivo, só por affeição
bucolica á villa. E havia onze annos que a atulhava com os seus
possantes membros, o lento rebombo do seu vozeirão, e a sua ociosidade
espalhada pelos bancos, pelas esquinas, pelas ombreiras das lojas, pelos
balcões das tabernas, pelas sachristias a caturrar com os padres, até
pelo cemiterio a philosophar com o coveiro. Era um irmão do velho
morgado de Cidadelhe (o genealogista), que lhe estabelecêra uma mesada
de oito moedas para o conservar longe de Cidadelhe--e do seu sujo
serralho de moças do campo, e da obra tenebrosa a que agora se
atrellára, a _Veridica Inquirição_, uma Inquirição sobre as bastardias,
crimes e titulos illegitimos das familias fidalgas de Portugal. E
Gonçalo, desde estudante, amára sempre aquelle Hercules bonacheirão, que
o seduzia pela prodigiosa força, a incomparavel potencia em beber todo
um pipo e em comer todo um anho, e sobretudo pela independencia, uma
suprema independencia, que, apoiada ao bengalão terrifico e com as suas
oito moedas dentro da algibeira, nada temia e nada desejava nem da Terra
nem do Céo.--Logo debruçado na varanda, gritou:
--Oh Titó, sóbe!... Sóbe emquanto eu me visto. Tomas um calice de
genebra... Vamos depois passear até aos Bravaes...
Sentado no rebordo do tanque redondo e sem agua que ornava o pateo,
erguendo para o casarão a sua franca e larga face requeimada, cheia de
barba ruiva, o Titó movia lentamente como um leque um velho chapéo de
palha:
--Não posso... Ouve lá! Tu queres hoje á noite cear no Gago, commigo e
com o João Gouveia? Vae tambem o Videirinha e o violão. Temos uma tainha
assada, uma famosa. E enorme, que eu comprei esta manhã a uma mulher da
Costa por cinco tostões. Assada pelo Gago!... Entendido, hein? O Gago
abre pipa nova de vinho, do Abbade de Chandim. Eu conheço o vinho. É
d'aqui, da ponta fina.
E Titó, com dous dedos, delicadamente, sacudio a ponta molle da orelha.
Mas Gonçalo, repuxando as pantalonas, hesitava:
--Homem, eu ando com o estomago arrazado... E desde hontem á noite uma
dôr nos rins, ou no figado, ou no baço, não sei bem, n'uma d'essas
entranhas!... Até hoje, para o jantar, só caldo de gallinha e gallinha
cosida... Emfim! vá! Mas, á cautela, recommenda ao Gago que me prepare
para mim um franguinho assado... Onde nos encontramos? Na Assembléa?
O Titó despegára logo do tanque, pousando na nuca o chapéo de palha:
--Hoje não me gasto pela Assembléa. Tenho senhora. Das dez para as dez e
meia, no Chafariz... Vae tambem o Videirinha com a viola. Viva!... Das
dez para as dez e meia! Entendido... E franguinho assado para S. Ex.^a,
que se queixa do rim!
E atravessou o pateo, com lentidão bovina, parando a colher n'uma
roseira, junto ao portão, uma rosa com que florio a quinzena de
velludilho côr d'azeitona.
Immediatamente Gonçalo decidira não jantar, certo dos beneficios
d'aquelle jejum até ás dez horas, depois de um passeio pelos Bravaes e
pelo valle da Riosa. E, antes de entrar no quarto para se vestir,
empurrou a porta envidraçada sobre a escura escada da cozinha, gritou
pela Rosa cozinheira. Mas nem a boa velha, nem o Bento por quem tambem
berrou furiosamente, responderam, no pesado silencio em que jaziam, como
abandonados, esses sombrios fundos de grande lage e de grande abobada
que restavam do antigo Palacio, restaurado por Vicente Ramires depois da
sua campanha em Castella, incendiado no tempo de El-Rei D. José I. Então
Gonçalo desceu dous degráos da gasta escadaria de pedra e atirou outro
dos longos brados com que atroava a Torre--desde que as campainhas
andavam desmanchadas. E descia ainda para invadir a cozinha quando a
Rosa acudio. Sahira para o pateo da horta com a filha da Crispola! não
sentira o Snr. Doutor!...
--Pois estou a berrar ha uma hora! E nem você nem Bento!... É por que
não janto. Vou cear a Villa Clara com os amigos.
A Rosa, do sonoro fundo do corredor, protestou, desolada. Pois o Sr.
Doutor ficava assim em jejum até horas da noite?--Filha d'um antigo
hortelão da Torre, crescida na Torre, já cozinheira da Torre quando
Gonçalo nascêra, sempre o tratára por «menino», e mesmo por «seu
riquinho» até que elle partio para Coimbra e começou a ser, para ella e
para o Bento, o «Sr. Doutor».--E o Sr. Doutor, ao menos, devia tomar o
caldinho de gallinha, que apurára desde o meio dia, cheirava que nem
feito no céo!
Gonçalo, que nunca discordava da Rosa ou do Bento, consentio--e já
subia, quando reclamou ainda a Rosa para se informar da Crispola, uma
desgraçada viuva que, com um rancho faminto de crianças, adoecera pela
Paschoa de febres perniciosas.
--A Crispola vae melhor, Sr. Doutor. Já se levanta. Diz a pequena que já
se levanta... Mas muito derreadinha...
Gonçalo desceu logo outro degráo, debruçado na escada, para mergulhar
mais confidencialmente n'aquellas tristezas:
--Olhe, oh Rosa, então se a pequena ahi está, coitada, que leve para
casa á mãe a gallinha que eu tinha para jantar. E o caldo... Que leve a
panella! Eu tomo uma chavena de chá com biscoitos. E olhe! Mande tambem
dez tostões á Crispola... Mande dois mil réis. Escute! Mas não lhe mande
a gallinha e o dinheiro assim seccamente... Diga que estimo as melhoras,
e que lá passarei por casa para saber. E esse animal do Bento que me
suba agua quente!
No quarto, em mangas de camisa, deante do espelho, um immenso espelho
rolando entre columnas douradas, estudou a lingua que lhe parecia
saburrosa, depois o branco dos olhos, receiando a amarellidão de bilis
solta. E terminou por se contemplar na sua feição nova, agora que rapára
a barba em Lisboa, conservando o bigodinho castanho, frisado e leve, e
uma môsca um pouco longa, que lhe alongava mais a face aquilina e fina,
sempre d'uma brancura de nata. O seu desconsolo era o cabello, bem
ondeado, mas tenue e fraco, e, apezar de todas as aguas e pomadas,
necessitando já risca mais elevada, quasi ao meio da testa clara.
--É infernal! Aos trinta annos estou calvo...
E todavia não se despegava do espelho, n'uma contemplação agradada,
recordando mesmo a recommendação da tia Louredo, em Lisboa:--«Oh
sobrinho! o menino, assim galante e esperto, não se enterre na
provincia! Lisboa está sem rapazes. Precisamos cá um bom Ramires!»--Não!
não se enterraria na provincia, immovel sob a hera e a poeira
melancolica das cousas immoveis, como a sua Torre!... Mas vida elegante
em Lisboa, entre a sua parentella historica, como a aguentaria com o
conto e oitocentos mil reis de renda que lhe restava, pagas as dividas
do papá? E depois realmente vida em Lisboa só a desejava com uma posição
politica,--cadeira em S. Bento, influencia intellectual no seu Partido,
lentas e seguras avançadas para o Poder. E essa, tão docemente sonhada
em Coimbra, nas faceis cavaqueiras do Hotel Mondego,--muito remota a
entrevia! Quasi inconquistavel, para além de um muro alto e aspero, sem
porta e sem fenda!... Deputado--como? Agora, com o horrendo S. Fulgencio
e os Historicos no Ministerio durante tres gordos annos, não voltariam
Eleições Geraes. E mesmo n'alguma Eleição Supplementar que possibilidade
lograria elle, que, desde Coimbra, bem levianamente, arrastado por uma
elegancia de tradições, se manifestára sempre Regenerador, no «Centro»
da Couraça, nas correspondencias para a *Gazeta do Porto*, nas verrinas
ardentes contra o chefe do Districto, o Cavalleiro detestavel?... Agora
só lhe restava esperar. Esperar, trabalhando; ganhando em consistencia
social; edificando com sagacidade, sobre a base do seu immenso nome
historico, uma pequenina nomeada politica; tecendo e estendendo a malha
preciosa das amizades partidarias desde Santa Ireneia até ao Terreiro do
Paço... Sim! eis a theoria explendida:--mas consistencia, nomeada,
affeições politicas, como se conquistam? «Advogue, escreva nos jornaes!»
fôra o conselho distrahido e risonho do seu chefe, o Braz Victorino.
Advogar em Oliveira, mesmo em Lisboa? Não podia, com aquelle seu horror
ingenito, quasi physiologico, a autos e papelada forense. Fundar um
jornal em Lisboa como o Ernesto Rangel, seu companheiro de Coimbra no
Hotel Mondego? Era façanha facil para o neto adorado da Snr.^a D.
Joaquina Rangel que armazenava dez mil pipas de vinho nos barracões de
Gaia. Batalhar n'um jornal de Lisboa? N'essas semanas de Capital, sempre
pelo Banco Hypothecario, sempre com as «primas», nem formára relações
duraveis e uteis nos dous grandes Diarios Regeneradores, a _Manhã_ e a
_Verdade_... De sorte que, realmente, n'esse muro que o separava da
fortuna só descobria um buraquinho, bem apertado mas serviçal--os
*Annaes de Litteratura e d'Historia*, com a sua collaboração de
Professores, de Politicos, até d'um Ministro, até de um Almirante, o
Guerreiro Araujo, esse tocante massador. Appareceria pois nos *Annaes*
com a sua _Torre_, revelando imaginação e um saber rico. Depois,
trepando da Invenção para o terreno mais respeitavel da Erudição, daria
um estudo (que até lhe lembrára no comboio, ao voltar de Lisboa!) sobre
as «Origens Visigothicas do Direito Publico em Portugal...» Oh, nada
conhecia, é certo, d'essas Origens, d'esses Visigodos. Mas, com a bella
historia da _Administração Publica em Portugal_ que lhe emprestára o
Castanheiro, comporia corrediamente um resumo elegante... Depois,
saltando da Erudição ás Sciencias Sociaes e Pedagogicas--por que não
amassaria uma boa «Reforma do Ensino Juridico em Portugal» em dous
artigos massudos, de Homem d'Estado?... Assim avançava, bem chegado aos
Regeneradores, construindo e cinzelando o seu pedestal litterario, até
que os Regeneradores voltassem ao Ministerio, e no muro se escancarasse
a desejada porta triumphal.--E no meio do quarto, em ceroulas, com as
mãos nas ilhargas, Gonçalo Mendes Ramires concluio pela necessidade de
apressar a sua Novella.
--Mas, quando acabarei eu essa _Torre_? assim emperrado, sem veia, com o
figado combalido?...
O Bento, velho de face rapada e morena, com um lindo cabello branco todo
encarapinhado, muito limpo, muito fresco na sua jaqueta de ganga,
entrára vagarosamente, segurando a infusa d'agua quente.
--Oh Bento, ouve lá! Tu não encontraste na mala que eu trouxe de Lisboa,
ou no caixote, um frasco de vidro com um pó branco? É um remedio inglez
que me deu o Sr. Dr. Mattos... Tem um rotulo em inglez, com um nome
inglez, não sei quê, _fruit salt_... Quer dizer sal de fructas...
O Bento cravou no soalho os olhos, que depois cerrou, meditando. Sim, no
quarto de lavar, em cima do bahú vermelho, ficára um frasco com pó,
embrulhado num pergaminho antigo como os do Archivo.
--É esse! declarou Gonçalo. Eu precisava em Lisboa uns documentos por
causa d'aquelle malvado fôro de Praga. E por engano, na balburdia, levo
do Archivo um pergaminho perfeitamente inutil! Vae buscar o rolo... Mas
tem cuidado com o frasco!
O Bento, cuidadoso, sempre lento, ainda enfiou os botões d'agatha nos
punhos da camisa do Sr. Doutor, e desdobrou sobre a cama, para elle
vestir, a quinzena, as calças bem vincadas, de cheviote leve. E Gonçalo,
retomado pela idéa de artigos para os *Annaes*, folheava, rente á
janella, a _Historia da Administração Publica em Portugal_, quando Bento
voltou com um rolo de pergaminho, d'onde pendia, por fitas roidas, um
sello de chumbo.
--Esse mesmo! exclamou o Fidalgo atirando o volume para o poial da
janella. É esse mesmo que eu enrolei no pergaminho para se não quebrar.
Desembrulha, deixa em cima da commoda... O Sr. Dr. Mattos aconselhou que
o tomasse com agua tepida, em jejum. Parece que ferve. E limpa o sangue,
desannuvia a cabeça... Pois eu muito necessitado ando de desannuviar a
cabeça!... Toma tu tambem, Bento. E dize á Rosa que tome. Todos tomam
agora, até o Papa!
Com cuidado, o Bento desenrolára o frasco, estendendo sobre o marmore da
commoda o pergaminho duro, onde a lettra do seculo XVI se encarquilhava
amarella e morta. E Gonçalo, abotoando o colarinho:
--Ora ahi está o que eu levo preciosamente para deslindar o fôro de
Praga! Um pergaminho do tempo de D. Sebastião... E só percebo mesmo a
data, mil quatrocentos... Não, mil quinhentos e setenta e sete. Nas
vesperas da jornada d'Africa... Emfim! serviu para embrulhar o frasco.
O Bento, que escolhera no gavetão um collete branco, relanceou de lado o
pergaminho veneravel:
--Naturalmente foi carta que El-rei D. Sebastião escreveu a algum
avosinho do Sr. Doutor...
--Naturalmente, murmurava o Fidalgo, deante do espelho. E para lhe dar
alguma cousa boa, alguma cousa gorda... Antigamente ter rei era ter
renda. Agora... Não apertes tanto essa fivella, homem! Trago ha dias o
estomago inchado... Agora, com effeito, esta instituição de Rei anda
muito safada, Bento!
--Parece que anda, observou gravemente o Bento. Tambem, o _Seculo_
affiança que os Reis estão a acabar, e por dias. Ainda hontem
affiançava. E o _Seculo_ é jornal bem informado... No de hoje, não sei
se o Sr. Doutor leu, lá vem a grande festa dos annos do Sr. Sanches
Lucena, e o fogo de vistas, e o brodio que deram na _Feitosa_...
Enterrado no divan de damasco, Gonçalo estendera os pés ao Bento que lhe
laçava as botas brancas:
--Esse Sanches Lucena é um idiota! Ora que arranjo fará a esse homem,
aos sessenta annos, ser deputado, passar mezes em Lisboa no Francfort,
abandonar as propriedades, deixar aquella linda quinta... E para quê?
Para rosnar de vez em quando «apoiado!» Antes elle me cedesse a cadeira,
a mim, que sou mais esperto, não possuo grandes terras, e gosto do Hotel
Bragança. E por Sanches Lucena... O Joaquim amanhã que me tenha a egoa
prompta, a esta hora, para eu ir á _Feitosa_ visitar esse animal... E
ponho então o fato novo de montar que trouxe de Lisboa, com as polainas
altas... Ha mais de dois annos que não vejo a D. Anna Lucena. É uma
linda mulher!
--Pois quando o Sr. Doutor estava em Lisboa elles passaram ahi, na
caleche. Até pararam, e o Sr. Sanches Lucena apontou para a Torre, a
mostrar á senhora... Mulher muito perfeita! E traz uma grande luneta,
com um grande cabo, e um grande grilhão, tudo d'oiro...
--Bravo!... Encharca bem esse lenço com agoa de Colonia, que tenho a
cabeça tão pesada!... Essa D. Anna era uma jornaleira, uma moça do
campo, de Corinde?
Bento protestou, com o frasco suspenso, espantado para o Fidalgo:
--Não senhor! A Snr.^a D. Anna Lucena é de gente muito baixa! Filha d'um
carniceiro d'Ovar... E o irmão andou a monte por ter morto o ferrador
d'Ilhavo.
--Emfim, resumiu Gonçalo, filha de carniceiro, irmão a monte, bella
mulher, luneta d'oiro... Merece fato novo!
* * * * *
Em Villa-Clara, ás dez horas, sentado n'um dos bancos de pedra do
Chafariz, sob as olaias, o Titó esperava com o amigo João Gouveia--que
era o Administrador do Concelho da Villa. Ambos se abanavam com os
chapeus, em silencio, gozando a frescura e o sussurro da agua lenta na
sombra. E a «meia» batia no relogio da Camara, quando Gonçalo, que se
retardára na Assembléa n'um voltarete enremissado, appareceu annunciando
uma fome terrivel, «a fome historica dos Ramires», e apressando a marcha
para o Gago--sem mesmo consentir que o Titó descesse á tabacaria do
Brito, a buscar uma garrafa de aguardente de canna da Madeira, velha e
«da ponta fina...»
--Não ha tempo! Ao Gago! Ao Gago!... Senão devoro um de Vocês, com esta
furiosa fome Ramirica!
Mas, logo ao subirem a Calçadinha, parou elle cruzando os braços,
interpellando divertidamente o Sr. Aministrador do Concelho pelo
estupendo feito do _seu_ Governo... Então o _seu_ Governo, os _seus_
amigos Historicos, o _seu_ honradissimo S. Fulgencio--nomeavam, para
Governador Civil de Monforte, o Antonio Moreno! O Antonio Moreno, tão
justamente chamado em Coimbra Antoninha Morena! Não, realmente, era a
derradeira degradação a que podia rolar um paiz! Depois d'esta, para
harmonia perfeita dos serviços, só outra nomeação, e urgente--a da
Joanna Salgadeira, Procuradora Geral da Corôa!
E o João Gouveia, um homem pequeno, muito escuro, muito secco, de bigode
mais duro que piassaba, esticado n'uma sobrecasaca curta, com o chapeu
de coco atirado para a orelha, não discordava. Empregado imparcial,
servindo os Historicos como servira os Regeneradores, sempre acolhia com
imparcial ironia as nomeações de bachareis novos, Historicos ou
Regeneradores, para os gordos logares Administrativos. Mas, n'este caso,
sinceramente, quasi vomitára, rapazes! Governador Civil, e de Monforte,
o Antonio Moreno, que elle tantas vezes encontrára no quarto, em
Coimbra, vestido de mulher, de roupão aberto, e a carinha bonita coberta
de pó de arroz!...--E, travando do braço do Fidalgo, recordava a noite
em que o José Gorjão, muito bebedo, de cartola e com um revólver, exigia
furiosamente que o padre Justino, tambem bebedo, o casasse com o
Antoninho deante d'um nicho da Senhora da Boa Morte! Mas o Titó, que
esperava, floreando o bengalão, declarou áquelles senhores que se o
tempo sobejava para arrastarem assim na rua, a conversar de Politica e
d'indecencias--então voltava elle ao Brito, buscar a aguardentesinha...
Immediatamente o Fidalgo da Torre, sempre brincalhão, sacudiu o braço do
Administrador, e galgou pela Calçadinha, aos corcovos, com as mãos
fortemente juntas, como colhendo uma redea, contendo um cavallo que se
desboca.
E na sala alta do Gago, ao cimo da escada esguia e ingreme que subia da
taberna, a um canto da comprida mesa allumiada por dois candieiros de
petroleo, a ceia foi muito alegre, muito saboreada. Gonçalo, que se
declarava miraculosamente curado pelo passeio até aos Bravaes e pelas
emoções do voltarete em que ganhára desenove tostões ao Manoel
Duarte--começou por uma pratada d'ovos com chouriço, devorou metade da
tainha, devastou o seu «frango de doente», clareou o prato da salada de
pepino, findou por um montão de ladrilhos de marmellada: e atravez
d'este nobre trabalho, sem que a fina brancura da sua pelle se
afogueasse, esvasiou uma caneca vidrada de Alvaralhão, porque logo ao
primeiro trago, e com desgosto do Titó, amaldiçoára o vinho novo do
Abbade. Á sobremesa appareceu o Videirinha, «o Videirinha do violão»,
tocador afamado de Villa Clara, ajudante da Pharmacia, e poeta com
versos de amor e de patriotismo já impressos no *Independente
d'Oliveira*. Jantára n'essa tarde, com o violão, em casa do commendador
Barros, que celebrava o anniversario da sua commenda: e só acceitou um
copo d'Alvaralhão, em que esmagou um ladrilho de marmellada «para
adocicar a goella». Depois, á meia noite, Gonçalo obrigou o Gago a
espertar o lume, ferver um café «muito forte, um café terrivel, Gago
amigo! um café capaz de abrir talento no Sr. Commendador Barros!» Era
essa a hora divina do violão e do «fadinho». E já o Videirinha recuára
para a sombra da sala, pigarreando, affinando os bordões, pousado com
melancolia á borda d'um banco alto.
--A _Soledad_, Videirinha! pediu o bom Titó, pensativo, enrolando um
grosso cigarro.
Videirinha gemeu deliciosamente a _Soledad_:
Quando fôres ao cemiterio
Ai Soledad, Soledad!...
Depois, apenas elle findou, acclamado, e emquanto acertava as cravelhas,
o Fidalgo da Torre e João Gouveia, com os cotovellos na mesa, os
charutos fumegando, conversaram sobre essa venda de Lourenço Marques aos
Inglezes, preparada surrateiramente (conforme clamavam, arripiados de
horror, os jornaes da Opposição) pelo Governo do S. Fulgencio. E Gonçalo
tambem se arripiava! Não com a alienação da Colonia--mas com a
impudencia do S. Fulgencio! Que aquelle careca obeso, filho sacrilego
d'um frade que depois se fizera mercieiro em Cabecelhos, trocasse a
libras, para se manter mais dois annos no Poder, um pedaço de Portugal,
You have read 1 text from Portuguese literature.
Next - A Illustre Casa de Ramires - 03
  • Parts
  • A Illustre Casa de Ramires - 01
    Total number of words is 4537
    Total number of unique words is 1862
    31.1 of words are in the 2000 most common words
    45.0 of words are in the 5000 most common words
    52.9 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 02
    Total number of words is 4582
    Total number of unique words is 1781
    30.5 of words are in the 2000 most common words
    45.5 of words are in the 5000 most common words
    54.0 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 03
    Total number of words is 4441
    Total number of unique words is 1765
    31.2 of words are in the 2000 most common words
    45.6 of words are in the 5000 most common words
    54.8 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 04
    Total number of words is 4628
    Total number of unique words is 1873
    29.3 of words are in the 2000 most common words
    43.1 of words are in the 5000 most common words
    50.4 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 05
    Total number of words is 4626
    Total number of unique words is 1655
    33.1 of words are in the 2000 most common words
    47.6 of words are in the 5000 most common words
    54.9 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 06
    Total number of words is 4516
    Total number of unique words is 1706
    32.1 of words are in the 2000 most common words
    45.6 of words are in the 5000 most common words
    54.1 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 07
    Total number of words is 4453
    Total number of unique words is 1728
    29.7 of words are in the 2000 most common words
    43.9 of words are in the 5000 most common words
    51.8 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 08
    Total number of words is 4505
    Total number of unique words is 1938
    28.2 of words are in the 2000 most common words
    40.8 of words are in the 5000 most common words
    48.3 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 09
    Total number of words is 4466
    Total number of unique words is 1696
    32.4 of words are in the 2000 most common words
    46.9 of words are in the 5000 most common words
    54.7 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 10
    Total number of words is 4415
    Total number of unique words is 1739
    32.3 of words are in the 2000 most common words
    46.6 of words are in the 5000 most common words
    53.8 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 11
    Total number of words is 4519
    Total number of unique words is 1817
    31.0 of words are in the 2000 most common words
    44.9 of words are in the 5000 most common words
    53.3 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 12
    Total number of words is 4387
    Total number of unique words is 1704
    31.3 of words are in the 2000 most common words
    45.9 of words are in the 5000 most common words
    53.7 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 13
    Total number of words is 4444
    Total number of unique words is 1648
    30.8 of words are in the 2000 most common words
    46.6 of words are in the 5000 most common words
    55.1 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 14
    Total number of words is 4479
    Total number of unique words is 1762
    31.6 of words are in the 2000 most common words
    45.9 of words are in the 5000 most common words
    52.9 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 15
    Total number of words is 4527
    Total number of unique words is 1838
    29.1 of words are in the 2000 most common words
    43.6 of words are in the 5000 most common words
    52.3 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 16
    Total number of words is 4596
    Total number of unique words is 1784
    27.3 of words are in the 2000 most common words
    41.7 of words are in the 5000 most common words
    50.1 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 17
    Total number of words is 4502
    Total number of unique words is 1868
    27.7 of words are in the 2000 most common words
    40.4 of words are in the 5000 most common words
    48.6 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 18
    Total number of words is 4549
    Total number of unique words is 1796
    31.0 of words are in the 2000 most common words
    46.0 of words are in the 5000 most common words
    53.1 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 19
    Total number of words is 4474
    Total number of unique words is 1714
    28.8 of words are in the 2000 most common words
    43.6 of words are in the 5000 most common words
    50.8 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 20
    Total number of words is 4541
    Total number of unique words is 1800
    30.5 of words are in the 2000 most common words
    45.6 of words are in the 5000 most common words
    52.9 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 21
    Total number of words is 4552
    Total number of unique words is 1796
    23.5 of words are in the 2000 most common words
    36.0 of words are in the 5000 most common words
    43.5 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 22
    Total number of words is 4458
    Total number of unique words is 1737
    31.8 of words are in the 2000 most common words
    47.0 of words are in the 5000 most common words
    55.1 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 23
    Total number of words is 4619
    Total number of unique words is 1712
    35.8 of words are in the 2000 most common words
    49.5 of words are in the 5000 most common words
    58.6 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 24
    Total number of words is 866
    Total number of unique words is 412
    46.0 of words are in the 2000 most common words
    58.9 of words are in the 5000 most common words
    63.8 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.