A Illustre Casa de Ramires - 05

Total number of words is 4626
Total number of unique words is 1655
33.1 of words are in the 2000 most common words
47.6 of words are in the 5000 most common words
54.9 of words are in the 8000 most common words
Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
arrendamento. E escriptura assignada para a outra semana, no sabbado...
Estava feito?
Gonçalo, depois de um momento em que pestanejou nervosa e tremulamente,
estendeu a mão aberta ao Pereira:
--Toque! Agora sim! Agora fica palavra dada!
--E nosso Senhor lhe ponha virtude, concluiu o Pereira, firmado no
immenso guarda-sol para se erguer. Então no sabbado, em Oliveira, para a
escriptura... Assigna V. Ex.^a ou o Sr. padre Soeiro?
Mas o fidalgo calculava:
--Não, homem, não póde ser! No sabbado, com effeito, estou em Oliveira,
mas são os annos da mana Maria da Graça...
O Pereira destapou de novo os maus dentes, n'um riso de estima:
--Ah! e como vae a snr.^a D. Maria da Graça? Ha que edades a não vejo!
Desde o anno passado, na procissão de Passos, em Oliveira... Muito boa
senhora! Muito dada! E o Sr. José Barrôlo? Pessoa excellente tambem, a
valer, o Sr. José Barrôlo... E que terra a d'elle, a _Ribeirinha_! A
melhor propriedade d'estas vinte leguas em redor. Linda propriedade! A
do André Cavalleiro que lhe está pegada, a _Biscaia_, não se lhe
compára--é como cardo ao pé de couve.
O Fidalgo da Torre descascava um pecego, sorrindo:
--Do André Cavalleiro nada presta, Pereira! Nem terra, nem alma!
O lavrador pareceu surprehendido. Elle imaginava que o Fidalgo e o
Cavalleiro continuavam chegados e amigos... Não em Politica! Mas
particularmente, como cavalheiros...
--O que? Eu e o Cavalleiro? Nem como cavalheiro nem como politico. Que
elle nem é cavalheiro nem politico. É apenas cavallo, e resabiado.
O Pereira ficou silencioso, com os olhos na toalha. Depois, resumindo:
--Então está entendido, no sabbado, na cidade. E, se não faz transtorno
ao Fidalgo, passamos pelo tabellião Guedes, e fica o feito arrumado. O
Fidalgo, naturalmente, vae para a casa da senhora sua mana...
--Sempre. Appareça você ás trez horas. Lá conversamos com o padre
Soeiro.
--Tambem ha que edades não encontro o Sr. padre Soeiro!
--Oh! esse ingrato, agora, raramente apparece na Torre. Sempre em
Oliveira, com a mana Graça, que é a menina dos seus encantos... Então
nem um calice de vinho do Porto, Pereira?... Bem, até sabbado. Não
esqueça o beijinho para o neto.
--Cá me vae no coração, meu Fidalgo... Ora essa! Pois consentia eu que
V. Ex.^a se levantasse? Sei perfeitamente a escada, e ainda passo pela
cozinha para debicar com a tia Rosa. Já desde o tempo do paesinho de V.
Ex.^a, que Deus haja, conheço bem a Torre!... E sempre m'esperancei de
trazer n'esta quinta uma lavoura a meu gosto, de consolar!
Durante o café, esquecido dos jornaes, Gonçalo gozou a excellencia
d'aquelle negocio. Duzentos mil réis mais de renda. E a Torre tratada
pelo Pereira, com aquelle amor da terra e saber de lavra que
transformára o chavascal do Monte-Agra n'uma maravilha de seára, vinha e
horta!... Além d'isso, homem abastado, capaz de um adeantamento. E eis
ahi mais uma evidencia do valor da Torre, esse affinco do Pereira em a
arrendar, elle tão apertado, tão seguro... Quasi se arrependia de lhe
não ter arrancado um conto e duzentos. Emfim, a manhã fôra fecunda! E,
realmente, nenhum accordo firmado o collava ao Casco. Entre elles apenas
s'esboçára uma conversa, sobre um arrendamento possivel da Torre, a
debater depois miudamente, n'uma base nova de novecentos e cincoenta mil
reis... E que insensatez se elle, por escrupuloso respeito d'essa
conversa esboçada, recusasse o Pereira, retivesse o Casco, lavrador de
rotina--dos que raspam a terra para comer, e a deixam cada anno
deperecendo, mais cançada e chupada!...
--Bento, traze charutos! E o Joaquim que tenha a egua sellada das cinco
para as cinco e meia. Sempre vou á _Feitosa_... Hoje é o dia!
Accendeu um charuto, voltou á livraria. E, immediatamente releu o final
magnifico: «De mal com o Reino e com o Rei, mas de bem com a honra e
commigo!»--Ah! como alli gritava a alma inteira do velho portuguez, no
seu amor religioso da palavra e da honra! E, com a tira d'almasso entre
os dedos, junto da varanda, considerou um momento a Torre, as poeirentas
frestas engradadas de ferro, as resistentes ameias, ainda inteiras, onde
agora adejava um bando de pombas... Quantas manhãs, ás frescas horas
d'alva, o velho Tructesindo se encostára áquellas ameias, então novas e
brancas! Toda a terra em redor, semeada ou bravia, decerto pertencia ao
poderoso Rico-Homem. E o Pereira, n'esse tempo colono ou servo, só
abordava o seu Senhor de joelhos e tremendo! Mas não lhe pagava um conto
cento e cincoenta mil réis de sonora moeda do Reino. Tambem, que diabo,
o vôvô Tructesindo não precisava... Quando os saccos rareavam nas arcas,
e os acostados rosnavam por tardança de soldo, o leal Rico-Homem, para
se prover, tinha as tulhas e as adégas dos Concelhos mal defendidos--ou
então, n'uma volta de estrada, o ovençal voltando de recolher as rendas
reaes, o bufarinheiro genovez com os machos ajoujados de trouxas. Por
baixo da Torre (como lhe contára o papá) ainda negrejava a masmorra
feudal, meio atulhada, mas com restos de correntes chumbadas aos
pilares, e na abobada a argola d'onde pendia a polé, e no lagedo os
buracos em que se escorava o potro. E, n'essa surda e humida cova,
ovençal, bufarinheiro, clerigos e mesmo burguezes de fôro uivavam sob o
açoite ou no torniquete, até largarem agonizando o derradeiro
morabitino. Ah! a ramantica Torre, cantada tão meigamente ao luar pelo
Videirinha, quantos tormentos abafára!...
E de repente, com um berro, Gonçalo agarrou de sobre a mesa um volume de
Walter Scott, que atirou sem piedade, como uma pedra, contra o tronco de
uma faia. É que descortinára o gato da Rosa cozinheira, trepado, d'unhas
fincadas n'um ramo, arqueando a espinha, para assaltar um ninho de
melros.
* * * * *
Quando n'essa tarde o Fidalgo da Torre, airoso no seu fato novo de
montar, polainas de couro polido, luvas de camurça branca, parou a egua
ao portão da _Feitosa_--um velho todo esfarrapado, com longos cabellos
cahidos pelos hombros e immensas barbas espalhadas pelo peito,
immediatamente se ergueu do banco de pedra onde comia rodellas de
chouriço, bebendo d'uma cabaça, para o avisar que o Sr. Sanches Lucena e
a Sr.^a D. Anna andavam por fóra, de carruagem. Gonçalo pediu ao velho
que puchasse o ferro da sineta. E entregando um cartão ao moço, que
entreabrira a rica grade dourada, com um _S_ e um _L_ entrelaçados, sob
uma corôa de conde:
--O Sr. Sanches Lucena, bem?
O Sr. Conselheiro, agora, um pouquinho melhor...
--O que? Esteve doente?
--Pois o Sr. Conselheiro, aqui ha tres ou quatro semanas, andou muito
agoniado...
--Oh! Sinto muito... Diga ao Sr. Conselheiro que sinto muitissimo!
Chamou o velho que repicára a sineta para o recompensar com um tostão.
E, interessado por aquellas barbaças e melenas de mendigo de Melodrama:
--Vocemecê pede esmola por estes sitios?
O homem ergueu para elle os olhos sujos, avermelhados da poeira e do
sol, mas risonhos, quasi contentes:
--Tambem me chego pela Torre, meu Fidalgo. E, graças a Deus, lá me fazem
muito bem.
--Então quando lá voltar diga ao Bento... Você conhece o Bento?
Se conhecia! E a Snr.^a Rosa...
--Pois diga ao Bento que lhe dê umas calças, homem! Você assim, com
essas calças, não anda decente.
O velho riu, n'um riso lento e desdentado, mirando com gosto os sordidos
farrapos que lhe trapejavam nas canellas, mais denegridas e seccas que
galhos de inverno:
--Rôtinhas, rôtinhas... Mas o Sr. dr. Julio diz que me ficam assim bem.
O Sr. dr. Julio, quando lá passo, sempre me tira o retrato na machina.
Ainda na semana passada... Até com uns pedaços de grilhões dependurados
do pulso, e uma espada erguida na mão... Parece que para mostrar ao
Governo.
Gonçalo, rindo, picou a egua. Pensava agora em alongar por Valverde:
depois recolheria por Villa-Clara, e tentaria o Gouvêa a partilhar na
Torre um cabrito assado no espeto de cerejeira, para que elle na
vespera, na Assembléa, convidára o Manoel Duarte e o Titó. Mas ao
atravessar a «Cruz das Almas», onde a estrada de Corinde, tão linda, com
as suas filas d'alamos, crusa a ladeira de Valverde, parou--notando ao
fundo, para o lado de Corinde, como o confuso esbarro d'uma carrada de
lenha, e uma carriola d'açougue, e uma mulher de lenço escarlate
bracejando sobre a albarda d'um burro, e dous lavradores de enxada ás
costas. E, de repente, todo o encalhe se despegou--a mulher trotando no
seu burrinho, logo sumida n'uma volta de arvoredo; a carriola
solavancando n'um rolo leve de poeira; o carro avançando para a «Cruz
das Almas» a chiar tardamente; os cavadores descendo para uma chã
atravez das leiras de feno... Na estrada só restou, como desamparado, um
homem de jaqueta ao hombro, que se arrastava penosamente, coxeando.
Gonçalo trotou, com curiosidade:
--Que foi?... Vocemecê que tem?
O homem, com a perna encolhida, levantou para Gonçalo uma face
arrepanhada, quasi desmaiada, que reluzia sob as camarinhas de suor:
--Nosso Senhor lhe dê muito boas tardes, meu Fidalgo! Ora o que hade
ser? Desgraças d'esta vida!
E, gemendo, contou a sua historia.--Desde mezes padecia d'uma chaga n'um
tornozello, que não seccára, nem com emplastos, nem com pó de murtinhos,
nem com benzeduras... E agora andava arriba, na fazenda do Sr. dr.
Julio, a concertar um socalco, para ajudar um compadre tambem doente com
maleitas--e, zás, desaba um pedregulho, que tópa na ferida, leva a
carne, lasca o osso, o deixa n'aquella lastima!... Até rasgára a fralda
para ensopar o sangue e amarrar por cima o lenço.
--Mas assim não póde andar, homem! D'onde é vocemecê?
--De Corinde, meu Fidalgo. Manoel Sôlha, do logar da Finta. Até lá,
sempre me hei-de arrastar.
--E então, d'essa gente toda, que ahi estava ha bocado, ninguem o poude
ajudar?... Uma carriola, dous latagões...
Uma rija guinada, no teimoso esforço de firmar a perna, arrancou um
grito ao Sôlha. Mas sorriu, arquejando... Que queria o Fidalgo? Cada um,
n'este mundo, tem a sua pressa... Emfim, a rapariga do burro promettêra
passar pela Finta, para avisar. E talvez um dos seus rapazes apparecesse
na estrada com uma eguasita que elle comprára pela Paschoa--e que, por
desgraça, tambem mancava!...
Immediatamente, com um salto leve, o Fidalgo da Torre desmontou:
--Bem! Então, egua por egua, já vocemecê tem aqui esta...
O Sôlha embasbacou para Gonçalo:
--Ora essa! Santo nome de Deus!... Pois eu havia de ir a cavallo, e V.
Ex.^a a pé?
Gonçalo ria:
--Homem, com essas discussões de «eu a pé» e «você a cavallo», e «faz
favôr» e «não senhor», é que perdemos um tempo precioso. Monte, esteja
quieto, e trote para a Finta!
O outro recuava para a valleta da estrada, sacudindo a cabeça,
esgazeado, como no espanto de um sacrilegio:
--Isso é que não, meu senhor, isso é que não! Antes eu acabasse aqui á
mingoa, com a chaga em bolor!
Gonçalo bateu o pé, com auctoridade:
--Monte, que mando eu! Vocemecê é um lavrador de enxada, eu sou um
Doutor formado em Coimbra, sou eu que sei, sou eu que mando!
E o Sôlha, logo submisso ante aquella força deslumbrante do Saber
superior, agarrou em silencio a crina da egua, enfiou respeitosamente o
estribo, ajudado pelo Fidalgo, que, sem tirar as luvas brancas, lhe
amparava o pé entrapado e manchado de sangue.
Depois, quando elle repousou no sellim com um _ah!_ consolado:
--Então que tal?
O homem só murmurava o nome de Nosso Senhor, na gratidão e no assombro
d'aquella caridade:
--Mas isto é a volta do mundo... Eu aqui, na egua do Fidalgo! E o
Fidalgo, o Sr. Gonçalo Ramires, da Torre, a pé pela estrada!
Gonçalo gracejou. E, para entreter a caminhada, perguntou pela quinta do
Dr. Julio, que agora se arrojára a obras e plantações de vinha. Depois,
como o Manoel Sôlha conhecia o Pereira Brasileiro (que pensára em
arrendar as terras do Dr. Julio), conversaram sobre esse esperto homem,
sobre as grandezas da _Cortiga_. Já sem embaraço, direito no sellim, no
gosto d'aquella intimidade com o Fidalgo da Torre, o Sôlha esquecia a
chaga, a dôr que adormentára. E á estribeira do Sôlha, attento e
sorrindo, o Fidalgo estugava o passo na poeira branca.
Assim se avizinhavam da _Bica-Santa_, um dos sitios decantados
d'aquellas cercanias formosas. Ahi a estrada, cortada na encosta d'um
monte, alarga e fórma um arejado terraço, d'onde se abrange todo o valle
de Corinde, tão rico em casaes, em arvoredos, em seáras, em aguas. No
pendor do monte, coberto de carvalhos e de fragas musgosas, bróta a
fonte nomeada, que já em tempos d'El-Rei D. João V curava males
d'entranhas--e que uma devota senhora de Corinde, D. Rosa Miranda
Carneiro, mandou encanar desde o alto até a um tanque de marmore, onde
agora corre beneficamente, por uma bica de bronze, sob a imagem e
patrocinio de Santa Rosa de Lima. De cada lado do tanque se encurvam
dous compridos bancos de pedra, que a espalhada ramaria das carvalheiras
tolda de sombra e frescura. É um suave retiro onde se apanham violetas,
se comem merendas, e senhoras dos arredores se sentam em rancho, nas
tardinhas de domingo, escutando os melros, gozando a povoada, luminosa e
verdejante largueza do valle.
Antes porém de desembocar na _Bica-Santa_, e perto do logar do Serdal, a
estrada de Corinde quebra n'uma volta:--e, ahi, de repente, a egua
pulou, n'um reparo, que obrigou o Fidalgo da Torre, desconfiado da
pericia do Sôlha, a deitar a mão á caimba do freio. Fôra o encontro
inesperado d'uma carruagem--uma caleche forrada d'azul, com a parelha
coberta de rêdes brancas contra a môsca, e na almofada, têzo, um
cocheiro de bigode, farda de golla escarlate e chapéo de tópe amarello.
E Gonçalo mantinha ainda a egua pelo freio, como arrieiro serviçal em
trilho perigoso--quando avistou, sentado n'um dos bancos de pedra, junto
da Bica, com um chale-manta por cima dos joelhos, o velho Sanches
Lucena. Ao lado o trintanario, agachado, esfregava com um mólho d'herva
a botina que a bella D. Anna lhe estendia, apanhando o vestido de linho
crú, apoiando a outra mão, sem luva, na cinta vergada e fina.
A desconcertada apparição do Fidalgo da Torre, puxando pela rédea a sua
egua onde se escarranchava regaladamente um cavador em mangas de camisa,
alvorotou aquelle repousado e dormente recanto da _Bica_. Sanches Lucena
esbugalhava os olhos, esbugalhava os oculos, n'um arremesso de
curiosidade que o levantára, com o pescoço esticado, o chale-manta
escorregado para a relva. D. Anna recolheu bruscamente a botina, logo
empertigada, na gravidade condigna da senhora da _Feitosa_, retomando
como uma insignia o cabo d'ouro da luneta d'ouro, suspensa por um cordão
d'ouro. E até o trintanario ria pasmadamente para o Sôlha.
Mas já, com o seu desembaraço elegante, Gonçalo, n'um relance, saudára
D. Anna, apertava com fervor a mão espantada do Sanches Lucena, e,
alegremente se congratulava por aquelle encontro ditoso! Pois vinha
justamente da _Feitosa_! E ahi soubera com desgosto, por um moço da
quinta decerto exagerado, que o Sr. Conselheiro nas ultimas semanas
andára doente... E, então como estava? como estava?--Oh! a physionomia
era excellente!
--Pois não é verdade, Sr.^a D. Anna? O aspecto é excellente!
Com um leve requebro da cabeça, um fofo ondear do mólho de plumas
brancas sobre o chapéo de palha vermelha, ella volveu n'uma voz rolada,
lenta e gorda, que arripiou Gonçalo:
--O Sanches agora, graças a Deus, desfructa melhor saude...
--Um pouco melhor, sim, com effeito, muito agradecido a V. Ex.^a, Sr.
Gonçalo Ramires! murmurou o descarnado e corcovado homem, repuxando para
os joelhos o chale-manta.
E, com os oculos a luzir, cravados em Gonçalo, na curiosidade que o
abrazava, quasi lhe rosára a face afilada, mais amarella que um cirio:
--Mas, com perdão de V. Ex.^a! como é que V. Ex.^a anda por aqui, pela
estrada de Corinde, n'este estado, a pé, trazendo á rédea um lavrador de
enxada?...
Rindo, sobretudo para D. Anna, cujos olhos formosamente negros, d'uma
funda refulgencia liquida, tambem esperavam, serios e reservados,
Gonçalo contou o desastre do bom homem, que encontrára no caminho
gemendo, arrastando a perna escalavrada...
--De sorte que lhe offereci a minha egua... E até, se V. Ex.^a me
permitte, minha senhora, é necessario que eu combine com elle o resto da
jornada...
Rapidamente, voltou ao Sôlha, que, de novo acanhado ante os senhores da
_Feitosa_, com o chapeu na mão, encolhido sobre o sellim, como
attenuando a sua grandeza, logo se desestribou para desmontar. Mas já
Gonçalo lhe ordenava que trotasse para a Finta--e lhe mandasse a egua
por um dos seus rapazes, alli á Bica-Santa, onde elle se demorava com o
Snr. Conselheiro. E quando o Sôlha largou, saudando desabaladamente,
torcido, como impellido a seu pezar pelos acenos risonhos com que o
Fidalgo o despedia, o assombro do Sanches Lucena recomeçou:
--Ora uma cousa d'estas! Eu tudo esperaria, tudo, menos o Sr. Gonçalo
Mendes Ramires a trazer á rédea, pela estrada de Corinde, um cavador
d'enxada! É a repetição do Bom Samaritano... Mas para melhor!
Gonçalo gracejou, sentado no banco, junto de Sanches Lucena.--Oh! o Bom
Samaritano não merecera uma pagina tão amavel no Evangelho sómente por
offerecer o burro a um Levita doente: decerto mostrára virtudes mais
bellas...--E sorrindo para D. Anna, que, do outro lado de Sanches
Lucena, espalhava a luneta, com lentidão magestosa, pelas arvores e pela
Fonte que tão bem conhecia:
--Ha dous annos, minha senhora, que eu não tenho a honra...
Mas Sanches Lucena despediu um grito:
--Oh! Sr. Gonçalo Ramires! V. Ex.^a traz sangue na mão!
O Fidalgo reparou, espantado. Sobre a luva de camurça branca resaltavam
duas manchas arroxeadas:
--Não é sangue meu! foi naturalmente quando o Sôlha montou, e eu lhe
segurei o pé escalavrado...
Arrancou a luva, que arremessou para as hervas bravas, por traz do banco
de pedra. E continuando o sorriso:
--Com effeito, não tenho a honra de encontrar a V. Ex.^a, minha senhora,
desde o baile do barão das Marges, em Oliveira, o famoso baile de
Entrudo... Ha mais de dois annos, era eu estudante. E ainda me recordo
que V. Ex.^a estava vestida esplendidamente de Catharina da Russia...
E, emquanto a envolvia no sorrir dos olhos finos e meigos,
pensava:--«Formosa creatura! mas ordinaria! e que voz!...» D. Anna
tambem se recordava do baile dos Marges:
--O cavalheiro, porém, está equivocado. Eu não fui de Russa, fui de
Imperatriz...
--Sim, d'Imperatriz da Russia, de Grande Catharina... E com um gosto!
com um luxo!
Sanches Lucena voltou vagarosamente para Gonçalo os oculos d'ouro,
apontou um dedo alongado e livido:
--Pois tambem eu me lembro que sua mana, e minha senhora, a Sr.^a D.
Graça, trazia um trage de lavradeira de Vianna... Foi uma luzidissima
festa; nem admira; o nosso Marges é sempre primoroso... E desde essa
noite não tornei a encontrar a mana de V. Ex.^a em intimidade. Apenas de
longe, na missa...
De resto pouco residia agora em Oliveira, apesar de conservar a casa
montada, creadagem e cocheira--porque, ou culpa do ar ou culpa da agua,
não se dava bem na Cidade.
Gonçalo acalorou mais o seu interesse:
--Mas então, realmente, V. Ex.^a o que tem tido?
Sanches Lucena sorriu, com amargura. Os medicos, em Lisboa, não se
entendiam. Uns attribuiam ao estomago--outros attribuiam ao coração.
Portanto, aqui ou alli, viscera essencial atacada. E soffria crises--más
crises... Emfim, com a graça de Deus, e regimen, e leite, e descanço,
ainda esperava arrastar uns annos.
--Oh! com certeza! exclamou Gonçalo alegremente. E V. Ex.^a não pensa
que a estada em Lisboa, e as Camaras, e a Politica, a terrivel Politica,
o fatiguem, o agitem?...
Não, pelo contrario, Sanches Lucena passava toleravelmente em Lisboa.
Melhor mesmo que na _Feitosa_! Depois, gostava d'aquella distracção das
Camaras. E como conservava amigos na Capital, uma roda escolhida, uma
roda fina...
--Um d'esses nossos excellentes amigos, V. Ex.^a decerto conhece. Elle é
parente de V. Ex.^a... O D. João da Pedrosa.
Gonçalo, alheio ao homem, mesmo ao nome, murmurou polidamente:
--Sim, o D. João, decerto...
E Sanches Lucena, passando pelas suissas brancas a mão magrissima, quasi
transparente, onde reluzia um enorme annel d'armas de saphira:
--E não sómente o D. João... Outro dos nossos amigos é egualmente
parente de V. Ex.^a, e chegado. Muitas vezes temos fallado de V. Ex.^a,
e da sua casa. Que elle pertence tambem á primeira nobreza... É o
Arronches Manrique.
--Cavalheiro muito dado, muito divertido! accrescentou D. Anna, com uma
convicção que lhe alteou o peito, a que o corpete justo marcava a força
viçosa e a perfeição.
A Gonçalo tambem nunca chegára esse nome sonóro. Mas não hesitou:
--Sim, perfeitamente, o Manrique... De resto, eu tenho tantos parentes
em Lisboa, e vou tão pouco a Lisboa!... E V. Ex.^a, Sr.^a D. Anna...
Mas o Sanches Lucena insistia, deliciado n'aquella conversa de
parentescos fidalgos:
--V. Ex.^a, naturalmente, tem em Lisboa toda a sua parentella historica.
Assim eu creio que V. Ex.^a é primo do Duque de Lourençal... O Duarte
Lourençal! Elle não usa o titulo, por Miguelismo, ou antes por habito:
mas emfim é o legitimo Duque de Lourençal. É quem representa a casa de
Lourençal.
Gonçalo, sorrindo attentamente, desabotoára o fraque, procurava a sua
velha charuteira de couro.
--Sim, com effeito, o Duarte... Somos primos. Diz elle que somos primos.
E eu acredito. Entendo tão pouco d'arvores de costado!... De facto as
casas em Portugal andam muito cruzadas; todos somos parentes, não só
pelo lado d'Adão, mas pelos Godos... E V. Ex.^a, Sr.^a D. Anna, prefere
a estada em Lisboa?
Mas, reparando que escolhera um charuto, distrahidamente o trincára:
--Oh! perdão minha senhora... Ia fumar sem saber se V. Ex.^a...
Ella saudou, descendo as longas pestanas:
--O cavalheiro póde fumar; o Sanches não fuma, mas eu até aprecio o
cheiro.
Gonçalo agradeceu, enjoado com aquella voz redonda e gorda, aquelles
horrendos «_cavalheiro, o cavalheiro_!...» Mas pensava:--«que linda
pelle! que bella creatura!...» E Sanches Lucena, inexoravel, estendera o
dedo agudo:
--Pois eu conheço muito, não o Sr. D. Duarte Lourençal, não tenho essa
subida honra por ora, mas seu irmão, o Sr. D. Philippe. Cavalheiro
estimabilissimo, como V. Ex.^a decerto sabe... E depois, que talento...
Que talento, no cornetim!
--Ah!
--O quê! V. Ex.^a não ouviu seu primo, o Sr. D. Philippe Lourençal,
tocar cornetim?
E até a bella D. Anna se animou, com um sorriso languido dos beiços
cheios, mais vermelhos que cerejas maduras sobre o fresco rebrilho dos
dentes pequeninos:
--Oh! tóca ricamente! O Sanches gosta muito de musica; eu tambem... Mas,
como V. Ex.^a comprehende, qui na aldéa, com a falta de recursos...
Gonçalo, arremessando o phosphoro, exclamára logo, n'um sincero
interesse:
--Então, queria que V. Ex.^a ouvisse um amigo meu, que é verdadeiramente
sublime no violão, o Videirinha!...
Sanches Lucena estranhou o nome, a sua vulgaridade. E o Fidalgo,
singelamente:
--É um rapaz muito meu amigo, de Villa-Clara... O José Videira, ajudante
da Pharmacia...
Os oculos de Sanches Lucena cresceram de puro espanto:
--Ajudante da Pharmacia e amigo do Sr. Gonçalo Mendes Ramires!
Sim, desde estudante, dos exames do Lyceu. Até o Videirinha passava as
ferias na Torre, com a mãe, antiga costureira da casa. Tão bom rapaz,
tão simples... E na realidade, no violão, um genio!
--Agora tem elle uma cantiga admiravel que chamou o _Fado dos Ramires_.
A musica é com effeito um fado de Coimbra, um fado conhecido. Mas os
versos são d'elle, umas quadras engraçadas sobre cousas da minha Casa,
lendas, patranhas... Pois ficou sublime! Ainda ha dias na Torre, comigo
e com o Titó...
E a este nome, familiar e menineiro, Sanches Lucena mostrou outro
reparo:
--O Titó?
O Fidalgo ria:
--É uma velha alcunha d'amizade que nós damos ao Antonio Villalobos.
Então Sanches Lucena atirou ambos os braços, como se alguem muito
querido apparecesse na estrada:
--O Antonio Villalobos! Mas esse é um dos nossos fieis e bons amigos!
Cavalheiro estimabilissimo! Quasi todas as semanas nos faz o favor de
apparecer pela _Feitosa_...
E agora era o Fidalgo que pasmava ante essa intimidade a que nunca o
Titó alludira, quando no Gago, na Torre, na Assembléa, se berrava,
politicando, o nome do Sanches Lucena!
--Ah V. Ex.^a conhece...
Mas D. Anna, que se erguera bruscamente do banco, e, debruçada, recolhia
a luva e a sombrinha--lembrou ao marido o estriar lento da tarde, a
neblina subindo sempre áquella hora do valle aquecido:
--Sabes que nunca te faz bem... E tambem não faz bem á parelha, assim
parada, ha tanto tempo.
Immediatamente Sanches Lucena, receioso, puxára da algibeira um espesso
lenço de sêda branca para abafar o pescoço. E, receioso tambem pela
parelha, logo se arrancou pesadamente do banco de pedra, com um aceno
cançado ao trintanario para apanhar o chale, avisar o cocheiro. Mas
ainda atravessou, vergado e arrimado á bengala, para o parapeito que
resguarda a estrada sobre o despenhado pendor do monte, dominando o
valle. E confessava a Gonçalo que aquelle era, nos arredores da
_Feitosa_, o seu passeio preferido. Não só pela belleza do sitio, já
cantado pelo «nosso mavioso Cunha Torres»;--mas porque do terraço da
Bica, sem esforço, sentado no banco, avistava n'uma largueza terras
suas:
--Olhe V. Ex.^a... Para além d'aquelle souto, até á chã e ao comoro onde
está a casota amarella e por traz o pinhal, tudo é meu... O pinhal ainda
é meu... Acolá, do renque d'álamos para deante, depois do lameiro, é
tambem meu... Alli, do lado da ermida, pertence ao Monte-Agra... Mas,
mais para lá, passado o azinhal, pelo monte acima, é tudo meu!
O livido dedo, o braço escanifrado na manga de casimira preta, cresciam
por sobre o valle.--Além os pastos... Adeante os centeios... Depois o
bravio...--Tudo d'elle! E, por traz da magra figura alquebrada, de
chapéo enterrado na nuca, o abafo de seda subido até ás pallidas orelhas
quasi despegadas, D. Anna, esvelta, clara e sã como um marmore, com um
sorriso esquecido nos labios gulosos, o formoso peito mais cheio,
acompanhava a enumeração copiosa, affincava a luneta sobre os pastos, e
os pinhaes, e os centeios, sentindo já--tudo d'ella!
--E agora acolá, detraz do olival, concluiu Sanches Lucena com respeito,
é sitio seu, Sr. Gonçalo Mendes Ramires...
--Meu?...
--De V. Ex.^a, quero dizer, ligado á casa de V. Ex.^a. Pois não
reconhece?... Além, por traz do moinho, passa a estrada de Santa Maria
de Craquêde. São os tumulos dos seus antepassados... Passeio que eu
tambem ás vezes faço, e com gosto. Ainda ha um mez visitamos detidamente
as ruinas. E acredite que fiquei impressionado! Aquelle bocado de
claustro tão antigo, os grandes esquifes de pedra, a espada chumbada á
abobada por cima do tumulo do meio... É de commover! E achei muito
bonito, muito filial, da parte de V. Ex.^a, o ter sempre aquela lampada
de bronze accêsa de noite e de dia...
Gonçalo engrolou um murmurio risonho--porque não se recordava da espada,
nunca recommendára a lampada. Mas Sanches Lucena, agora, supplicava um
precioso favor ao snr. Gonçalo Mendes Ramires. E era que S. Ex.^a lhe
concedesse a honra de o conduzir na carruagem á Torre... Alvoroçadamente
Gonçalo recusou. Nem podia! combinára com o homem da perna dorida
esperar alli, na Bica, pela sua egoa.
--Mas fica aqui o meu trintanario, que leva a egoa de V. Ex.^a á Torre.
--Não, não, se V. Ex.^a me permitte, eu espero... Depois metto pelo
atalho da Crassa, porque tenho ás oito horas na Torre, á minha espera
para jantar, o Titó.
D. Anna, do meio da estrada, apressou logo o marido sacudidamente, com a
ameaça renovada da friagem, do relento... Mas, junto da caleche, Sanches
You have read 1 text from Portuguese literature.
Next - A Illustre Casa de Ramires - 06
  • Parts
  • A Illustre Casa de Ramires - 01
    Total number of words is 4537
    Total number of unique words is 1862
    31.1 of words are in the 2000 most common words
    45.0 of words are in the 5000 most common words
    52.9 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 02
    Total number of words is 4582
    Total number of unique words is 1781
    30.5 of words are in the 2000 most common words
    45.5 of words are in the 5000 most common words
    54.0 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 03
    Total number of words is 4441
    Total number of unique words is 1765
    31.2 of words are in the 2000 most common words
    45.6 of words are in the 5000 most common words
    54.8 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 04
    Total number of words is 4628
    Total number of unique words is 1873
    29.3 of words are in the 2000 most common words
    43.1 of words are in the 5000 most common words
    50.4 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 05
    Total number of words is 4626
    Total number of unique words is 1655
    33.1 of words are in the 2000 most common words
    47.6 of words are in the 5000 most common words
    54.9 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 06
    Total number of words is 4516
    Total number of unique words is 1706
    32.1 of words are in the 2000 most common words
    45.6 of words are in the 5000 most common words
    54.1 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 07
    Total number of words is 4453
    Total number of unique words is 1728
    29.7 of words are in the 2000 most common words
    43.9 of words are in the 5000 most common words
    51.8 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 08
    Total number of words is 4505
    Total number of unique words is 1938
    28.2 of words are in the 2000 most common words
    40.8 of words are in the 5000 most common words
    48.3 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 09
    Total number of words is 4466
    Total number of unique words is 1696
    32.4 of words are in the 2000 most common words
    46.9 of words are in the 5000 most common words
    54.7 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 10
    Total number of words is 4415
    Total number of unique words is 1739
    32.3 of words are in the 2000 most common words
    46.6 of words are in the 5000 most common words
    53.8 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 11
    Total number of words is 4519
    Total number of unique words is 1817
    31.0 of words are in the 2000 most common words
    44.9 of words are in the 5000 most common words
    53.3 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 12
    Total number of words is 4387
    Total number of unique words is 1704
    31.3 of words are in the 2000 most common words
    45.9 of words are in the 5000 most common words
    53.7 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 13
    Total number of words is 4444
    Total number of unique words is 1648
    30.8 of words are in the 2000 most common words
    46.6 of words are in the 5000 most common words
    55.1 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 14
    Total number of words is 4479
    Total number of unique words is 1762
    31.6 of words are in the 2000 most common words
    45.9 of words are in the 5000 most common words
    52.9 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 15
    Total number of words is 4527
    Total number of unique words is 1838
    29.1 of words are in the 2000 most common words
    43.6 of words are in the 5000 most common words
    52.3 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 16
    Total number of words is 4596
    Total number of unique words is 1784
    27.3 of words are in the 2000 most common words
    41.7 of words are in the 5000 most common words
    50.1 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 17
    Total number of words is 4502
    Total number of unique words is 1868
    27.7 of words are in the 2000 most common words
    40.4 of words are in the 5000 most common words
    48.6 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 18
    Total number of words is 4549
    Total number of unique words is 1796
    31.0 of words are in the 2000 most common words
    46.0 of words are in the 5000 most common words
    53.1 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 19
    Total number of words is 4474
    Total number of unique words is 1714
    28.8 of words are in the 2000 most common words
    43.6 of words are in the 5000 most common words
    50.8 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 20
    Total number of words is 4541
    Total number of unique words is 1800
    30.5 of words are in the 2000 most common words
    45.6 of words are in the 5000 most common words
    52.9 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 21
    Total number of words is 4552
    Total number of unique words is 1796
    23.5 of words are in the 2000 most common words
    36.0 of words are in the 5000 most common words
    43.5 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 22
    Total number of words is 4458
    Total number of unique words is 1737
    31.8 of words are in the 2000 most common words
    47.0 of words are in the 5000 most common words
    55.1 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 23
    Total number of words is 4619
    Total number of unique words is 1712
    35.8 of words are in the 2000 most common words
    49.5 of words are in the 5000 most common words
    58.6 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • A Illustre Casa de Ramires - 24
    Total number of words is 866
    Total number of unique words is 412
    46.0 of words are in the 2000 most common words
    58.9 of words are in the 5000 most common words
    63.8 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.