Eurico, o presbytero - 13

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godos, as suas leis, os seus usos, a sua civilisação intellectual e
material, do que sabemos o que era isso tudo em seculos mais proximos
de nós. O esplendor dos paços, as formulas dos tribunaes, os ritos dos
templos, a administração, a milicia, a propriedade, as relações civís
são menos nebulosas e incertas para nós nas eras gothicas que durante
o longo periodo da restauração christan. E, comtudo, o reproduzir a
vida dessa sociedade, que nos legou tantos monumentos, com as fórmas
do verdadeiro romance historico temo-lo por impossivel, ao passo que
o representar a existencia dos homens do undecimo ou dos seguintes
seculos será para o que os tiver estudado, não digo facil, mas, sem
duvida, possivel.
Qual é a causa d'isto?
É que nós conhecemos a vida publica dos wisigodos e não a sua vida
íntima, emquanto os seculos da Hespanha restaurada revelam-nos a
segunda com mais individuação e verdade que a primeira. Dos godos
restam-nos codigos, historia, litteratura, monumentos escriptos de
todo o genero, mas os codigos e a litteratura são reflexos, mais ou
menos pallidos, das leis e erudição do imperio romano, e a historia
desconhece o povo. O gothicismo hespanhol, ao primeiro aspecto, parece
mover-se. Palpamo-lo: é uma estatua de marmore, fria, immovel, hirta.
As portas das habitações dos cidadãos cerram-nas os sete sellos do
Apocalypse: são a campa da familia. A familia goda é para nós como se
nunca existira.
Não cabe n'uma nota o fazer sentir esse não sei quê de magestade
_esculptural_ que conserva sempre a raça wisigothica, por mais que
tentemos galvanisá-la, nem o contrapor-lhe as gerações nascidas durante
a reacção contra o islamismo, que surgem e agitam-se e vivem quando
lhes applicamos a corrente electrica e mysteriosa que, partindo da
imaginação, vai despertar os tempos que foram do seu calado sepulchro.
Desta differença, que é mais facil sentir que definir, nasce a
necessidade de estabelecer uma distincção nas fórmas litterarias
applicadas ás diversas epochas da antiga Hespanha, a romano-germanica,
e a moderna.
O periodo wisigothico deve ser para nós como os tempos homericos da
Peninsula. Nos cantos do Presbytero tentei achar o pensamento e a cor
que convem a semelhante assumpto, e em que cumpre predominem o estylo
e fórmas da Biblia e do Edda--as tradições christans, e as tradições
gothicas, que, partindo do oriente e do norte, vieram encontrar-se e
completar-se, em relação á poesia da vída humana, no extremo occidente
da Europa.
O romance historico, como o concebeu Walter Scott, só é possivel áquem
do oitavo--talvez só áquem do decimo seculo; porque só áquem dessa data
a vida da familia, o homem sinceramente homem, e não ensaiado e trajado
para apparecer na praça publica, se nos vai pouco a pouco revelando.
As fórmas e o estylo que convem aos tempos wisigothicos seriam, desde
então, absurdos e, parece-me, até, que ridiculos.
A Hespanha romano-germanica transformou-se na Hespanha rigorosamente
moderna no terrivel cadinho da conquista arabe. A obra litteraria
(novella ou poema--verso ou prosa--que importa?) relativa a essa
transição deve combinar as duas fórmulas--indicar as duas extremidades
a que se prende; fazer sentir que o descendente de Theoderik ou de
Leuwighild será o ascendente do Cid ou do lidador; que o heroe se vai
transformar em cavalleiro; que o servo, entidade duvidosa entre homem e
cousa, começa a converter-se em altivo e irrequieto burguez.
E a fórma e o estylo devem approximar-se mais ou menos d'um ou d'outro
extremo, conforme a epocha em que lançamos a nossa concepção está mais
vizinha ou mais remota da que vai deixando d'existir ou da que vem
surgindo. A difficultosa mistura dessas cores na palheta do artista
nenhuma doutrina, nenhum preceito lh'a diz: ensinar-lh'a-ha o instincto.
Tive eu esse instincto?--É mais provavel o não que o sim.--Se a arte
fora facil para todos os que tentam possuí-la, não nos faltariam
artistas!

Pag. 2.

«Leuwighild expulsara da Hespanha os derradeiros soldados dos
imperadores .......... e expirara em Toletum.»

Hesitei muito tempo sobre se conviria usar dos nomes proprios, quer de
pessoas quer de logares, como as successivas alterações da linguagem na
Hespanha os foram transformando, a ponto de muitos delles se acharem
hoje totalmente diversos do que eram na sua origem. Destas mudanças,
aquellas que apenas consistiam no augmento ou diminuição de uma letra,
ou na diversidade das desinencias, podiam, talvez, ser admittidas
sem darem um aspecto anachronico ao livro. Outros nomes, porém,
havia, sobretudo nas designações corographicas, tão completamente
alterados, que me repugnava o substituir o moderno ao antigo. Assim
Toletum, Emérita seriam sem difficuldade representados por Toledo e
Mérida; mas, como substituir, sem anachronismo na expressão, Sevilha a
Hispalis, Leão a Legio, Guadalete a Chryssus e, finalmente, Burgos a
Augustobriga, quando, como neste caso, até a situação da moderna cidade
não é exactamente a da antiga povoação? Preferi, portanto, conservar
os nomes primitivos, os quaes, não influindo de modo algum na ordem
e clareza da narrativa, podem facilmente encontrar-se em qualquer
diccionario ou tractado de geographia antiga.
Aos nomes individuaes dos primeiros wisigodos procurei conservar,
quando alludi a elles, os vestigios da origem gothica: aos dos
personagens do meu livro conservei as fórmas alatinadas que se
encontram nos monumentos contemporaneos, porque, segundo todas as
probabilidades, já nesta epocha o elemento romano de todo havia
triumphado na lingua.

Pag. 9.

«Gardingo na corte de Witiza, tiuphado ou millenario do exercito
wisigothico.»

Uma das cousas mais disputadas na historia das instituições gothicas
é a natureza dessa classe de individuos, que tantas vezes figuram nos
monumentos daquellas epochas, chamados gardingos (_gardigg_ em lingua
gothica). Masdeu e com elle Romey, que o traduz quasi sempre ácerca da
historia dos wisigodos, postoque não o cite senão neste logar, são de
parecer que o gardingato não era um titulo de nobreza, mas do cargo de
substituto do duque (governador de provincia) como o _vicarius_ o era
do conde (governador de cidade). Aschbach deriva a palavra de _Gards_,
que significa _solar com terras adjacentes_, e parece querer confirmar
assim a opinião de Vossio, que pretendia fossem os administradores
ou almoxarifes dos palacios reaes, opinião que sería mui difficil
de sustentar á vista de varios monumentos hispano-gothicos. Segui o
parecer de Grimm e Lembke, que suppõem formarem os _gardiggos_ uma
classe de _curiales_ (cortesãos) ou nobres. Neste caso não serviria a
etymologia _gards_ para indicar no gardingato uma nobreza estribada
sobre certa extensão e importancia de propriedade territorial,
formando a terceira classe de nobreza depois dos _duces_ e _comites_?
Rosseeuw-Saint-Hilaire pensa-o assim e faz o gardingo synonimo de
_Procer_. Procer, todavia, não indicava em especial o gardingo, mas era
denominação generica da nobreza.
Quanto ao cargo de tiuphado ou tiufado, deve saber-se que o exercito
godo se dividia em corpos de mil homens, e estes em companhias e
esquadras de cem e de dez. Abaixo do tiuphado (_thiud_ ou _theod_
povo e _fath_ conduzir, ou, segundo outra derivação, _taihunda_ mil
e _fath_) que, tambem, se chamava millenario (da etymologia latina
_mille_) estava o quingentario, segundo uns, capitão de quinhentos
homens, especie de major dos regimentos modernos, e, segundo outros,
substituto do tiuphado ou semelhante aos nossos tenentes-coroneis. A
companhia de cem homens (_centuria_) era regida por um _centenario_, e
a de dez (_decania_) por um _decano_.

Pag. 13.

«Com a fluctuante stringe.»

O vestido civil dos wisigodos era uma especie de tunica chamada
_Stringe_ ou _Strigio_, já d'antes conhecida pelos romanos. O clero
usava deste trajo como os seculares, com a differença de ser branco
ou d'outra cor modesta, porque o havia, até, cor de purpura, o uso da
qual era severamente prohibido aos sacerdotes. Veja-se Masdeu, Hist.
Crit. d'Esp. T. 11, p. 63 e 197, e Ducange e Carpentier ás palavras
_Stringes_, _Strigio_.

Pag. 16.

«O ostiario buscava.»

A igreja goda empregava oito ministros na celebração do culto: 1.^o
o Ostiario, que abria e fechava o templo, cuidava da conservação dos
objetos do culto e vigiava que não assistissem ao sacrificio herejes
ou excommungados: 2.^o o Acolito, que illuminava os altares e tinha
na mão um candelabro emquanto se lia o evangelho: 3.^o o Exorcista, a
quem incumbia o expulsar o demonio dos possessos: 4.^o o Psalmista,
que levantava no coro as antiphonas, psalmos e hymnos: 5.^o o Leitor,
que lia em alta voz as prophecias do Antigo Testamento e as Epistolas
e as explicava ao povo: 6.^o o Subdiacono, que recebia as oblações dos
fiéis e dispunha as vestiduras e vasos sagrados para a missa: 7.^o o
Diacono, que ajudava a esta e dava a communhão 8.^o o Presbytero, que
sacrificava, prégava e dava a benção ao povo.

Pag. 17.

«De Draconcio, de Merobaude e de Orencio.»

Poetas celebres hispano-godos do seculo V.--De Draconcio resta-nos o
_Carmen de Deo_ e uma epistola dirigida a Gunth-rik rei dos vandalos.
De Merobaude subsiste um fragmento do _Poema de Christo_. D'Orencio,
tão elogiado pelo poeta Fortunato e por Sidonio Apollinario, apenas
resta uma pequena poesia na _Bibliotheca Veterum Patrum_.

Pag. 26.

«Não eram assim os godos de oeste.»

A raça dos godos, asiatica na origem e germanica na lingua, que,
antes de occupar uma parte do territorio romano, habitava ao norte do
Ponto Euxino (Mar Negro), dividia-se em duas grandes familias, cujas
denominações provieram da sua situação relativa. Os que estanceiavam
ao oriente chamavam-se _ost-goths_ (godos de leste) e depois,
corruptamente, ostrogodos; os que demoravam ao occidente eram os
_west-goths_ (godos de oeste) ou wisigodos, que, depois de ora servirem
o imperio como alliados, ora assolarem-no como inimigos, vieram fazer
assento no sul das Gallias e na Peninsula, estabelecendo, a final, em
Toledo o centro do seu imperio.

Ibidem.

«Combatia nos campos catalaunicos.»

A celebre batalha dada por Theoderik, rei dos wisigodos, e pelo general
romano Aecio, seu alliado, ao feroz Attila nos _campi catalaunici_
(planicies de Chalons-sur-Marne) é o mais celebre entre os terriveis
combates que custou á Europa no V seculo a dissolução do grande cadaver
romano. Podem-se ver em Jornandes e no Panegyrico de Avito por Sidonio
Apollinario as particularidades deste successo.

Pag. 42.

«Rodeiaremos a Ilha Verde.»

Algeziras. Este nome foi posto pelos arabes ao logar onde Tarik veio
aportar, saindo de Ceuta para a conquista d'Hespanha. O ilheu, hoje
chamado _das Pombas_, fica a um tiro d'espingarda daquella povoação, á
qual passou o nome que os arabes tinham dado á ilhota, vendo-a verdejar
ao longe:--_Djezirat-al-Hadra_ (ilha-verde). Ignorando-lhe o nome
antigo, suppuz que essa denominação de origem arabica era anterior e
que já os godos lh'a attribuiam. O anachronismo é, a meu ver, assás
desculpavel.

Pag. 46.

«O amiculo alvissimo.»

O _amiculo_, que entre os romanos era proprio das mulheres de baixa
esphera, tornou-se em Hespanha trajo commum das mais honestas e nobres:
era uma especie de manto, com que cubriam as vestiduras inferiores: Os
cabellos encerravam-nos n'uma como coifa, denominada _retíolo_. Veja-se
Masdeu, Hist. Crit. T. 11, p. 6.

Pag. 55.

«Para o lado dos campos gothicos.»

Os wisigodos tinham dado em especial o nome de _Campi gothici_ ás
planicies de Leão e da Extremadura Hespanhola. D'ahi, contrahida a
menor territorio, veio a denominação da terra de _Campos_.

Pag. 67.

«Wali de Sebta.»

«_Wali_: Prefeito, caudilho principal, governador de provincia, general
d'exercito:» _Conde_, _Declar. de alg. nom. arabes_. Juliano era,
segundo parece, o governador da provincia gothica d'além do Estreito,
chamada _Transfretana_; cabia-lhe por isso entre os arabes o titulo de
Wali. Sebta é a corrupção arabica do nome de Septum, corrupção d'onde
os nossos antigos formaram _Cepta_ e, depois, _Ceuta_.

Pag. 70.

«Os golpes do frankisk godo.»

O _frankisk_ ou _frankiska_ era uma especie de machadinha de dous
gumes, usada pelos frankos, de quem os godos a tomaram. Consulte-se
Masdeu, Hist. Crit. T. 11, p. 52--e Ducange, verb. _Francisca_. A
_Cateia_, de que adiante se ha-de falar, era uma lança curta ou dardo,
a origem, talvez, da _azcuma_ dos tempos posteriores.

Pag. 82.

«A antiga Romula.»

Sevilha no tempo dos romanos tinha dous nomes--_Romula_ e _Hispalis_.
Este ultimo veio a prevalecer, emfim. Veja-se _Flores, Esp. Sagr_. T.
9, p. 87.

Pag. 85.

«O Propheta de Yatrib.»

Mohammed era natural de Medina. Esta cidade chamava-se Yatrib. Foi elle
quem lhe poz o nome de Medina-al-Nabi--_Cidade do Propheta_.

Pag. 87.

«Calpe, ou Geb-al-Tarik.»

Os arabes, tendo desembarcado nas costas d'Hespanha e vendo que a
montanha do Calpe era um logar grandemente defensavel, fortificaram-se
ahi, porventura emquanto esperavam o resto do exercito que passava
d'Africa. A montanha recebeu então o nome de _Geb-al-Tarik_ (monte de
Tarik) e, tambem, o de _Gel-al-Fetah_ (monte da Entrada). Da palavra
Geb-al-Tarik se formou depois a de Gibraltar.

Pag. 89.

«Os crentes do Islam.»

_Islam_ em arabe, o islamismo ou religião do koran. Significa,
propriamente, esta palavra _resignação_; _resignação em Deus_.

Pag. 90.

«Alguns esculcas.»

Esculcas eram, nos tempos barbaros, chamadas as rondas ou sentinellas
nocturnas dos arraiaes. Esta palavra encontra-se nos escriptores
do VI seculo e dos seguintes, como em S. Gregorio Magno; _sculcas
quos mittitis sollicitè requirant_: Epist. 12--23.--A fórma pura
do vocabulo, _Exculcatores_, apparece já em Vegecio: depois, por
abbreviatura, _Exculcae_ e _Sculcae_. _Sculcas_ são contrapostos aos
_atalaias_ nas leis das Partidas. P. 2. tit 26, onde estes significam
_guardas de dia_.

Ibidem.

«Os romanos!--e a turba repetiu:--Os romanos!»

Os arabes designavam os christãos ou, antes, em geral, qualquer
europeu pelo nome de _al-rumi_, o romano, quer fosse grego, franko
ou hespanhol. Aquelles mesmos que abraçavam o islamismo conservavam
este appellido. Tal era o amir ou general da cavallaria, Mugueiz,
um dos mais famosos companheiros de Tarik. Quando, em especial, os
pretendiam designar, não pela differença de raça, mas pela de crença,
denominavam-nos _Nassrani_ (nazarenos).

Pag. 99.

«O grito de _Allah-hu-Acbar_!»

_Deus só é grande!_ era para os arabes a voz de accommetter, como,
depois, foi para os christãos o grito de _Sanctiago_!

Pag. 109.

«Ao longo da ephippia.»

A ephippia era uma especie de sella de lan que os godos haviam imitado
da cavallaria romana.

Pag. 117.

«Debaixo das pancadas violentas dos mangoaes.»

«As armas delles (dos berebéres e arabes africanos) quasi se limitam a
páus compridos a que se prendem pequenos tóros atados pelo meio, que no
combate descarregam sobre os inimigos com ambas as mãos:» Alkhathib,
_Pleni-Lunii Splendor_, em Casiri, T. 2, p. 258.

Pag. 153.

«Os cheiks.»

Como a palavra latina _senior_ (o mais velho) veio a significar no
latim barbaro e no romance ou linguas vulgares das nações modernas, o
_principal_, o _senhor_, assim a palavra arabe _Cheik, Chek, Xeque_,
isto é, o _ancião_, tomou entre os sarracenos a significação de senhor
ou chefe de uma tribu.

Pag. 157.

«Ás supplicas do velho buccellario.»

No imperio godo os buccellarios vinham a ser o mesmo que os clientes
dos romanos, homens livres addictos ás familias poderosas, por quem
eram patrocinados e, talvez, sustentados, se, como pretende Masdeu e
o seu, nesta parte, quasi traductor Romey, o nome _buccellarius_ lhes
provinha de _buccella_ (migalha de pão). O Codigo Wisigothico (Liv.
5. tit. 3.^o) estabelece os deveres e relações destes homens com seus
amos e patronos. A obrigação mais importante do buccellario parece ter
consistido no serviço militar: _Si ei... arma dederit_. É por isso que
se me affigura mais provavel a etymologia que a semelhante denominação
attribue com preferencia o erudito Canciani (Barbar. Leg. Ant. Vol.
4, p. 117) derivando-a da palavra scandinava _buklar_ (o escudo),
transformada no idioma germanico em _buckel_ e nas linguas modernas em
_buckler, bouclier, broquel_. Neste caso o buccellario corresponderia
ao _armigero_ ou _escudeiro_ do seculo 12 e 13, que, significando na
sua origem o que trazia as armas ou o escudo do seu senhor ou amo, veio
a tomar-se por um homem d'armas de certa distincção, a quem, todavia,
faltava o grau de cavalleiro.

Pag. 164.

«E as suas almas puras abrigavam-se no seio immenso de Deus.»

O facto narrado neste capitulo é historico. O logar da scena e a epocha
é que são inventados. Foram as monjas de Nossa Senhora do Valle, juncto
d'Écija, que, em tempos posteriores, practicaram este feito heroico,
para se esquivarem á sensualidade brutal dos arabes. Parece que o
procedimento das freiras d'Écija foi imitado em muitas outras partes.
Consulte-se _Berganza_, _Antiguedades de España_, T. 1, pag. 139; e
_Morales, Cron. Gener._ T. 3, pag. 105.

Pag. 197.

«O imperio de Andalús.»

Segundo Lembke, cuja opinião assenta no testemunho de Ibn-Said e de
Ahmed-Al-makkari, os arabes conheciam a Hespanha, antes da conquista,
pelo nome de _Andalós_ ou _Andalús_, nome que, depois, applicaram em
especial ao territorio entre o Wadi-Al-Kebir e o Wadi-Ana (Guadalquivir
e Guadiana), isto é, á moderna Andalusia. O nome de Al-Gharb (o
occidente) que, igualmente, deram á Peninsula para a distinguir da
Mauritania (Al-Moghreb) veio, tambem, a contrahir-se á nossa provincia
do Algarve.

Pag. 197.

«Alfaqui dos romanos.»

_Alfaquih._ É titulo que os africanos dão aos seus sacerdotes e sabios
da lei: Moura, Vestig. da Lingua Arab. p. 38.

Pag. 220.

«Os nazarenos d'Al-Djuf.»

As grandes divisões da Hespanha, segundo a geographia arabe, eram
quatro:--_Al-Gharb_ o occidente; _Al-Sharhiah_ o oriente; _Al-Kiblah_
o meio-dia; _Al-Djuf_ o norte. Era esta, por isso, a designação dos
territorios christãos das Asturias e Cantabria.

Pag. 270.

«Os ultimos aripennes de terra livre.»

O _aripennis_, _arapennis_, _agripennis_, ou _arpentum_, d'onde veio
a palavra franceza _arpent_, era uma medida d'extensão igual a metade
do _jugerum_, d'onde tomámos a palavra _geira_. O aripenne media-se em
quadro e tinha de cada lado 12 _pérticas_, medida que equivalia a dous
palmos. Masdeu affirma que o aripenne era medida especial da Betica, o
que é inexacto; porque ella se acha mencionada em muitos documentos,
não só de outras provincias d'Hespanha, mas tambem de diversos paizes,
como se póde ver em Ducange, á palavra _Arapennis_.

Pag. 308.

«Primeiro o velho Oppas, depois Juliano cahiram.»

Nas mil tradições diversas, quer antigas, quer inventadas em tempos
mais modernos, sobre o modo como se constituiu a monarchia das Asturias
procurei cingir-me, ao menos no desenho geral, ao que passa por mais
rigorosamente historico. Todavia, cumpre advertir que Pelagio viveu,
segundo todas as probabilidades, em tempos um pouco posteriores á
conquista arabe e que a morte de Oppas e de Juliano na batalha de
Cangas de Onis, successo narrado por alguns escriptores, tem sobrados
caractéres de fabulosa. A minha intenção, porém, foi, como já notei,
pintar os homens da epocha de transição, digamos assim, dos tempos
heroicos da historia moderna para o periodo da cavallaria, brilhante
ainda, mas já de dimensões ordinarias. O meu heroe do Chryssus é como
o ultimo semideus que combate na terra; os foragidos de Covadonga são
como os primeiros cavalleiros da longa, patriotica e tenaz cruzada da
Peninsula contra os sarracenos. Deste modo, sendo hoje difficultoso
separar, em relação áquellas eras, o historico do fabuloso, aproveitei
d'um e d'outro o que me pareceu mais appropriado ao meu fim.
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