Viagens na Minha Terra - 09

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nem uma palavra ao frade da minha estada aqui! A elle, oh! a elle jurei
eu não tornar a ver. E se minha avó...'
--'Basta: não lhe direi nada. Mas á nossa avó quando lh'o heide dizer, e
quando hasde tu ir ve-la?'
--'Porora não: preciso licença de Lisboa, ou do quartel-general quando
menos, para fazer uma coisa que todas as leis da guerra prohibem, que
nas actuaes circumstancias e em similhante guerra ainda é mais defesa. E
sem isso--tu bem sabes que as minhas resoluções não se mudam--sem isso
não o faço. Em todo o caso, que Fr. Diniz nem sonhe!..'
--'E quanto tempo, quantos dias se hãode passar?'
--'Eu sei? oito, quinze dias talvez, talvez mais.'
--'E a minha pobre avó, coitadinha! a morrer de saudades...'
--'Consola-a tu, Joanninha: dize-lhe que tiveste novas minhas, que estou
bom, que me não falta nada, que tenho esperanças de vos ver muito cedo.'
--'E eu... eu posso, eu heide ver-te todos os dias: não, Carlos?'
--'Ámanhan é sexta-feira...'
--'Ámanhan é o dia negro... nem eu queria: ámanhan não póde ser, bem
sei. Mas, tirado ámanhan, meu Carlos, oh! todos os dias!'
--'Sim, querido anjo, sim.'
--'Promettes?'
--'Juro-t'o.'
--'Succeda o que succeder?'
--'Succeda o que... So ha uma coisa que... Mas essa não... não é
possivel.'
--'O que é, Carlos? que póde haver, que póde succeder que te impeça
de?..'
Carlos estremeceu... hesitou, corou, fez-se pallido... quiz dizer-lhe a
verdade e não ousou...
Porquê?.. E que verdade era essa? Não a direi eu, ja que elle a não
disse: fiel e discreto historiador, imitarei a discrição do meu heroe.
Pois era discrição a d'elle?
Não... em verdade, era outra coisa.
Era um pensamento reservado?
Não.
Era tenção má, ingano premeditado, era?..
Não, tambem não.
O que era pois?
Era a dúvida, era a fraqueza, era a vaidade, a mentira congenial e
obrigada, a necessaria falsidade do homem social.
Carlos mentiu e disse:
--'Só se m'o prohibirem expressamente... os meus chefes.'
Mas não era isso o que elle receiava; não era esse aquelle motivo unico
e superior que elle temia podesse vir um dia derepente cortar as doces
relações de convivencia a que tam prestes se habituára, que ja lhe
pareciam parte necessaria, indispensavel da sua vida. Não era, não; e
Carlos tinha mentido...
Joanninha olhou para elle fixa... Carlos corou de novo. Ella fez-se
pallida... d'ahi corou tambem.
--'Carlos, tu não es capaz de mentir...'
--'Joanninha!'
--'Tu es o meu Carlos... tu queres-me como me querias d'antes...'
--'Sou... oh! sou. E amo-te...'
--'Como d'antes?'
--'Mais.'
--'Pois olha, Carlos: eu nunca amei, nunca heide amar a nenhum homem
senão a ti.'
--'Joanna!'
--'Carlos!'
Iam a cahir nos braços um do outro... A singela confissão da innocencia
ia ser acceita por quem e como, sancto Deus! Aquella palavra de oiro,
aquella doce palavra que tanto custa a pronunciar á mulher menos
arteira; que adivinhada, sabida, ouvida ha muito pelo coração, ditta mil
vezes com os olhos, nenhum homem descança nem se tem por feliz, por
certo de sua felicidade, em quanto a não ouve proferir pelos
labios--essa palavra celeste que explica o passado, que responde do
futuro, que é a última e irrevocavel sentença de um longo pleito de
anciedades, de incertezas e de sustos--essa final e fatal palavra
_amo-te_, Joanninha a pronunciára tam naturalmente, tam sincera, tam sem
difficuldades nem hesitações, como se aquelle fosse--e era decerto--como
se aquelle tivesse sido sempre o pensamento unico, a idea constante e
habitual de sua vida.
O excesso da felicidade aterra e confunde tambem. Um momento antes,
Carlos dera a sua vida por ouvir aquella palavra... um momento
depois--oh pasmosa contradicção de nossa dupplice natureza! um momento
depois dera a vida pela não ter ouvido. No primeiro instante ia
lançar-se nos braços da innocente que lh'os abria n'um sancto extasi do
mais apaixonado amor; no segundo, tremeu e teve horror da sua
felicidade.
--'Joanna' exclamou elle 'Joanna, querida, sabes tu se eu mereço...
sabes tu se deves?..'
--'Sei. Desde que me intendo, não pensei n'outra coisa; desde que d'aqui
foste, comecei a intender o que pensava... disse-o a minha avó, e
ella...'
--'E ella?..'
--'Ella abençoou-me, chamou-me a sua querida filha, abraçou-me,
beijou-me, e disse-me que aquella era a primeira hora de felicidade e de
alegria que ha muitos annos tinha tido.'
Carlos não respondeu nada e olhou para Joanninha com uma indicivel
expressão de affecto e de tristeza. Os raios de alegria que
resplandeciam n'aquelle semblante--agora bello de toda a belleza com que
um verdadeiro amor illumina as mais desgraciosas feições--os raios
d'essa alegria começaram a amortecer, a apagar-se. A lucida
transparencia d'aquelles olhos verdes turvou-se: nem a clara luz da
agua-marinha, nem o brilho fundo da esmeralda resplandecia ja n'elles;
tinham o lustro baço e morto, o polido mate e silicioso de uma d'essas
pedras sem agua nem brilho que a arte antiga ingastava nos collares de
suas estátuas.
--'Adeus Joanna!' disse Carlos perturbado e confuso.
--'Adeus, Carlos!' respondeu ella machinalmente.
--'Até depois de ámanhan, Joanna.'
--'Pois sim.'
--'Depois de ámanhan te direi...'
--'Não digas.'
--'Porquê?'
--'Porque é excusado: ja sei tudo.'
--'Sabes!'
--'Sei.'
--'O quê?'
--'O que tu não tens ânimo para me dizer, Carlos; mas que o meu coração
adivinhou. Tu não me amas, Carlos.'
--'Não te amo! eu!.. Sancto Deus! eu não a amo...'
--'Não. Tu amas outra mulher.'
--'Eu! Joanna, oh! se tu soubesses...'
--'Sei tudo.'
--'Não sabes.'
--'Sei: amas outra mulher, outra mulher que te ama, que tu não pódes,
que tu não deves abandonar, e que eu...'
--'Tu?'
--'Eu sei que é bella, prendada, cheia de graças e de incantos,
porque... porque tu, meu Carlos, porque o teu amor não era para se dar
por menos.'
--'Joanna, Joanninha!'
--'Não digas nada, não me digas nada hoje... hoje sobretudo, não me
digas nada. Ámanhan...'
--'Ámanhan é sexta-feira.'
--'Inda bem! terei mais tempo para reflectir, para considerar antes de
tornar a ver-te. Adeus Carlos!'
--'Uma palavra so, Joanna. Cuidas que sou capaz de te inganar?'
--'Não; estou certa que não.'
--'Até ámanhan... até depois de ámanhan.'
--'Adeus!'
Abraçaram-se, e d'esta vez froixamente; beijaram-se de um osculo timido
e recatado... os beiços de ambos estavam frios, as mãos trémulas; e o
coração comprimido batia, batia-lhes forte que se ouvia.
Retirou-se cadaum por seu lado. A noite estava pura e serena como na
vespera, as estrellas luziam no ceo azul com o mesmo brilho; o silencio,
a majestade, a belleza toda da natureza era a mesma... so elles eram
outros... outros, tam outros e differentes do que foram!
Tinham-se dado cuidadosamente as providencias; ambos chegaram, sem
nenhum accidente, ao seu destino.


NOTAS


NOTAS
AO LIVRO PRIMEIRO.

*Nota A.*

Que viage á roda do seu quarto, quem está a beira dos Alpes
pag. 1.

É visivel allusão ao popular e inimitavel opusculo de Xavier de Maistre,
_Voyage autour de ma chambre_, que decerto foi principiado a escrever em
Turim, e que muitos suppoem que fôsse concluido em San'Petersburgo.

*Nota B.*

Designio politico determinado a minha visita (a Santarem)
pag. 2.

É puramente historico isto; e tambem é verdade que em grande parte
d'aqui se originou a persiguição brutal que soffreu o A. d'ahi a poucos
meses.

*Nota C.*

N'uma _regata_ de vapores
pag. 3.

_Regata_ chamavam, e não sei se chamam ainda, em Veneza ás carreiras de
barcos appostados ao desafio. A palavra e a coisa introduziu-se em
Inglaterra, onde é moda e popularissima.

*Nota D.*

Eu coroarei de trevo a minha espada
pag. 24.

Estes versos são uma especie de parodia dos famosos fragmentos de Alceu
de que so existe memoria nos scholios que nos conservou Eustathio. Nas
_Flores sem fructo_, pag. 56 a traducção d'aquelle bello fragmento.

*Nota E.*

Depois de tantas commissões de inquerito, deve de andar orçado o
número de almas
pag. 25.

Os protocollos das commissões de inquerito de ha oito para dez annos a
ésta parte, sôbre o estado das classes trabalhadoras e indigentes em
Inglaterra, é a próva real dos grandes calculos da economia politica,
sciencia que eu espero em Deus se hade desacreditar muito cedo.

*Nota F.*

There are more things etc.
pag. 26.

A traducção chegada d'estes memoraveis versos de Shakspeare é:
Ha mais coisas no ceo, ha mais na terra
Do que sonha a tua van philosophia.

*Nota G.*

Um _Chourineur_... uma _Fleur-de-Marie_
pag. 28.

Personagens, bem conhecidos geralmente, do romance tam popular de Eug.
Sue, _Os Mysterios de París_.

*Nota H.*

Fossem lá á rainha Anna
pag. 34.

Addison, o poeta, foi ministro da rainha Anna de Inglaterra, e membro do
célebre gabinete chamado de _All-wits_.

*Nota J.*

Quando chegou alli pelos Prazeres
pag. 56.

Um dos dois cemiterios de Lisboa--seja ditto para intelligencia do
leitor provinciano--chama-se _Dos Prazeres_, por uma ermida de N. S.^a
que alli existia com ésta invocação desde antes do terreno ter o
presente destino. É notavel a coincidencia do nome.

*Nota K.*

O verdadeiro alfageme... tinha pelo povo e não queria saber de
partidos
pag. 64.

É facil de ver que o interlocutor d'este dialogo conhecia esse curioso
personagem da historia do Condestavel, não pelas chronicas mas pelo
drama que tem o seu nome.

*Nota L.*

Do _Sacré-Coeur_ e das suas elegantes devotas
pag. 89.

O convento que tem este nome em París, é casa de educação de meninas
nobres, e recolhimento de senhoras tambem.

*Nota M.*

Graciosa sculptura de Antonio Ferreira
pag. 106.

Antonio Ferreira, que viveu no fim do seculo passado, princípio d'este,
modelava em barro com a mesma graça e naturalidade flamenga, com que
pintava o morgado de Setubal: as suas piquenas figurinhas são tam
estimadas pelos intendedores como os melhores biscoitos de Sevres e de
Saxonia antiga.

*Nota N.*

Ave phenix que nasceu de nossos avós não saberem grego
pag. 115.

A fábula daquella ave immortal teve origem nas edades obscuras da Europa
quando o grego era ignorado. O que os antigos diziam da _phenix_,
palmeira em grego, tomaram nossos barbaros avós por ditto de uma
passarolla com que os outros nunca sonharam.


INDICE.

Prologo dos editores. pag. v
Capitulo I.--De como o auctor d'este erudito livro se resolveu a viajar
na sua terra, depois de ter viajado no seu quarto; e como resolveu
immortalizar-se escrevendo éstas suas viagens. Parte para Santarem.
Chega ao Terreiro do Paço; imbarca no vapor de Villa-Nova; e o que ahi
lhe succede. A Deducção-Chronologica e a baixa de Lisboa. Lord Byron e
um bom charuto. Travam-se de razões os ilhavos e os bordas-d'agua, e os
da calça larga levam a melhor. 1
Capitulo II.--Declaram-se typicas, symbolicas e mythicas éstas viagens.
Faz o A. modestamente o seu proprio elogio. Da marcha da civilização; e
mostra-se como ella é dirigida pelo cavalleiro da Mancha, D. Quixote e
por seu escudeiro, Sancho Pança.--Chegada a Villa-Nova-da-Rainha.
Supplicio de Tantalo.--A virtude galardão de si mesma; e sophisma de
Jeremias-Bentham.--Azambuja. 13
Capitulo III.--Acha-se desappontado o leitor com a prosaica sinceridade
do A. d'estas viagens.--O que devia ser uma estalagem n'estas nossas
eras de litteratura romantica?--Suspende-se o exame d'esta grave questão
para tractar, em prosa e verso, um muito difficil ponto de
economia-politica e de moral social.--Quantas almas é preciso dar ao
diabo, e quantos corpos se teem de intregar no cemiterio para fazer um
ricco n'este mundo.--Como se veio a descobrir que a sciencia d'este
seculo era uma grandecissima tola.--Rei de facto, e rei de
direito.--Belleza e mentira não cabem n'um sacco.--Põe-se o A. a caminho
para o pinhal da Azambuja. 23
Capitulo IV.--De como o A. foi pensando e divagando; e em que pensava e
divagava elle, no caminho da villa da Azambuja até o famoso pinhal do
mesmo nome.--Do poeta grego e philosopho Démades e do poeta e philosopho
ingles Addison: da casaca de penneiros e do palio atheniense, e de
outros importantes assumptos em que o A. quiz mostrar sua profunda
erudição.--Discute-se a materia gravissima se é necessario que um
ministro d'estado seja ignorante e leigarraz.--Admiraveis reflexões de
zigzag em que se tracta de _re politica_ e de _re
amatoria_.--Descobre-se porfim que o A. estivera a sonhar em todo este
capitulo, e pede-se ao leitor benevolo que volte a folha e passe ao
seguinte. 31
Capitulo V.--Chega o A. ao pinhal da Azambuja, e não o acha. Trabalha-se
por explicar este phenomeno pasmoso. Bello rasgo de stylo
romantico.--Receita para fazer litteratura original com pouco
trabalho.--Transição classica;--Orpheu e o bosque do Ménalo. Desce o A.
d'estas grandes e sublimes considerações para as realidades materiaes da
vida: é desamparado pela hospitaleira traquitana e tem de cavalgar na
triste mula de arrieiro.--Admiravel choito do animal. Memorias do
marquez do F. que adorava o choito. 39
Capitulo VI.--Próva-se como o velho Camões não teve outro remedio senão
misturar o maravilhoso da mylhologia com o do christianismo.--Da-se
razão, e tira-se depois ao padre José Agostinho.--No meio d'estas
disceptações academico-litterarias vem o A. a descobrir que para tudo é
preciso ter fé n'este mundo. Diz-se _n'este mundo_, porque, quanto ao
outro ja era sabido.--Os Lusiadas, Fausto e a Divina-Comedia.--Desgraça
de Camões em ter nascido antes do romantismo.--Mostra-se como a Styge e
o Cocyto sempre são melhores sitios que o Inferno e o Purgatorio.--Vai o
A. em procura do marquez de Pombal, e dá com elle nas ilhas Beatas do
poeta Alceu.--Partida de Wist entre os illustres finados.--Compaixão do
marquez pelos pobres homens de Ricardo Smith e J. B. Say.--Resposta
d'elle e da sua luneta ás perguntas peralvilhas do A.--Chegada a este
mundo e ao Cartaxo. 47
Capitulo VII.--Reflexões importantes sôbre o Bois-de-Boulogne, as
carruagens de mollas, Tortoni, e o café do Cartaxo.--Dos cafés em geral,
e de como são o characteristico da civilização de um paiz.--O
Alfageme.--Hecatombe involuntaria immolada pelo A.--Historia do
Cartaxo.--Demonstra-se como a Gran' Bretanha deveu sempre toda a sua
fôrça e toda a sua glória a Portugal.--Shakspeare e Laffitte, Milton e
Chateaumargot.--Nelson e o principe de Joinville.--Próva-se
evidentemente que M. Guizot é a ruina de Albion e do Cartaxo. 59
Capitulo VIII.--Sahida do Cartaxo.--A charneca.--Perigo imminente em que
o A. se acha de dar em poeta e fazer versos.--Ultima revista do
imperador D. Pedro ao exército liberal. Batalha de
Almoster.--Waterloo.--Declara o A. solemnemente que não é philosopho e
chega á ponte de Asseca. 71
Capitulo IX.--Prologomenos dramatico-litterarios, que muito naturalmente
levam, apezar de alguns rodeios, ao retrospecto e reconsideração do
capitulo antecedente.--Livros que não deviam ter titulo, e titulos que
não deviam ter livro.--Dos poetas d'este seculo: Bonaparte, Rotchild e
Silvio-Péllico.--Chega-se ao fim d'estas reflexões e á Ponte da
Assecca.--Traducção portugueza de um grande poeta.--Origem de um
dictado.--Junot na ponte da Assecca.--De como o A. d'este livro foi
jacobino desde piqueno.--Inguiço que lhe deram.--A duqueza de
Abrantes.--Chega-se emfim ao val de Santarem. 79
Capitulo X.--Valle de Santarem--Namora-se o A. de uma janella que ve por
entre umas árvores.--Conjecturas várias a respeito da ditta
janella.--Similhança do poeta com a mulher namorada, e inquestionavel
inferioridade do homem que não é poeta.--Os rouxinoes. Reminiscencia de
Bernardim Ribeiro e das suas saudades.--De como o A. tinha quasi
completo o seu romance, menos um vestido branco e uns olhos
pretos.--Sahem verdes os olhos com grande admiração e pasmo
seu.--Verificam-se as conjecturas sôbre a mysteriosa janella.--A menina
dos rouxinoes.--Censura das damas muito para temer, crítica dos
elegantes muito para rir.--Começa o primeiro episodio d'esta Odyssea. 91
Capitulo XI.--Tracta-se do unico privilegio dos poeetas que tambem os
philosophos quizeram tirar, mas não lhes foi concedido; aos romancistas
sim.--Applicação d'estes principios a Aristoteles e Anacreonte.--O A.,
tendo declarado no capítulo nono d'esta obra que não era philosopho,
agora confessa, quasi solemnemente. que é poeta, e pretende manter-se
como tal, em seu direito.--De como S. M. elrei de Dinamarca tinha menos
juizo do que Yorick, seu bobo.--Doutrina d'este. Funda n'ella o A. o seo
admiravel systema de physiologia e pathologia transcendente do coração.
Por uma deducção appertada e cerrada da mais constrangente logica vem a
dar-se no motivo porque foi concedido aos poetas esse direito indefinido
de andarem sempre namorados.--Applicam-se todas éstas grandes theorias á
posição actual do A. no momento de entrar no episodio promettido no
capítulo antecedente.--Uma modestia e reserva delicada o obrigam a
duvidar da sua qualificação para o desimpenhar: pede votos ás amaveis
leitoras. Decide-se que a votação não seja nominal, e porquê.--Dido e a
mana Annica.--Entra-se emfim na promettida historia.--De como a velha
estava á porta a dobar, e imbaraçando-se-lhe a meada, chamou por
Joanninha, sua neta. 99
Capitulo XII.--De como Joanninha desimbaraçou a meada da avó, e do mais
que aconteceu.--Que casta de rapariga era Joanninha. Dá o A. insigne
prôva de ingenuidade e boa fé confessando um grave senão do seu Ideal.
Insiste porém que é um adoravel deffeito.--Em que se parece uma mulher
desannellada com um Sansão tosquiado.--Pasmosas monstruosidades da
natureza que desmentem o credo velho dos peralvilhos.--Os olhos verdes
de Joanninha.--Religião dos olhos pretos strenuamente professada pelo A.
Perigo em que ella se acha á vista de uns olhos verdes.--De como estando
a avó e a neta a conversar muito de mano a mano, chega Frei Diniz e se
interrompe a conversação.--Quem era Frei Diniz. 109
Capitulo XIII.--Dos frades em geral.--O frade moralmente considerado,
socialmente e artisticamente.--Próva-se que é muito mais poetico o frade
do que o barão.--Outra vez D. Quixote e Sancho Pansa.--Do que seja o
barão, sua clasificação e descripção linneana.--Historia do castello do
Chucherumello.--Erro palmar de Eugenio Sue: mostra-se que os jesuitas
não são a cholera-morbus, e que é preciso refazer o 'Judeu errante'--De
como o frade não intendeu o nosso seculo nem o nosso seculo ao
frade.--De como o barão ficou em logar do frade, e do muito que n'isso
perdémos.--Unica voz que se ouve no actual deserto da sociedade: os
barões a gritar contos de réis.--Como se contam e como se pagam os taes
contos.--Predilecção artistica do A. pelo frade: confessa-se e
explica-se ésta predilecção. 121
Capitulo XIV.--Emendado emfim de suas distracções e divagações, prosegue
o A. direitamente com a historia promettida.--De como Fr. Diniz deu a
manga a beijar a avó e á neta, e do mais que entre elles se
passou.--Ralha o frade com a velha, e começa a descubrir-se onde a
historia vai ter. 133
Capitulo XV.--Retrato de um frade franciscano que não foi para o
depósito da Terra-sancta, nem consta que esteja na Academia das
Bellas-Artes.--Ve-se que a logica de Fr. Diniz se não parecia nada com a
de Condillac.--Suas opiniões sôbre o liberalismo e os liberaes.--Que o
podêr vem de Deus, mas como e paraquê.--Que os liberaes não intendem o
que é liberdade e egualdade; e o para que eram os frades, se
fossem.--Próva-se, pelo texto, que o homem não vive so de pão, e
pergunta-se o de que vivia então Fr. Diniz. 147
Capitulo XVI.--Saibamos da vida do frade.--Era franciscano porquê?--Dos
antigos e dos novos martyres.--Alguns particulares de Fr. Diniz antes e
depois de ser frade.--Emigração.--Explicação incompleta.--De como a
velha tinha perdido a vista, e Joanninha o riso.--Sexta feira dia
aziago. 155
Capitulo XVII.--De como, chegando outra sexta-feira e estando a avó e a
neta á espera do frade, este lhe appareceu, contra o seu costume, da
banda de Lisboa.--Por que razão muitas vezes a mais animada conversação
é a que mais facilmente pára e quebra de repente.--Nova demonstração de
dois grandes axiomas dos nossos velhos, a saber: Que o hábito não faz o
monge; e que ralhando as comadres se descobrem as verdades.--No ralhar
da velha com o frade, levanta-se uma ponta do véo que cobre os mysterios
da nossa historia. 171
Capitulo XVIII.--Descobre-se que ha grandes e espantosos segredos entre
o frade e a velha--Piedosa fraude de Joanninha.---Lucta entre o hábito e
o monge. 181
Capitulo XIX.--Guerra de postos avançados, Joanninha no bivac.--De como
os rouxinoes do valle se disciplinaram a ponto de tocar a alvorada e a
retreta.--Quem era a 'menina dos rouxinoes,' e porque lhe poseram este
nome.--A sentinella perdida e achada. 191
Capitulo XX.--Joanninha adormecida--O demi-jour da coquette.--Poesia do
Flos-sanctorum.--De como os rouxinoes accompanhavam sempre a menina do
seu nome; e do bem que um d'elles cantava no bivac.--Retratto esquissado
á pressa para satisfazer ás amaveis leitoras.--Pondera-se o triste e
pessimo gôsto dos nossos governantes em tirarem as honras militares ao
mais elegante e mais nacional uniforme do exército portuguez.--Em que se
parece o auctor da presente obra com um pintor da edade-média.--De como
os abraços, por mais apertados que sejam, e os beijos, por mais
interminaveis que pareçam, sempre teem de acabar por fim. 203
Capitulo XXI.--Quem vem lá?--Como entre dous litigantes nem sempre gosa
o terceiro.--Carlos e Joanninha n'uma especie de situação _ordeira_, a
mais perigosa e falsa das situações. 215
Capitulo XXII.--Bilhete de manhan da prima ao primo. Inganam a pobre da
velha.--Noite mal dormida.--Da conversa que teve Carlos com os seus
botões.--A Joanninha que elle deixára e a Joanninha que
achou.--Obrigações d'amor, triste palavra.--A mulher que elle amava, e
se elle a amava ainda.--Quesitos do A. aos seus benevolos leitores.
Declara que com os hypocritas não falla.--Quem hade levantar a primeira
pedra?--Dous modos differentes de acudir uma coisa ao pensamento. 225.
Capitulo XXIII.--Continúa a accudir muita coisa vaga e incontrada ao
pensamento de Carlos.--Dança de fadas e duendes.--Fr. Diniz o fado-mau
da familia.--Veremos, é a grande resolução nas grandes
difficuldades.--Carlos poeta romantico.--Olhos verdes--Desafio a todos
os poetas moyen-ages do nosso tempo. 235.
Capitulo XXIV.--Novo Génesis.--O Adam social muito differente do Adam
natural.--Carlos sempre um por seus bons instinctos, sempre outro por
suas más reflexões.--De como Joanninha recebeu o primo com os braços
abertos, e do mais que entre elles se passou.--Dor meia dor, meia
prazer. 247.
Capitulo XXV.--O excesso da felicidade que aterra e confunde
tambem.--Pasmosa contradicção da nossa natureza.--De como os olhos
verdes de Joanninha se inturvaram e perderam todo o brilho.--Que o
coração da mulher que ama, sempre advinha certo. 261.
Notas. 275.


Notas:
[1] Chamavam assim por escarneo, em Portugal, ao general Loison a quem
faltava um braço.
[2] Célebre urso do Jardim das Plantas em París.
[3] Pag. 40, 41, 42.


Lista de erros corrigidos

Aqui encontram-se listados todos os erros encontrados e corrigidos:

+----------+--------------------+--------------------+
| | Original | Correcção |
+----------+--------------------+--------------------+
|#pág. 3| venceder | vencedor* |
|#pág. 15| Cervantos | Cervantes |
|#pág. 18| morachão | marachão* |
|#pág. 40| esperavava | esperava |
|#pág. 41| maldadades | maldades |
|#pág. 62| café | harem* |
|#pág. 89| tinha-ânimo | tinha ânimo |
|#pág. 95| esquerlo | esquerda |
|#pág. 97| um historia | uma historia |
|#pág. 106| toda o movimento | todo o movimento |
|#pág. 118| trababalho | trabalho |
|#pág. 126| conte | conter* |
|#pág. 129| aeronantas | aeronautas* |
|#pág. 134| paasos | passos |
|#pág. 163| memoraval | memoravel |
|#pág. 203| demij-our | demi-jour* |
|#pág. 223| didireitas | direitas |
|#pág. 228| as alagadiços | os alagadiços |
|#pág. 240| infeitavam | infeitiçavam* |
|#pág. 276| viagem | visita |
|#pág. 286| em em logar frade | em logar do frade |
|#pág. 288| d'ad'mor | d'amor |
+----------+--------------------+--------------------+

* correcções feitas com base na errata do próprio livro.
Shakespeare e Rotschild surgem neste livro como Shakspeare e Rotchild
respectivamente. Dada a repetitividade constante, decidi manter de
acordo com o original.
Foram adicionados travessões onde a sua falta foi notada.
As indicações dos números de páginas que se mencionaram na secção de
"Notas do Primeiro Livro" e "Índice", foram corrigidas para corresponder
ao local correcto.


OBRAS
DE
J. B. DE A. GARRETT.
IX.
(_SEGUNDO DAS VIAGENS._)


VIAGENS NA MINHA TERRA

POR J. B. DE ALMEIDA-GARRETT.

II.

LISBOA
NA TYPOGRAPHIA DA GAZETA DOS TRIBUNAIS.
1846.


VIAGENS NA MINHA TERRA.


CAPITULO XXVI.

Modo de ler os auctores antigos, e os modernos tambem.--Horacio na
sacra-via.--Duarte Nunes iconoclasta da nossa historia.--A policia
e os barcos de vapor.--Os vandalos do feliz systema que nos
rege.--Shakspeare lido em Inglaterra a um bom fogo, com um copo de
_old-sack_ sôbre a banca.--Sir John Falstaff se foi maior homem que
Sancho-Pansa?--Grande e importante descuberta archeologica sôbre
San'Thiago, San'Jorge e Sir John Falstaff.--Próva-se a vinda d'este
último a Portugal.--O enthusiasta britannico no tumulo de Heloisa e
Abeillard no Pere-la-Chaise.--Bentham e Camões.--Chega o _auctor_ á
sua janella, e pasmosa miragem poetica produzida por umas oitavas
dos Lusiadas.--De como emfim proseguem éstas viagens para Santarem,
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