Romanceiro I: Romances da Renascença - 4

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Dá-lhe fôrça e vida amor;
O fio meio cortado
Da existencia lhe atou.
Ei-la se ergue, e em mal-firmado
Passo corre—e lá chegou.

IX
E ja por ordem de Auzenda
Co’a porta negra e tremenda
Investem da tôrre erguida:
Range o ferro, os gonzos gemem,
Parece que ja rendida
Vai de todo;—á roda tremem,
Do fundamento aluida
A tôrre, os solidos muros.
Mas em vão de centenares
Dos mais rijos braços duros
Se movem os instrumentos
Que em muralhas mais valentes
De castellos regulares,
De mais solidos cimentos
Têem a miudo triumphado.

X
Parece incanto:—será?
O povo maravilhado
Ja por tal, tremendo, o dá.
Cessam todos, incantado
É o negro portão ferrado...
E o povo desanimado
Da impreza desiste ja.

XI
Arreda, arreda, infançoes,
Cavalleiros, dae logar,
Com licença, nobre dama,
Que ahi vem um sancto ermitão:
Com as suas orações
Este incanto hade quebrar,
Ou, se do demonio é trama,
Com o seu bento condão
Elle o hade desmanchar.
—Ei-lo chega:—este semblante
Não é aqui desconhecido...
Ésta barba, este vestido...
É elle, o mesmo ermitão
Que a noite de San’João
(Não ha dez annos ainda)
No castello pernoitou,
—Que Sisnando o maltrattou.
Mas, por a bella Adozinda
Pedir muito, lá ficou.

XII
Com a cabeça cuberta
Do seu agudo capuz,
Os olhos de côr incerta,
Pasmados, fixos... e a luz
Que d’elles sai é tam viva
Que a espaços da vista priva
Quem de perto os quer fitar!
As mãos cruzadas no peito,
Vagaroso seu andar,
Tam pesado e de tal geito
Que faz um echo tremendo
Quando os passos vai movendo,
E como que a terra e o ar,
Com o pêso vão gemendo...
—Foi seu caminho direito
Da tôrre á porta ferrada;
Sem attender a mais nada,
Sem olhar nem para Auzenda,
Que em lagrymas debulhada
Supplices mãos lh’estendia.
Chega á porta, e em voz horrenda
—‘Abre-te!’—disse. Estallou
O ferro medonhamente,
E a porta se escancarou,
—Mas elle subitamente,
Voltando-se para a turba,
Que alto alarido alevanta
E em derredor se perturba,
Com gesto que aos mais ousados
Todo o ânimo quebranta,
—‘Immudecei!’ lhes bradou.
Ficaram todos callados;
E—_immudecei_—revibrou
De echos em echos dobrados
Pelo castello e jardim,
Pelos soutos ao redor,
Pelos campos dilatados
Que a Dom Sisnando obedecem
E por senhor reconhecem
Ao ricco-homem de Landim.
—Depois estendendo a mão
Ao logar onde jazia
Por morto no frio chão
O desgraçado Sisnando,
Éstas palavras dizia
Que em ouco som vão soando:
—‘Eu te esconjuro,
Alma perdida,
Volta-te á vida!
‘Que o teu peccado,
Abominado
Do proprio inferno,
Só tem perdão
Com longa vida
De penitencia,
De contrição,
Que a alma perdida
Salve do inferno,
Da maldicção.
‘Eu te esconjuro,
Alma perdida,
Volta-te á vida!
‘O anjo celeste
Na hora última
Te perdoou,
E ao Pae Eterno
A tua victima
Por ti rogou
‘Lazaro immundo,
N’esta grande hora
Volve-te á vida,
Vem, surge fóra!’

XIII
Em pé está Dom Sisnando:
Vivo está, morto parece,
Tam negro veo lh’innoitece
O verde-pallido rosto,
Onde o seu sêllo ja pôsto
Tinha o archanjo da morte.

XIV
De joelhos o ermitão,
Com a cabeça cuberta,
Á porta da tôrre aberta
Faz breve e baixa oração.
Eis violento repellão
A terra, tremendo, deu,
E d’alto abaixo a muralha
Largamente se fendeu.
Viram todos claramente
O interior patente
Em que jazia Adozinda,
D’onde ha poucas horas inda
Sua voz se ouviu clamar,
E por uma sêde d’agua
Ao seu algoz supplicar.

XV
N’um leito de frescas rosas,
Que aromas do ceo recendem,
Morta Adozinda jazia:
Suas feições mais formosas,
Mais angelicas resplendem.
Uma suave harmonia
Tam brandamente soava,
Que ao coração parecia
Que por piedade o affagava
A quem saudoso gemia.
—A alva frente, não tocada
Pela mão da morte livida,
De lirios do ceo coroada
Brilhava com luz tam vivida
Que parecia toucada
De puros raios do sol.
As mãos postas sôbre o peito
Para o ceo se alevantavam,
E como que d’alma justa
Para a morada apontavam.

XVI
Oh! que vista, oh! que momento
Para a triste mãe!—Faltava
Só este último tormento.
A malfadada cuidava
Que nenhum padecimento
Para gemer lhe sobrava!
Era este.—E a dor ignora,
Não sabe o que é padecer
Quem o filhinho que adora
Não viu ainda morrer...

XVII
Levantou-se o ermitão
E bradou:—‘Ajoelhemos,
E a mão de Deus adoremos.’
—Submissa resignação
Póde a voz tolher á dor,
Não tira do coração
Seu espinho pungidor,
Que em silencio é mais cruel,
Rasga mais, e na ferida
Mais acre derrama o fel.
A paciencia soffrida
Da triste Auzenda cedeu;
Não exclamou, não gemeu,
E em tributo de respeito
Sua mágoa fechou no peito.

XVIII
E Sisnando?—O desgraçado
No pó da terra humilhado,
Só se lhe conhece a vida
Na agitação comprimida
Do convulso soluçar.

XIX
Para a ermida do castello
Emfim o corpo levaram
E n’um cofre d’ouro fino
Como reliquia o guardaram.
—Muito a não carpiu Auzenda,
Que a morte compadecida
Cedo a libertou da vida.
Porêm a longa existencia
De remorso e penitencia
Sisnando foi condemnado:
Cuberto de horror e opprobrio
Cumpriu seu mesquinho fado;
Onde?—Ninguem mais o soube.
Do castello aquella noite
Com o ermitão se sumiu;
Nunca mais d’elle se ouviu.
Mas á meia-noite em ponto
Na capella de Landim
Se ficou sempre escutando
Gemer uma voz medonha,
Que pede perdão bradando:
E essa voz diziam todos
Que era a voz de Dom Sisnando.


II
BERNAL-FRANCEZ

Este romance é tirado de uma das mais conhecidas e provavelmente mais
antigas xácaras que o povo canta. Sua contextura simples mas forte, a
scena tão dramatica com que abre, o fexo sublime com que termina dão-lhe
todos os characteres de poesia primitiva e grande de um povo heroico, de
uma gente que tomava as coisas da vida ao serio, como a nossa era. Estou
que é originariamente portuguez: não apparece em nenhum dos romanceiros
castelhanos, nem na vasta collecção de Ochoa.—O texto, como o conservou
a tradição oral dos povos, da-lo-hei no logar competente, segundo lh’o
talhei no prefacio d’este volume[12], e demandava o systema da minha
compilação: e ahi se vejam as conjecturas que tenho feito sôbre ésta
preciosa reliquia da nossa poesia popular.
Mr. Southey, o famoso poeta e historiador inglez, tendo lido a Adozinda
e o Bernal, quando os publiquei a primeira vez em Londres em 1828,
escrevia ao meu amigo Mr. Adamson, o biographo de Camões: ‘que estes
eram dois monumentos de mais remota antiguidade talvez do que nenhumas
d’aquellas canções irlandezas que elle até alli tivera na conta de serem
os vestigios mais antigos de toda a poesia popular das nações do oeste da
Europa.’
Communicando-me ésta reflexão, tam lisongeira para um collector
enthusiasta de antigualhas, mandou-me o Sr. Adamson a traducção ingleza
que pela primeira vez agora sai impressa, e o leitor achará logo adeante
do texto portuguez[13].
No verão de 1840, quando apromptei para a presente edição ésta parte
do volume, dediquei o Bernal-Francez a uma joven senhora que juntava
a outras admiraveis qualidades a de possuir, no mais eminente grau
que ainda incontrei, o sentimento do bello, do grande, do verdadeiro
nas artes. Este romancinho era o seu valído d’entre todas as minhas
escreveduras poeticas: consagrei-lh’o... Hoje é um monumento! bem pobre e
mesquinho para memoria de tanta saudade!
Todavia o seu desejo e impenho era que eu fizesse uma verdadeira epopea,
e me deixasse d’estas coisas que nunca podiam passar de _bonitinhas_. A
perda de D. Sebastião em Africa era o assumpto que me dava: dizia—e dizia
bem—que devia ser o reverso da medalha dos Lusiadas, e que podia ser o
mais popular e nacional de todos os poemas portuguezes depois d’aquelle.
Ponho isto aqui para commentario dos versos que se seguem, e que alias
não seriam intendidos.
15 de Outubro de 1842.

A ADELIA
Tu queres, amiga, que eu deixe
Minha harpa no chopo do monte,
Que nem sempre me chore e queixe,
Que seja poeta... a cantar!
Que da brava inculta deveza
Me não fique pasmado á fonte
A admirar só a natureza,
Sem um brado de glória alçar!
Na escarpada selvatica brenha
Não se colhem senão rudes flores,
Bem o sei—crescem-lhe hirtas na grenha,
São singellas
De fôlha e de côres,
Não se toucam as bellas
Com ellas:
Não se infeitem jardins de formosas
Com musquetas bravias e rosas!
—‘Vê o nobre, magnifico traço[14]
Do regrado edificio de Homero,
Do mavioso Virgilio, do Tasso!
(Dizes tu, maga musa d’amor)
‘E ora terno e mavioso, ora fero,
Ja sublime, ja doce—o cantor
De Ignez bella, feio Adamastor.
Como erguendo, campea, a alta frente
Sôbre todos os vates do Pindo!’
—Vejo, oh! vejo, que ésta alma ardente
Ja nos voos andou seguindo
Essas aguias mais remontadas...
Hoje é abelha, ahi anda zumbindo
Por entre agras, singellas flores
Desalinhadas:
Mas são flores que nascem na serra
Onde todo o seu mundo se incerra,
Porque ahi tem—o seu bem—seus amores.
Bemfica, 12 de maio de 1840.

BERNAL-FRANCEZ

I
Ao mar se foi D. Ramiro,
Galé formosa levava;
Seu pendão terror dos Mouros
N’alta poppa tremolava.
Oh que adeus na despedida!
De saudades vai rallado;
Com tantos annos de amores,
Não tem um de desposado.
Nem ha dama em toda a Hespanha
Tam bella como é Violante;
Não a houvera egual no mundo
Se ella fôra mais constante.
Bate o mar na barbacan
Do castello alevantado,
Só a vela[15] na alta tôrre
Não cede ao somno pesado.
Tudo o mais repousa e dorme,
Tudo é silencio ao redor;
Dobra o recato nas portas
Com a ausencia do senhor.
Mas a certa hora da noite
Se vê luz n’uma setteira,
E logo cruzar por perto
Leve barca aventureira.
Muitas noites que passaram,
Manso esteja ou bravo o mar,
A mesma luz, á mesma hora,
A mesma barca a passar.
E isto ignora o bom Rodrigo,
Que tam fiel prometteu
De guardar a seu senhor
Juramento que lhe deu?
Sabera, não sabera:
Mas a c’ravella ligeira,
Que aopé da torre varada
Jazia alli na ribeira.
Uma noite escura e feia
Na praia menos se achou...
Quem n’ella foi não se sabe,
Mas onde foi não tornou.
E o farol que no alto luz
Á mesma hora a brilhar...
Só a barca aventureira
Não foi vista hoje passar.
E d’um lado aopé da rocha
Havia um falso postigo:
Só o sabem D. Ramiro,
Violante e o fiel Rodrigo.
Mas alta noite, horas mortas,
Gente que o postigo entrava,
E á porta de Violante
Manso bater se escutava.
—‘Quem bate á minha porta,
Quem bate, oh! quem ’stá ahi?
—’Sou Bernal-francez, senhora,
Vossa porta a amor abri.’
Ao descer do leito d’oiro
A fina hollanda rasgou,
Ao abrir mansinho a porta
A luz que se lhe apagou:
Pela mão tremente o toma,
Ao seu apposento o guia:
—‘Como treme, amor querido,
Esta mão, como está fria!’
E com osculos ardentes
E no seio palpitante,
Que lhe aquece as frias mãos
A namorada Violante.
—‘De longe vens?’—‘De mui longe.’
—‘Bravo estava o mar!’—‘Tremendo.’
—‘Armado vens!’—Não responde.
Vai-lhe as armas desprendendo.
Em pura essencia de rosas
O amado corpo banhou,
E em seu leito regallado
A par de si o deitou.
—‘Meia noite ja é dada
Sem para mim te voltares,
Que tens tu, querido amante,
Que me incobres teus pezares!
‘Se temes de meus irmãos,
Elles não virão aqui;
Se de meu cunhado temes,
Não é homem para ti.
‘Meus criados e vassallos
Por essa tôrre a dormir,
Nem de nosso amor suspeitam,
Nem o podem descubrir.
‘Se de meu marido temes,
A longes terras andou:
Por lá o detenham Mouros,
Saudades ca não deixou.’
—‘Eu não temo os teus criados,
Meus criados tambem são:
Irmãos nem cunhado temo,
São meus cunhados e irmão.
‘De teu marido não temo
Nem tenho de que temer...
Aqui está aopé de ti,
Tu é que deves tremer.’

II
E o sol ja no oriente erguido
Da tôrre ameias dourava;
Violante mais bella que elle
Para a morte caminhava:
Alva tella aspera e dura
Veste o corpo delicado,
Por cintura rijo esparto
Em grosseiro laço atado.
Choram pagens e donzellas,
Que a piedade o crime esquece;
O proprio offendido espôso
Com tal vista se internece.
Dá signal a campa triste,
O algoz o cutello affia...
—‘Meu senhor mereço a morte’
A malfadada dizia,
‘De joelhos, D. Ramiro,
Humilde perdão vos peço,
Perdoae-me por piedade...
A morte não, que a mereço:
‘Da affronta que vos hei feito
Por minha triste cegueira,
Dae-me quitação co’a morte
N’ésta hora derradeira:
‘Mas só eu sou criminosa
Do aggravo que vos fiz,
Não tireis, senhor, vingança
D’esse misero, infeliz...’
Talvez ia perdoar-lhe
O espôso compadecido...
Renovou-se-lhe o odio todo,
D’aquelle rôgo offendido:
O semblante roxo d’ira
Para não vê-la torceu,
E co’ a esquerda mão alçada
O fatal accêno deu.
Sôbre o collo crystallino,
Desmaiado, e inda tam bello,
De golpe tremendo e subito
Cai o terrivel cutello.

III
Oh! que procissão que sai
Da antiga porta da tôrre!
Que gente que acode a vê-la,
Que povo que triste corre!
Tochas de pallida cera
Nas trevas da noite escura
Vão dando luz baça e triste,
Luz que guia á sepultura:
Cubertos com seus capuzes
Rezam frades ao-redor,
A dobrar desintoados
Os sinos causam terror...
Duas noites são passadas,
Já não ha luz na setteira,
Mas passando e repassando
Anda a barca aventureira.
Linda barca tam ligeira
Que nenhum mar soçobrou,
O farol que te guiava,
Ja não luz, ja se apagou.
A tua linda Violante,
O teu incanto tam bello,
Teve por ti feia morte,
Crua morte de cutello.
Na egreja de San’Gil
Ouves a campa a dobrar?
Ves essas tochas ao longe?
Ella que vai a interrar.
Ja se fez o interramento,
Ja cahiu a louza fria,
Só na egreja solitaria
Um cavalleiro se via;
Vestido de dó tam negro,
E mais negro o coração,
Sôbre a fresca sepultura
De rôjo se atira ao chão:
—‘Abre-te, ó campa sagrada,
Abre-te a um infeliz!...
Seremos na morte unidos,
Ja que em vida o ceu não quiz.
‘Abre-te, ó campa sagrada
Que escondes tal formosura,
Esconde tambem meu crime
Com a sua desventura.
‘Vida que eu viver não quero,
Vida que eu só tinha n’ella,
Recebe-a, ó campa sagrada,
Que não posso já soffrê-la.’
E o pranto de correr,
E os soluços de estallar,
E a mão que leva á espada
Para alli se traspassar.
Mas a mão gelou no punho
Voz que da campa se erguia,
Voz que ainda é suave e doce,
Mas tam medonha e tam fria,
Do sepulchro tão cortada,
Que as carnes lhe arripia
E a vida deixou parada:
—‘Vive, vive, cavalleiro,
Vive tu, que eu ja vivi;
Morte que me deu meu crime,
Fui eu só que a mereci.
‘Ai n’este gêlo da campa,
Onde tudo é frio horror,
Só da existencia conservo
Meu remorso e meu amor!
‘Braços com que te abraçava
Ja não teem vigor em si;
Cobre a terra humida e dura
Os olhos com que te vi;
‘Bôcca com que te bejava
Ja não tem sabor em si;
Coração com que te amava...
Ai! só n’esse não morri!
‘Vive, vive, cavalleiro,
Vive, vive e sê ditoso;
E apprende em meu triste fado
A ser pae e a ser espôso.
‘Donzella com quem casares
Chama-lhe tambem Violante;
Não amará mais do que eu...
Mas—que seja mais constante!
‘Filhas que d’ella tiveres
Ensina-as melhor que a mim,
Que se não percam por homens
Como eu me perdi por ti.’

VERSÃO INGLEZA

I
See, Don Ramiro’s galley speeds
Across the heavy seas,
His pennant which the moor so dreads
Now flutters in the breeze.
Oh! when he went, his heart was moved
With grief that would not hide...
To part with her he long had loved
Though lately called his bride!
Spain’s loveliest maids or royal queen
In charms could not compare
With Violante, had she been
True as her form was fair.
Against the castle’s flanking tower
Wild beats the surging deep,
And there a watch at midnight hour
Would not submit to sleep:
All else lulled by the breaker’s jar
In slumber calm reposed,
And as its lord was distant far
His castle gates were closed.
But lo! a bark at dead of night
Alone doth swiftly glide
Beneath the tower from whence a light
Shines glimmering on the tide.
And many a darksome night the bark,
As falls that hour, returns;
Through wind and wave its path to mark
The signal torch-light burns.
Roderigo, rouse thee up from sleep;
The oath which thou didst swear
To thy good lord, how canst thou keep
When strangers come so near!
For knowest thou not, where softest swell[16]
The waves around thy strand,
With sail unstretched, a caravel
Remains upon the sand?
Ah! in a stormy night and dark
It reckless left the shore;
Who was its pilot none could mark
But it came back no more.
Yet at the hour, the guiding light
On high began to burn,
’Twas vain—no eye observed, this night,
The little bark return.
Far down the rugged rock that spread
Its masses round the tower,
Was placed a secret gate which led
To Violante’s bower.
Within this postern, steps were heard
At night approaching near,
And on her door so firmly barred
A knock aroused her ear;
—‘Oh! who can thus, unknown advance
And knock so boldly there?’—
—’Tis Bernal, lady, thine of France:
He seeks thy smile to share.’
From couch of gold she reached the floor
And rent her vestment gay,
And as she gently opened the door
It quenched her taper’s ray.
His clay cold hand she seized him by
And led him to her bower!
—‘Love, tremble not: within our sky
No clouds of sorrow lower.’
Then on her fair and glowing breast
That, heaving, throbbed the more
She pressed his hands: and fondly kissed
His cold lips o’er and o’er.
—‘Far have you come!’—‘Yes very far.’
—‘Rough was the raging sea?’
—‘It was.’—‘Why come you armed for war?
Nay tell thy thoughts to me.’
She doffed his armour, and the dew
Of roses, scenting wide,
In liquid drops she o’er him threw
And laid him by her side.
—‘Twelve hours hath rung the castle bell;
To her, who loves thee, turn
Thy face, as thou wert wont, and tell
What gives thee cause to mourn.
‘Oh! if my brothers thou dost fear,
They will not come to me;
My husband’s brother, were he here,
Can never cope with thee.
‘My serfs and vassals, through the halls,
Will sleep till morning light;
Nor can they deem that, in my walls,
I welcome such a knight.
‘My husband, fond of martial fray,
To distant lands is gone,
And may the Moors prolong his stay,
Regret here left he none.’
—‘They are my own, I need not fear
Those kneeling slaves of thine,
Nor brothers, for the badge they wear
Above their helms is mine.
‘Nor do I dread thy husband’s wrath;
Know... he reposes here,
Even by his lady, void of faith,
’Tis she who well may fear.’

II
The sun dispelled morn’s shadows dim,
And on the castle shone,
When Violante, more fair than him,
To meet her doom hath gone:
Her lovely form, a garment long
And coarse was wrapped around,
A knotted rope, like cable strong,
Her graceful person bound.
And gushing tear drops blind the eye
Of page and maiden fair;
Nor are Ramiro’s lashes dry,
Fresh moisture glistens there
Pealed from lhe tower the signal bell,
The axe was lifted high
O’er Violante... Ere it fell
She saw her husband nigh.
—‘My lord’ she cried ‘I merit death,
Yet on my bended knee,
Ere from my bosom parts my breath,
I pardon crave from thee.
’Tis not through blighted years to live
Lamenting o’er the past,
But my offense to thee, forgive,
This hour is now my last.
‘On me, for I have wronged thy bed,
Alone let vengeance light,
Nor wreck thy rage upon the head
Of Bernal, hapless knight.’
To grant her wish, Ramiro’s breast
With rising pity burned,
But when she urged her last request,
His former hate returned.
Dark lowered his brow, fierce flashed his eye,
As when his faulchion brave
Repelled the foe,—his left hand high
The fatal signal gave.
Then on that neck of grace and love,
Whose blue veins shining tell
The pureness of the skin above,
The headsman’s weapon fell.

III
Forth from the castle’s ancient gate,
A dread procession slow
Advanced, who mourned the happless fate
That laid such beauty low.
Above them many a waxen torch,
In darkness of the night,
Shed to the chapel’s gothic porch
A dim and mournful light.
And hooded closely many a friar
Sung prayers the bier around,
The massy bells within the spire
Rung forth an awful sound.
Two nights had passed, no torche’s ray
Illumed the testless tide,
But fleetly o’er the castle bay
Again the skiff did glide.
Swift bark, thy pilot braved the wrath
Of ocean’s wildest war,
But knows not how the damp of death
Has quenched his leading star.
Alas the fair whose beauty lured
His path across the wave,
The headsman’s stroke for him endured
To fill a bloody grave.
Within the chapel of Saint Gil
Intombed she slumbers low;
See, distant torches burning still...
Hark, bells are pealing slow!
All now is past—lies o’er the dead
The cold sepulchral stone;
And, see: a knight doth ceaseless tread
The echoing aisles alone.
His robes are black, but woe doth shroud
His heart in darker gloom;
And lo, he stretches, sobbing loud,
His form upon her tomb.
—‘Oh! open, grave, my heart is riven,
I taste delight no more,
Let death unite us now, whom heaven
In life asunder tore.
‘And her who calmly sleeps beneath
Again to me reveal,
That by her side, I may, in death,
My crime with her conceal.
‘It is not, torn with inward strife,
My wish to linger on,
And live, when she, the very life
Of all my hopes, is gone.’
Then fell his tears; his hands were clasped,
And moanings of despair
Burst from his heart, his blade he grasped
To still the conflict there.
But why inactive did he stand?
A voice unearthly rose
Out of the tomb, and stayed his hand
Till on the hilt it froze.
Like hollow gusts in winter drear,
That sound, appalling, came
So deep and sudden o’er his ear,
It deathlike thrilled his frame.
—‘Live, cavalier, though I no more
Survive, let life be thine,
Since for my crime the stroke I bore
The fault alone was mine.
‘Cold horror dwells beneath this stone,
And all I knew above
Of glowing life from me is gone,
Except remorse and love.
‘The arms shall clasp thy neck no more
Whose shape thou oft hast praised,
The eyes with earth are covered o’er—
That kindly on thee gazed.
‘The mouth whose lips did revel free
On thine, is senseless now;
But that fond heart which beat for thee
Death cannot chill its glow.
‘Live, live, Sir Knight; a soul like thine
To honour should aspire;
Oh! learn to be, from fate like mine,
A husband and a sire.
‘And name the maiden after me
Whose heart shall thee adore:
Than I, more faultless she may be,
But cannot love thee more.
‘And oh! instruct her daughters young
That love may never sway
Their hearts to ill—think how I flung
For thee my life away.’


III
NOITE DE SAN’JOÃO

Este romance é e não é da minha simples composição. Estavam-me na saudosa
memoria as vagas reminiscencias d’aquelles cantares tam graciosos com
que, na minha infancia, ouvia o povo do Minho festejar a abençoada
noite de San’João; estavam-me as fogueiras e as alcachofas de Lisboa a
arder tambem na imaginação; e eu era muito longe de Portugal, e muito
esperançado de me ver n’elle cedo: aqui está como e quando fiz ésta
cantiga.
Foi em San’Miguel, as antenas dos nossos navios ja levantadas para sahir
a expedição;—soltámo-las ao vento d’ahi a horas... Isto escrevia-se
na quinta do meu velho amigo, o Sr. José Leite, cavalheiro dos mais
distinctos, e velho o mais amavel que produziu o archipelago dos Açores.
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