Os Lusíadas - 04

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Contando duas vezes o do meio,
Dos cinco azues que em Cruz pintando veio.
Paſſado ja algum tempo, que paſſada
Era esta grão victoria, o Rei ſubido
A tomar vay Leiria, que tomada
Fora muy pouco auia, do vencido:
Com eſta a forte Arronches ſojugada
Foy juntamente: & o ſempre ennobrecido
Scabelicaſtro, cujo campo ameno,
Tu claro Tejo regas tam ſereno.
A eſtas nobres villas ſometidas,
Ajunta tambem Mafra, em pouco eſpaço,
E nas ſerras da Lua conhecidas,
Sojuga a ſria Sintra, o duro braço,
Sintra onde as Naiades eſcondidas
Nas fontes, vão fugindo ao doçe laço:
Onde Amor as enreda brandameme,
Nas agoas acendendo fogo ardente.
E tu nobre Lisboa, que no Mundo,
Facilmente das outras es princeſa,
Que edificada foſte do facundo,
Por cujo engano foy Dardania aceſa:
Tu a quem obedece o Mar profundo,
Obedeceste aa força Portugueſa.
Ajudada tambem da forte armada,
Que das Boreais partes foy mandada.
La do Germanico Albis, & do Reno,
E da fria Bretanha conduzidos,
A destruir o pouo Sarraceno,
Muitos com tenção ſancta erão partidos,
Entrando a bocaja, do Tejo ameno,
Co arrayal do grande Affonſo vnidos.
Cuja alta fama antão ſubia aos ceos,
Foy posto cerco aos muros Vliſſeos.
Cinco vezes a Lũa ſe eſcondêra,
E outras tantas moſtrâra cheio o rosto,
Quando a Cidade entrada ſe rendêra,
Ao duro cerco, que lhe eſtaua poſto.
Foy a batalha tam ſanguina & fera,
Quanto obrigaua o firme proſupoſto:
De vencedores aſperos, & ouſados,
E de vencidos, ja deſesperados.
Deſta arte em fim tomada ſe rendeo,
Aquella que nos tempos ja paſſados
Aa grande força nunca obedeceo,
Dos frios pouos Sciticos ouſados:
Cujo poder a tanto ſe estendeo,
Que o Ibero o vio, & o Tejo amedrontados.
E em fim co Betis tanto algum podêrão,
Que aa terra do Vandalia nome dèrão.
Que cidade tam forte, por ventura
Auera que reſiſta, ſe Lisboa
Não pede reſistir aa força dura
Da gente, cuja fama tanto voa.
Ia lhe obedece toda a Eſtremadura,
Obidos, Alanquer, por onde ſoa
O tom das freſcas agoas, entre as pedras,
Que murmurando laua, & Torres vedras.
E vos tambem, o terras transtaganas,
Affamadas co dom da flaua Ceres,
Obedeceis aas forças mais que humanas,
Entregando lhe os muros, & os poderes.
E tu laurador Mouro, que te enganas,
Se ſustentar a fertil terra queres.
Que Eluas, & Moura, & Serpa conhecidas,
E Alcaçare do ſal, eſtão rendidas.
Eis a nobre Cidade, certo aſſento,
Do rebelde Sertorio antigamente,
Onde ora as agoas nitidas de argento,
Vem ſuſtentar de longo a terra, & a gente,
Pelos arcos reaes, que cento & cento
Nos ares ſe aleuantão nobremente.
Obedeceo, por meio & ouſadia
De Giraldo, que medos não temia.
Ia na cidade Beja vay tomar,
Vingança de Trancoſo deſtruida,
Affonſo que não ſabe ſoſegar,
Por eſtender co a fama a curta vida:
Não ſe lhe pede muito ſustentar
A Cidade: mas ſendo ja rendida,
Em toda a couſa viua, a gente yrada,
Prouando os fios vay da dura eſpada.
Com eſtas ſojugada foy Palmella,
E a piſcoſa Cizimbra, & juntamente,
Sendo ajudado mais de ſua eſtrella,
Desbarata hum exercito potente:
Sentio o a Villa, & vio o a ſerra della,
Que a ſocorrella vinha deligente.
Pela fralda da ſerra deſcuydodo,
Do temeroſo encontro inopinado.
O Rei de Badajoz era alto Mouro,
Com quatro mil cauallos furioſos,
Innumeros piões, darmas & de curo
Guarnecidos, guerreiros & luſtroſos:
Mas qual no mes de Maio o brauo Touro
Cos ciumes da vaca, arreceoſos,
Sentindo gente o bruto, & cego amante
Saltea o deſcuidado caminhante.
Deſta arte Affonſo ſubito moſtrado,
Na gente da, que paſſa bem ſegura,
Fere, mata, derriba denodado,
Foge o Rei Mouro, & ſo da vida cura,
Dum Panico terror todo aſombrado,
So de ſeguillo o exercito procura.
Sendo eſtes que fizerão tanto aballo,
Nomais que ſo ſeſenta de cauallo.
Logo ſegue a victoria ſem tardança,
O grão Rei incanſabil, ajuntando
Gentes de todo o Reino, cuja vſança
Era andar ſempre terras conquiſtando,
Cercar vay Badajoz, & logo alcança
O fim de ſeu deſejo, pelejando
Com tanto esforço & arte, & valentia,
Que a fez fazer aas outras companhia.
Mas o alto Deos, que pera longe guarda,
O caſtigo daquelle que o mereçe,
Ou pera que ſe emmende aas vezes tarda,
Ou por ſegredos que homem não conheçe,
Se ate qui ſempre o forte Rei reſguarda,
Dos perigos a que elle ſe offereçe.
Agora lhe não deixa ter defeſa,
Da maldição da mãy que estaua preſa.
Que eſtando na cidade que cercâra,
Cercado nella foy dos Lioneſes,
Porque a conquiſta della lhe tomâra,
De Lião ſendo, & não dos Portugueſes.
A pertinacia aqui lhe custa cara,
Aſsi como acontece muytas vezes,
Que em ferros quebra as pernas, indo aceſo
Aa batalha onde foy vencido & preſo.
O famoſo Pompeyo não te pene,
De teus feitos illuſtres a ruyna,
Nem ver que a juſta Nemeſis ordene,
Ter teu ſogro de ti victoria dina,
Poſto que o frio Faſis, ou Syene
Que pera nenhum cabo a ſombra inclina:
O Bootes gellado, & a linha ardente,
Temeſſem o teu nome geralmente.
Poſto que a rica Arabia, & que os feroces
Eniocos, & Colcos, cuja fama
O Veo dourado eſtende: & os Capadoçes,
E Iudea, que hum Deos adora & ama,
E que o molles Sofenos, & os Atroces,
Silicios, com a Armenia, que derrama,
As agoas dos dous Rios, cuja fonte
Estâ noutro mais alto & ſancto Monte.
E poſto em fim que deſdo mar de Atlante,
Ate o Scitico Tauro, monte erguido
Ia vencedor te viſſem, não te eſpante
Se o campo Emathio ſo te vio vencido,
Porque Affonſo veras ſoberbo & ouante,
Tudo render, & ſer deſpois rendido.
Aſsi o quis o conſelho alto celeſte,
Que vença o ſogro a ti, & o genro a este.
Tornado o Rei ſublime finalmente,
Do diuino juyzo caſtigado,
Deſpois que em Santarem ſoberbamente,
Em vão dos Sarracenos foy cercado.
E deſpois que do martyre Vicente,
O ſanctiſsimo corpo venerado.
Do ſacro promontorio conhecido,
Aa cidade Vliſſea foy trazido.
Porque leuaſſe auante ſeu deſejo,
Ao forte filho manda o laſſo velho,
Que aas terras ſe paſſaſſe dalentejo,
Com gente, & co beligero aparelho:
Sancho, desforço & danimo ſobejo,
Auante paſſa, & faz correr vermelho,
O rio que Seuilha vay regando,
Co ſangue mauro, barbaro & nefando.
E com eſta victoria cobiçoſo,
Ia não deſcanſa o moço ate que veja,
Outro eſtrago como este, temeroſo
No barbaro que tem cercado Beja.
Não tarda muito o Principe ditoſo,
Sem ver o fim daquillo que deſeja.
Aſsi eſtragado o Mouro, na vingança
De tantas perdas poem ſua eſperança.
Ia ſe ajuntão do monte, a quem Meduſa
O corpo fez perder, que teue o Ceo:
Ia vem do promontorio de Ampeluſa,
E do Tinge que aſſento foy de Anteo.
O morador de Abila não ſe eſcuſa,
Que tambem com ſuas armas ſe moueo:
Ao ſom da Mauritana & ronca tuba,
Todo o Reino que foy do nobre Iuba.
Entraua com toda esta companhia,
O Miralmomini em Portugal
Treze Reis mouros leua de valia,
Entre os quaes tem o ceptro Imperial:
E aſsi fazendo quanto mal podia,
O que em partes podia fazer mal.
Dom Sancho vay cercar em Santarem,
Porem não lhe ſocede muito bem.
Dalhe combates aſperos,fazendo
Ardis de guerra mil, o Mouro yroſo,
Não lhe aproueita ja trabuco horrendo,
Mina ſecreta, Ariete forçoſo:
Porque o filho de Affonſo, não perdendo
Nada do esforço, & acordo generoſo,
Tudo prouê com animo & prudencia,
Que em toda a parte ha esforço & reſiſtencia
Mas o velho a quem tinhão ja obrigado
Os trabalhoſos annos, ao ſoſego,
Eſtando na Cidade, cujo prado
Enuerdecem as agoas do Mondego:
Sabendo como o filho està cercado,
Em Santarem, do Mauro pouo cego,
Se parte diligente da Cidade,
Que não perde a preſteza co a idade.
E co a famoſa gente â guerra vſada,
vay ſocorrer o filho, & aſsi ajuntados,
A Portugueſa furia coſtumada,
Em breue os Mouros tem desbaratados:
A campina que toda eſtà qualhada
De marlotas, capuzes variados,
De cauallos, jaezes, preſa rica,
De ſeus ſenhores mortos chea fica.
Logo todo o reſtante ſe partio
De Luſitania, poſtos em fugida,
O Miralmomini ſo não fogio,
Por que antes de fogir lhe foge a vida,
A quem lhe eſta victoria permitio,
Dão louuores & graças ſem medida:
Que em caſos tão eſtranhos claramente,
Mais peleja o fauor de Deos que a gente.
De tamanhas victorias triumfaua,
O velho Affonſo, Principe ſubido,
Quando quem tudo em fim vencendo andaua,
Da larga, & muita idade foi vencido,
A palida doença lhe tocaua,
Com fria mão o corpo enfraquecido:
E pagàrão ſeus annos deste geito,
Aa triſte Libitina ſeu dereito
Os altos promontorios o chorarão,
E do rios as agoas ſaudoſas,
Os ſemeados campos alagarão,.
Com lagrimas correndo piadoſas:
Mas tanto pelo mundo ſe alargarão
Com fama ſuas obras valeroſas,
Que ſempre no ſeu Reino chamarão,
Affonſo, Affonſo os eccos, mas em vão.
Sancho forte mancebo, que ficàra
Imitando ſeu pay na valentia,
E que em ſua vida ja ſe exprimentâra,
Quando o Betis de ſangue ſe tingia,
E o barbaro poder desbaratâra,
Do Iſmaelita Rei de Andaluzia.
E mais quando os que Beja em vão cercârão.
Os golpes de ſeu braço em ſi prouârão.
Deſpois que foy por Rei aleuantado,
Auendo poucos annos que reinaua,
A cidade de Silues tem cercado,
Cujos campos o barbaro lauraua:
Foy das valentes gentes ajudado,
Da Germanica armada, que paſſaua.
De armas fortes & gente apercebida,
A recobrar Iudea ja perdida.
Paſſauão a ajudar na ſancta empreſa,
O roxo Federico, que moueo
O pederoſo exercito, em defeſa
Da cidade onde Christo padeceo,
Quando Guido co a gente em ſede aceſa,
Ao grande Saladino ſe rendeo:
No lugar onde aos Mouros ſobejauão,
As agoas que os de guido deſejauão.
Mas a fermoſa armada, que viera
Por contraste de vento, aaquella parte
Sancho quis ajudar na guerra fera,
Ia que em ſeruiço vay, do ſancto Marte
Aſsi como a ſeu pay acontecèra,
Quando tomou Lisboa, da meſma arte,
Do Germano ajudado Silues toma,
E o brauo morador deſtrue & doma.
E ſe tantos tropheos do Mahometa,
Aleuantando vay tambem do forte
Liones, não conſente eſtar quieta
A terra vſada aos caſos de Mauorte:
Ate que na ceruiz ſeu jugo meta
Da ſoberba Tui, que a mesma ſorte,
Veo ter a muitas villas ſuas vizinhas,
Que por armas tu Sancho humildes tinhas.
Mas entre tantas palmas ſalteado
Da temeroſa morte, fica erdeiro,
Hum filho ſeu de todos estimado,
Que foy ſegundo Affonſo, & Rei terceiro
No tempo deſte, aos Mauros foi tomado
Alcaçere do ſal por derradeiro:
Por que dantes os Mouros o tomarão,
Mas agora eſtruidos o pagarão.
Morto despois Affonſo lhe ſucede
Sancho ſegundo, manſo & deſcuidado,
Que tanto em ſeus deſcuidos ſe deſmede,
Que de outrem quẽ mandaua era mandado,
De gouernar o Reino que outro pede,
Por cauſa dos priuados foi priuado,
Porque como por elles ſe regia,
Em todos os ſeus vicios conſentia.
Não era Sancho não tam deſoneſto,
Como Nero, que hum moço recebia
Por molher, & deſpois horrendo incesto,
Com a mãy Agripina cometia:
Nem tam cruel aas gentes & moleſto,
Que a cidade queimaſſe onde viuia,
Nem tam mao como foi Hedio gabàlo,
Nem como o mole Rei Sardanapâlo.
Nem era o pouo ſeu tiranizado,
Como Sicilia foy de ſeus tiranos,
Nem tinha como Phalaris achado,
Genero de tormentos inhumanos:
Mas o Reino de altiuo, & coſtumado
A ſenhores em tudo ſoberanos.
A Rei não obedece, nem conſente,
Que não for mais que todos excellente.
Por eſta cauſa o Reino gouernou,
O Conde Bolonhes, deſpois alçado
Por Rei, quando da vida ſe apartou,
Seu yrmão Sancho, ſempre ao ocio dado
Eſte que Affonſo o brauo ſe chamou,
Despois de ter o Reino ſegurado:
Em dilatalo cuida, que em terreno
Não cabe o altiuo peito tam pequeno.
Da terra dos Algarues, que lhe fora
Em caſamento dada, grande parte,
Recupêra co braço, & deita fora
O Mouro mal querido ja de Marte:
Este de todofez liure & ſenhora
Luſitania,com força & bellica arte:
E acabou de oprimir a nação forte,
Na terra que aos de Luſo coube em ſorte.
Eis deſpois vem Dinis, que bem pareçe,
Do brauo Affonſo eſtirpe nobre & dina,
Com quem a fama grande ſe eſcureçe,
Da liberalidade Alexandrina.
Co este o Reino proſpero floreçe,
(Alcançada ja a paz aurea diuina)
Em constituições, leis & costumes,
Na terra ja tranquila claros lumes.
Fez primeiro em Coimbra exercitarſe,
O valeroſo officio de Minerua,
E de Helicona as Muſas fez paſſarſe,
A piſar de Mondego a fertil erua:
Quanto pode de Athenas deſejarſe,
Tudo o ſoberbo Apolo aqui reſerua.
Aqui as capellas da tecidas de ouro,
Do Bacaro, & do ſempre verde louro.
Nobres villas de nouo edificou,
Fortalezas, caſtellos muy ſeguros,
E quaſi o Reino todo reformou,
Com edificios grandes, & altos muros:
Mas deſpois que a dura Atropos cortou,
O fio de ſeus dias ja maduros:
Ficoulhe o filho pouco obediente,
Quarto Affonſo: mas forte & excelẽte:
Eſte ſempre as ſoberbas Caſtelhanas,
Co peito deſprezou firme & ſereno,
Porque não he das ſorças Luſitanas,
Temer poder maior, por mais pequeno
Mas porem quando as gentes Mauritanas,
A poſſuir o Eſperico terreno.,
Entrarão pelas terras de Caſtella,
Foy o ſoberbo Affonſo a ſocorrella.
Nunca com Semirâmis, gente tanta
Veio ôs campos Ydaſpicos enchendo,
Nem Atila, que Italia toda eſpanta,
Chamandoſe de Deos açoute horrendo.
Gottica gente trouxe tanta, quanta
Do Sarraceno barbaro eſtupendo,
Co poder exceſsiuo de Granada,
Foy nos campos Tarteſios ajuntada.
E vendo o Rei ſublime Caſtelhano,
A forca inexpugnabil, grande & forte,
Temendo mais o fim do pouo Hispano,
Ia perdido hũa vez, que a propria morte
Pedindo ajuda ao forte Luſitano,
Lhe mandaua a cariſsima conſorte,
Molher de quem a manda, & filha amada
Daquelle a cujo Reino foi mandada.
Entraua a fermoſiſsima Maria,
Polos paternais paços ſublimados,
Lindo o geſto: mas fora de alegria,
E ſeus olhos em lagrimas banhados,
Os cabellos Angelicos trazia,
Pelos eburneos hombros eſpalhados:
Diante do Pay ledo, que a agaſalha,
Estas palauras tais chorando eſpalha.
Quantos pouos a terra produzio
De Africa toda gente fera & estranha,
O grão Rei de Marrocos conduzio
Pera vir poſſuir a nobre Eſpanha:
Poder tamanho junto não ſe vio,
Despois que o ſalſo Mar a terra banha.
Trazem ferocidade, & furor tanto,
Que a viuos medo, & a mortos faz eſpanto.
Aquelle que me deſte por marido,
Por defender ſua terra amedrontada,
Co pequeno poder, offerecido
Ao duro golpe eſtà, da Maura eſpada,
E ſe não for contigo ſocorrido,
Verme as delle & do Reino ſer priuada,
Viuua & triſte, & posta em vida eſcura,
Sem marido, ſem Reino, & ſem ventura.
Por tanto, ô Rei, de quem com puro medo,
O corrente Muluca ſe congella,
Rompe toda a tardança, acude cedo,
Aa miſeranda gente de Caſtella.
Se eſſe gesto que moſtras claro & ledo,
De pay o verdadeiro amor aſſella:
Acude & corre pay, que ſe não corres,
Pode ſer que não aches quem ſocorres.
Não de outra ſorte a timida Maria
Falando eſtá, que a triſte Venus, quando
A Iupiter ſeu pay fauor pedia,
Pera Eneas ſeu filho, nauegando,
Que a tanta piedade o comouia,
Que caido das mãos o rayo infando.
Tudo o clemente Padre lhe concede,
Peſandolhe do pouco que lhe pede.
Mas ja cos eſquadrões da gente armada,
Os Eborenſes campos vão qualhados,
Luſtra co Sol o arnes, a lança, a eſpada,
Vão rinchando os cauallos jaezados:
A canora trombeta embandeirada
Os corações aa paz acoſtumados:
Vay às fulgentes armas incitando
Polas concauidades retumbando.
Entre todos no meio ſe ſublima,
Das inſignias Reais acompanhado,
O vaſeroſo Affonſo, que por cima
De todos, leua o collo aleuantado,
E ſomente co geſto esforça & anima,
A qualquer coração amedrontado.
Aſsi entra nas terras de Castella,
Com a filha gentil Rainha della.
Iuntos os dous Affonſos finalmente,
Nos campos de Tarifa, eſtão defronte
Da grande multidão da cega gente,
Pera quem ſam pequenos campo & monte.
Não ha peito tão alto & tam potente,
Que de deſconfiança não ſe afronte,
Em quanto não conheça, & claro veja,
Que co braço dos ſeus Chriſto peleja.
Eſtão do Agar os netos caſi rindo,
Do poder dos Chrisſtãos fraco & pequeno,
As terras como ſuas repartindo,
Ante mão, entre o exercito Agareno:
Que com titulo falſo poſſuindo
Eſtà o famoſo nome Sarraceno.
Aſsi tambem com falſa conta & nua,
Aa nobre terra alhea chamão ſua.
Qual o membrudo & barbaro Gigante,
Do Rei Saul, com cauſa tam temido,
Vendo o Paſtor inorme eſtar diante,
So de pedras & esforço apercebido,
Com palauras ſoberbas o arrogante,
Despreza o fraco moço mal veſtido:
Que rodeando a funda o deſengana,
Quanto mais pode a Fê que a força humana.
Desta arte o Mouro perfido deſpreza,
O poder dos Christãos, & não entende,
Que eſtà ajudado da alta fortaleza,
A quem o Inferno horrifico ſe rende.
Co ella o Castelhano, & com deſtreza,
De Marrocos o Rei comete & offende.
O Portugues que tudo eſtima em nada,
Se faz temer ao Reino de Granada.
Eis as lanças & eſpadas retenião,
Por cima dos arneſes, brauo eſtrago,
Chamão (ſegundo as leis que ali ſeguião,)
Hũs Mafamede, & os outros Sanctiago,
Os feridos com grita o Ceo ferião,
Fazendo de ſeu ſangue bruto lago,
Onde outros meios mortos ſe afogauão,
Quando do ferro as vidas eſcapauão.
Com esforço tamanho eſtrue & mata,
O Luſo ao Granadil, que em pouco eſpaço,
Totalmente o poder lhe desbarata,
Sem lhe valer defeſa, ou peito de aço:
De alcançar tal victoria tam barata,
Inda não bem contente o forte braço,
Vay ajudar ao brauo Caſtelhano,
Que pelejando eſtà co Mauritano.
Ia ſe hia o Sol ardente recolhendo,
Pera a caſa de Thetis, & inclinado,
Pera o Ponente o veſpero trazendo,
Estaua o claro dia memorado,
Quando o poder do Mauro grande & horẽdo
Foi pelos fortes Reis desbaratado,
Com tanta mortindade, que a memoria,
Nunca no mundo vio tam gram victoria.
Não matou a quarta parte o forte Mario,
Dos que morrerão neſte vencimento,
Quando as agoas co ſangue do aduerſario,
Fez beber ao exercito ſedento,
Nem o Peno aſperiſsimo contrario,
Do Romano poder de naſcimento:
Quando tantos matou da illustre Roma,
Que alqueires tres de aneis dos mortos toma.
E ſe tu tantas almas ſo podeſte,
Mandor ao Reino eſcuro de Cocito,
Quando a ſancta Cidade desfizeſte
Do pouo pertinaz no antigo rito:
Permiſſam & vingança foy celeſte,
E não força de braço, o nobre Tito,
Que aſsi dos Vates foy profetizado,
E despois por I E S V certificado.
Paſſada eſta tão prospera victoria,
Tornado Affonſo aa Luſitana terra,
A ſe lograr da paz com tanta gloria,
Quanta ſoube ganhar na dura guerra,
O caſo triste & dino da memoria,
Que do ſepulchro os homẽs deſenterra,
Aconteceo da miſera, & mezquinha
Que deſpois de ſer morta foy Rainha.
Tu ſo, tu puro Amor com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deſte cauſa aa moleſta morte ſua,
Como ſe fora perfida inimiga:
Se dizem fero Amor que a ſede tua,
Nem com lagrimas triſtes ſe mitiga:
E porque queres aſpero & tirano
Tuas aras banhar em ſangue humano.
Eſtauas linda Ines poſta em ſoſego
De teus annos, colhendo doçe fructo,
Naquelle engano da alma, ledo & cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos ſaudoſos campos do Mondego,
De teus fermoſos olhos nunca enxuto,
Aos montes inſinando, & âs eruinhas
O nome que no peito eſcripto tinhas.
Do teu Principe ali te reſpondião,
As lembranças que na alma lhe morauão,
Que ſempre ante ſeus olhos te trazião,
Quando dos teus fermoſos ſe apartauão
De noite em doçes ſonhos, que mentião,
De dia em penſamentos que voauão.
E quanto em fim cuidaua, & quanto via,
Eram tudo memorias de alegria.
De outras bellas ſenhoras, & Princeſas,
Os deſejados tâlamos engeita,
Que tudo em fim, tu puro amor desprezas,
Quando hum gesto ſuaue te ſogeita:
Vendo estas namoradas eſtranhezas,
O velho pay ſeſudo, que reſpeita
O murmurar do pouo, & a fantaſia
Do filho, que caſarſe não queria.
Tirar Ines ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preſo,
Crendo co ſangue ſô da morte indina,
Matar do firme amor o fogo aceſo:
Que furor conſentio, que a eſpada fina,
Que pode ſustentar o grande peſo
Do furor Mauro, foſſe aleuantada,
Contra hũa fraca dama delicada?
Trazião a os horrificos algozes,
Ante o Rei, ja mouido a piedade:
Mas o pouo com falſas, & ferozes
Razões, aa morte crua o perſuade:
Ella com tristes & piedoſas vozes,
Saidas ſô da magoa, & ſaudade
Do ſeu Principe, & filhos que deixaua,
Que mais que a propria morte a magoaua.
Pera o Ceo criſtalino aleuantando,
Com lagrimas os olhos piedoſos,
Os olhos, porque as mãos lhe eſtaua atando,
Hum dos duros miniſtros riguroſos.
E deſpois nos mininos atentando,
Que tam queridos tinha, & tam mimoſos,
Cuja orfindade como mãy temia,
Pera o auô cruel aſsi dizia.
Se ja nas brutas feras, cuja mente
Natura fez cruel de naſcimento,
E nas aues agreſtes, que ſomente
Nas rapinas aerias tem o intento,
Com pequenas crianças vio a gente,
Terem tam piadoſo ſentimento,
Como co a mãy de Nino ja moſtrârão,
E cos yrmãos que Roma edificàrão.
O tu que tẽs de humano o geſto & o peito
(Se de humano he, matar hũa donzella
Fraca & ſem força, ſo por ter ſubjeito
O coração, a quem ſoube vencella)
A eſtas criançinhas tem reſpeito,
Pois o não tẽs aa morte eſcura della,
Mouate a piedade ſua & minha,
Pois te não moue a culpa que não tinha.
E ſe vencendo a Maura reſiſtencia,
A morte ſabes dar com fogo & ferro,
Sabe tambem dar vida com clemencia,
A quem pera perdela não fez erro:
Mas ſe to aſsi merece eſta inocencia,
Poem me em perpetuo & miſero deſterro,
Na Scitia fria, ou la na Lybia ardente,
Onde em lagrimas viua eternamente.
Poem me onde ſe vſe toda a feridade,
Entre Liões, & Tigres, & verey
Se nelles achar poſſo a piedade
Que entre peitos humanos não achey:
Ali co amor intrinſeco & vontade,
Naquelle por quem mouro, criarey
Eſtas reliquias ſuas que aqui viſte,
Que refrigerio ſejão da mãy triste.
Queria perdoarlhe o Rei benigno,
Mouido das palauras que o magoão:
Mas o pertinaz pouo, & ſeu deſtino
(Que deſta ſorte o quis) lhe não perdoão,
Arrancão das eſpadas de aço fino,
Os que por bom tal feito ali apregoão,
Contra hũa dama, ô peitos carniceiros
Feros vos amoſtrais, & caualleiros?
Qual contra a linda moça Policena,
Conſolação extrema da mãy velha,
Porque a ſombra de Achiles a condena,
Co ferro o duro Pirro ſe aparelha:
Mas ella os olhos com que o ar ſerena,
(Bem como paciente, & manſa ouelha)
Na miſera mãy postos, que endoudeçe
Ao duro ſacrificio ſe offereçe.
Tais contra Inès os brutos matadores,
No colo de alabaſtro, que ſoſtinha
As obras com que amor matou de amores
Aquelle que despois a fez Rainha:
As eſpadas banhando, & as brancas ſlores,
Que ella dos olhos ſeus regadas tinha,
Se encarniçauão, feruidos & yroſos,
No foturo castigo não cuidoſos.
Bem podêras, ô Sol, da viſta deſtes
Teus rayos apartar aquelle dia,
Como da ſeua meſa de Tyeſtes,
Quando os filhos por mão de Atreu comia.
Vos, ô concauos vales que podeſtes,
A voz extrema ouuir da boca fria,
O nome do ſeu Pedro que lhe ouuistes,
Por muito grande eſpaço repetistes.
Aſsi como a bonina que cortada,
Antes do tempo foy, candida & bella,
Sendo das mãos laciuas mal tratada,
Da minina que a trouxe na capella:
O cheiro traz perdido, & a cor murchada:
Tal eſtà morta a palida donzella,
Secas do roſto as roſas, & perdida
A branca & viua cor, co a doçe vida.
As filhas do Mondego, a morte eſcura
Longo tempo chorando memorarão,
E por memoria eterna em fonte pura
As lagrimas choradas transformarão:
O nome lhe poderão, que inda dura,
Dos amores de Ines que ali paſſarão.
Vede que freſca fonte rega as flores,
Que lagrimas ſam a agoa, & o nome amores
Não correo muito tempo que a vingança
Não viſſe Pedro das mortais feridas,
Que em tomando do Reino a gouernança,
A tomou dos fugidos humicidas:
Do outro Pedro cruiſsimo os alcança,
Que ambos immigos das humanas vidas,
O concerto fizerão duro & injuſto,
Que com Lepido, & Antonio fez Auguſto.
Este castigador foy reguroſo,
De latrocinios, mortes & adulterios,
Fazer nos maos cruezas, fero & yroſo,
Erão os ſeus mais certos refrigerios:
As cidades guardando juſtiçoſo,
De todos os ſoberbos vituperios,
Mais ladrões caſtigando aa morte deu,
Que o vagabundo Alcides, ou Theſeu.
Do juſto & duro Pedro naſce o brando
(Vede da natureza o deſconcerto)
Remiſſo, & ſem cuidado algum Fernando,
Que todo o Reino pos em muito aperto,
Que vindo o Caſtelhano deuastando
As terras ſem defeſa, eſteue perto
De deſtruirſe o Reino totalmente,
Que hum fraco Rei faz fraca a forte gente.
Ou foy caſtigo claro do peccado,
De tirar Lianor a ſeu marido,
E caſar ſe co ella de enleuado,
Num falſo parecer mal entendido:
Ou foy que o coração ſogeito, & dado
Ao vicio vil, de quem ſe vio rendido,
Molle ſe fez, & fraco, & bem parece
Que hum baxo amor os fortes enfraquece.
Do peccado tiuerão ſempre a pena
Muitos, que Deos o quis, & permitio:
Os que forão roubar a bella Elena,
E com Apio tambem Tarquino o vio:
Pois por quem Dauid Sancto ſe condena?
Ou quem o Tribo illuftre deſtruio
De Benjamim? bem claro nolo inſina,
Por Sarra Faraô, Sychem por Dina.
E pois ſe os peitos fortes enfraqueçe,
Hum inconceſſo amor deſatinado,
Bem no filho de Almena ſe pareçe,
Quando em Omfale andaua transformado,
De Marco Antonio a fama ſe eſcureçe,
Com ſer tanto a Cleopatra affeiçoado:
Tu tambem Peno proſpero o ſentiſte,
Deſpois que hũa moça vil na Apulia viste.
Mas quem pode liurarſe por ventura,
Dos laços que amor arma brandamente
Entre as roſas & a neue humana pura,
O ouro, & o alabaſtro transparente
Quem de hũa peregrina fermoſura
De hum vulto de Meduſa propriamente
Que o coração conuerte que tem preſo,
Em pedra não: mas em deſejo aceſo.
Quem vio hum olhar ſeguro, hum geſto brando,
Hũa ſuaue & Angelica excelencia,
Que em ſi eſtâ ſempre as almas trãformãdo
Que tiueſſe contra ella reſiſtencia:
Deſculpado por certo estâ Fernando,
Pera quem tem de amor experencia:
Mas antes tendo liure a fantaſia,
Por muyto mais culpado o julgaria.
Fim.

❧ Canto Quarto.
Deſpois de procello
ſa tempestade,
Nocturna ſombra, & ſibilante
vento,
Traz a manhaã ſerena claridade,
Eſperança de porto, & ſaluamento:
Aparta o Sol a negra eſcuridade,
Remouendo o temor ao penſamento:
Aſsi no Reino forte aconteceo,
Deſpois que o Rei Fernando ſalleçeo.
Porque ſe muito os noſſos deſejarão,
Quem os danos & offenſas va vingando,
Naquelles que tãbem ſe aproueitârão,
Do deſcuido remiſſo de Fernando,
Deſpois de pouco tempo o alcançârão,
Ioanne ſempre illuſtre aleuantando
Por Rei, como de Pedro vnico erdeiro
(Ainda que bastardo) verdadeiro.
Ser iſto ordenação dos ceos diuina,
Por ſinais muito claros ſe moſtrou
Quando em Euora a voz de hũa minina,
Ante tempo falando o nomeou:
E como couſa em fim que o Ceo destina,
No berço o corpo, & a voz aleuantou,
Portugal, Portugal, alçando a mão
Diſſe, polo Rei nouo Dom Ioão.
Alteradas então do Reino as gentes,
Co odio que occupado os peitos tinha,
Abſolutas cruezas, & euidentes
Faz do pouo o furor por onde vinha,
Matando vão amigos & parentes,
Do adultero Conde, & da Rainha,
Com quem ſua incontinencia deſoneſta
Mais (despois de viuua) manifeſta.
Mas elle em fim com cauſa deſonrado,
Diante della a ferro frio morre,
De outros muitos na morte acompanhado
Que tudo o fogo erguido queima & corre:
Quem como Astianas precipitado
(Sem lhe valerem ordẽs) de alta torre
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