Romanceiro III: Romances Cavalherescos Antigos - 7

Total number of words is 2777
Total number of unique words is 1164
37.4 of words are in the 2000 most common words
48.1 of words are in the 5000 most common words
53.0 of words are in the 8000 most common words
Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
—No me burlo, Gerineldo,
Que de verdad te lo digo.
—¿A qué hora, mi señora,
Comprir heis lo prometido?
—Entre las doce y la una,
Que el rey estará dormido.—
Tres vueltas da á su palacio
Y otras tantas al castillo;
El calzado se quitó
Y del buen rey no es sentido:
Y viendo que todos duermen
Do posa la infanta ha ido.
La infanta que oyera pasos
Desta manera le dijo:
—¿Quién a mi estancia se atreve?
Quién á tanto se ha atrevido?
—No vos turbeis, mi señora,
Yo soy vuestro dulce amigo,
Que acudo a vuestro mandado
Humilde y favorecido.—
Enilda le ase la mano
Sin mas celar su cariño;
Cuidando que era su esposo
En el lecho se han metido,
Y se hacen dulces halagos
Como mujer y marido.
Tantas caricias se hacen,
Y con tanto fuego vivo,
Que al cansacio se rindieron
Y al fin quedaron dormidos.
El alba salia apénas
A dar luz a campo amigo,
Quando el rey quiere vestirse,
Mas no encuentra sus vestidos:
—Que llamen á Gerineldo
El mi buen page querido.—
Unos dicen:—No está en casa.—
Otros dicen:—No lo he visto.—
Salta el buen rey de su lecho
Y vistióse de proviso,
Receloso de algun mal
Que puede haberle venido,
Al cuarto de Enilda entrara,
Y en su lecho halla dormidos
Á su hija y á su paje
En estrecho abrazo unidos.
Pasmado quedó y parado
El buen rey muy pensativo:
Pensándose qué hará
Contra los dos atrevidos.
—¿Mataré yo á Gerineldo,
Al que cual hijo he querido?
¡Si yo mataré la infanta
Mi reino tengo perdido!—
En tal estrecho el buen rey,
Para que fuese testigo,
Puso la espada por medio
Entre los dos atrevidos.
Hecho esto, se retira
Del jardin á un bosquecillo.
Enilda al despertarse,
Notando que estaba el filo
De la espada entre los dos,
Dijo asustada á su amigo:
—Levántate, Gerineldo,
Levántate, dueño mio,
Que del rey la fiera espada
Entre los dos ha dormido.—
—¿Adónde iré, mi señora?
¿Adónde me iré, Dios mio?
¿Quién me librará de muerte,
De muerte que he merecido?
No te asustes, Gerineldo,
Que siempre estaré contigo:
Márchate por los jardines
Que luego al punto te sigo.—
Luego obedece á la infanta,
Haciendo cuanto le ha dicho:
Pero el rey, que está en acecho,
Se la hace encontradizo:
—¿Donde vas, buen Gerineldo?
¿Como estás tan sin sentido?
—Paseaba estos jardines
Para ver se han florecido,
Y vi que una fresca rosa
El calor ha deslucido.—
—Miéntes, miéntes, Gerineldo,
Que con Enilda has dormido.—
Estando en esto el Sultan,
Un gran pliego ha recebido:
Abrelo luego, y al punto
Todo el color ha perdido.
—Que prendan á Gerineldo:
Que no salga del castillo.—
En esto la hermosa Enilda
Cuidosa llega á aquel sitio.
De lo que pasa informada,
Y conociendo el peligro,
Sin esperar á que torne
El buen rey enfurecido,
Salta las tapias lijera
En pos de su amor querido.
Huyendo se va á Tartaria
Con su amante y fiel amigo,
Que en un brioso caballo
La atendia en el egido.
Alli, ántes de casarse,
Recibe Enilda el bautismo,
Y las joias que lleva
En dos cajas de oro fino
Una vida regalada
A su amante han prometido[145].


NOTAS

[1]
Alcançá-la não podia—TRAZ-OS-MONTES.
[2]
Alcançou-a descançando
Debaixo da verde oliva.—TRAZ-OS-MONTES.
[3]
Qual debaixo, qual decima—TRAZ-OS-MONTES.
[4]
Logo debaixo cahia—TRAZ-OS-MONTES.
[5]
Eu te peço, romeirinha—TRAZ-OS-MONTES.
[6]
Eu te peço, ermitão,
Por Deus e sancta Maria
Que interres esse traidor
Lá na tua sancta ermida.—TRAZ-OS-MONTES.
[7] Mais outro exemplo do que era frequente nos antigos cantares
repetirem, de uns para outros, certos dizeres que cahiam em graça. Veja
no ‘Reginaldo’ pag. 175, tom. II do ROMANCEIRO.
[8]
Senhor pae, eu tenho a culpa—AÇORES.
[9]
Antes que não rompa o dia—AÇORES.
[10]
A infanta vai a expirar—AÇORES.
[11] Veja o que, a este respeito e sôbre a repetição d’esta linda imagem,
deixo escripto na ‘Rosalinda’, pag. 163-168, tomo I do ROMANCEIRO.
[12]
Um, nobre sangue deitava—TRAZ-OS-MONTES.
[13]
Sentava-se elrei á mesa,
No hombro lhe iam poisar.—AÇORES.
[14] ROMANCEIRO, I, pag. 181, ed. de 1843.
[15]
Anda atrás do cavalleiro
A princeza a bom andar.—MINHO.
Ésta licção do Minho dá por titulo ao romance ‘A Princeza’.
[16]
Está em casa o cavalleiro
Que aqui deve de morar?—TRAS-OS-MONTES.
[17]
Que fazeis porqui princeza,
Que andais a procurar?—MINHO.
[18]
Deixei meu pae, minha gente—TRAS-OS-MONTES.
[19]
Leva-a d’ahi, cavalleiro,
E vai lançá-la no mar.—MINHO.
[20]
De raivosa, a castelhana
Os mandou logo cortar.—MINHO.
[21]
Nasceu um triste pinhal—EXTREMADURA.
Noto ésta variante para marcar o uso indistincto das palavras ‘pinhal e
pinheiral’ que a lingua consente.
[22]
E, por noite, a castellana—TRAS-OS-MONTES.
E, alta noite, a castellana—MINHO.
E, de noite, a castellana—TRAS-OS-MONTES.
A licção que segui no texto é a que veio do Porto, que Minho é; mas não
a acho melhor do que qualquer das outras. Segui-a porque, no todo do
romance, é a mais completa.
[23]
Aprestar—BEIRALTA.
[24]
Que me sellem meu cavallo,
Depressa, não devagar.—EXTREMADURA.
[25]
Alviçaras, meu irmão,
Que ja m’as devias de dar.—BEIRALTA.
[26]
Lá no mais alto da serra—EXTREMADURA.
[27] _Oiro_ em stylo camponez quer dizer—joias, ornatos de oiro de
pessoa. O _meu oiro_ é o oiro com que me adorno—como em stylo de cidade a
_minha prata_ é a prata de meu serviço de casa.
[28]
E as toucas da cabeça
Despirá para o pençar.—EXTREMADURA.
[29]
Não póde á bôcca chegar.—BEIRALTA.
[30]
Mal hajam as linguas taes
E ouvidos que lhe eu fui dar,
Que por amor das más linguas
Meu amor vim a mattar.—EXTREMADURA.
[31] Em algumas licções provinciaes, designadamente nas da Extremadura,
começa assim:
Ergueu-se frei Joanico
Um dia de madrugada,
Vestido de ponto em branco
E tangendo sua guitarra,
Foi-se á porta de Morena,
A Morena etc.—EXTREMADURA.
[32]
Que é isso, Morenita—ALEMTEJO.
[33]
Com seu mantinho de lustro
Que o vento lh’o levava,
Seu sapatinho picado
Que no pé lhe rebentava—EXTREMADURA.
[34]
Frei João que a viu chegar,
Em vez de correr, saltava.—BEIRALTA.
[35]
Com o ôlho d’esta enchada.—BEIRALTA.
[36] AULEGRAPHIA, act. II, sc. 9, fol. 66. vers. da ed. de 1619.
[37] Carta do marquez de Santillana ao condestavel de Portugal: pag.
LVII, tom. I da collecção de Sanches, Madrid 1779.
[38] AULEGRAPHIA, act. III, sc. I, fol. 84.
[39] ISABEL OU A HEROINA DE ARAGÃO por J. M. da Costa e Silva. Lisboa,
1832.
[40]
Pregoadas são as guerras
Entre França e Aragão.
Como as faria triste
Velho cano e peccador?—LICÇÃO ANTIGA EM JORGE FERREIRA.
[41]
As guerras me acabarão—LISBOA.
Triste de mim que sou velho,
As guerras me acabarão.—ALEMTEJO, EXTREMADURA.
[42]
Responde Dona Guimar—LISBOA.
[43]
‘Tendes las tranças compridas,
Filha, conhecer-vos-hão.’
—‘Venham ja umas tesouras,
As tranças irão ao chão.—MINHO.
—‘Tendes los olhos garridos—AÇORES.
[44]
Pela hoste—BEIRALTA.
Pelos homens—MINHO.
[45]
Abaixarão—LISBOA.
Incolherei os meus peitos
Dentro do meu coração.—MINHO.
[46]
Venha ja um alfaiate
Faça-me um justo gibão.—EXTREMADURA, ALEMTEJO, ALGARVE.
[47]
Delicados—ALEMTEJO, BEIRALTA.
Muito finos—BEIRABAIXA
[48]
Mette-las-hei n’umas luvas—EXTREMADURA.
Calçá-las-hei n’umas luvas,
D’ellas nunca sahirão.—ALEMTEJO, MINHO.
Venham manapolas de ferro—TRAS-OS-MONTES.
Os pés bem grandes serão—MINHO, BEIRALTA.
[49]
Dom João—AÇORES.
D. Martinho—LISBOA, ALEMTEJO.
D. Marcos—EXTREMADURA.
Dom Claros—MINHO.
[50]
Jardim—MINHO, AÇORES, LISBOA.
[51]
Co’as rosas se hade tentar—LISBOA.
Com as flores se hade armar—MINHO.
As rosas o hãode buscar—AÇORES.
[52]
Á lima se foi pegar:
—‘Oh que bella lima esta!’—LISBOA.
Uma cidra foi mirar—ALGARVE, MINHO.
[53] As mesmas variantes respectivas.
[54]
Porque no partir do pão
Se virá a delatar:
Que se elle o partir no peito,
Por mulher se hade mostrar.—AÇORES.
[55]
Baixo assento hade ir buscar—MINHO.
[56]
O mais alto foi buscar—LISBOA.
No mais alto quiz estar—MINHO.
[57] As mesmas variantes.
[58]
N’uma adaga foi pegar—LISBOA.
Foi uma espada apreçar—MINHO.
Oh que lindas fittas verdes
Para môças inganar!—AÇORES.
[59]
Desculpa vos hade dar—LISBOA.
Ja se hade acovardar—ALEMTEJO.
[60]
Chegam juntos do castello—LISBOA.
[61]
Meu pae era de Hamburgo,
Minha mãe de Hamburgo era.—RIBATEJO.
[62]
Me levaram a vender
A Salé, que é má terra.—EXTREMADURA.
[63] _Ni blanca_ é claramente castelhano dizer; mas nos mais puros nossos
escriptores se incontra. Ditto familiar que se introduziu então, como
hoje dizemos tanta palavra e phrase franceza ou ingleza, por termos com
as coisas, livros e usos d’estas nações o mesmo tracto que então tinhamos
com castelhanos.
[64]
Eu te daria uma egua—RIBATEJO.
[65]
Dar-te-hia uma gallera—LISBOA.
[66]
Com mil dobrões dentro d’ella.
Co’as mil doblas que estão n’ella.—RIBATEJO.
[67] Este é um dos muitos exemplos de se faltar de vez em quando á
forçada lei da redondilha, augmentando-a com dois versos no mesmo
repisado consoante ou toante obrigado.
[68]
Que por mim stão a soldado—RIBATEJO.
Ésta phrase _a soldado_ para dizer: estão servindo _a soldada_, _a
soldo_, _como criados_, etc. foi nova para mim; vê-se porém que é
legitima portugueza. Não approveitei para o texto ésta variante por causa
da amphibologia.
[69]
De todo esse teu reinado—EXTREMADURA.
[70] Outro exemplo de accrescentar dois versos á redondilha, mas sem
repetir o consoante senão em um d’elles.
[71]
Anda cá, ó filha Angelica—LISBOA.
[72]
Se é pelo christão que choras,
Que te deixou deshonrada.—RIBATEJO.
[73]
Aqui te deixo por mão,
Que os amores da judia
Pelas ondas do mar vão.—RIBATEJO.
[74] HISTORIA TRAGICO-MARITIMA, em que se escrevem, etc. Por Bernardo
Gomes de Brito. Lisboa occidental, 1735.
[75]
Ora da nau Cathrineta
D’ella vos quero contar.—EXTREMADURA.
[76]
Sette annos e um dia—MINHO.
[77] Todas as licções dizem assim, menos a do Algarve que adoptei.
[78]
Mas a solla era tam dura,
Que a não podiam rilhar.—MINHO.
[79]
Áquelle tope real.—LISBOA.
[80]
Todas para te mattar—EXTREMADURA.
[81]
Vê se vês terras d’Hespanha,
Areias de Portugal.—MINHO.
[82]
Tambem vejo tres meninas—LISBOA.
...tres donzellas—BEIRABAIXA.
[83]
Para n’elle campear—RIBATEJO.
[84] A licção de Lisboa acaba aqui o romance por differente modo.
Deixando o sobrenatural da tentação do demonio que toma a fórma de
gageiro para tentar o capitão n’aquelle perigo, dá por verdadeira a
apparição da terra, e conclue assim:
—‘Que queres tu, meu gageiro,
Que alviçaras te heide eu dar?’
—‘Eu quero a nau Cathrineta
Para n’ella navegar.’
—‘A nau Cathrineta, amigo,
É d’elrei de Portugal.
Mas ou eu não sou quem sou,
Ou elrei t’a hade dar.’
Outra licção tambem diz n’esta última copla:
Pede-a tu a elrei, gageiro,
Que t’a não póde negar.
[85]
O corpo da agua do mar—RIBATEJO.
[86]
A bom porto foi parar—RIBATEJO.
[87]
Pedem-lh’a duques e condes—TRAS-OS-MONTES.
[88]
A uns que não eram homens,
Outros que não tinham barbas.—TRAS-OS-MONTES.
[89]
Subiram-se a uma ventana
Uma ventana mui alta.—TRAS-OS-MONTES.
[90]
Eu não conheço a senhora
Nem tam pouco a criada.—TRAS-OS-MONTES.
[91]
Lá junto da meia-noite
Ao cegador perguntava:
—‘Dizei-me, bom cegador
De quem eu fico pejada.’
—‘Eu sou filho de um porqueiro
E meu pae porcos guardava.’
—‘Oh, triste de mim, oh triste,
Oh, triste de mim coitada!
Pediram-me condes, duques,
Homens de capa e d’espada:
E agora eis-me aqui
De um porqueiro deshonrada.—TRAS-OS-MONTES.
N’esta licção de Tras-os-Montes que dá a Sr.ª Maria Joaquina do logar de
Nantes, a xácara acaba com a variante citada.
[92]
Era uma menina bella
Discreta e bem parecida,
Dom João a namorava,
Mil requebros lhe fazia.—ALEMTEJO.
[93]
Mas o pae d’aquella môça
Por melhor conselho havia
Casá-la com um mercador
Que áquellas partes vivia.—ALEMTEJO.
[94]
Dom João quando isto ouviu
Fóra da terra se ia;
Por lá estivera tres mezes
Que soffrê-los não podia.—EXTREMADURA.
[95]
Veio-se a passeiar
Á rua de sua amiga.—ALEMTEJO.
[96]
Do mais preto que havia—EXTREMADURA.
[97]
Mandou chamar uma dama,
Por Deus e á cortezia:
—‘Dize-me tu por quem trazes
Ausencias tam doloridas.—ALEMTEJO.
[98]
Dona Agueda de Mexia—ALEMTEJO.
[99]
Por vós foi sua partida—EXTREMADURA.
[100]
Palavras não eram dittas—EXTREMADURA.
[101]
Mas a dor era tam forte—EXTREMADURA.
[102]
Do mais preto que havia—EXTREMADURA.
[103]
Onde a sua dama tinha—ALEMTEJO.
[104]
Que me ajudes a erguer
A campa de minha amiga.—ALEMTEJO.
[105]
Puchou por um punhal de oiro
Por lhe fazer companhia.—ALEMTEJO.
[106]
Permittiu a Virgem sancta,
A Virgem Sancta Maria
Que se não perdesse uma alma
Por um preceito que tinha.—ALEMTEJO.
[107] GIL-VICENTE, edição de Hamburgo 1834, tom. II, pag. 27.
[108] Ibid. tom. I, pag. 92.
[109] Licção portugueza segundo OLIVEIRA.
[110] Obras de GIL-VICENTE, ed. de Hamburgo 1834. Tom. II, p. 249.
[111] ROMANCERO GENERAL, Part. I.
[112] Garcia de Rezende, HIDA DA INFANTA, etc.
[113] SAUDADES DE BERNARDIM-RIBEIRO. Lisboa 1785.
[114] No sentido de dar o penço á criança; com a qual significação o
verbo se deve escrever com ç e não com s.
[115] Nascida.
[116] Tem para si.
[117] De nenhuma coisa duvido, que seja azo de damnos.
[118] Que, pois que.
[119] Trás a, após a.
[120] Defronte d’elle.
[121] Incannecido, de cabello branco.
[122] Sou.
[123] Pazes.
[124]
Duzentos quintados eram—TRAS-OS-MONTES.
[125]
Nem por minha irman mais velha—TRAS-OS-MONTES.
[126] Percy’s RELIQUES OF ANCIENT ENGLISH POETRY, Series II, book I, 10.
[127]
—‘Abre a porta, Anna, abre o teu postigo,
Da-me um lenço, amores, que venho ferido.’
—‘Se vindes ferido, vinde muito embora,
Porque minha porta não se abre agora.’—EXTREMADURA.
[128]
—‘Minha mãe acorde do doce dormir,
Venha ouvir o cego cantar e pedir.’—EXTREMADURA.
[129] Diminutivo minhoto de Anna.
[130] Este é um modo de dizer provinciano bastante usado do nosso povo
em quasi todo o reino. ‘Filho, lo meu filho; madre, la mi’ madre etc.’
occorre em muitas cantigas populares, romances e similhantes. São
reliquias do antigo asturiano que o nosso dialecto conservou tanto e mais
do que o castelhano. O mesmo fizeram os nossos vizinhos de Galliza. Tem
sido tenaz n’estes bellos archaismos a poesia do povo, porque a salva dos
hyatos que tanto lhe repugnam.
[131]
Não deve ser nobre quem dá tal conselho—MINHO, BEIRABAIXA.
[132]
Eu não digo isso, que o gado se perca,
Mas que descancemos uma hora de sésta.—BEIRALTA, EXTREMADURA.
[133]
Que dirão meus amos em que me occupei—BEIRALTA.
[134]
Por essas estevas—ALEMTEJO.
[135]
Meias e vestido—RIBATEJO.
[136]
Romperem—COIMBRA.
[137]
Vai guardar teu gado pela serra fóra—BEIRALTA.
[138]
Senta-te a ésta sombra que está o mundo ardendo.
—‘Eu bem não queria, mas estou querendo.’
—‘Calla-te, pastora, não digas mais nada,
Que a aposta que eu fiz ja está ganhada.’
—‘Senhor, vou sentar-me não por má tenção.’
Pois sabe a verdade, que sou teu irmão.—BEIRALTA.
—‘Sente-se a ésta sombra, passemos a sésta,
Ja pouco me importa que o gado se perca.’
Oh gente da casa, accudi ao gado,
Que foge a pastora c’o seu namorado.—MINHO.
[139] Pelicer, notas a DOM QUIXOTE.
[140] CANCIONEIRO DE ROMANCES; SILVA DE VARIOS ROMANCES; FLORESTA DE
VARIOS; e ultimamente Duran, ROMANCERO GENERAL, ed. de 1849-51, tom. I,
pag. 207.
[141] LUSITANIA ILLUSTRATA, Part the second. Newcastle-upon-Tyne, 1846.
[142] LIVRO II, parte I, romance IX, tom. II, pag. 167.
[143] Nota G, pag. 312 do tom. II.
[144] ROMANCERO GENERAL, 1849-51, tom. I, pag. 175. Ésta é a licção mais
antiga, foi achada em um _pliego suelto_, folha volante, impresso.
[145] ROMANCERO GENERAL, 1849-51, tom. I, pag. 176.
[146] MARQUEZ DE MANTUA, folheto de cegos, Lisboa 1789.


NOTAS

NOTA A
E minha mãe sem chegar
pag. 53.
O rigor do toante pedia aqui que se escrevesse _chegare_ com _e_ no fim,
como pronuncia o povo de Lisboa e n’outras partes da Extremadura. Os
antigos castelhanos tambem assim regularizavam os seus toantes.
E não va tampouco sem notar-se que assim fica demonstrado não ser
affectação de latinismo o escrever e pronunciar pae em vez de pai, mãe
em vez de mãi. Aquella é a verdadeira e popular orthographia d’estas
palavras.

NOTA B
Na caça andava perdido
pag. 217.
O principio ou introducção d’este romance é conforme a collecção de
Oliveira. No folheto dos cegos começa elle logo com toda a fórma scenica;
e todavia differe bem pouco. Aqui se transcreve.
DIZ O MARQUEZ
Fingindo andar perdido na caça
Fortunosa caça é ésta
que a fortuna me ha mostrado,
poisque, por ser manifesta
minha pena e gran’ cuidado,
me mostrou ésta floresta.
Nunca vi tam forte brenha,
desque me accórdo de mi;
eu creio que Margasi
fez ésta serra d’Ardenha,
estes campos de Methli.
Quero tocar a bosina
por ver se algum me ouvirá;
mas cuido, que não será,
porque minha gran’ mofina
commigo começou ja.
Todavia quero ver,
se mora alguem n’esta serra,
que me diga d’esta terra
cuja é, para saber;
que quem pergunta não erra.
Por demais é o tanger
em logar deshabitado,
onde não ha povoado,
nem quem possa responder
ao que lhe for perguntado.
Gran’ mal é o caminhar
por tam fragosa montanha,
cançado assim sem companha,
nem tendo onde repousar,
n’esta terra tam estranha.
Vejo o matto tam cerrado,
que fiz bem de me apear,
e meu cavallo deixar,
porque está tam cançado
que ja não podia andar.
Agora vejo-me aqui
n’esta tam grande espessura,
que nem eu me vejo a mi,
nem sei de minha ventura;
nem menos será cordura,
repousar n’este logar,
nem sei onde possa achar
descanço á minha tristura[146].

FIM DO VOLUME TERCEIRO

You have read 1 text from Portuguese literature.
  • Parts
  • Romanceiro III: Romances Cavalherescos Antigos - 1
    Total number of words is 4359
    Total number of unique words is 1492
    35.8 of words are in the 2000 most common words
    51.2 of words are in the 5000 most common words
    57.4 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • Romanceiro III: Romances Cavalherescos Antigos - 2
    Total number of words is 4328
    Total number of unique words is 1565
    35.8 of words are in the 2000 most common words
    50.0 of words are in the 5000 most common words
    56.0 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • Romanceiro III: Romances Cavalherescos Antigos - 3
    Total number of words is 4371
    Total number of unique words is 1502
    36.8 of words are in the 2000 most common words
    49.5 of words are in the 5000 most common words
    55.6 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • Romanceiro III: Romances Cavalherescos Antigos - 4
    Total number of words is 4401
    Total number of unique words is 1630
    36.2 of words are in the 2000 most common words
    50.5 of words are in the 5000 most common words
    56.8 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • Romanceiro III: Romances Cavalherescos Antigos - 5
    Total number of words is 3921
    Total number of unique words is 1108
    38.2 of words are in the 2000 most common words
    52.6 of words are in the 5000 most common words
    58.4 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • Romanceiro III: Romances Cavalherescos Antigos - 6
    Total number of words is 4151
    Total number of unique words is 1512
    19.5 of words are in the 2000 most common words
    25.8 of words are in the 5000 most common words
    29.2 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • Romanceiro III: Romances Cavalherescos Antigos - 7
    Total number of words is 2777
    Total number of unique words is 1164
    37.4 of words are in the 2000 most common words
    48.1 of words are in the 5000 most common words
    53.0 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.