Os sonetos completos de Anthero de Quental - 5

Total number of words is 1353
Total number of unique words is 584
44.4 of words are in the 2000 most common words
60.5 of words are in the 5000 most common words
65.5 of words are in the 8000 most common words
Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
De novo, esses que amei: vivem commigo.
Vejo-os, ouço-os e ouvem-me tambem,
Juntos no antigo amor, no amor sagrado,
Na communhão ideal do eterno Bem.


Oceano Nox
(A A. de Azevedo Castello Branco)

Junto do mar, que erguia gravemente
A tragica voz rouca, em quanto o vento
Passava como o vôo d'um pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermittente,
Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céo pesado e nevoento,
E interroguei, scismando, esse lamento
Que sahia das cousas, vagamente...
Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que idea gravitaes?--
Mas na immensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente immortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...


Communhão
(Ao snr. João Lobo de Moura)

Reprimirei meu pranto!... Considera
Quantos, minh'alma, antes de nós vagaram,
Quantos as mãos incertas levantaram
Sob este mesmo céo de luz austera!...
--Luz morta! amarga a propria primavera!--
Mas seus pacientes corações luctaram,
Crentes só por instincto, e se apoiaram
Na obscura e heroica fé, que os retempera...
E sou eu mais do que elles? igual fado
Me prende á lei de ignotas multidões.--
Seguirei meu caminho confiado,
Entre esses vultos mudos, mas amigos,
Na humilde fé de obscuras gerações,
Na communhão dos nossos paes antigos.


Solemnia Verba

Disse ao meu coração: Olha por quantos
Caminhos vãos andámos! Considera
Agora, d'esta altura fria e austera,
Os ermos que regaram nossos prantos...
Pó e cinzas, onde houve flor e encantos!
E noite, onde foi luz de primavera!
Olha a teus pés o mundo e desespera
Semeador de sombras e quebrantos!--
Porém o coração, feito valente
Na escola da tortura repetida,
E no uso do penar tornado crente,
Respondeu: D'esta altura vejo o Amor!
Viver não foi em vão, se é isto a vida,
Nem foi de mais o desengano e a dor.


O que diz a Morte

Deixai-os vir a mim, os que lidaram;
Deixai-os vir a mim, os que padecem;
E os que cheios de magua e tedio encaram
As proprias obras vans, de que escarnecem...
Em mim, os Soffrimentos que não saram,
Paixão, Duvida e Mal, se desvanecem.
As torrentes da Dor, que nunca param,
Como n'um mar, em mim desapparecem.--
Assim a Morte diz. Verbo velado,
Silencioso interprete sagrado
Das cousas invisiveis, muda e fria,
É, na sua mudez, mais retumbante
Que o clamoroso mar; mais rutilante,
Na sua noite, do que a luz do dia.


Na mão de Deus
(Á Ex.^{ma} Snr.^a Victoria de O. M.)

Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descançou a final meu coração.
Do palacio encantado da Illusão
Desci a passo e passo a escada estreita.
Como as flores mortaes, com que se enfeita
A ignorancia infantil, despojo vão,
Depuz do Ideal e da Paixão
A forma transitoria e imperfeita.
Como criança, em lobrega jornada,
Que a mãe leva ao collo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,
Selvas, mares, areias do deserto...
Dorme o teu somno, coração liberto,
Dorme na não de Deus eternamente!


INDICE

A cruz dizia á terra, onde assentava [pag. 64]
Adornou o meu quarto a flor do cardo [pag. 26]
Ali, onde o mar quebra, n'um cachão [pag. 52]
Altas horas da noite, o Inconsciente [pag. 103]
Amar! mas d'um amor que tenha vida [pag. 25]
Amem a noite os magros crapulosos [pag. 65]
Aquella, que eu adoro, não é feita [pag. 44]
Aquelles, que eu amei, não sei que vento [pag. 49]
Ardentes filhas do prazer, dizei-me [pag. 48]
Chamei em volta do meu frio leito [pag. 96]
Chovam lyrios e rosas no teu collo [pag. 35]
Como um vento de morte e de ruina [pag. 84]
Conheci a belleza que não morre [pag. 7]
Conquista pois sósinho o teu futuro [pag. 58]
Deixae-os vir a mim, os que lidaram [pag. 120]
Deixal-a ir, a ave, a quem roubaram [pag. 46]
Depois que dia a dia, aos poucos desmaiando [pag. 22]
Disse ao meu coração: Olha por quantos [pag. 119]
Dorme a noite encostada nas colinas [pag. 114]
Dorme entre os gelos, flor immaculada [pag. 85]
Embebido n'um sonho doloroso [pag. 113]
Empunhasse eu a espada dos valentes! [pag. 45]
Em sonho, ás vezes, se o sonhar quebranta [pag. 37]
Em vão luctamos! Como nevoa baça [pag. 19]
Entre os filhos d'um seculo maldito [pag. 86]
Erguendo os braços para o céo distante [pag. 83]
Espectros que velaes, em quanto a custo [pag. 87]
Esperemos em Deus! Elle ha tornado [pag. 10]
Espirito que passas, quando o vento [pag. 32]
Esse negro corcel, cujas passadas [pag. 80]
Estava a morte ali, em pé, deante [pag. 82]
Estreita é do prazer na vida a taça [pag. 6]
Eu amo a vasta sombra das montanhas [pag. 30]
Eu bem sei que te chamam pequenina [pag. 27]
Eu não sei quem tu és mas não procuro [pag. 103]
Eu vi o Amor--mas nos seus olhos baços [pag. 97]
Força é pois ir buscar outro caminho! [pag. 57]
Fui rocha, em tempos, e fui, no mundo antigo [pag. 102]
Fumo e scismo. Os castellos do horizonte [pag. 40]
Ha mil annos, bom Christo, ergueste os magros braços [pag. 20]
Ha mil annos, e mais, que aqui estou morto [pag. 69]
Já não sei o que vale a nova idea [pag. 66]
Já socega, depois de tanta lucta [pag. 101]
Junto do mar, que erguia gravemente [pag. 117]
Lá! mas aonde é _lá_? aonde? Espera [pag. 62]
Longo tempo ignorei--mas que cegueira [pag. 106]
Mãe, que adormente este viver dorido [pag. 38]
Mas a Idea quem é? quem foi que a vio [pag. 59]
Mas o velho tyranno solitario [pag. 77]
Meus dias vão correndo vagarosos [pag. 8]
Muito longe d'aqui, nem eu sei quando [pag. 94]
Na capella, perdida entre a folhagem [pag. 34]
Na floresta dos sonhos, dia a dia [pag. 104]
Na mão de Deus, na sua mão direita [pag. 121]
Na tua mão, sombrio cavalleiro [pag. 78]
Nas florestas solemnes ha o culto [pag. 68]
Não busco n'esta vida gloria ou fama [pag. 18]
Não duvido que o mundo no seu eixo [pag. 41]
Não choreis, ventos, arvores e mares [pag. 112]
Não morreste, por mais que o brade á gente [pag. 91]
Não se perdeu teu sangue generoso [pag. 63]
Não me fales de gloria: é outro o altar [pag. 16]
No céo, se existe um céo para quem chora [pag. 11]
Nenhum de vós ao certo me conhece [pag. 75]
Noite, irmã da Razão e irmã da Morte [pag. 110]
Noite, vão para ti meus pensamento [pag. 89]
No meu sonho desfilam as visões [pag. 92]
N'um céo intemerato e crystalino [pag. 67]
N'um sonho todo feito de incerteza [pag. 88]
O espectro familiar, que anda commigo [pag. 79]
Oh chimera, que passas embalada [pag. 47]
Oh! o noivado barbaro! o noivado [pag. 61]
Onde te escondes? eis que em vão clamamos [pag. 93]
Os que amei, onde estão? idos, dispersos [pag. 116]
Outra amante não ha! não ha na vida [pag. 60]
Ouve tu, meu cançado coração [pag. 31]
Pallido Christo, oh conductor divino! [pag. 56]
Para além do Universo luminoso [pag. 93]
Para tristezas, para dar nasceste [pag. 50]
Pelas rugas da fronte que medita [pag. 43]
Pelo caminho estreito, aonde a custo [pag. 90]
Pois que os deuses antigos e os antigos [pag. 55]
Porque descrês, mulher, do amor, da vida? [pag. 15]
Poz-te Deus sobre a fronte a mão piedosa [pag. 5]
Quando nós vamos ambos, de mãos dadas [pag. 31]
Que belleza mortal se te assemelha [pag. 3]
Que nome te darei, austera imagem [pag. 107]
Quem anda lá por fora, pela vinha [pag. 28]
Razão, irmã do Amor e da Justiça [pag. 71]
Reprimirei meu pranto!... Considera [pag. 118]
Sáe das nuvens, levanta a fronte e escuta [pag. 76]
Se comparo poder, ou ouro, ou fama [pag. 9]
Se é lei, que rege o escuro pensamento [pag. 12]
Sempre o futuro, sempre! e o presente [pag. 14]
Só! Ao ermita sósinho na montanha [pag. 13]
Só males são reaes, só dor existe [pag. 17]
Só quem teme o Não-Ser é que se assusta [pag. 108]
Só por ti, astro ainda e sempre occulto [pag. 34]
Sonho-me ás vezes rei, n'alguma ilha [pag. 29]
Sonhei--nem sempre o sonho é cousa vã [pag. 33]
Sonho de olhos abertos, caminhando [pag. 109]
Sonho que sou um cavalleiro andante [pag. 42]
Tu, que eu não vejo e estás ao pé de mim [pag. 115]
Tu, que dormes, espirito sereno [pag. 70]
Tu, que não crês, nem amas, nem esperas [pag. 81]
Um dia, meu amor, e talvez cedo [pag. 36]
Um diluvio de luz cáe da montanha [pag. 4]
Vae-te na aza negra da desgraça [pag. 21]
Vozes do mar, das arvores, do vento [pag. 111]

You have read 1 text from Portuguese literature.
  • Parts
  • Os sonetos completos de Anthero de Quental - 1
    Total number of words is 4519
    Total number of unique words is 1625
    31.9 of words are in the 2000 most common words
    47.3 of words are in the 5000 most common words
    55.1 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • Os sonetos completos de Anthero de Quental - 2
    Total number of words is 4577
    Total number of unique words is 1690
    32.9 of words are in the 2000 most common words
    49.1 of words are in the 5000 most common words
    57.2 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • Os sonetos completos de Anthero de Quental - 3
    Total number of words is 4511
    Total number of unique words is 1661
    32.7 of words are in the 2000 most common words
    48.9 of words are in the 5000 most common words
    56.8 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • Os sonetos completos de Anthero de Quental - 4
    Total number of words is 4260
    Total number of unique words is 1633
    31.5 of words are in the 2000 most common words
    45.0 of words are in the 5000 most common words
    54.6 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.
  • Os sonetos completos de Anthero de Quental - 5
    Total number of words is 1353
    Total number of unique words is 584
    44.4 of words are in the 2000 most common words
    60.5 of words are in the 5000 most common words
    65.5 of words are in the 8000 most common words
    Each bar represents the percentage of words per 1000 most common words.