Os Lusíadas - 03

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Mandão fora hum dos Mouros q̃ tomàrão,
Por quem ſua vinda ao Rei manifeſtàrão.
O Rei que ja ſabia da nobreza
que tanto os Portugueſes engrandece,
Tomarem o ſeu porto tanto preza,
Quanto a gente fortiſsima merece:
E com verdadeiro animo, & pureza,
Que os peitos generoſos ennobrece.
Lhe manda rogar muyto que ſaiſſem,
Pera que de ſeus Reinos ſe ſeruiſſem:
Sam offerecimentos verdadeiros,
E palauras ſinceras, não dobradas,
As que o Rei manda aos nobres caualleiros,
Que tanto mar & terras tem paſſadas:
Mandalhe mais lanigeros carneiros,
E galinhas domeſticas çeuadas,
Com as fructas que antam na terra auia,
E a vontade aa dadiua excedia.
Recebe o Capitão alegremente
O menſageiro ledo, & ſeu recado,
E logo manda ao Rei outro preſente,
Que de longe trazia aparelhado:
Eſcarlata purpurea, cor ardente,
O ramoſo coral fino, & prezado.
Que debaxo das agoas mole creçe,
E como he fora dellas ſe endureçe.
Manda mais hum na pratica elegante,
Que co Rei nobre as pazes concertaſſe,
E que de não ſair naquelle inſtante,
De ſuas naos em terra o deſculpaſſe.
Partido aſsi o embaixador preſtante,
Como na terra ao Rei ſe apreſentaſſe:
Com eſtillo que Palas lhe enſinaua,
Estas palauras tais fallando oraua.
Sublime Rei, a quem do Olimpo puro,
Foy da ſuma Iustiça concedido,
Refrear o ſoberbo pouo duro,
Não menos delle amado, que temido,
Como porto muy forte, & muy ſeguro,
De todo o Oriente conhecido:
Te vimos a buſcar, pera que achemos
Em ti o remedio certo que queremos.
Não ſomos roubadores, que paſſando
Pelas fracas cidades deſcuidadas,
A ferro, & a fogo, as gentes vão matando
Por roubarlhe as fazendas cubiçadas:
Mas da ſoberba Europa nauegando,
Himos buſcando as terras apartadas
Da India grande, & rica, por mandado
De hum Rei que temos, alto, & ſublimado.
Que geração tam dura ahi de gente?
Que barbaro costume, & vſança fea,
Que não vedem os pertos, tam ſomente:
Mas inda o hospicio da deſerta area?
Que ma tençam? que peito em nos ſe ſente?
Que de tam pouca gente ſe arrecea.
Que com laços armados tam fingidos,
Nos ordenaſſem vernos deſtruydos?
Mas tu, em quem muy certo confiamos
Acharſe mais verdade, o Rei benigno,
E aquella certa ajuda em ti eſperamos,
Que teue o perdido Itaco em Alcino:
A teu porto ſeguros nauegamos,
Conduzidos do interprete diuino.
Que pois a ti nos manda, eſtà muy claro,
Que es de peito ſincêro, humano, & raro.
E não cuydes, ô Rei, que não ſaiſſe.
O noſſo Capitão eſclarecido
A verte, ou a ſeruirte, porque viſſe
Ou ſoſpeitaſſe em ti peito fingido:
Mas ſaberas que o fez porque compriſſe,
O regimento em tudo obedecido,
De ſeu Rei, que lhe manda que nam ſaia,
Deixando a frota, em nenhũ porto, ou praia.
E porque he de vaſſalos, o exercicio,
Que os membros tem regidos da cabeça
Não quereras, pois tẽs de Rei o officio,
Que ninguem a ſèu Rei deſobedeça:
Mas as merçes, & o grande beneficio,
Que ora acha em ti, promete que conheça
Em tudo aquillo que elle & os ſeus poderem,
Em quanto os rios pera o mar correrem.
Aſsi dizia, & todos juntamente,
Hũs com outros em pratica fallando,
Louuauão muito o eſtamago da gente,
Que tantos Ceos & mares vai paſſando,
E o Rei illuſtre, o peito obediente,
Dos Portugueſes, na alma imaginando.
Tinha por valor grande, & muy ſubido,
O do Rei que he tam longe obedecido.
E com riſonha viſta, & ledo aſpeito,
Responde ao Embaixador, que tanto estima
Toda a ſoſpeita mà tiray do peito,
Nenhum frio temor em vos ſe imprima:
Que voſſo preço, & obras ſam de geito,
Pera vos ter o mundo em muyta eſtima.
E quem vos fez mollesto tratamento,
Não pode ter ſobido penſamento.
De não ſair em terra toda a gente,
Por obſeruar a vſado preminencia,
Ainda que me peſe eſtranhamente,
Em muito tenho a muita obediencia:
Mas ſe lho o regimento não conſente,
Nem eu conſentirey que a excelencia,
De peitos tão leais em ſi desfaça,
So perque a meu deſejo ſatisfaça.
Porem como a luz crastina chegada,
Ao mundo for, em minhas almàdîas,
Eu irey viſitar a forte armada,
Que ver tanto deſejo, ha tantos dias.
E ſe vier do mar desbaratada,
Do furioſo vento, & longas vias:
Aqui tera, de limpos penſamentos
Piloto, munições, & mantimentos.
Isto diſſe, & nas agoas ſe eſcondia,
O filho de Latona, & o menſageiro
Co a embaixada alegre ſe partia
Pera a frota, no ſeu batel ligeiro:
Enchem ſe os peitos todos de alegria,
Por terem o remedio verdadeiro,
Pera acharem a terra que buſcauão,
E aſsi ledos a noite feſtejauão.
Não faltão ali os rayos de arteficio,
Os tremulos Cometas imitando,
Fazem os Bombardeiros ſeu officio:
O ceo, a terra, & as ondas atroando.
Moſtraſe dos Cyclopas o exercicio,
Nas bombas que de fogo estão queimando,
Outros com vozes, com que o Ceo ferião.
Inſtrumentos altiſſonos tangião.
Respondem lhe da terra juntamente,
Co rayo volteando, com zonido,
Anda em giros no ar a roda ardente,
Estoura o po ſulfureo eſcondido:
A grita ſe aleuanta ao Ceo, da gente,
O Mar ſe via em fogos acendido:
E não menos a terra, & aſsi feſteja
Hum ao outro a maneira de peleja.
Mas ja o Ceo inquieto reuoluendo,
As gentes incitaua a ſeu trabalho,
E ja a mãy de Menon a luz trazendo,
Ao ſono longo punha certo atalho:
Hião ſe as ſombras lentas desfazendo,
Sobre as flores da terra, em frio orualho,
Quando o Rei Milindano ſe embarcaua
A ver a frota que no mar estaua.
Vião ſe em derredor feruer as prayas
Da gente, que a ver ſo concorre leda,
Luzem da fina purpura as cabaias,
Lustrão os panos da tecida ſeda:
Em lugar de guerreiras a zagaias
E do arco, que os cornos arremeda
Da Lũa, trazem ramos de Palmeira,
Dos que vencem coroa verdadeira.
Hum batel grande & largo, que toldado
Venha de ſedas de diuerſas cores,
Traz o Rei de Melinde, acompanhado
De nobres de ſeu Reino, & de ſenhores:
Vem de ricos veſtidos adornado,
Segundo ſeus costumes, & primores.
Na cabeça hũa fota guarnecida,
De ouro, & de ſeda, & de algodão tecida.
Cabaya de Damaſco rico, & dino,
Da Tiria cor, entre elles eſtimada,
Hum colar ao peſcoço de ouro fino,
Onde a materia da obra he ſuperada,
Cum reſplandor reluze Adamantino,
Na cinta, a rica adaga bem laurada.
Nas alparcas dos pês, em fim de tudo,
Cobrem, ouro & aljofar ao veludo.
Com hum redondo emparo alto de ſeda,
Nũa alta & dourada astea enxerido,
Hum miniſtro aa ſolar quentura veda,
Que não offenda & queime o Rei ſubido:
Muſica traz na proa, eſtranha & leda,
De aſpero ſom, horriſsimo ao ouuido:
De trombetas arcadas em redondo,
Que ſem concerto fazem rudo estrondo.
Não menos guarnecido o Luſitano,
Nos ſeus bateis da frota ſe partia,
A receber no mar o Melindano,
Com luſtroſa & honrada companhia:
Vestido o Gama vem ao modo Hispano:
Mas Franceſa era a roupa que veſtia,
De cetim da Adriatica Veneza,
Carmeſi, cor que a gente tanto preza.
De botões douro as mangas vem tomadas,
Onde o Sol reluzindo a viſta cega:
As calças ſoldadeſcas recamadas,
Do metal que Fortuna a tantos nega,
E com pontas do meſmo delicadas,
Os golpes do gibão ajunta, & achega:
Ao Italico modo a aurea eſpada,
Pruma na gorra, hum pouco diclinada.
Nos de ſua companhia ſe moſtraua,
Da tinta que dà o Mûrice excelente,
A varia cor, que os olhos alegraua,
E a maneira do trajo diferente:
Tal o fermoſo eſmalte ſe notaua,
Dos veſtidos olhados juntamente:
Qual aparece o arco rutilante,
Da bella Nimpha filha de Thaumante.
Sonoroſas trombetas incitauão,
Os animos alegres reſoando,
Dos Mouros os bateis o Mar co lhauão,
Os toldos pelas agoas arrojando:
As bombardas horriſſonas bramando,
Com as nuuẽs de fumo o Sol tomando,
Ameudam ſe os brados acendidos,
Tapão com as mãos os Mouros os ouuidos.
Ia no batel entrou do Capitão
O Rei, que nos ſeus braços o leuaua,
Elle coa corteſia, que a razão
(Por ſer Rei) requeria, lhe fallaua.
Cũas moſtras de eſpanto, & admiração,
O Mouro o geſto, & o modo lhe notoua,
Como quem em muy grande estima tinha,
Gente que de tam longe à India vinha.
E com grandes palauras lhe offereçe,
Tudo o que de ſeus Reinos lhe compriſſe,
E que ſe mantimento lhe falleçe,
Como ſe proprio foſſe lho pediſſe:
Diz lhe mais, que por fama bem conheçe
A gente Luſitana, ſem que a viſſe.
Que ja ouuio dizer, que noutra terra
Com gente de ſua ley tiueſſe guerra.
E como por toda Affrica ſe ſoa,
Lhe diz, os grandes feitos que fizerão,
Quando nella ganharão a coroa
Do Reino, onde as Hesperidas viuerão:
E com muitas palauras apregoa,
O menos que os de Luſo merecerão:
E o mais que pela fama o Rei ſabia:
Mas deſta ſorte o Gama reſpondia.
O tu que ſo tiueste piedade,
Rei benigno, da gente Luſitana,
Que com tanta miſeria, & aduerſidade,
Doe mares experimenta a furia inſana.
Aquella alta, & diuina eternidade,
Que o Ceo reuolue, & rege a gente humana:
Pois que de ti tais obras reçebemos,
Te pague o que nos outros não pedemos.
Tu ſo de todos quantos queima Apolo,
Nos recebes em paz do Mar profundo
Em ti, dos ventos horridos de Eolo,
Refugio achamos bom, fido, & jocundo.
Em quanto apacentar o largo Polo,
As Eſtrellas, & o Sol der lume ao Mundo,
Onde quer que eu viuer, com fama & gloria,
Viuirão teus louuores em memoria.
Isto dizendo, os barcos vão remando,
Pera a frota, que o Mouro ver deſeja,,
Vão as naos, hũa & hũa rodeando,
Porque de todas tudo note, & veja:
Mas pera o Ceo Vulcano fuzilando,
A frota co as bombardas o feſteja,
E as trombetas canoras lhe tangião,
Cos anafis os Mouros reſpondião.
Mas deſpois de ſer tudo ja notado,
Do generoſo Mouro, que paſmaua,
Ouuindo o inſtrumento inuſitado,
Que tamanho terror em ſi moſtraua,
Mandaua estar quieto, & ancorado,
Nagoa o batel ligeiro que as leuaua,
Por fallar de vagar co forte Gama,
Nas couſas de que tem noticla, & fama.
Em praticas o Mouro diferentes,
Se deleitaua, perguntando agora,
Pelas guerras famoſas & excelentes,
Co pouo áuidas, que a Mafoma adora:
Agora lhe pergunta pelas gentes
De toda a Hispheria vltima, onde mora:
Agora pelos pouos ſeus vezinhos,
Agora pelos humidos caminhos.
Mas antes valeroſo Capitão,
Nos conta, lhe dezia, diligente,
Da terra tua o clima, & região
Do Mundo onde morais diſtintamente,
E aſsi de voſſa antiga geração,
E o principio do Reino tam potente:
Cos ſucceſſos das guerras do começo,
Que ſem ſabellas, ſey que ſam de preço.
E aſsi tambem nos conta dos rodeios
Longos, em que te traz o Mar yrado,
Vendo os coſtumes barbaros alheios,
Que a noſſa Affrica ruda tem criado
Conta: que agora vem cos aureos freios,
Os cauallos que o carro marchetado,
Do nouo Sol, da fria Aurora trazem,
O Vento dorme, o Mar & as ondas jazem.
E não menos co tempo ſe pareçe,
O deſejo de ouuirte o que contares,
Que quem ha, que por fama não conheçe
As obras Portugueſas ſingulares:
Não tanto deſuiado reſplandeçe,
De nos o claro Sol, pera julgares.
Que os Melindanos tem tam rudo peito,
Que não eſtimem muito hum grande feito.
Cometerão ſoberbos os Gigantes,
Com guerra vão, o olimpo claro, & puro,
Tentou Peritho, & Theſeu, de ignorantes,
O Reino de Plutão horrendo & eſcuro,
Se ouue feitos no mundo tam poſſantes,
Não menos he trabalho illuſtre, & duro,
Quanto foi cometer Inferno, & Ceo,
Que outrem cometa a furia de Nereo.
Queimou o ſagrado templo de Diana,
Do ſutil Teſifonio fabricado,
Horoſtrato, por ſer da gente humana
Conhecido no mundo, & nomeado:
Se tambem com tais obras nos engana,
O deſejo de hum nome auentajado.
Mais razão ha que queira eterna gloria
Quem faz obras tam dignas de memoria.
Fim.

❧ Canto Terceiro.
Agora tu Caliope
me enſina,
O que contou ao Rei, o illustre
Gama:
Inſpira immortal canto, & voz diuina,
Neſte peito mortal, que tanto te ama.
Aſsi o claro inuentor da Medicina,
De quem Orpheo pariſte, o linda Dama:
Nunca por Daphne, Clicie, ou Leucothôe
Te negue o Amor diuido, como ſoe.
Poem tu Nimfa em effeito meu deſejo,
Como mereçe a gente Luſitana,
Que veja & ſaiba o mundo que do Tejo
O licor de Aganipe corre & mana,
Deixa as flores de Pindo, que ja vejo
Banharme Apolo na agoa ſoberana.
Senão direy, que tẽs algum receio,
Que ſe eſcureça o teu querido Orpheio.
Promptos eſtauão todos eſcuitando,
O que o ſublime Gama contaria
Quando, deſpois de hum pouco eſtar cuidãdo,
Aleuantando o roſto, aſsi dizia:
Mandas me, o Rei, que conte declarando,
De minha gente a grão geanaloſia:
Não me manda contar eſtranha hiſtoria:
Mas mandas me louuar dos meus a gloria.
Que outrem poſſa louuar esforço alheio,
Couſa he que ſe coſtuma, & ſe deſeja:
Mas louuar os meus proprios, arreceio,
Que louuor tão ſospeito mal me esteja,
E pera dizer tudo, temo & creio,
Que qualquer longo tempo curto ſeja:
Mas pois o mandas, tudo ſe te deue,
Irey contra o que deuo, & ſerey breue.
Alem diſſo, o que a tudo em fim me obriga,
He não poder mentir no que diſſer,
Porque de feitos tais, por mais que diga,
Mais me ha de ficar inda por dizer:
Mas perque nisto a ordem leue & ſiga,
Segundo o que deſejas de ſaber.
Primeiro tratarey da larga terra,
Deſpois direy da ſanguinoſa guerra.
Entre a Zona que o Cancro ſenhorea,
Meta Septentrional do Sol luzente,
E aquella, que por fria ſe arrecea
Tanto, como a do meyo por ardente,
Iaz a ſoberba Europa, a quem rodea,
Pela parte do Arcturo, & do Occidente:
Com ſuas ſalſas ondas o Occeano,
E pela Auſtral, o Mar Mediterrano.
Da parte donde o dia vem naſcendo,
Com Aſia ſe auizinha: mas o Rio
Que dos montes Rifeios vay correndo,
Na alagoa Meotis, curuo & frio
As diuide: & o Mar, que fero & horrendo
Vio dos Gregos o yrado ſenhorio:
Onde agora de Troia triumfante,
Não vê mais que a memoria o nauegante.
La onde mais debaxo està do Polo,
Os montes Hyperboreos aparecem,
E aquelles onde ſempre ſopra Eolo,
E co nome do ſopros, ſe ennobrecem,
Aqui tam pouca força tem de Apolo,
Os rayos que no mundo reſplandecem.
Que a neue eſtà contino pelos montes,
Gelado o mar, geladas ſempre as fontes.
Aqui dos Cytas, grande quantidade
Viuem, que antigamente grande guerra
Tiuerão, ſobre a humana antiguidade,
Cos que tinhão antão a Egipcia terra:
Mas quem tão fera estaua da verdade,
(Ia que o juyzo humano tanto erra:)
Pera que do mais certo ſe informàra,
Ao campo Damaſceno o perguntàra.
Agora neſtas partes ſe nomea,
A Lapia fria, a inculta Noruega,
Eſcandinauia Ilha, que ſe arrea,
Das victorias que Italia não lhe nega
Aqui, em quanto as agoas não refrea,
O congelado Inuerno, ſe nauega.
Hum braço do Sarmatico Occeoano,
Pelo Bruſio, Suecio, & frio Dano.
Entre eſte Mar, & o Tanais viue eſtranha
Gente, Ruthenos, Moſcos, & Liuonios,
Sarmatas outro tempo, & na montanha
Hircinia, os Marcomanos ſam Polonios
Sugeitos ao Imperio de Alemanha,
Sam Saxones, Boemios, & Panonios,
E outras varias nações, que o Reno frio
Laua, & o Danubio, Amaſis, & Albis Rio.
Entre o remoto Iſtro, & o claro eſtreito,
Aonde Hele deixou, co nome, a vida,
Estão os Traces de robuſto peito,
Do fero Marte, patria tam querida,
Onde co Hemo, o Rodope ſugeito
Ao Otomano està, que ſometida,
Bizancio tem a ſeu ſeruiço indino,
Boa injuria do grande Coſtantino.
Logo de Macedonia eſtão as gentes,
A quem laua do Axio a agoa fria:
E vos tamhem, o terras excelentes,
Nos coſtumes, engenhos, & ouſadia,
Que criaſtes os peitos eloquentes,
E os juizos de alta fantaſia:
Com quem tu clara Grecia o Ceo penetras,
E não menos por armas, que por letras.
Logo os Dalmatas viuem, & no ſeio,
Onde Antenor ja muros leuantou,
A ſoberba Veneza eſtâ no meio
Das agoas, que tam baxa começou
Da terra, hum braço vem ao mar, que cheio
De esforço, nações varias ſogeitou,
Braço forte, de gente ſublimada,
Não menos nos engenhos que na eſpada.
Em torno o cerca o Reino Neptunino,
Cos muros naturais, por outra parte,
Pela meyo o diuide o Apinino,
Que tam illuſtre fez o patrio Marte:
Mas deſpois que o porteiro tem diuino,
Perdendo o esforço veio, & bellica arte:
Pobre eſtà ja de antiga poteſtade,
Tanto Deos ſe contenta de humildade.
Galia ali ſe verà, que nomeada,
Cos Ceſareos Triumfos foy no mundo,
Que do Sequana, & Rôdano he regada,
E do Garuna frio, & Reno fundo:
Logo os montes da Nimpha ſepultada
Pyrene ſe aleuantão, que ſegundo
Antiguidades contão, quando arderão,
Rios de ouro, & de prata antão corrèrão.
Eis aqui ſe deſcobre a nobre Eſpanha,
Como cabeça ali de Europa toda,
Em cujo ſenhorio & gloria eſtranha,
Muitas voltas tem dado a fatal roda:
Mas nunca poderà, com força, ou manha,
A fortuna inquieta porlhe noda:
Que lha não tire o esforço & ouſadia,
Dos belicoſos peitos, que em ſi cria.
Com Tingitania enteſta, & ali parece
Que quer fechar o mar Mediterrano,
Onde o ſabido estreito ſe ennobrece,
Co extremo trabalho do Thebano:
Com nações differentes ſe engrandece,
Cercadas com as ondas do Occeano.
Todas de tal nobreza, & tal valor,
Que qualquer dellas cuida que he milhor.
Tem o Tarragones, que ſe fez claro,
Sujeitando Partênope inquieta,
O Nauarro, as Aſturias, que reparo
Ia forão, contra a gente Mohometa,
Tem o Galego cauto, & o grande & raro
Caſtelhano, a quem fez o ſeu Planeta,
Restituidor de Eſpanha, & ſenhor della,
Bethis, Lião, Granada, com Castella.
Eis aqui quaſi cume da cabeça,
De Europa toda, o Reino Luſitano,
Onde a Terra ſe acaba, & o Mar começa,
E onde Febo repouſa no Occeano:
Eſte quis o Ceo juſto, que ſloreça
Nas armas, contra o torpe Mauritano,
Deitando o de ſi fora, & la na ardente
Affrica eſtar quieto o nam conſente.
Eſta he a ditoſa patria minha amada,
Aa qual ſe o Ceo me da, que eu ſem perigo
Torne, com eſta empreſa ja acabada,
Acabeſe eſta luz ali comigo.
Eſta foy Luſitania diriuada,
De Luſo, ou Lyſa: que de Bacho antigo,
Filhos forão pareçe, ou companheiros,
E nella antam os Incolas primeiros.
Desta o Paſtor naſceo, que no ſeu nome
Se ve, que de homem forte os feitos teue,
Cuja fama, ninguem virà que dome,
Pois a grande de Roma não ſe atreue:
Eſta, o velho que os filhos proprios come,
Por decreto do, Ceo ligeiro, & leue,
Veo a fazer no mundo tanta parte,
Criando a Reino illuſtre, & foi deſta arte.
Hum Rei, por nome Affonſo, foy na Eſpanha,
Que fez aos Sarracenos tanta guerra,
Que por armas ſanguinas, força & manha
A muitos fez perder a vida, & a terra:
Voando deſte Rei a fama eſtranha,
Do Herculano Calpe aa Caſpia ſerra,
Muitos, pera na guerra eſclarecerſe,
Vinhão a elle, & aa morte offerecerſe.
E com hum amor intrinſeco acendidos
Da Fè, mais que das honras populares,
Erão de varias terras conduzidos,
Deixando a patria amada, & proprios lares
Deſpois que em feitos altos & ſubidos.
Se moſtrarão nas armas ſingulares.
Quis o famoſo Affonſo, que obras tais,
Leuaſſem premio digno, & dões agoais.
Deſtes Anrique dizem que ſegundo,
Filho de hum Rei de Vngria exprimentado,
Portugal ouue em ſorte, que no Mundo
Entam não era illuſtre, nem prezado:
E pera mais ſinal damor profundo,
Quis o Rei Caſtelhano, que caſado,
Com Tereſa ſua filha o Conde foſſe,
E com ella das terras tomou poſſe.
Eſte deſpois que contra os deſcendentes,
Da eſcraua Agar, victorias grandes teue,
Ganhando muitas terras adjacentes,
Fazendo o que a ſeu forte peito deue.
Em premio destes feitos excellentes,
Deulhe o ſupremo Deos, em tempo breue,
Hum filho, que illuſtraſſe o nome vfano
Do belicoſo Reino Luſitano.
Ia tinha vindo Anrique da conquista,
Da cidade Hyeroſolima ſagrada,
E do Iordão a area tinha vista,
Que vio de Deos a carne em ſi lauada,
Que não tendo Gotfredo a quem reſiſta,
Depois de ter Iudea ſojugada.
Muitos que nestas guerras o ajudárão,
Pera ſeus ſenhorios ſe tornàrão.
Quando chegado ao fim de ſua idade,
O forte & famoſo Vngaro estremado,
Forçado da fatal neceſsidade,
O ſpirito deu, a quem lho tinha dado:
Ficaua o filho em tenra mocidade,
Em quem o pay deixaua ſeu traſlado:
Que do Mundo os mais fortes igualaua,
Que de tal pay tal filho ſe eſperaua.
Mas o velho rumor, não ſey ſe errado,
Que em tanta antiguidade não ha certeza,
Conta que a mãy tomando todo o eſtado
Do ſegundo Hymeneo, não ſe despreza:
O filho orfão deixaua deſerdado,
Dizendo que nas terras, a grandeza
Do ſenhorio todo, ſo ſua era,
Porque pera caſar ſeu pay lhas dera.
Mas o Principe Affonſo, que deſta arte
Se chamaua, do Auô tomando o nome,
Vendoſe em ſuas terras não ter parte,
Que a mãy com ſeu marido as mãda & come,
Feruendo lhe no peito o duro Marte,
Imagina conſigo como as tome.
Reuoluidas as cauſas no conceito,
Ao propoſito firme ſegue o effeito.
De Guimarães o campo ſe tingia,
Co ſangue proprio da intestina guerra,
Onde a mãy que tam pouco o perecia,
A ſeu filho negaua o amor, & a terra,
Co elle posta em campo ja ſe via,
E não ve a ſoberba, o muito que erra.
Contra Deos, contra o maternal amor:
Mas nella o ſenſual era maior.
O Progne crua, o magica Medea,
Se em voſſos proprios filhos vos vingais
Da maldade dos pais, da culpa alheia,
Olhay que inda Tereſa peca mais:
Incontinencia ma, cubiça fea,
São as cauſas deste erro principais.
Scilla por hũa mata o velho pay,
Eſta por ambas, contra o filho vay.
Mas ja o Principe claro, o vencimento,
Do padrasto & da inica mãy leuaua,
Ia lhe obedece a terra num momento,
Que primeiro contra elle pelejaua.
Porem vencido de Ira o entendimento,
A mãy em ferros aſperos ataua:
Mas de Deos foi vingada em tempo breue,
Tanta veneração aos pais ſe deue.
Eis ſe ajunta o ſoberbo Castelhano,
Pera vingar a injuria de Tereja,
Contra o tam raro em gente Luſitano,
A quem nenhum trabalho agraua, ou peſa:
Em batalha cruel, o peito humano,
Ajudado da Angelica defeſa.
Não ſo contra tal furia ſe ſuſtenta:
Mas o inimigo aſperrimo affugenta.
Não paſſa muito tempo, quando o forte
Principe, em Guimarães eſta cercado,
De infinito poder, que deſta ſorte,
Foy refazerſe o immigo magoado:
Mas com ſe offerecer aa dura morte,
O fiel Egas amo, foy liurado.
Que de outra arte podêra ſer perdido,
Segundo estaua mal aperçebido.
Mas o leal vaſſallo conhecendo,
Que ſeu ſenhor não tinha reſiſtencia,
Se vay ao Caſtelhano, prometendo,
Que elle faria darlhe obediencia.
Leuanta o inimigo o cerco horrendo,
Fiado na promeſſa, & conſciencia
De Egas moniz mas não conſente o peito
Do moço illuſlre, a outrem ſer ſogeito.
Chegado tinha o prazo prometido,
Em que o Rei Castelhano ja agoardaua,
Que o Principe a ſeu mando ſometido,
Lhe deſſe a obediencia que eſperaua.
Vendo Egas, que ficaua fementido,
O que delle Caſtella não cuydaua,
Determina de dar a doçe vida,
A troco da palaura mal comprida.
E com ſeus filhos & molher ſe parte,
A aleuantar co elles a fiança,
Deſcalços, & deſpidos, de tal arte,
Que mais moue a piedade que a vingança.
Se pretendes Rei alto de vingarte,
De minha temeraria confiança,
Dizia, eis aqui venho offerecido,
A te pagar co a vida o prometido.
Ves aqui trago as vidas inocentes,
Dos filhos ſem peccado, & da conſorte,
Se a peitos generoſos, & excellentes,
Dos fracos ſatisfaz a fera morte.
Ves aqui as mãos, & a lingoa delinquentes,
Nellas ſos exprimenta, toda ſorte
De tormentos, de mortes, pelo eſtillo
De Scinis, & do touro de Perillo.
Qual diante do algoz o condenado,
Que ja na vido a morte tem bebido,
Poem no çepo a garganta: & ja entregado,
Eſpera pelo golpe tam temido:
Tal diante do Principe indinado,
Egas eſtaua a tudo offerecido:
Mas o Rei vendo a eſtranha lealdade,
Mais pode em fim que a Ira a Piedade.
O grão fidelidade Portugueſa,
De vaſſallo, que a tanto ſe obrigaua,
Que mais o Perſa fez naquella empreſa,
Onde roſto & narizes ſe cortaua,
Do que ao grande Dario tanto peſa,
Que mil vezes dizendo ſuspiraua.
Que mais o ſeu Zopiro ſão prezâra,
Que vinte Babilonias que tomàra
Mas ja o Principe Affonſo aparelhaua,
O Luſitano exercito ditoſo,
Contra o Mouro que as terras habitaua,
Dalem do claro Tejo deleitoſo:
Ia no campo de Ourique ſe aſſentaua,
O arraial ſoberbo, & belicoſo:
Defronte do inimigo Sarraceno,
Poſto que em força, & gente tam pequeno.
Em nenhũa outra couſa confiado,
Senão no ſummo Deos, que o Ceo regia,
Que tam pouco era o pouo bautizado,
Que pera hum ſo cem Mouros aueria.
Iulga qualquer juyzo ſoſſegado,
Por mais temeridade que ouſadia,
Cometer hum tamanho ajuntamento,
Que pera hum caualleiro ouueſſe cento.
Cinco Reis Mouros ſam os inimigos,
Dos quaes o principal Ismar ſe chama,
Todos exprimentados nos perigos
Da guerra, onde ſe alcança a illuſtre fama:
Seguem guerreiras Damas ſeus amigos,
Imitando a fermoſa & forte Dama,
De quem tanto os Troyanos ſe ajudârão,
E as que o Termodonte ja goſtârão.
A matutina luz ſerena, & fria,
As Estrellas do Pollo ja apartaua,
Quando na Cruz o Filho de Maria,
Amoſtrando ſe a Affonſo o animaua:
Elle adorando quem lhe aparecia,
Na Fê todo inflamado aſsi gritaua.
Aos infieis Senhor, aos infieis,
E não a my que creio o que podeis.
Com tal milagre, os animos da gente
Portugueſa, inflamados leuantauão,
Por ſeu Rei natural, eſte excelente
Principe, que do peito tanto amauão:
E diante do exercito potente,
Dos imigos, gritando o ceo tocauão:
Dizendo em alta voz, real, real,
Por Affonſo alto Rei de Portugal.
Qoal cos gritos & vozes incitado,
Pola montanha o rabido Moloſo,
Contra o Touro remete, que fiado
Na força eſtà do corno temeroſo:
Ora pega na orelha, ora no lado,
Latindo mais ligeiro que forçoſo,
Ate que em fim rompendolhe a garganta,
Do brauo a força horrenda ſe quebranta.
Tal do Rei nouo, o eſtamago acendido,
Por Deos & polo pouo juntamente,
O barbaro comete apercebido,
Co animoſo exercito rompente:
Leuantão nisto os perros o alarido
Dos gritos, tocam a arma, ſerue a gente,
As lanças & arcos tomão, tubas ſoão,
Inſtromentos de guerra tudo atroão.
Bem como quando a flama que ateada,
Foi nos aridos campos (aſoprando
O ſibilante Boreas) animada
Co vento, o ſeco mato vay queimando:
A paſtoral companha, que deitada,
Co doçe ſono estaua, deſpertando,
Ao eſtridor do fogo que ſe atea,
Recolhe o fato, & ſoge pera a aldea.
Deſta arte o Mouro atonito & toruado,
Toma ſem tento as armas muy depreſſa,
Não foge: mas eſpera confiado,
E o ginete belligero arremeſſa:
O Portugues o encontra denodado,
Pelos peitos as lanças lhe atraueſſa.
Hũs caem meios mortos, & outros vão
A ajuda conuocando do Alcorão.
Ali ſe vem encontros temeroſos,
Pera ſe desfazer hũa alta ſerra,
E os animais correndo furioſos,
Que Neptuno amoſtrou ferindo a terra:
Golpes ſe dão medonhos, & forçoſos,
Por toda a parte andaua aceſa a guerra:
Mas o de Luſo, arnes, couraça & malha,
Rompe, corta, desfaz, a bola & talha.
Cabeças pelo campo vão ſaltando,
Braços, pernas, ſem dono & ſem ſentido,
E doutros as entranhas palpitando,
Palida a cor, o geſto amortecido:
Ia perde o campo o exercito nefando,
Correm rios do ſangue deſparzido
Com que tambem do campo a cor ſe perde
Tornado Carmeſi de branco & verde.
Ia fica vencedor o Luſitano
Recolhendo os trofeos & preſa rica,
Desbaratado & roto o Mauro Hispano,
Tres dias o gram Rei no campo fica:
Aqui pinta no branco eſcudo vfano,
Que agora esta victoria certifica:
Cinco escudos azues eſclarecidos,
Em ſinal destes cinco Reis vencidos.
E neſtes cinco eſcudos pinta os trinta
Dinheiros, porque Deos fora vendido,
Eſcreuendo a memoria em varia tinta,
Daquelle de quem foy fauorecido,
Em cada hum dos cinco, cinco pinta,
Porque aſsi fica o numero comprido:
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