Os Lusíadas - 11

Total number of words is 4518
Total number of unique words is 1874
26.0 of words are in the 2000 most common words
38.8 of words are in the 5000 most common words
45.1 of words are in the 8000 most common words
Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
Quis aqui ſua ventura, que corria
Apos Efire, exemplo de belleza,
Que mais caro que as outras dar queria,
O que deu para darſe a natureza,
Ia canſado correndo lhe dizia.
O fermoſura indigna de aſpereza,
Pois desta vida te concedo a palma,
Eſpera hum corpo de quem leuas a alma.
Todas de correr canſam, Nimpha pura,
Rendendo ſe aa vontade do inimigo,
Tu ſo de my ſo foges na eſpeſſura?
Quem te diſſe que eu era o que te ſigo?
Se to tem dito ja aquella ventura,
Que em toda a parte ſempre anda comigo,
O nam na creas, porque eu quando a cria,
Mil vezes cada hora me mentia.
Nam canſes, que me canſas: & ſe queres
Fujirme, porque nam poſſa tocarte,
Minha ventura he tal, que inda que eſperes
Ella farâ que nam poſſa alcançarte:
Eſpera, quero ver, ſe tu quiſeres,
Que ſutil modo buſca de eſcaparte,
E notarâs no fim deſte ſucceſſo,
Tra la ſpica & la man, qual muro he meſſo.
O não me fujas, aſsi nunca o breue
Tempo fuja de tua fermoſura,
Que ſo com refrear o paſſo leue,
Vencerâs da fortuna a força dura:
Que Emperador, que exercito ſe atreue.
A quebrantar a furia da ventura,
Que em quanto deſejey me vai ſeguindo,
O que tu ſo faras nam me fugindo?
Põeste da parte da desdita minha?
Fraqueza he dar ajuda ao mais potente:
Leuas me hum coração, que liure tinha?
Solta mo, & corroras mais leuemente.
Não te carrega eſſa alma tam mezquinha,
Que neſſes fios de ouro reluzente
Atada leuas? ou deſpois de preſa
Lhe mudaſte a ventura, & menos peſa?
Neſta eſperança ſo te vou ſeguindo,
Que ou tu nam ſofrerâs o peſo della,
Ou na virtude de teu gesto lindo,
Lhe mudarâs a triste & dura eſtrella.
E ſe ſe lhe mudar, nam vas fugindo,
Que Amor te ferirà, gentil donzella,
E tu me eſperarâs, ſe Amor te fere,
E ſe me eſperas, não ha mais que eſpere.
Ia nam fugia a bella Nimpha, tanto
Por ſe dar cara ao triste que a ſeguia,
Como por yr ouuindo o doçe canto,
As namoradas magoas que dizia:
Voluendo o roſto ja ſereno & ſancto,
Toda banhada em riſo, & alegria,
Cair ſe deixa aos pês do vencedor,
Que todo ſe desfaz em puro amor.
O que famintos beijos na floreſta,
E que mimoſo choro que ſoaua,
Que afagos tam ſuaues, que yra honeſta
Que em riſinhos alegres ſe tornaua:
O que mais paſſam na menhã, & na ſesta
Que Venus com prazeres inflamaua,
Milhor he eſprimentalo que julgalo,
Mas julgue o quem nam pode eſprimentalo.
Deſta arte em fim conformes ja as fermoſas
Nimphas, cos ſeus amados nauegantes,
Os ornão de capellas deleitoſas,
De louro, & de ouro, & flores abundantes:
As mãos aluas lhe dauão como eſpoſas
Com palauras formais, & eſtipulantes,
Se prometem eterna companhia
Em vida & morte, de honra & alegria.
Hũa dellas maior, a quem ſe humilha
Todo o coro das Nimphas, & obedece,
Que dizem ſer de Celo & Vesta filha,
O que no geſto bello ſe parece,
Enchendo a terra, & o mar de marauilha,
O Capitão illustre que o mereçe,
Recebe ali com pompa honeſta, & rêgia,
Moſtrando ſe ſenhora grande, & egregia.
Que deſpois de lhe ter dito quem era,
Cum alto exordio de alta graça ornado,
Dando lhe a entender, que ali viera
Por alta influiçam do imobil fado,
Pera lhe deſcobrir da vnida eſphera,
Da terra immenſa, & mar não nauegado
Os ſegredos, por alta prophecia,
O que eſta ſua naçam ſo merecia:
Tomando o pela mão a leua, & guia
Pera o cume dum monte alto, & diuino,
No qual hũa rica fabrica ſe erguia
De criſtal toda, & de ouro puro, & fino:
A maior parte aqui paſſam do dia
Em doçes jogos, & em prazer contino,
Ella nos paços logra ſeus amores,
As outras pelas ſombras entre as flores.
Aſsi a fermofa, & a forte companhia,
O dia quaſi todo eſtão paſſando,
Nãa alma, doçe, incognita alegria,
O trabalhos tam longos compenſando:
Porque dos feitos grandes, da ouſadia
Forte & famoſa, o mundo està guardando
O premio la no fim bem merecido,
Com fama grande, & nome alto & ſubido.
Que as Nimphas do Occeano tam fermoſas,
Thetis & a Ilha angelica pintada,
Outra couſa nam he, que as deleitoſas
Honras, que a vida fazem ſublimada:
Aquellas preminencias glorioſas,
Os triumphos, a fronte coroada
De Palma, & Louro, a gloria & marauilha
Estes ſam os deleites desta Ilha.
Que as immortalidades que fingia
A antiguidade, que os illuſtres ama,
La no estellante Olimpo a quem ſubia,
Sobre as aſas inclitas da fama,
Por obras valeroſas, que fazia,
Pelo trabalho immenſo, que ſe chama
Caminho da virtude alto & fragoſo:
Mas no fim doçe, alegre, & deleitoſo.
Nam erão ſenão premios, que reparte
Por feitos imortais & ſoberanos,
O mundo, cos varões, que esforço & arte
Diuinos os fizerão, ſendo humanos:
Que Iupiter, Mercurio, Phebo, & Marte
Eneas, & Quirino, & os dous Thebanos
Ceres, Palas, & Iuno, com Diana
Todos forão de fraca carne humana.
Mas a fama, trombeta de obras tais,
Lhe deu no mundo nomes tam eſtranhos
De Deoſes, Semideoſes immortais
Indigetes, Eroicos, & de Magnos
Por iſſo, o vos que as famas estimais,
Se quiſerdes no mundo ſer tamanhos,
Deſpertai ja do ſono do ocio ignauo,
Que o animo de liure faz eſcrauo.
E ponde na cobiça hum freio duro,
E na ambiçam tambem, que indignamente
Tomais mil vezes, & no torpe & eſcuro
Vicio da tirania infame, & vrgente:
Porque eſſas honras vaãs, eſſe ouro puro
Verdadeiro valor nam dão aa gente,
Milhor he merecellos, ſem os ter
Que poſſuilos ſem os mereçer.
Ou day na paz as leis iguais, constantes,
Que aos grandes não dem o dos pequenos,
Ou vos veſti nas armas rutilantes,
Contra a ley dos imigos Sarracenos,
Fareis os Reinos grandes, & poſſantes
E todos tereis mais, & nenhum menos
Poſſuireis riquezas merecidas,
Com as honras, que illuſtrão tanto as vidas.
E fareis claro o Rei, que tanto amais,
Agora cos conſelhos bem cuidados,
Agora co as eſpadas, que immortais
Vos farão, como os voſſos ja paſſados:
Impoſsibilidades não façais,
Que quem quis ſempre pode: & numerados
Sereis entre os Heroes eſclarecidos,
E neſta ilha de Venus recebidos.
F I M.

❧ Canto Decimo
& vltimo.
Mas ja o claro ama-
dor da Lariſſea
Adultera, inclinaua os animais,
La para o grande lago, que rodea
Temiſtitão, nos fins Occidentais:
O grande ardor do Sol Fauonio enfrea,
Co ſopro, que nos tanques naturais
Encreſpa a agoa ſerena, & deſpertaua
Os Lirios, & Iazmins que a calma agraua.
Quando as fermoſas Ninfas cos amantes
Pella mão ja conformes & contentes,
Subião pera os paços radiantes,
E de metais ornados reluzentes:
Mandados da Rainha, que abundantes
Meſas, daltos manjares, excelentes,
Lhe tinha aparelhados, que a fraqueza
Reſtaurem da canſada natureza.
Ali em cadeiras ricas criſtalinas,
Se aſſentão, dous & dous, amante & dama,
Noutras aa cabeceira douro finas,
Eſtà coa bella Deoſa o claro Gama:
De ygoarias ſuaues & diuinas
A quem não chega a Egipcia antiga fama,
Se acumulão os pratos de fuluo ouro,
Trazidos la do Atlantico teſouro.
Os vinhos odoriferos, que acima
Eſtão não ſo do Italico Falerno,
Mas da Ambroſia, que Ioue tanto eſtima,
Com todo o ajuntamento ſempiterno:
Nos vaſos, onde em vão trabalha a lima
Creſpas eſcumas erguem, que no interno
Coração mouem ſubita alegria,
Saltando coa miſtura dagoa fria.
Mil praticas alegres ſe tocauão,
Rîſos doces, ſutis, & argutos ditos,
Que entre hũ & outro mãjar ſe aleuantauão
Deſpertando os alegres apatitos:
Muſicos instrumentos não faltauão,
Quais no profundo reyno, os nus eſpritos
Fizerão deſcanſar da eterna pena,
Cũa voz dhũa angelica Syrena.
Cantaua a bella Ninfa, & cos acentos
Que pellos altos paços vão ſoando,
Em conſonancia ygoal, os inſtromentos
Suaues vem a hum tempo conformando:
Hum ſubito ſilencio enfrea os ventos,
E faz hir docemente murmurando
As agoas, & nas caſas naturais
Adormecer os brutos animais.
Com doce voz eſtâ ſubindo ao cco
Altos varões, que estão por vir ao mundo,
Cujas claras Ideas via Protheo,
Num globo vão, diafano, rotundo,
Que Iupiter em dom lho concedeo
Em ſonhos, & deſpois no reino fundo
Vaticinando o diſſe, & na memoria
Recolheo logo a Ninfa a clara hiſtoria.
Materia he de Coturno, & não de Soco
A que a Nimpha aprendeo no immenſo lago:
Qual Yopas não ſoube, ou Demodoco,
Entre os Pheaces hum, outro em Carthago.
Aqui minha Caliope te inuoco
Neste trabalho extremo, porque em pago,
Me tornes, do q̃ eſcreuo, & em vão pretendo,
O goſto de eſcreuer, que vou perdendo.
Vão os annos decendo, & ja do Eſtio
Ha pouco que paſſar ate o Otono,
A fortuna me faz o engenho frio,
Do qual ja não me jacto, nem me abono:
Os deſgoſtos me vão leuando ao rio
Do negro eſquecimento, & eterno ſono,
Mas tu me dâ que cumpra, ò grão Rainha
Das Muſas, cô que quero aa nação minha.
Cantaua a bella Deoſa, que virião
Do Tejo, pello mar que o Gama abrîra,
Armadas que as ribeiras vencerião,
Por onde o Oceano Indico ſoſpira:
E que os Gentios Reis, que não darião
A ceruiz ſua ao jugo, o ferro & yra
Prouarião do braço duro & forte,
Ate renderſe a elle, ou logo aa morte.
Cantaua dhum que tem nos Malabares
Do ſumo ſacerdocio a dignidade,
Que ſo por não quebrar cos ſingulares
Baroẽs, os nos que dera damizade,
Sofrerâ ſuas cidades & lugares,
Com ferro, incendios, ira & crueldade
Ver deſtruir do Samorim potente:
Que tais odios terâ coa noua gente.
E canta como la ſe embarcaria
Em Bellem o remedio deste dano,
Sem ſaber o que em ſi ao mar traria
O grão Pacheco, Achiles Luſitano:
O peſo ſentirão, quando entraria,
O curuo lenho, & o ſeruido Oceano,
Quando mais nagoa os troncos, que gemerem,
Contra ſua natureza ſe meterem.
Mas ja chegado aos fins Orientais,
E deixado em ajuda do gentio
Rey de Cochim,com poucos naturais,
Nos braços do ſalgado & curuo rio,
Desbaratarâ os Naires infernais
No paſſo Cambalão, tornando frio
Deſpanto o ardos immenſo do Oriente
Que verâ tanto obrar tão pouca gente.
Chamarâ o Samorim mais gente noua:
Virão Reis Bipur, & de Tânôr,
Das ſerras de Narſinga, que alta proua
Eſtarão prometendo a ſeu ſenhor:
Faràque todo o Naire em fim ſe moua,
Que entre Calicû jaz, & Cananor,
Dambas as leis immigas, pera a guerra,
Mouros por mar, Gentios polla terra.
E todos outra vez desbaratando,
Por terra, & mar, o grão Pacheco ouſado,
A grande multidão que yrâ matando,
A todo o Malabar terâ admirado:
Cometerâ outra vez não dilatando
O Gentio os combates apreſſado,
Injuriando os ſeus, fazendo votos
Em vão aos Deoſes vãos, ſurdos, & immotos
Ia não defenderâ ſomente os paſſos,
Mas queimar lhe ha lugares, templos, caſas:
Aceſo de yra o Cão, não vendo laſſos
Aquelles que as cidades fazem raſas:
Farà que os ſeus de vida pouco eſcaſſos,
Cometão o Pacheco que tem aſas
Por dous paſſos num tempo, mas voando
Dhum outro, tudo yrâ desbaratando.
Virâ ali o Samorim, porque em peſſoa
Veja a batalha, & os ſeus esforce, & anime,
Mas hum tiro, que com zonido voa,
De ſangue o tingirâ no andor ſublime:
Ia não verâ remedio, ou manha boa,
Nem força, que o Pacheco muito eſtime,
Inuentara traiçoẽs, & vãos venenos,
Mas ſempre (o ceo querendo) farâ menos.
Que tornarâ a vez ſeptima, cantaua,
Pellejar co inuicto & forte Luſo,
A quem nenhum trabalho peſa, & agraua,
Mas com tudo eſte ſo o farâ confuſo:
Trarâ pera a batalha horrenda, & braua,
Machinas de madeiros fora de vſo,
Pera lhe abalroar as Carauellas,
Que ateli vão lhe fora cometellas.
Pella agoa leuarâ ſerras de fogo
Pera a braſarlhe quanta armada tenha,
Mas a militar arte, & engenho, logo
Farâ ſer vaã a braueza com que venha:
Nenhum claro barão no Martio jogo,
Que nas aſas da fama ſe ſostenha,
Chega a este, que a palma a todos toma,
E perdoeme a illuſtre Grecia, ou Roma.
Porque tantas batalhas ſoſtentadas
Com muito pouco mais de cem ſoldados,
Com tantas manhas, & artes inuentadas
Tantos Cães não imbelles profligados:
Ou parecerão fabulas ſonhadas,
Ou que os celeſtes Coros inuocados
Decerão a ajudallo, & lhe darão
Esforço, força, ardil, & coração.
Aquelle que nos Campos Maratonios
O grão poder de Dario eſtrue, & rende,
Ou quem com quatro mil Lacedemonios
O paſſo de Termopilas defende,
Nem o mancebo Cocles dos Auſonios,
Que com todo o poder Tuſco contende
Em defenſa da ponte, ou Quinto Fabio
Foy como este na guerra forte & ſabio.
Mas neste paſſo a Nimpha o ſom canoro
Abaxando, fez ronco, & entriſtecido,
Cantando em baxa voz enuolta em choro
O grande esforço mal agardecido:
O Beliſario, diſſe, que no coro
Das Muſas ſeras ſempre engrandecido,
Se em ti viſte abatido o brauo Marte,
Aqui tens com quem podes conſolarte.
Aqui tens companheiro aſsi nos feitos
Como no galardão injusto & duro,
Em ti & nelle veremos altos peitos,
A baxo eſtado vir humilde, & eſcuro:
Morrer nos hoſpitais em pobres leitos,
Os que ao Rey, & aa ley ſeruem de muro,
Iſto fazem os Reys, cuja vontade
Manda mais que a juſtiça & que a verdade.
Iſto fazem os Reis, quando embebidos
Nũa aparencia branda que os contenta,
Dão os premios de Aiace merecidos,
Aa lingoa vaã de Vliſſes fraudulenta:
Mas vingome que os bens mal repartidos
Por quem ſo doces ſombras apreſenta,
Se não os dão a ſabios caualeiros,
Dãos os logo a auarentos liſongeiros.
Mas tu de quem ficou tão mal pagado
Hum tal vaſſalo, o Rey ſo nisto inico,
Se não es para darlhe honroſo eſtado,
He elle pera darte hum reino rico:
Em quanto for o mundo rodeado
Dos Apolineos rayos, eu te fico
Que elle ſeja entre a gente illuſtre & claro
E tu niſto culpado por auaro.
Mas eis outro, cantaua, intitulado
Vem com nome real, & traz conſigo
O filho, que no mar ſerâ illustrado
Tanto como qualquer Romano antigo:
Ambos darão com braço forte, armado,
A Quiloa fertil aſpero caſtigo,
Fazendo nella Rey leal, & humano,
Deitado fora o perfido Tirano.
Tambem farão Mombaça, que ſe arrea
De caſas ſumptuoſas, & edificios,
Co ferro, & fogo ſeu, queimada, & fea,
Em pago dos paſſados maleficios:
Deſpois na coſta da India, andando chea
De lenhos inimigos, & arteficios,
Contra os Luſos: com vellas, & com remos
O mancebo Lourenço farà eſtremos.
Das grandes naos, do Samorim potente,
Que encherão todo o mar, coa ferrea pela,
Que ſae com trouão do cobre ardente,
Farà pedaços leme, masto, vela,
Deſpois lançando arpeos ouſadamente
Na capitania inimiga: dentro nela
Saltando, a farâ ſo com lança & eſpada
De quatrocentos Mouros deſpejada.
Mas de Deos a eſcondida prouidencia,
Que ella ſo ſabe o bem de que ſe ſerue,
O porâ onde esforço, nem prudencia
Poderâ auer, que a vida lhe reſerue:
Em Chaul, onde em ſangue & reſistencia
O mar todo com fogo & ferro ferue,
Lhe farão, que com vida ſe não ſaya
As armadas de Egipto & de Cambaya.
Ali o poder de muitos inimigos
Que o grande esforço, ſo com força rende,
Os ventos que faltârão, & os perigos
Domar, que ſobejârão, tudo o ofende:
Aqui reſurjão todos os antigos,
A ver o nobre ardor, que aqui ſe aprende,
Outro Sceua verão, que eſpedaçado
Não ſabe ſer rendido, nem domado.
Com toda hũa coxa fora, que em pedaços
Lhe leua hum cego tiro, que paſſara,
Se ſerue inda dos animoſos braços,
E do grão coração, que lhe ficâra:
Ate que outro pilouro quebra os laços,
Com que co alma o corpo ſe liâra,
Ella ſolta voou da priſam fora,
Onde ſubito ſe acha vencedora.
Vâyte alma em paz da guerra turbulenta,
Na qual tu mereceſte paz ſerena,
Que o corpo que em pedaços ſe apreſenta,
Quem o gerou vingança ja lhe ordena:
Que eu ouço retumbar a grão tormenta,
Que vem ja dar a dura, & eterna pena,
De Eſperas, Baſiliſcos, & Trabucos,
A Cambalcos crueis, & Mamelucos.
Eis vem o pay com animo eſtupendo,
Trazendo furia & magoa por antolhos,
Com que o paterno amor lhe estâ mouendo
Fogo no coração, agoa nos olhos:
A nobre yra lhe vinha prometendo,
Que o ſangue farâ dar pellos giolhos
Nas inimigas naos ſentilo ha o Nilo,
Podelo ha o Indo ver, & o Gange ouiulo.
Qual o Touro cioſo, que ſe enſaya
Pera a crua pelleja, os cornos tenta
No tronco dhum Carualho, ou alta Faya
E o âr ferindo, as forças eſprimenta:
Tal, antes que no ſeyo de Cambaya
Entre Franciſco irado na opulenta
Cidade de Dabul, a eſpada afia,
Abaxandolhe a tumida ouſadia.
E logo entrando fero na enſeada
De Dio, illuſtre em cercos & batalhas,
Farâ eſpalhar a fraca & grande armada,
De Calecu, que remos tem por malhas:
A de Melique Yaz acautelada,
Cos pelouros que tu Vulcano eſpalhas,
Farâ yr ver o frio & fundo aſſento,
Secreto leito do humido elemento.
Mas a de Mir Hocem, que abalroando
A furia eſpararà dos vingadores,
Verâ braços & pernas yr nadando,
Sem corpos, pello mar, de ſeus ſenhores,
Rayos de fogo yrão repreſentando,
No cego ardor, os brauos domadores,
Quanto ali ſentirão olhos, & ouuidos,
E fumo, ferro, flamas & alaridos.
Mas ah, que desta proſpera vitoria,
Com que deſpois virâ ao patrio Tejo,
Quaſi lhe roubarâ a famoſa gloria
Hum ſucceſſo que triste & negro vejo,
O Cabo Tormentorio, que a memoria
Cos oſſos guardarâ: não terâ pejo
De tirar deſte mundo aquelle eſprito,
Que não tirarão toda a India, & Egito.
Ali Cafres ſeluagens poderão,
O que destros immigos não podêrão,
E rudos paos tostados ſos farão,
O que arcos & pelouros não fizerão,
Occultos os juizos de Deos ſam,
As gentes vaãs que não nos entenderão,
Chamãolhe fado mao, fortuna eſcura,
Sendo ſo prouidencia de Deos pura.
Mas ô que luz tamanha, que abrir ſinto,
Dizia a Ninfa, & a voz aleuantaua,
La no mar de Molinde em ſangue tinto
Das cidades de Lamo, de Oja, & Braua:
Pello Cunha tambem, que nunca extinto
Serâ ſeu nome, em todo o mar que laua
As ilhas do Auſtro, & praias, que ſe chamão
De ſam Lourẽço, & em todo o Sul ſe afamão.
Eſta luz he do fogo, & das luzentes
Armas, com que Albuquerque yra amãſand
De Ormuz os Parſeos, por ſeu mal valentes,
Que refuſam o jugo honroſo & brando:
Ali verão as ſetas estridentes
Reciprocarſe, a ponta no ar virando,
Contra quem as tirou, que Deos paleja
Por quem eſtende a fe da madre Igreja.
Ali do ſal os montes não defendem
De corrupção os corpos no combate,
Que mortos pella praya, & mar ſe eſtendem
De Gerum, de Mozcate, & Calayate:
Ate que a força ſo de braço aprendem
A abaxar a ceruiz, onde ſe lhe ate
Obrigação de dar o reyno inico
Das perlas de Barem tributo rico.
Que glorioſas palmas tecer vejo,
Com que victoria a fronte lhe coroa,
Quando ſem ſombra vaã de medo, ou pejo
Toma a ilha illuſtriſsima de Goa:
Deſpois, obedecendo ao duro enſejo
A deixa, & ocaſião eſpera boa,
Com que a torne a tomar, que esforço & arte
Vencerão a fortuna, & o proprio Marte.
Eis ja ſobrella torna & vây rompendo
Por muros, fogo, lanças, & pilouros,
Abrindo cõ a eſpada o eſpeſſo, & horrendo
Eſquadrão de Gentios, & de Mouros:
Irão ſoldados inclitos fazendo
Mais que Liões famelicos, & Touros,
Na luz que ſempre celebrada & dina
Sera da Egipcia ſancta Caterina.
Nem tu menos fugir poderas deſte,
Poſto que rica, & posto que aſſentada
La no gremio da Aurora, onde naceſte,
Opulenta Malaca nomeada:
As ſetas venenoſas que fizeste,
Os Criſes com que ja te vejo armada,
Malaios namorados, Iaos valentes
Todos faras ao Luſo obedientes.
Mais eſtanças cantâra esta Syrena
Em louuor do illuſtriſsimo Albuquerque,
Mas alembroulhe hũa yra que o condena,
Poſto que a fama ſua o mundo cerque:
O grande capitão, que o fado ordena
Que com trabalhos gloria eterna merque,
Mais ha de ſer hum brando companheiro
Pera os ſeus, que juiz cruel & inteiro.
Mas em tempo que fomes, & aſperezas
Doenças, frechas, & trouoẽs ardentes,
A ſazão, & o lugar fazem cruezas
Nos ſoldados a todo obedientes:
Parece de ſeluaticas brutezas,
De peitos inhumanos & inſolentes,
Dar extremo ſuplicio pella culpa
Que a fraca humanidade & Amor deſculpa.
Não ſerâ a culpa abominoſo inceſto,
Nem violento estupro em virgem pura,
Nem menos adulterio deſoneſto,
Mas cũa eſcraua vil laſciua & eſcura:
Se o peito ou de cioſo, ou de modeſto,
Ou de vſado a crueza fera & dura,
Cos ſeus hũa ira inſana não refrea,
Poẽ na fama alua noda negra & fea.
Vio Alexandre Apeles namorado
Da ſua Campaſpe, & deulha alegremente,
Não ſendo ſeu ſoldado eſprimentado,
Nem vendoſe num cerco duro & vrgente:
Sentia Ciro que andaua ja abraſado
Araſpas, de Pantea em fogo ardente,
Que elle tomara em guarda, & prometia
Que nenhum mao deſejo o venceria.
Mas vendo o Illuſtre Perſa, que vencido
Fora de amor, que em fim não tem defenſa,
Leuemente o perdoa, & foy ſeruido
Delle num caſo grande em recompenſa.
Per força de Iudita foy marido
O ferreo Balduuino, mas diſpenſa
Carlos pay della, poſto em couſas grandes,
Que viua, & pauoador ſeja de Frandes.
Mas proſeguindo a Nimpha o longo canto,
De Soarez cantaua, que as bandeiras
Faria tremolar, & por eſpanto,
Pellas roxas Arabicas ribeiras:
Madina abominabil teme tanto,
Quanto Meca, & Gidâ, coas derradeiras
Prayas de Abaſia: Barborâ ſe teme,
Do mal de que o Emporio Zeila geme.
A nobre ilha tambem de Taprobana,
Ia pello nome antigo tão famoſa,
Quanto agora ſoberba, & ſoberana,
Pella Cortiça calida, cheiroſa,
Della dar â tributo aa Luſitana
Bandeira, quando excelſa, & glorioſa
Vencendo ſe erguerâ na torre erguida,
Em Columbo, dos proprios tam temida.
Tambem Sequeira as ondas Eritreas
Diuidindo, abrirâ nouo caminho,
Pera ti grande Imperio que te arreas
De ſeres de Candace, & Sabâ ninho:
Maçuà com Ciſternas de agoa cheas
Verâ, & o porto Arquico ali vizinho,
E fara deſcobrir remotas ilhas,
Que dão ao mundo nouas marauilhas.
Virâ deſpois Meneſes, cujo ferro
Mais na Africa, que câ terâ prouado:
Caſtigarâ de Ormuz Soberba o erro,
Com lhe fazer tributo dar dobrado:
Tambem tu Gama, em pago do deſterro
Em que eſtâs, & ſerâs inda tornado,
Cos titolos de Conde, & dhonras nobres,
Virâs mandar a terra que deſcobres.
Mas aquella fatal neceſsidade,
De quem ninguems ſe exime dos humanos,
Illuſtrado coa Regia dignidade,
Te tirarâ do mundo & ſeus enganos:
Outro Meneſes logo, cuja ydade
He mayor na prudencia, que nos anos,
Gouernarâ, & farà o ditoſo Henrique,
Que perpetua memoria delle fique.
Não vencerâ ſomente os Malabares,
Deſtruindo Panane, com Coulete,
Cometendo as Bombardas, que nos ares
Se vingão ſo do peito que as comete:
Mas com virtudes certo ſingulares,
Vence os immigos dalma todos ſete,
De cubiça triumpha, & incontinencia,
Que em tal idade he ſuma de excellencia.
Mas deſpois que as estrellas o chamarem,
Socederâs ô forte Mozcarenhas,
E ſe injustos o mando te tomarem,
Prometote que fama eterna tenhas:
Pera teus inimigos confeſſarem
Teu valor alto, o fado quer que venhas
A mandar, mais de palmas coroado,
Que de fortuna juſta acompanhado.
No reino de Bintão, que tantos danos
Terâ a Malaca muito tempo feitos,
Num ſo dia as injurias de mil anos
Vingarâs, co valor de illuſtres peitos,
Trabalhos & perigos inhumanos,
Abrolhos ferreos mil, paſſos estreitos,
Tranqueiras, Baluartes, lanças, Setas,
Tudo fico que rompas & ſometas.
Mas na India cubiça & ambição,
Que claramente poem aberto o rosto
Contra Deos, & Iustiça, te farão
Vituperio nenhum, mas ſo deſgoſto:
Quem faz injuria vil, & ſem rezão
Com forças & poder, em que estâ poſto,
Não vence, que a vitoria verdadeira,
He ſaber ter juſtiça nua, & inteira.
Mas com tudo não nego que Sampayo
Serâ no esforço illuſtre, & aſinalado,
Mostrando ſe no mar hum fero rayo,
Que de inimigos mil verâ qualhado:
Em Bacanôr farâ cruel enſayo
No Malabar, pera que amedrontado
Deſpois a ſer vencido delle venha
Cutiâle, com quanta armada tenha.
E não menos de Dio a fera frota
Que Chaul temerâ de grande & ouſada,
Farâ coa viſta ſo perdida & rota,
Por Heitor da Silueira, & destroçada:
Por Heitor Portugues, de quem ſe nota,
Que na Coſta Cambaica ſempre armada,
Serâ aos Guzarates tanto dano,
Quanto ja foy aos Gregos o Troyano.
A Sampayo feroz ſocederà
Cunha, que longo tempo tem o leme,
De Chale as torres altas erguerâ,
Em quanto Dio illustre delle treme,
O forte Baçaîm ſe lhe darâ,
Não ſem ſangue porem, que nelle geme
Melique, porque a força ſo de eſpada
A tranqueira ſoberba ve tomada.
Tras eſte vem Noronha, cujo Auſpicio
De Dio os Rumes feros afugenta,
Dio que o peito & bellico exercicio
De Antonio da ſilueira bem ſuſtenta:
Farâ em Noronha a morte o vſado officio,
Quando hum teu ramo, ô Gama, ſe eſprimẽta
No gouerno do Imperio, cujo zelo
Com medo o roxo mar farâ amarelo,
Das mãos do teu Eſteuão vem tomar
As redeas hum, que ja ſera illuſtrado
No Braſil, com vencer & caſtigar
O Pirata Frances ao mar vſado:
Deſpois Capitão mor do Indico mar,
O muro de Dâmão ſoberbo & armado,
Eſcala, & primeiro entra a porta aberta
Que fogo & frechas mil terão cuberta.
A eſte o Rey Cambaico ſoberbiſsimo
Fortaleza darà na rica Dio,
Porque contra o Mogor poderoſiſsimo
Lhe ajude a defender o ſenhorio:
Deſpois yrà com peito esforçadiſsimo
A tolher que não paſſe o Rey Gentio,
De Calecu, que aſsi com quantos veyo
O farâ retirar de ſangue cheyo
Deſtroirâ a cidade Repelim,
Pondo o ſeu Rey com muitos em fugida:
E deſpois junto ao Cabo Comorim
Hũa façanha faz eſclarecida,
A frota principal da Samorim,
Que destroir o mundo não duuida,
Vencerâ co furor do ferro & fogo,
Em ſi verâ Beadâla o Morcio jogo.
Tendo aſsi limpa a India dos immigos,
Virâ deſpois com cetro a gouernala,
Sem que ache reſiſtencia, nem parigos,
Que todos tremem delle, & nenhum fala:
So quis prouar os aſperos caſtigos
Baticalâ, que virâ ja Beadala,
De ſangue & corpos mortos ficou chea,
E de fogo & trouoẽs desfeita & fea.
Eſte ſera Martinho, que de Marte
O nome tem coas obras diriuado,
Tanto em armas illuſtre em toda parte,
Quanto em conſelho ſabio & bem cuidado:
Socederlhe ha ali Castro, que o estandarte
Portugues terâ ſempre leuantado,
Conforme ſucceſſor ao ſuccedido
Que hum ergue Dio, outro o defende erguido.
Perſas feroces, Abaſsis & Rumes
Que trazido de Roma o nome tem,
Varios de geſtos, varios de custumes
Que mil naçoẽs ao cerco feras vem
Farão dos ceos ao mundo vãos queixumes
Porque hũs poucos a terra lhe detem,
Em ſangue Portugues juram deſcridos
De banhar os bigodes retorcidos.
Baſiliſcos medonhos & Liões,
Trabucos feros, minas encubertas,
Suſtenta Mozcarenhas cos barões,
Que tam ledos as mortes tem por certas:
Ate que nas mayores opreſſoẽs
Caſtro libertador, fazendo offertas
Das vidas de ſeus filhos, quer que fiquem
Com fama eterna, & a Deos ſe ſacrifiquem.
Fernando hum delles, ramo da alta pranta,
Onde o violento fogo com ruido,
Em pedaços os muros no ar leuanta,
Serâ ali arrebatado, & ao ceo ſubido:
Aluaro quando o inuerno o mundo eſpanta,
E tem o caminho humido impedido,
Abrindoo, vence as ondas, & os perigos,
Os ventos, & deſpois os inimigos.
Eis vem deſpois, o pay, que as ondas corta
Co reſtante da gente Luſitana
E com força & ſaber, que mais importa,
Batalha da felice & ſoberana:
Hũs paredes ſubindo eſcuſam porta,
Outros a abrem, na fera eſquadra inſana,
Feitos farão tão dinos de memoria,
Que não caibão em vêrſo, ou larga hiſtoria.
Este deſpois em campo ſe apreſenta
Vencedor forte & intrepido, ao poſſante
Rey de Cambaya, & a viſta lhe amedrenta
Da fera multidão pradrupedante:
Não menos ſuas terras mal ſuſtenta
O Hydalcham do braço triumphante
Que caſtigando vay Dâbul na coſta
Nem lhe eſcapou Pondâ no ſertão posta.
Estes & outros Baroẽs por varias partes,
Dinos todos de fama & marauilha,
Fazendoſe na terra brauos Martes,
Virão lograr os gostos deſta Ilha:
You have read 1 text from Portuguese literature.
Next - Os Lusíadas - 12
  • Parts
  • Os Lusíadas - 01
    Total number of words is 4505
    Total number of unique words is 1748
    27.4 of words are in the 2000 most common words
    40.6 of words are in the 5000 most common words
    46.7 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • Os Lusíadas - 02
    Total number of words is 4527
    Total number of unique words is 1725
    25.8 of words are in the 2000 most common words
    38.0 of words are in the 5000 most common words
    45.0 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • Os Lusíadas - 03
    Total number of words is 4578
    Total number of unique words is 1785
    27.6 of words are in the 2000 most common words
    40.2 of words are in the 5000 most common words
    46.3 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • Os Lusíadas - 04
    Total number of words is 4504
    Total number of unique words is 1726
    28.9 of words are in the 2000 most common words
    41.0 of words are in the 5000 most common words
    46.7 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • Os Lusíadas - 05
    Total number of words is 4479
    Total number of unique words is 1840
    27.8 of words are in the 2000 most common words
    39.1 of words are in the 5000 most common words
    45.0 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • Os Lusíadas - 06
    Total number of words is 4555
    Total number of unique words is 1822
    27.0 of words are in the 2000 most common words
    39.6 of words are in the 5000 most common words
    46.5 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • Os Lusíadas - 07
    Total number of words is 4574
    Total number of unique words is 1794
    28.5 of words are in the 2000 most common words
    40.1 of words are in the 5000 most common words
    46.7 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • Os Lusíadas - 08
    Total number of words is 4557
    Total number of unique words is 1788
    27.4 of words are in the 2000 most common words
    41.0 of words are in the 5000 most common words
    46.8 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • Os Lusíadas - 09
    Total number of words is 4528
    Total number of unique words is 1807
    27.5 of words are in the 2000 most common words
    40.8 of words are in the 5000 most common words
    47.6 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • Os Lusíadas - 10
    Total number of words is 4496
    Total number of unique words is 1864
    26.1 of words are in the 2000 most common words
    38.3 of words are in the 5000 most common words
    45.4 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • Os Lusíadas - 11
    Total number of words is 4518
    Total number of unique words is 1874
    26.0 of words are in the 2000 most common words
    38.8 of words are in the 5000 most common words
    45.1 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • Os Lusíadas - 12
    Total number of words is 4144
    Total number of unique words is 1709
    26.9 of words are in the 2000 most common words
    39.4 of words are in the 5000 most common words
    45.8 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.